Vozes lá de fora e também
in-blog a anunciarem e a muito recomendarem o ensaio-olhar
Mão amiga, essa que nunca é invisível (e eis como num mero trocadilho "voo de pássaro", ao correr da tecla, se desnuda uma ideia do social, muito para lá daquele conjunto de indivíduos tão iguais e livres, esse mercado aberto parece que tão na moda lá no rincão), trouxe o livro até deste lado.
Para uma leitura muito ambivalente, com trechos perturbantes, outros auto-confirmações, desses livros com quem vamos dialogando página a página - e que maior elogio?
Entre outros trechos, José Gil como se a escrever sobre bloguismo, até a referir o JPT (confesso que concordo e apreciei, ainda que entristecido): "...
os cortes, as interferências abruptas que mudam num ápice a direcção da conversa são, por assim dizer, bem-vindos. Saltita-se de um assunto para outro, o que proporciona um pequeno prazer. Este tipo de trocas e baldrocas verbais tem efeitos no pensamento. A inatenção, a falta de concentração exercitam-se na contínua dispersão - vivíssima, porém - das palavras. E quando se busca um "fio condutor", uma visão de conjunto, não se recorre à análise, visa-se a síntese (tão ao gosto português de pensar) - melhor, visa-se um modo sincrético de pensamento. Por isso pensamos tão pouco, e de forma rotineira, geral e superficial." (56-7) - não será esta a causa do super-sucesso do bloguismo português?
Mas também um registo muito problemático de aceitar, um espanto entristecido com o corolário politiquês de um ensaio sobre "mentalidades" - afinal Santana Lopes não será um mero epifenómeno? para quê desembocar nele o garimpar sobre Portugal. Não o desvalorizará? E, sublinhando este epílogo, Durão Barroso apresentado como indigno lider de oposição - porquê? Ou porquê ele e não tantos outros? Um anti-climax, e isto não é por simpatias minhas, é mesmo uma sensação de desiquilíbrio entre o denso do miolo e o mero polemista final.
E o desconforto com quem escreve coisas destas: "
Compõe-se assim a estranha imagem de um povo com um fundo de barbárie envolvido por inúmeras camadas de cultura (desde o paganismo grego e latino aos celtas e árabes) que não conseguem transformar completamente esse fundo em civilização" (107-8) - este registo ainda colhe admiração tão geral no meu país, no hoje em dia? E o generalizar constante, tipo "
Os portugueses não sabem admirar, porque não sabem perder a cabeça de admiração" (99) - peço desculpa, mas que significa isto? Como serve de base para reflexão? E o texto está cheio deste tipo de afirmações.
Uma leitura ambivalente. Apreciando para logo me desiludir. Entusiasmando-me, mesmo que discordando, para logo menear, fugindo. Interessante será saber como foi recebido o livro (se só louvado in-blog, se mesmo bastante lido), pois dirá algo da auto-imagem nacional dos leitores. Ou de como José Gil a influencia. E fico à espera de que alguém tenha a sapiência e o poder (sim, o poder) para se debruçar de modo verdadeira e intensamente crítico sobre este livro. De moda, perdão.