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Bloguismo na Campanha

por jpt, em 17.10.09

Ainda não me apercebera da adopção do bloguismo na campanha eleitoral. Aqui está, é de saudar, o Armando Guebuza Blog. Não funcionará ainda exactamente como um blog habitual, dado o carácter dos textos, longos (nada tenho contra textos longos mas o usual neste blogo-meio é a concisão) e muito espaçados no tempo - o que não fideliza os leitores (assim sendo a média de leitores diários não sendo baixa não tem vindo a subir, não correspondendo ao culminar da campanha). No entanto é de frisar a entrada da campanha, e sob retórica personalizada, no mundo do bloguismo.

Será ainda de notar que a campanha presidencial de Armando Guebuza tem também uma página no facebook., com um tom fortemente pessoalizado, de apresentação do carácter e biografia do candidato. Interessante o facto da distinção entre os dois meios de comunicação, denotando a concepção que deles tem o candidato (e, como é natural, o seu pessoal): o blog como local do texto longo e reflectido - na prática de comunicações públicas, porventura retocadas; o facebook como local de "curtas" relativas ao historial político do actual presidente.  

Interessante visitar.

jpt

publicado às 08:43

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[Caia, ao batelão, antes da ponte]

Há alguns dias inaugurou-se a ponte rodoviária sobre o Zambeze, no trajecto Caia-Chimuara. Obra fundamental, com impacto prático e simbólico, permitindo (finalmente) a união por estrada entre norte e sul. Com financiamento da Comissão Europeia - cuja participação foi muito impulsionada por um seu antigo representante, Pinto Teixeira, descendente de homens muito ligados à história dos Caminhos de Ferro de Moçambique -, e da Itália, é (será) um marco crucial no desenvolvimento do país. Ainda assim a sua inauguração originou alguma polémica, devido ao nome que lhe foi atribuído, o do presidente da República Armando Emílio Guebuza.

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Nada tenho a opinar sobre o assunto, mais do que aceito a "Ponte Guebuza", como aceito com normalidade todas as avenidas, escolas ou outras instituições cuja toponímia vai sendo decidida. Não só porque sou estrangeiro - e sendo eu nacional de um país onde os presidentes das câmaras dão o seu próprio nome a estádios de futebol e feriados municipais nos seus dias natalícios que estranheza poderia eu ter?

 

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[Construção da ponte, vista de Chimuara, meados de 2008]

Mas também porque sei recorrente, em Moçambique e no resto do mundo, esta forma de homenagear em vida (e não estamos nós, por outro lado, sempre a protestar contra o facto de só se homenagear post-mortem?) como forma de afirmação de poder político, de fazer o real.

No fundo é o povo que nomeia. Como lisboeta sei bem que a oficial Praça do Comércio ainda se chama, 250 anos depois, Terreiro do Paço. E que o Areeiro, que não podia ser Praça Humberto Delgado por não corresponder ao uso toponímico popular mas que no ano seguinte passou a Praça Francisco Sá Carneiro, continua, 30 anos depois, Areeiro. E que a ponte vermelha continua ridiculamente a chamar-se 25 de Abril, provocando alguma gaguez dos utentes - por mais democratas que sejam - até alguém, daqui a umas décadas se lembrar de lhe chamar .... ponte vermelha ou Ponte Velha. E que aqui se a Avenida Kenneth Kaunda é a Avenida Kenneth Kaunda o bairro George Dimitrov ou o bairro Luís Cabral afinal não o são. Os usos sobrepõem-se aos ditames? Os usos articulam-se com os ditames, é isso.

Mas o que me interessa mesmo, para além dos nomes, são as retóricas a seu propósito (eles próprios o são, discursos a moldar o real). Neste caso é interessante ver o texto do Carlos Nuno Castel-Branco criticando a nomeação. Texto que teve basto eco na imprensa, nos blogs, nos e-mails. Mas que eu, para além da amizade e respeito intelectual que tenho ao autor, me apetece comparar com outras coisas. Por exemplo esta. Porque para além dos nomes interessam-me os factos. "Factos", eu sei. Mas que também servem para pensar e fazer o real. "Real", eu sei.

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 [Zambeze, de Caia a Chimuara, antes da ponte]

publicado às 20:36

"A Rica Nossa Cultura" de Luís Bernardo Honwana, texto publicado aquando da realização da recente conferência nacional de cultura. Um texto a merecer discussão.

publicado às 16:28

É no Entre as Brumas da Memória que encontro (elogiosa) referência a este texto de Mia Couto. Fico estupefacto: com a argumentação de Mia Couto - talvez apenas "mais um artigo" -, e com a aceitação que tem, esta talvez pelo acriticismo que as unanimidades tendem a recolher, em particular quando as causas parecem justas.

O Mia quer abordar as concepções de cidadania e de poder vigentes nos países africanos e em Moçambique em particular. Que são elas contextuais deveria ser óbvio (mas não é, e daí o mérito da sua interrogação). Particulares produtos históricos, frutos de reflexões locais, acima de tudo constituídas em processos políticos conflituais. Por isso tantas das ineficiências quando se transportam, como se intocáveis, conceitos políticos para aplicar em práticas diferenciadas. Nada disso é novo para quem pensa, tudo isso é desconhecido por quem se esforça por não pensar.

Mas o que Mia faz é tornear essa dimensão, e refugiar-se numa "culturalização" da questão, encontrando no celebrado "véu da cultura" uma razão para as diversas práticas e concepções políticas, para os défices que considera encontrar. Confesso o meu espanto, até por vindo de quem vem, diante disto:

"A questão pode ser assim formulada: como pensar a democracia numa língua em que não existe a palavra “democracia”? Num idioma em que “Presidente” se diz “Deus”? Nas línguas do Sul de Moçambique, o termo para designar o chefe de Estado é “hossi”. Essa mesma palavra designa também as entidades divinas na forma dos espíritos dos antepassados, traduzindo uma sociedade em que não há separação da esfera religiosa.".

Francamente. Não temos nós, falantes de português, o "senhor" como terminologia da divindade, do rei, do nobre e amo, do chefe, até do mero interlocutor? Não é explícito para quem utiliza o "senhor" sobre quem refere? Não é o termo utilizado contextualmente, com perfeito e estratégico conhecimento dos locutores, associado ao seu manuseamento através de entoações, mímicas, diminutivos [o "chô", o "sôr", p.ex.]?

Ora se para nós, falantes de português, a palavra que também refere a divindade tem uma extensão semântica que muito bem entendemos (de tal modo que nem atentamos que a utilizamos para um espectro tão alargado de interlocutores) como presumir que os falantes de outras línguas que têm similares processos de extensão semântica o fazem sob o signo da confusão?

Ou seja, utilizamos nós a nossa língua através de categorias lógicas e os outros (neste caso os falantes do sul de Moçambique) estão submersos numa mentalidade pré-lógica, incapaz?

Um momento (muito) menos feliz. Desconseguido, por assim dizer.

publicado às 21:47

No Expresso notícia sobre plano de alargar as águas territoriais moçambicanas em 70 000 kms quadrados.

publicado às 15:11

O Savana: um exemplar crucial

por jpt, em 01.08.08

O Savana tem um portal, ainda em fase experimental - como avisa Carlos Serra. Talvez por isso não carrega todo o conteúdo do semanário. Espero que o venha a fazer, pelo menos as colunas de opinião, até porque o semanário vive bastante dos seus colunistas. Saudável inovação (já aqui resmunguei contra a indiferença electrónica do jornal).

 

Mas esta referência liga-se ao último jornal (25 de Julho), um vero documento onde, para além da actualidade noticiosa que lhe faz títulos, habita um manancial de posições e temas cruciais, e que denotam o ambiente intelectual no país. Um exemplar para guardar, para revisão futura. (E por isso mesmo a merecer perenidade informática). Deixo um rápido apanhado, tamanho o meu fascínio na sua leitura:

 

1. A valorização da reportagem no panorama jornalístico moçambicano, dimensão rara (por vários motivos: de possibilidades económicas, de escola, de hierarquia de importância atribuída a temáticas e locutores). Através da republicação das belas peças de Fernando Lima (texto) e Naita Ussene (fotografia) que valeram ao primeiro ser premiado no Prémio Jornalista Africano 2008 CNN Multichoice.

 

2. Uma reflexão sobre o jornalismo em África. O relato que Lima faz - na sua coluna "Espinhos da Micaia" - (com a lisura de um agraciado) da cerimónia da entrega desses prémios, ocorrida no Gana, sob os auspícios de John Kufuor. Elucidativa da concepção politicamente dominante do estatuto (e da natureza?) atribuída aos jornalistas ... Pois na forma da cerimónia se demonstra que, sob o agraciamento, radica (ainda?) uma ríspida desvalorização, da actividade e dos seus agentes.

 

[E isso chama a atenção para as condições de exercício do jornalismo. Não se prendem apenas com as dimensões políticas referidas acima. O Mail & Guardian dedica um suplemento a estes prémios (sem ligação electrónica). Nele questiona anteriores premiados sobre o efeito dos prémios nas suas carreiras e as respostas ecoam um rol de novos projectos surgidos, de como o prémio é um trampolim - pessoal mas também colectivo. Bem diferente é o testemunho do jornalista moçambicano premiado em edição anterior, centrado na melhoria das suas condições de vida. Numa leitura imediatista é empobrecedor. Mas l(v)endo bem ali está uma tradução das difíceis condições (económicas) de exercício profissional, essas que o leitor apressado esquece aquando critica o produto que lê]

 

(voltando ao Savana).

 

3. Para uma leitura política da actualidade é ilustrador do meio intelectual moçambicano o quase diálogo entre os cronistas habituais. Por um lado Afonso dos Santos remata a sua "Lide Lídima" com "A fase actual do neocolonialismo é, por conseguinte, a fase historicamente necessária para o desenvolvimento da luta pela segunda independência", pensamento teleológico que continua estruturante, ainda que não tão explicitado. Na página ao lado, no "A Talho de Foice", Machado da Graça desmonta criticamente o discurso anti-marxista do secretário-geral da Frelimo, que reclamou a unicidade nacional sob a égide do partido - na prática ecoando uma ideologia de frente de libertação.

 

4. Um texto de crucial importância, a exigir continuidade, é o de David Aloni, "Toponímia e a questão ortográfica". Cheio de sub-texto, e não só porque em ultrapassagem de outras discussões ortográficas. Um ponto subjacente, e que é constante na análise da realidade moçambicana: o assunto é a grafia da língua nianja (cinyanja) e Aloni afirma a sua legitimidade em abordar o assunto dado que é originário (falante) e que não foi "corrompido" [meu termo] pois nunca foi assimilado. É claro que tudo isso lhe dará competências linguísticas de utente, mas o que é interessante é encontrar até num assunto aparentemente pacífico a reclamação de diferentes graus de legitimidade para opinar segundo critérios histórico-ideológicos. Um traço constante aqui.

 

É muito interessante assistir à sua crítica das formas "aportuguesadas" (acentuação, inutilização dos k, w, y, agas mudos, etc) da grafia da língua, que vão entrando em vigor. Não sou linguista, não sei da justificação para tais distinções. Sempre as vi como uma recusa do "português", nunca percebi porque se deve grafar com K e não com C, com W e não U ou V, com Y e não com I. Nunca entendi por que é que essas grafias são mais "fiéis".

 

Mas mais do que isso Aloni levanta duas questões: uma, imediata, a da fixação e divulgação normativa das línguas moçambicanas. Basta consultar diferentes documentos e textos académicos para encontrar diversas grafias, até para a própria denominação das línguas. Uma outra, a das modalidades do seu ensino alargado. E é uma pena que um texto destes, e suas preocupações, se esqueça no jornal da semana passada [para o portal, já!].

 

5. Finalmente, um texto longo de António Cabrita "Porque lêem menos e trabalham menos os africanos?", em diálogo com texto de Gustavo Mavie sobre a indolência moçambicana, já criticado no Nkhululeko. O texto é muito longo, até sinuoso, e resumi-lo é traí-lo. Cabrita encontra uma distinção entre a ética laboral europeia e africana no seio dos diversos exemplos assumidos (entre outros, Heidegger no norte, Mohammed Ali no sul). Não se restringe a isso, envereda por explicações de cariz antropológico muitissimo discutíveis, mas legítimas (aliás, com recurso a bibliografia sufragada), e por um conjunto de afirmações sobre a vida intelectual e educativa na Europa que me parecem forçadíssimas. Mas o interessante é enquadrá-lo no ambiente intelectual dominante. Pois o texto é radica num catolicismo histórico, nele encontramos  a dignidade, a competência, o caminho correcto como alcançáveis através da aceitação e perseguição dos bons exemplos, dos grandes vultos intelectuais. Da vida dos santos, como sempre pregou a Igreja Católica.

 

Enfim, justificado o agrado pela edição que resumo. A pacífica articulação, nada escatológica, destas teleologias. A presença do sub-texto constante. Um registo fascinante de um grupo de pensadores sobre um país (fascinante ele próprio, já agora).

 

Hoje, sexta-feira, é dia de Savana. Não vou perder ... Espero que mais um exemplar para o dossier.

publicado às 02:34

Bronislaw Geremek e a pobreza

por jpt, em 17.07.08
Aqui tomo conhecimento da morte de Bronislaw Geremek.

E logo me recordo das palavras introdutórias ao seu esplêndido "A Piedade e a Forca", que sempre me acompanham, vivendo como vivo num país subjugado ao calão do Banco Mundial, feito mito omnipresente (e dito omnisciente) da Luta Contra a Pobreza Absoluta, o constante PARPA. Não diz só isto, na sua história da utilização do termo "pobreza". Mas assim é inultrapassável:

"Na Europa do século XIX ainda encontramos em certa literatura polemística e no pensamento social uma visão da pobreza como uma "doença vergonhosa" da sociedade moderna que urge debelar por meios novos. Concomitantemente, porém, assiste-se a uma gradual reformulação da abordagem conceptual das análises sociais e do estilo do discurso ideológico. A crise dos programas filantrópicos, o despertar da consciência social das masas e as mutações nas estruturas da vida política fazem com que seja praticamente eliminado da linguagem económica e social o termo "pobreza" (e "miséria"): porque carrega um sentido subjacente de piedade, apresenta-se como um juízo de valor que confere uma atitude de superioridade ao que o emprega. Essa carga semântica emotiva torna-o demasiado ambíguo para servir de instrumento de reflexão e, portanto, pouco operacional nas investigações da ciências sociais. Todavia, quando se estuda o fenómeno nos seus aspectos históricos (...) assiste-se igualmente ao acentuar da tendência para enquadrar a questão da miséria no âmbito (...) da análise das causas das desigualdades sociais e da repartição do rendimento nacional vem substituir a tradicional problemática da pobreza."

[Bronislaw Gemerek, A Piedade e a Forca. História da Miséria e da Caridade na Europa, Lisboa, Terramar, 1995 [1986], tradução de Maria da Assunção Santos]

publicado às 02:27

Barricadas de novo? [adenda]

por jpt, em 25.02.08

Confusão de novo. Anúncios de barreiras na Matola, de "chapas" a não circularem, de escolas fechadas. Decerto que Carlos Serra fará o acompanhamento da situação.

Adenda: tudo calmo, mera greve de "chapas".

publicado às 08:40

A neo-Jacquerie de Maputo

por jpt, em 10.02.08

1. Um susto os acontecimentos de Maputo desta semana passada. Estive longe, na altura no interior da Zambézia sem acesso a comunicações constantes. Na quarta-feira, segundo dia dos acontecimentos, à noite em Morrumbala tive ecos do que se passava, ainda assim meros excertos. Ali, como em tantos outros lugares, a cobertura da MCel, quando existente, é episódica e espasmódica [propositada estratégia para abrir espaço à Vodacom? um dos membros da equipa tinha um cartão dessa empresa e um pouco mais de acesso telefónico. Confesso a minha continuada surpresa, tantos "Verões Amarelos" e as capitais de distrito tão falhas de rede].

Longe dos acontecimentos fui recebendo chuvas de mensagens. E foi talvez a distância que as deixava entender como assustadas e assustadoras. Mas também solidárias - uma "jacquerie" compreensível aos olhos de muitos apesar do jeito violento.

Entendam-me, em Morrumbala ao olhar a TVM e ver barricadas fumegantes e carros em fuga a meros 2 km de casa ("se isto é na TVM o que será nas outras estações!"), ali na Praça da OMM, o "olhar distanciado" apaga-se aliás torna-se "olhar aproximado" e a causa analítica desaparece face à preocupação com a família lá longe, minha ausência a ampliar medos (agora, no depois do lar,  posso sorrir no reconhecimento deste fundo ideológico patriarcal, desta expontânea aceitação da responsabilidade protectora do pater familias, quiçá mesmo do pater potestas. Mas só agora, à distância ...).

Uma corrente de boatos, de comentários, via sms. O carácter espasmódico da cobertura telefónica celular nas capitais distritais implica coisas como acordar às 4 da manhã com o barulho da entrada de 9 mensagens (proto-apocalípticas) relativas ao assunto. Mas a notar algo sobre a neo-modernidade destes movimentos sociais, desta neo-jacquerie - se a mcelização tem vindo a ser denunciada como o extremo da mercantilização do país (o seu peso na estrutura da despesa familiar urbana e periurbana está por descortinar; a dimensão publicitária histriónica das telefónicas "nacionais" e até o seu peso na paisagem urbana e aldeã) este momento demonstra como o mero telefone móvel se tornou um meio de comunicação de massas, de convocação social, muito mais poderoso do que a internet e livre de tentativas de controle social, seja pelo poder estatal, partidário ou até empresarial (já para não falar das omnipresentes associações religiosas).

2. Quando Carlos Serra, o grão-bloguista moçambicano, cumpriu o primeiro aniversário do Diário de Um Sociólogo (o primeiro dos vários blogs que anima) aqui disse que ao bloguismo "... Serra torna-o numa espécie de estação de rádio". No regresso a Maputo logo me elogiam o que Serra fez nos dias tumultuosos da passada semana. Com efeito ali está, ao jeito de rádio, a crónica dos dias passados em actualização constante. E fica também um documento historiográfico de capital importância [o que mais uma vez me leva a referir a necessidade de uma política de arquivo bloguístico]. É ver a sucessão de entradas: Revolta popular em Maputo (5.2.08), ...Tarifas voltam ao estádio anterior (5.2.08), Maputo Fantasmada Hoje (6.2.08), Povo Pacífico Estragado por Mão Externa (7.2.08) (contendo uma aguda análise do discurso do jornal "Notícias", conotável com o Estado), A Espada de Dâmocles (7.2.08), Boato (7.2.08), TPM de luxo na rua... (7.2.08), Antes de Tumultuarmos os Outros ... (8.2.08), O que são Pão e Chapas (8.2.08), ...Canção de Azagaia Sobre a Revolta Popular de Maputo (8.2.08), para entender o dia-a-dia passado. Depois Serra faz (e presumo que continuará a fazer) a sua análise dos eventos. Mas desde já fica o relato do ambiente que se viveu.

3. A ler ainda "As Manifestações", de Elísio Macamo que promete regressar ao tema.

4. Compete, com primazia, aos teclistas moçambicanos a análise dos acontecimentos que se vêm sucedendo. Este residente apenas pode transpirar o que vem inalando: há um hiato entre o real e a compreensão que os poderes dele têm. A vulcanização urbana (e aqui estou de acordo com Serra) e o receio rural - pois se há episódicos movimentos reactivos nas cidades no campo o Estado é temido, tal como os seus agentes (mesmo sendo um mero antropólogo estrangeiro), um silêncio que pode ser tomado como adesão mas não a é. Tudo isto aponta para novas formas de diálogo social. Resta saber se intra-partidárias se trans-partidárias. Esperemos (um "nós" de gradualistas) que das primeiras.

publicado às 12:06

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por jpt, em 10.01.08

"Alguma novidade? O que se passou nestes dias?", chego, coloquial bem-disposto ao seio dos colegas. "Morreu o Carlos Tembe". Morte abrupta, inesperada. Um homem da minha idade, o frémito, egoísta, de contactar com o que nos pode acontecer e logo em alguém que, ainda que vagamente, cheguei a conhecer. Mas logo a seguir o lamento, pela morte absurda, claro. Mas, também, pelo vazio que um autarca de mão cheia deixará. Ali à Matola. E não só. Vénia.

publicado às 21:46

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por jpt, em 04.12.07
A minha alma está parva. Dia importante o de ontem, e não pelo aniversário bloguístico. O anúncio de que a "menina dos olhos" irá (já!?) ascender ao "ensino primário" (ainda é assim que se diz?). Um must. O anúncio que não se renovará um contrato profissional (oops), passar a trabalhar sem bandeira pois então. Um não tão must. Mas, francamente, mais do que tudo, isto de sair à noite para beber um café, entrar no estaminé do costume, puxar do cigarro e acorrerem a informar que é proibido, eu no espanto "o que é que deu ao patrão?" - e que nada disso, o gerente apontando os cartazes pendurados piripiri de alto a baixo, espetados pela solícita inspecção estatal. Pois há nova lei, desde dia 1 de Dezembro: proibido fumar em restaurantes, bares, discotecas. Tiro e queda.

Estrangeiro que sou que posso dizer ("acenda um cigarro sô Teixeira, os outros também fumam" hão-de-me dizer, e eu claro que sim)? Não legislo, acato (mas vou fumando, por enquanto). Mas resmungo ao arame farpado, claro. Lembrando tantas outras coisas legisláveis ou inspeccionáveis.

Mas deve ser isto o desenvolvimento ...

publicado às 00:32

...

por jpt, em 04.12.07
A minha alma está parva. Dia importante o de ontem, e não pelo aniversário bloguístico. O anúncio de que a "menina dos olhos" irá (já!?) ascender ao "ensino primário" (ainda é assim que se diz?). Um must. O anúncio que não se renovará um contrato profissional (oops), passar a trabalhar sem bandeira pois então. Um não tão must. Mas, francamente, mais do que tudo, isto de sair à noite para beber um café, entrar no estaminé do costume, puxar do cigarro e acorrerem a informar que é proibido, eu no espanto "o que é que deu ao patrão?" - e que nada disso, o gerente apontando os cartazes pendurados piripiri de alto a baixo, espetados pela solícita inspecção estatal. Pois há nova lei, desde dia 1 de Dezembro: proibido fumar em restaurantes, bares, discotecas. Tiro e queda.

Estrangeiro que sou que posso dizer ("acenda um cigarro sô Teixeira, os outros também fumam" hão-de-me dizer, e eu claro que sim)? Não legislo, acato (mas vou fumando, por enquanto). Mas resmungo ao arame farpado, claro. Lembrando tantas outras coisas legisláveis ou inspeccionáveis.

Mas deve ser isto o desenvolvimento ...

publicado às 00:32

Sítio ODAMoz

por jpt, em 26.11.07
ODAmoz "é um novo instrumento electrónico financiado pela CE que fornece uma informação da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (ODA a Moçambique). Foi criado como resposta à Declaração de Paris segundo a qual deve – se fortificar a harmonização e alinhamento entre os doadores e alinhamento entre os Governos. A ODAmoz permite captar projectos e Programas dos doadores e Agências das Nações Unidas a operarem no país."


Tem uma vasta gama de informações. A ligação constante fica afixada na coluna da direita, no grupo "sítios" (há quem chame "sites" mas existem escolas de línguas).

publicado às 23:41

Marcelo Rebelo de Sousa: «Sou nacionalista» - YouTube

A entrevista de Marcelo Rebelo de Sousa, concedida ao Savana. Ei-la, acho-a muito interessante. A negrito o título e os sub-títulos do jornal, a negrito e a itálico as perguntas da entrevistadora.

*************

As notas do professor Marcelo

Entrevista conduzida por Paola Rolletta*

O filho de um dos poucos governadores coloniais que deixou saudade em Moçambique está de volta à terra que o viu crescer. Marcelo Rebelo de Sousa, catedrático universitário, político, bloguista, comentador com lugar cativo nos media, veio formalmente para dar aulas na universidade. De caminho – o homem que só dorme quatro horas por noite - atendeu-nos fora de horas, no velho novo Polana, para dar "as suas notas" sobre políticas e políticos, os media, heranças de colonizadores e colonizados na hora da globalização. Aqui ficam as respostas

Em Moçambique estão as instituições consolidadas a ponto de os dinheiros externos irem directamente para o orçamento do Estado?

Tudo é relativo na vida. Em termos relativos, comparando Moçambique com a generalidade dos países africanos e até com países de outros continentes, nomeadamente o continente asiático, neste espaço de tempo Moçambique conseguiu mudar a constituição, estabilizar a vida política, ter um funcionamento das instituições que é um funcionamento melhor com a generalidade dos países com os quais se pode comparar.

É natural que em democracias "emergentes" a prática política seja reflexo do monopartidarismo?

O que nós temos em Moçambique são regimes de transição, temos um regime económico de transição para o capitalismo, e como todo o regime de transição é um regime misto, com contradições, com avanços e com recuos, começou com um regime que se quis socialista, e que está a introduzir progressivamente áreas de capitalismo, e essa mudança é feita com tensões, haverá quem considere que se está a ir longe demais, e que é uma traição aos ideais iniciais, e haverá aqueles que considerem curto e lento demais porque há que fazer reformas que permitam ter maior competição e maior abertura ao capitalismo e ao mesmo tempo um regime politico de transição do monopartidarismo e com forte controlo do poder politico pelo partido que representou a luta pela independência para uma realidade mais plural, mais flexível. Esta transição para uns está a ser rápida demais, a Frelimo está a ceder e há sectores na Frelimo porventura duros que acham está a ceder em matéria de admissão da liberdade de expressão, pluralismo excessivo.

Países como Moçambique deviam dar prioridade à consolidação interna do Estado-Nação ou dar prioridade ao posicionamento no mundo globalizado?

É uma situação às vezes contraditória, tem que se fazer ao mesmo tempo as duas coisas que às vezes vão entrar em contradição. Por um lado num país tão grande e além de tão grande extensão territorial e com diferenças muito grandes, também é uma prioiridade haver um mínimo de homogeneidade e de identidade nacional, sabendo nós que essa identidade nacional é feita de diversidades culturais imensas, mas tem de haver o mínimo de homogeneidade para não se partir o país. Basta pensar que o Norte e uma parte do centro tiveram problemas de cheias, e o sul de secas, quer dizer que mesmo nas coisas mais simples, do ponto de vista climático, há sub-países diferentes, portanto para manter a unidade do pais há um esforço da construção da homogeneidade muito grande, ao mesmo tempo, a competição internacional força a criação de pólos e é mais fácil criar pólos em certas áreas mais avançadas do que noutras. Portanto é tentador desenvolver certas áreas mais depressa do que outras para competir com o exterior, o que vai contra a tendência da homogeneidade.…

por isso que foi criado o projecto NEPAD

Atenua, são formas de correcção de desigualdades, agora é evidente que há zonas onde é mais fácil instalar certos investimentos. Há investimentos industriais, há investimentos comerciais, até infraestruturais que têm que se fazer em certos sítios. Fazer diferente tem outros custos. Não se pode escolher os vizinhos nem se pode escolher a geografia, é como é.

Qual é o limite entre uma ditadura boa e uma democracia má?

A diferença entre democracia e ditadura é feita de quatro coisas: garantia dos direitos, possibilidade de eleger livremente os governantes, pluralismo de opinião, pluralismo de organização política, isto é fundamental para haver democracia plenamente afirmada. A ditadura é o contrário disso, é imposição de uma só ideologia e proibição das outras, de um só partido e proibição dos outros, o sacrifício dos direito em função da máquina do aparelho do poder e a existência de limites efectivos de condicionamento livre do voto das pessoas. Os regimes mistos ou de transição são aqueles em que nós encontramos características mistas.

E Moçambique onde está?

Provavelmente Moçambique está neste processo evolutivo, já não há um partido único, ainda não há o pluripartidarismo completo, já não há uma ideologia exclusiva, ainda não há concorrência ideológica aceite sem complexos, já não há ideia de sacrifício de alguns direitos fundamentais sobretudo políticos em função de um aparelho, de um objectivo, mas os direitos vão sendo aprendidos, garantidos, e há por outro lado processos eleitorais entendidos de uma maneira diferente daquilo que foi a experiência moçambicana. Ou seja, os avanços destas quatro características, para mim, são sempre positivos. A ditadura pode parecer até muito eficaz, a ideia de que um poder politico monolítico é mais eficaz porque decide e manda, mas é a curto prazo, a médio prazo os sistemas mais flexíveis são os que se adaptam melhor a um mundo de mudanças sobretudo quando as economia são abertas e quando as sociedades são abertas nem sequer podem ser fechadas.

O que é para si a sociedade civil?

Sociedade civil é tudo aquilo que não é o poder político do Estado, entram todas as iniciativas dos cidadãos, associações, fundações, sociedades, empresas, isso é sociedade civil, no fundo a comunidade em geral, os cidadãos e os seus grupos, e as suas formas de intervenção e no fundo acabam por influenciar, condicionar, ter um papel junto do poder político.

Em Moçambique, a sociedade civil é dominada por instituições e militantes do partido no poder.

As sociedades civis são duma maneira geral fracas em países novos. O que se passa em estados novos, e Moçambique é um estado novo, com uma história pós-independência muito curta, a sociedade civil é necessariamente fraca, porque a independência é fruto de uma luta política, em que há forças politicas liderantes, nomeadamente um partido liderante, e à medida que o Estado vai criando as suas instituições, e a economia vai estabilizando, em que vai havendo desenvolvimento social, é que a sociedade civil vai fortalecendo. Mesmo em países europeus velhos como é Portugal a sociedade civil é tradicionalmente fraca porque o poder político esmaga a sociedade civil, manda na sociedade civil, domina a sociedade civil, em termos económicos, em termos sociais e às vezes em termos culturais, portanto não é um fenómeno único, é muito frequente em todo o mundo. O que é raro é ver países com sociedade civil forte.

O panorama dos media

Em Moçambique e em Angola, estão a surgir jornais a toda hora, processo que não é acompanhado pela rádio e pela televisão.

É mais barato fazer jornais e, fazer jornais num regime de transição política têm menos limites burocráticos e políticos. A televisão, por razões técnicas, porque não há muitas frequências, o poder politico tem sempre medo de dar autorizações para televisões, mesmo em democracias antigas tem medo, mesmo nas rádio é um processo mais administrativo, mais controlado, limitado, eu diria numa primeira fase é jornais. No começo da democracia portuguesa foi assim, a loucura dos jornais de 74 até princípio dos anos 90, depois rádios, e só agora as televisões. O processo evolutivo em Moçambique começou mais tarde, estamos na fase dos jornais, a seguir virá a fase das rádios, que tem muita importância num país tão extenso, e depois televisões, que, apesar de tudo, vai muito razoável porque vi que há dois canais privados.

É só um problema de tempo?

É um problema de tempo… e também de mercado. A televisão privada precisa de sobreviver com receitas, a publicidade depende da evolução económica, à medida que vai crescendo, como se espera, a riqueza moçambicana, também cresce a publicidade e isso permite um mercado maior, e alargando-se o mercado em termos não só regionais mas também nacionais é possível alargar o pluralismo da televisão, é um processo não só político mas também económico e financeiro.

E o futuro?

Vai ficar apenas uma parte da imprensa escrita, vai diminuir o número de jornais diários, ficarão poucos de referência, ficarão alguns populares, nomeadamente desportivos, mais outros populares sociais, a imprensa semanal vai aumentar a sua importância, a imprensa especializada vai aumentar a sua importância, temas especializados, a pesca, a caça, a imprensa para a mulher, temas científicos e técnicos, e depois vamos ter a televisão, cada vez mais interactiva, e ela própria especializada, ao lado da genérica, nas sociedades mais ricas, o que já hoje acontece.

Faz sentido estar a discutir a carteira profissional quando já estamos a falar de jornalismo do cidadão?

A carteira profissional corresponde a uma fase do jornalismo tradicional, mas também houve pessoas como eu… o sindicato nunca me deu a carteira. Mas houve uma fase em que a carteira profissional teve um papel disciplinador, foi o de garantir por um lado o peso do sindicato dos jornalistas e por outro lado alguma autonomia dos jornalistas em termos deontológicos.

Mas o problema da filiação sindical para carteira é anticonstitucional em Portugal e em Moçambique…

O sindicato no fundo é uma ordem, desempenha simultaneamente a função de sindicato e de ordem, é uma perversão, mas é por isso que em Portugal há o debate sobre a constituição de uma ordem, o sindicato que defende os direitos laborais e a ordem que trata da questão deontológica. Mas há um novo jornalismo que está a nascer, a blogoesfera. Neste momento, o caso maior, Sócrates(primeiro-ministro de Portugal), foi levantado há dois anos num blog. E ninguém pegou. Dois anos depois as informações chave vieram desse blog. Em rigor uma parte fundamental da pesquisa jornalística foi feita pelo blog. Isto é um dado novo, mas temos de ser sinceros: o número de pessoas que vai à blogoesfera é reduzido. Se os jornais escritos não tivessem pegado e se uma grande cadeia de televisão não tivesse dado projecção, aquele caso teria ficado muito anos sem chegar à opinião pública. Há sociedades em que a blogoesfera já põe em crise a definição e o estatuto de jornalista, há outras onde vai demorar algum tempo a fazer.

Revisitar a cooperação

Disse aqui em público que é preciso regar a planta da democracia. Porque é que a cooperação portuguesa apoia apenas a TV e a rádio estatal. Assim não se corre o risco de secar a planta?

Nunca tinha pensado nisso. A meu ver, a razão histórica deve ter sido uma razão de inércia, como no início havia tv e rádio pública em Portugal e em Moçambique estabeleceram-se ligações e habituaram-se a apoiar as suas parceiras públicas. É evidente que no futuro acho que a cooperação pública, quer as rádios e televisões privadas portuguesas devem fazer cooperação estimulando essas novas realidades privadas na tv e rádio.

Está a sugerir uma compartimentação das cooperações?

Isso é uma visão já ultrapassada. A cooperação foi definida por um lado Estado a Estado e por outro lado pensando na sociedade civil como sendo só sociedade civil pobre, não lucrativa. Porque se pensou que para os privados haveria os privados. Ainda é assim, mas penso que no futuro há a exacta noção de que o apoio internacional, o apoio externo deve ser canalizado não só para instituições sociais e de solidariedade social não lucrativas como criando condições para o desenvolvimento de empresas privadas que são fundamentais para o avanço da economia moçambicana. O mundo é outro em geral e nestes casos particulares a cooperação tem que ser repensada de facto.

As estatísticas dizem que o investimento português está a diminuir…

Não sei se está a diminuir, há projectos de investimentos em várias áreas em cima da mesa, em sectores importantes, construção de infra-estruturas, portos, estradas, maior desenvolvimento da banca, indústria, há vários projectos (e não posso entrar em pormenores), mas há grupos portugueses novos.

Encontrou-se a melhor solução para Cahora Bassa?

Sou suspeito porque trabalhei em Cahora Bassa entre 76 e 79 como jurista. Assisti ao lançamento de Cahora Bassa, porque o meu pai era governador de Moçambique e pôs como condição para vir para cá a realização de Cahora Bassa que era um ponto mesmo muito discutido na ditadura. Mais de metade do governo era contra Cahora Bassa e foi uma discussão muito difícil. Assisti ao começo da construção, trabalhei por mero acaso mais tarde como jurista. Eu pessoalmente tenho pena que não tivesse sido possível encontrar mais cedo uma solução mais virada para o futuro e em que Portugal pudesse continuar empenhado. Admito que as coisas são como são, e havia uma vontade moçambicana muito forte de resolver a questão no sentido de encontrar outras alternativas, portanto com pena por não ser Portugal o parceiro em Cahora Bassa, até porque afectivamente me dizia muito. Admito que no futuro Moçambique tenha outros parceiros que não Portugal em Cahora Bassa, admito que o governo português não tivesse muito espaço de manobra para dizer que não a Moçambique quando Moçambique queria que Portugal saísse

Na política moçambicana

Qual é a sua percepção da passagem de testemunho Chissano-Guebuza?

Corresponde ao início de um terceiro ciclo político, Machel, o ciclo ideológico, militante próprio da fase inicial da independência, doutrinário. O ciclo da estabilização política, não diria de desideologização é capaz ser demais do Chissano, mas subida das preocupações de gestão, em primeiro lugar de gestão política e da estabilização das instituições e agora a gestão económica e social com preocupações económicas e sociais que no fundo acabam por trazer mudanças políticas. A mudança económica e social traz a mudança política. Em Portugal por exemplo a necessidade de entrar no processo de integração europeia obrigou a rever uma série de escolhas políticas. Aqui não é tanto esse processo de integração mas é de globalização.

É diferente aqui?

Moçambique está um caso de estudo muito interessante e de intervenção internacional, isso vai significar uma série de mudanças, reformas económicas e sociais que num primeiro momento suscitam alguma objecção de sectores duros do regime em termos políticos mas que são inevitáveis e que têm depois consequências políticas a prazo. No quadro das experiências de democratização de países jovens e com problemas económicos, Moçambique tem feito um processo com uma segurança, um pragmatismo, que torna perante algumas entidades de crédito internacionais um país de menos risco do que países como Angola que é muito mais rico.

Um "bloguista" local escreveu que o governo Guebuza é Chissano com enxertos de Samora.

Acho que é uma simplificação. Há um lado tecnocrático de preocupação de gestão económica, financeira e social que não tem nada a ver com a fase heróica de Samora e não tem nada a ver com a gestão política que foi difícil e complexa em Chissano. É outra coisa. Estamos a falar do começo de um ciclo, o próprio presidente Guebuza, quando está a dar a volta pelo país, está a reforçar o seu poder político pessoal e portanto às tantas o poder dele já não deriva de uma transmissão de ou permissão de um directório partidário, é um poder que se vai legitimando em termos pessoais progressivamente.

África e a Europa

Acha que África existe na União Europeia?

Felizmente que existe um presidente da Comissão Europeia que conhece bem África(Durão Barroso). O grande problema da Europa chegou a ser para mim um problema gravíssimo foi Europa não perceber África. O que é estranho porque poderia dizer-se como é que antigas potências colonizadoras não percebem África. Mas as antigas potências colonizadoras eram uma minoria dos parceiros europeus e uma minoria especial A Alemanha estava e está a leste da realidade africana. Lembro-me ter tido uma conversa com o chanceler Khol em que disse "para mim África morreu, é um continente perdido". E quando Khol, que é um homem particularmente inteligente e fundamental para a reunificação alemã tinha essa visão, que era a visão de muitos políticos europeus na altura … há outros países começaram a abrir os olhos para a realidade africana muito recentemente.

Por causa do problema da migração…

Entre outras coisas. Quando perceberam o seguinte que não há nem pode haver continentes perdidos, primeiro porque há áreas desse continente que vão mais rápidas do que outras, segundo porque se um continente tão ligado à Europa como África é um continentes com graves problemas de saúde, educação, desigualdades económicas e sociais, isso vai projectar-se na Europa imediatamente.

Mas nem sempre foi assim…

A Europa estava ocupada com o seu umbigo, com problema de gestão interna, com o problema do alargamento, há países do leste que não têm nada a ver com África, nunca tiveram, têm a ver com outras realidades, com a Rússia, antiga União Soviética, é outro mundo. Depois havia os países nórdicos que têm uma visão muito disponível e muito idealista de África, e que é importante, mas não tinham grande papel na construção europeia. De facto um deles, que tem um particular papel nas relações com África, não faz parte da União Europeia, a Noruega. A Finlândia é muito peculiar, a Suécia que tinha algumas relações com África. Como um todo, África não era uma prioridade, foi por isso que se tentou várias vezes uma cimeira Europa-África e nunca foi possível. E pela primeira vez, com a presidência portuguesa, mas não é só mérito de Portugal, começa a ser uma prioridade europeia. Demorou é muito tempo, perdeu-se pelo menos uma década e meia, e isto em política, economia e problemas sociais, uma década e meia é uma eternidade porque significa que uns avançam e outros ficam para trás. Por outro lado os EUA muitas vezes têm tido uma falta de compreensão da realidade africana. Tentam compreender mas não compreendem, como aliás não compreendem a realidade europeia. Há ali um problema de dificuldade de linguagem, estão lá, estão atentos, interessados, querem entender e não conseguem, mas isso se passa em todo o mundo … não entendem a realidade asiática, é muito peculiar o que se passa com muito sectores americanos. Na Europa, felizmente que houve uma inversão de tendência e estamos no bom caminho embora atrasados.

publicado às 16:16

Um necessario texto, hoje publicado no jornal Noticias. Francisco Noa rematando contra o nao-pensamento que se quer dominante. Eis:


A Riqueza das NaçõesFrancisco Noa

Um país se faz com homens e livros.

Monteiro Lobato, escritor brasileiro

Colocação

A Riqueza das Nações é o título de uma das obras mais emblemáticas da era moderna. Da autoria do escocês Adam Smith (1723?-1790), trata-se de um grandioso trabalho dividido em cinco livros, fruto de um aturado e notável exercício de investigação, em que cruzando teoria e prática, o autor emerge como o pai da economia do nosso tempo e um dos teóricos mais relevantes do liberalismo económico.Defensor acérrimo da iniciativa privada, pressuposto segundo o qual o governo deve ter pouca ou nenhuma intervenção, Adam Smith entendia que era na actuação dos indivíduos, com muito trabalho e muito empenho, e numa base de livre concorrência, que se realizaria o crescimento económico e a inovação tecnológica que, em última instância, resultaria na riqueza das nações.As teorias deste ilustre pensador do século XVIII, que obviamente tiveram os seus detractores e seguidores, influenciaram não só gerações inteiras de economistas e políticos do mundo inteiro, como serviram de inspiração a muitos dos países que são hoje as mais destacadas referências de desenvolvimento económico, social e tecnológico.

Equívocos

Nos últimos tempos, com apreensão e assombro, tenho escutado de alguns quadrantes da sociedade moçambicana, políticos, sócio-económicos e, mesmo (pasme-se!) académicos(!), com uma insistência que raia a afronta indecorosa e irresponsável, afirmações do género: “precisamos de riqueza não de teorias”, “não é com palavras que se desenvolve o país”, “empreendedorismo faz-se com trabalho não com livros”, “a academia precisa de produzir riqueza e não andar a escrever livros bonitos”, etc...E a agravar esta percepção temos a perversa associação feita entre o livro e as ciências sociais, as humanidades e todos os seus correlatos que surgem assim interligados se não como uma das causas do nosso atraso quase endémico, pelo menos como factores de entrave para o salto que se pretende dar. Isto, justamente, porque na óptica esclarecida dessas pessoas, esses domínios representam teorias e ideias estéreis, imobilismo, parasitismo e alienação em relação a questões fundamentais para o desenvolvimento do país.Por outro lado, está claramente implícito nas pressuposições destas respeitáveis figuras que se, por um lado, a riqueza só pode ser material, por outro, ela irá brotar somente quando os homens meterem desenfreadamente as mãos na terra, nas ferramentas, nas máquinas e nos negócios. Mais grave, ainda, um estranho golpe de amnésia faz com que se esqueçam que tanto eles como o mundo chegaram onde chegaram, por terem franqueado a entrada para os trilhos da edificação pessoal através do conhecimento, especialmente daquele que está sistematizado nos livros.Penso que podemos encontrar parte da justificação destas posições nas razões que, de seguida, proponho:· primeiro, devido a uma enraizada e atávica reminiscência da matriz cultural do nosso colonizador disseminou-se, neste país, uma cultura de afirmação intelectual, social e profissional que, cada vez mais, assenta na pose, no estatuto, no cargo que se ocupa, no título académico (doutores e outros que tais) e nas mesuras ao poder do que propriamente na capacidade de intervir produtiva, crítica e qualitativamente na resolução das grandes questões do país· segundo, o desregramento galopante de valores a todos os níveis que fazem as pessoas perderem, ou não adquirirem nunca, a capacidade de destrinçar o essencial do acessório, o contingente do estratégico e o efémero daquilo que é duradoiro· terceiro, a colagem ao princípio da performatividade, responsável pela hegemonia da racionalidade técnica e tecnológica, e que adoptado de forma apressada e perfunctória leva as pessoas a acreditarem que só é válido tudo aquilo que tem uma aplicação prática, visível e imediata· quarto, a crise da legitimação do conhecimento muito bem analisado por Jean-François Lyotard no seu livro A Condição Pós-Moderna (1989), onde entre outras colocações, o autor chama a atenção para o facto de se viver um dilema sobre o estatuto actual do saber científico que torna mais vincada a questão da dupla legitimação: quem decide o que é o saber e quem sabe o que convém decidir. Daí que a subordinação das universidades aos poderes (político, económico) e às demagogias é apenas um passo. Isto é, deixam de ser as instituições de ensino superior a determinarem os critérios da sua auto-legitimação e de legitimação das competências fundamentais para o desenvolvimento do saber e da sociedade.Que ninguém tenha dúvidas que a riqueza de um país vai resultar da cultura de trabalho que for assumida sábia e responsavelmente por cada um e por todos os cidadãos dessa nação. Mas que se desengane quem acreditar que essa riqueza será fruto única e exclusivamente do trabalho braçal, da monótona circularidade das máquinas e dos negócios que se possam desenvolver, no nosso caso, muitas vezes, de forma obscura, penosa e inconsequente. Ou, por outro lado, estará redondamente enganado quem assumir que o conceito de riqueza se circunscreve única e exclusivamente à realidade objectual e aos bens materiais.Duas das grande revoluções que permitiram o saldo intelectual e tecnológico do Ocidente, Revolução Científica (secs. XVI-XVIII) e Revolução Industrial (séc. XVIII), só triunfaram, efectivamente, e tiveram o alcance que tiveram e cujos efeitos perduram, porque foram acompanhadas e profundamente alimentadas por um sistemático, intenso e profícuo exercício filosófico e humanista. Temos, neste particular, entre outros, Erasmo de Roterdão, Francis Bacon, René Descartes, John Locke, Thomas Hobbes, Diderot, Kant, Voltaire, Montesquieu, Rousseau, etc...O inquestionável sucesso desenvolvementista de países como o Japão, a China, a Índia, a Coreia do Sul, Singapura só é real porque o investimento nas tecnologias é acompanhado, quando não antecipado, por uma profunda e consequente profusão de ideias e de teorias, das mais arrojadas às mais realistas, das mais mirabolantes às mais pragmáticas. E sobretudo porque existe um profundo lastro humanista materializado no lugar que a cultura e o próprio homem ocupam nas estratégias que se inscrevem no projecto de país que cada uma dessas nações desenha e define claramente.Num país como a China que, como é sabido, de há uns anos para cá vem apresentando os maiores índices de crescimento económico, em todo o mundo, e num regime político muito rígido, a acção de intelectuais, em que, entre outros, se destaca o historiador Wang Hui, tem levado o governo a flexibilizar as suas posições e a introduzir alterações profundas em questões de impacto social como seja a melhoria das condições dos trabalhadores nas cidades e no campo, no maior respeito pelos direitos humanos, em geral, ou caso da aplicação da pena de morte, em particular.

Do saber e da liberdade de pensar

Retomando as posições a que fiz referência, no início, gostaria de tentar desfazer alguns equívocos:· primeiro, a insistência na demarcação epistemológica entre ciências sociais e humanas e ciências naturais e tecnológicas, ou entre saber teórico e saber prático ou, simplesmente, entre ciência e técnica; trata-se, obviamente, de uma distinção dicotómica, de natureza anacrónica e que resulta do facto de se resistir a perceber, ainda, as grandes transformações teóricas, científicas, culturais e filosóficas que se vêm processando desde os meados do século XIX e que demonstram a inutilidade, ineficácia e a falta de sentido desse tipo de dualismos, perante uma racionalidade que, segundo Boaventura de Sousa Santos, em Um Discurso sobre as Ciências (2003), é aglutinadora, problematizadora e pluralista. Por outro lado, a vocação interdisciplinar das ciências pós-modernas e a crise das evidências fazem ruir as demarcações que a viva força se tentam fazer entre os vários campos de conhecimento.· segundo, não existe desenvolvimento real e efectivo enquanto não houver clareza e honestidade intelectual na definição de estratégias. E toda a estratégia, para ser bem sucedida, é incompatível com visões imediatistas, miméticas, dogmáticas, sectárias e míopes. Acabei, há dias, de ler Memórias em Voo Rasante (2006) de Jacinto Veloso, um livro extremamente interessante e curioso sobretudo por aquilo que ele não diz. Julgo que o princípio que, segundo ele próprio, rege a acção da diplomacia entre serviços secretos de “nunca falar mentira e raramente dizer a verdade” será o grande responsável por essa estimulante margem do muito que ficou por dizer. Nesta obra, são várias as passagens em que o autor não só sugere como faz referência aos inúmeros erros que foram cometidos ao longo destes últimos quarenta anos - acto absolutamente notório por ser raro, como se fosse sustentável acreditar-se que ninguém se engana, ninguém comete erros e ninguém tem dúvidas -, como também insiste quer na necessidade se um projecto do país realista, consistente e consequente quer na importância de estratégias eficazes para viabilizar esse mesmo projecto. “Recordar Eduardo Mondlane”, como último capítulo do livro, parece-me, neste aspecto, uma escolha eloquentemente significativa e intencional.· terceiro, meter no mesmo saco, ciências sociais, livro, cultura (refiro-me a cultura como edificação), como alvos a abater, implícita e explicitamente, é bem um dos grandes sintomas de ligeireza do nosso tempo e da tirania do materialismo pós-industrial e rasca. E é também revelação do temor que se tem em relação à palavra enquanto expressão de ideias livres, plurais, dinâmicas, construtivas, inconformadas, diversificadas, questionadoras. Sobretudo, enquanto afirmação de sabedoria e de um apurado sentido crítico.Sabemos todos que por razões várias, internas e externas, os países africanos vão teimosa e dolorosamente disputando os últimos lugares na lista dos países em vias de desenvolvimento. A expressão “vias de desenvolvimento” não passa, em muitos casos, de um eufemismo que disfarça mal a aviltante condição dessas nações.E teimosamente continuamos a não perceber que o défice intelectual, reflexão e de debate (não a demagógica e populista; aliás, o Elísio Macamo tem várias vezes apelado para a questão da competência no debate) vai impedindo que as nossas mentes e vontades vislumbrem as soluções e os caminhos que, adequados ao nosso tempo e aos nossos circunstancialismos, verdadeiramente nos iriam colocar nos trilhos de um desenvolvimento real, sólido e irreversível.Nenhuma sociedade, especialmente no mundo actual, se pode considerar minimamente funcional e estável enquanto não assumir o conhecimento, na sua totalidade e profundidade, como seu maior fundamento.Num livro já antigo mas muito actual, Jean-Marie Domenach, em O Retorno do Trágico (1968), chama a atenção para o facto de toda a sociedade em transformação pedir aos seus intelectuais doutrinas estáveis, onde os enigmas encontrem soluções e o sofrimento consolação. Isto é, só o pensamento sistemático, livre, fundamentado e diversificado assegura um destino mais suportável e mais risonho para os países. 

É, nesta conformidade, e com lúcida frontalidade, que o historiador congolês Elikia Mbongolo, numa entrevista reproduzida pelo semanário Savana (23/02/2007), reconhece que não existe propriamente uma intelligentsia real, em Moçambique, capaz de, à semelhança de outros países africanos como o Senegal, o Gana, o Quénia e a Nigéria, debater os interesses do país, tomar posições e fazer avançar as suas resoluções. Para ele, um intelectual tout court, deve assumir uma liberdade de análise, de abordagem, de tom e de palavra.Muito recentemente, perante a absurdidade do morticínio e da devastação causada pela explosão do paiol, nos arredores da cidade de Maputo, foi notória a inépcia e quase inexistência dessa intelectualidade que, encolhida e temerosa, ficou-se pelo silêncio envergonhado e pela indignação sussurrada. A reacção espontânea, por isso talvez desarticulada e desapoiada, de cerca de sessenta pessoas, maioritariamente jovens, numa manifestação rápida e desproporcionalmente reprimida e abafada, demonstrou que nem tudo está perdido. A indignação funciona, muitas vezes, como uma válvula de escape daquilo que as pessoas têm de mais profundo e nobre.Há dias, colocava os meus estudantes - como o tenho feito sempre na minha actividade como professor há cerca de vinte e cinco anos - perante um dos desafios que considero absolutamente prementes e inadiáveis para o nosso tempo e para a nossa sociedade, em particular: eles (todos nós, afinal) tinham que rapidamente escolher entre pertencerem à massa pensante, crítica e inconformada ou serem simplesmente massa esparguete.Não tenho dúvidas, também, que o processo de esparguetização desta sociedade está em curso e de forma acelerada. Basta que nos detenhamos a olhar para o espaço público e para espaços que deviam ser verdadeiras fábricas de soluções e de conhecimento, caso das universidades, e verificar como todos eles estão invadidos pela incompetência, o aventureirismo, o analfabetismo funcional, a subserviência, o arrivismo, a impostura intelectual e uma assustadora ausência de profissionalismo indiciando uma insuportável tibieza no que concerne a posturas, atitudes, valores e exigências.

Ode à riqueza do espírito

Entre muitas coisas que se nos vão impondo, a cada um e a todos, o que precisamos, mesmo, é de produzir muito pensamento, muita investigação, muita imaginação (sobretudo muita imaginação para nos sabermos reinventar a nós próprios e aos nossos destinos), muita cultura, materializados em ideias, arte, ciência, acções concretas e livros infindáveis, belíssimos e úteis.Livros com muita teoria e livros com um incomensurável sentido prático e da realidade.Livros que nos ensinarão a escolher as melhoras culturas para a nossa agricultura precária, as melhores máquinas para a nossa indústria quase inexistente, os melhores instrumentos para contornarmos a nossa indigência quase generalizada.Livros com os quais aprenderemos a melhor desenhar e construir as nossas casas, escolas, hospitais, estradas, pontes e barragens. E que nos expliquem, sobretudo, como criar uma burguesia forte, instruída, trabalhadora e patriótica.Livros que nos permitirão ter melhores médicos, melhores professores e melhores técnicos, no geral.Livros que exprimirão e elevarão a nossa sabedoria, livros que resgatarão o que de melhor existe dentro de nós, livros que nos ensinarão a melhor governar os nossos atormentados países, territórios inóspitos onde escasseiam os livres pensadores, a criatividade e a possibilidade de intervenção efectiva e consequente.Livros, enfim, que nos farão melhores cidadãos, tanto do país em que vivemos como do mundo que aspiramos habitar. Cidadãos conscientes dos nossos direitos e dos nossos deveres.Livros como o que foi superiormente escrito por Adam Smith e por outros em múltiplos e variados domínios de conhecimento, ou, então, os que nos têm sido legados pelas consciências verdadeira e notoriamente iluminadas por esse mundo fora e ao longo dos tempos: Homero, Virgílio, Dante, Camões, Shakespeare, Cervantes, Goethe, Proust, Henry James, Jane Austen, Thomas Mann, Dostoiewski, Machado de Assis, Pessoa, Kafka, Hemingway, Jorge Amado, Sartre, Senghor, Cesaire, Nkrumah, Cesare Pavese, Fanon, Garcia Marquez, Nadine Gordimer, Soyinka, Chinua Achebe, Craveirinha, Cotzee, etc, etc, e que são, afinal, a suprema expressão da riqueza das nações e da humanidade. Por isso mesmo, todos eles, livros belíssimos, incontornáveis e imortais.Não tenho dúvidas de que a respiração de uma nação é feita através produções de espírito que ela realiza. Em especial, dos livros que ela lê, produz e faz circular.Para terminar, entendo que o desafio primordial que se nos coloca antes de continuarmos a falar em desenvolvimento e de combater o que quer que seja, será o de clarificarmos, individual e colectivamente, qual a nossa relação com o pensamento livre, questionador, consequente e plural, pensamento como real expressão de elevação, de sabedoria e de cultura. O que pretendemos, afinal, a sua demonização ou a sua consagração?

Maputo, Abril de 2007

publicado às 15:08


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