Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



No feedly (9)

por jpt, em 18.05.14

 

Portugal agora, em meia dúzia de textos.

 

- Vasco Graça Moura (1 e 2), em textos no Abrupto.

 

- "O pedantismo e o atestado de estupidez passado às pessoas", no Nada os dispõe à acção.: um texto imperdível sobre a "esquerda" lusa e as eleições.

 

- "Mudar de vida": o Carlos Azevedo do The Cat Scats emigrou. De peito feito.

 

- "Prevalência da política" no Portugal dos Pequeninos.

 

- "Profetas da nossa terra" no Fio de Prumo: lembrando a vertigem do ex-ministro Mário Lino, já décadas após ter sido o antigo controleiro supra-moralista dos comunistas portugueses destacados para Moçambique.

 

publicado às 06:19

O pior já passou

por jpt, em 05.05.14

 

 

Agora mesmo, sigo no taxi onde o rádio está sintonizado na RDP-África (estou no centro da cidade, há recepção da estação, pois há décadas que basta andar um pouco para "lá" para logo se perder, mas enfim isso é outro assunto, o do show-off da política externa patrícia). É aí  (noticiário da 10 horas) que conheço as declarações de Pedro Passos Coelho: fim do programa financeiro tutelado pelas instâncias internacionais, a dita "troika", uma "saída limpa", sem programa cautelar sequer. 

 

Uff, comento com o taxista. "O pior já passou" no meu país. Diga-se o que se disser, clubismos partidários à parte, o pior já passou. Há muita gente que resmungará com isto, claro, pois o debate público português é muito fraco, seja ao nível dos políticos, seja ao nível dos profissionais produtores de opinião (o eixo jornalistas-"comentaristas"), seja mesmo entre os intelectuais profissionais que se atrevem a meter ao barulho. E também entre os cidadãos-opinadores, o fenómeno potenciado pela internet, coisa muito boa mas acima de tudo produtora de capim.

 

Não são razões culturais ou ideológicas que provocam isso. Mas económicas: a extrema dependência da redistribuição estatal de recursos económicos implica mundivisões e a defesa desses vínculos, de sobrevivência familiar e de reprodução estatutária individual. A trapalhada que ocupou o país nos últimos largos anos, com efeitos sociais complicadíssimos, foi gerada no exarcebado populismo europeu que ali reinou. Valeu e vale tudo para o defender.

 

Convirá agora, que "o pior já passou", pensar que o Estado, tão necessário ao modelo civilizacional europeu (esse que habita entre a doutrina social da(s) igreja(s) e o socialismo democrático), é sempre permeável aos diversos interesses sociais (a burocracia racional é "apenas" uma utopia). Mas não pode continuar a ser colonizado, como o português o tem sido, pelos interesses corporativos e "étnicos" [municipais], nem pelo patrimonialismo corruptor.

 

 

Agora que "o pior já passou" recordo Vítor Gaspar. Estou absolutamente certo que dentro de anos se falará dele com o apreço que foi dedicado a Ernâni Lopes nos últimos largos anos da sua vida. E com o apreço que tanta gente dedica (justificadamente, pois dos poucos políticos portugueses "maiores do que a vida", e grande defensor da democracia - apesar daquele maldito abraço ao fugitivo Craxi) a Mário Soares. Cidadãos que foram, também eles, odiados pela sua ligação conjuntural a ríspidas políticas de austeridade. Então necessárias.

 

Próxima etapa? Se tivesse a solução vendia-a em formato "relatório". Mas com toda a certeza que não é a do regresso ao populismo. Sustentabilidade. A qual pode muito bem ser, admito, "os ricos que paguem a crise". Mas é com toda a certeza "os intermediários que paguem a crise".

publicado às 09:50

Os 70 magníficos

por jpt, em 11.03.14

 

70 personalidades portuguesas de relevo (uma espécie de Câmara Corporativa da II [ou será III?] República) assinaram um apelo para a reestruturação (responsável) da dívida portuguesa. E referem que isso deverá acontecer mesmo que "a contragosto dos responsáveis alemães". Nada me move contra. Bem pelo contrário.

 

Eu que não sou magnífico, e que nada percebo de economia e de finanças, atrevi-me a escrever, nos idos de Novembro de 2012 em pleno jornal "Canal de Moçambique" algo que resmungava há já anos, muito pela experiência de aqui viver, e de algo ter lido sobre a experiência africana desde finais de 1980s: "Pois leio a correr, e sem compreender muito bem (quando se fala de dinheiro acontece-me sempre isso) que os ministros das Finanças da zona euro (chamam-lhe Eurogrupo) e o FMI acordaram a redução da dívida grega. No fundo, aquilo que sempre foi óbvio que aconteceria no âmbito da crise europeia. Primeiro a redução do papel e da dimensão do Estado, alguma recessão, depois o reescalonamento da dívida, e o perdão parcial (ou total) desta. A gente, que fomos testemunhando o processo de Moçambique no Clube de Paris, sabia que era esse o caminho." Não me parece, pois, grande elaboração, esta a das personalidades portuguesas de relevo. A não ser que, como costume, a falta de cosmopolitismo, o endocentrismo local tão habitual, torne isto uma reflexão profunda.

 

Acontece que os assinantes (ou signatários, como fica melhor dizer quando as pessoas são importantes) aliam este apelo à activação do "Clube de Paris" que desafogue a situação portuguesa, agora que as coisas estão mais ou menos controladas, com o remoque de que a dívida externa alemã também foi parcialmente perdoada e parcialmente reescalonada em inícios da década de 1950. Confesso que (ainda) me espanta esta linha retórica no seio dos notáveis compatriotas. Acontece que Portugal não foi devastado por duas guerras mundiais. E que ninguém teme a fúria lusa, como se temeu naquele tempo a ira germânica acontecida face às sequelas do Tratado de Versailles. Não é só a economia do discurso que sofre com este tipo de argumento. Ele denota mesmo que, por notáveis que sejam, continuam a incompreender. A querer incompreender.

 

E isso lembra-me o que deveria ser óbvio. Sem pejo. Os problemas portugueses serão muitos: a estrutura económica, o sistema capitalista internacional, o super-estado, o que se queira. Mas é também, e em muito, isto dos 70 Magníficos. O problema é a Câmara Corporativa. No Natal de 2011 bloguei isto: 

 

O diagnóstico sobre a situação portuguesa está feito, mais ou menos estabelecido. O diagnóstico sobre as causas é mais polémico, mas também pode ser feito. Mas não se poderá cair na tentação de individualizar as causas. Por pior que Sócrates seja o processo não se reduz à sua influência, e textos (...) centrados nos efeitos da perspectiva do ex-PM, acabam por ser perniciosos.

 

A questão surge para o futuro. A situação portuguesa era anunciada, e há muito. Para intervir no futuro é fundamental regressar aos arquivos. Recordar e elencar as personagens que ao longo dos anos conseguiram ter alguma clarividência, independentemente dos contextos de onde fala(ra)m. E interessa também recordar quem passou as duas últimas décadas em anuência, constante ou episódica, com todo o processo, em verdadeiro delírio de cumplicidade. Não para uma caça às bruxas mas porque não tem qualquer sentido tentar imaginar o futuro, nele actuar, através do mesmo naipe de políticos, intelectuais e opinadores (e "gestores") que estruturaram este contexto e o divulgaram, tornaram como se "natural". Diagnóstico feito? Então trate-se de elencar os actores anteriores. Induzir a sua reforma. E não ter pejo de os votar ao ostracismo intelectual.

 

E escolher num novo painel. Contando com veteranos que tiveram a coragem da clarividência. Rapidamente. Por razões de competência, por razões de ética, mas acima de tudo por razões de concepções. "Os tempos estão a mudar"? Não. Já mudaram.

 

Depois disto? Sim, reescalonar a dívida. Mas só depois disto.

publicado às 09:21

Annette Kellerman

por jpt, em 10.02.14

 

Descubro na rede Pinterest (a qual é uma delícia para qualquer coleccionador de cromos) esta fotografia de Annette Kellerman (australiana, 1886-1975). Célebre nadadora, a primeira mulher a tentar atravessar o Canal da Mancha, posteriormente actriz. E introdutora do fato-de-banho femenino. Causa então difícil, que a levou a ser presa por indecência (assim vestida) nos Estados Unidos em 1907.

 

Ao ver isto lembro-me de que em Portugal, desde o cruzar do século, se continuam a discutir "questões de costumes". Essas que Manuel Alegre, quando incapaz candidato presidencial da assim incapaz esquerda portuguesa, em plena alvorada desta trambolhão sofrido por Portugal, considerava coisa igual às "questões civilizacionais" - e depois os apoiantes admiram-no como homem de cultura (!!), a tão pouco estava (?) o país reduzido.

 

Acontece que não tenho muita paciência para as mais expressivas dessas "questões". Pois sou contra a despenalização das chamadas "drogas leves" (ainda que in illo tempore tenha atravessado a Europa com um pin "legalize it" ao peito, coisas do então; e isto para além de continuar a fumar cigarros e a beber álcool. Ou seja, "p'ra melhor está bem, está bem, p'ra pior já basta assim"). E desagrada-me a indução sociológica do aborto como método contraceptivo (e também a retórica neo-realista que sempre aparece quando se fala nisso, como se Portugal fosse ainda um país do 5º Mundo, uma mera bolsa de miséria encimada por meia dúzia de capitalistas, onde vegetam milhões de mulheres ignorantes e violentadas desde a mais tenra infância pelas famílias e vizinhanças por talibans cristãos constituídas). E estou radicalmente farto da campanha homófila, constantemente presente, principalmente no cinema e na televisão.  

 

Torço-lhes o nariz também porque serviram para embrulhar, em tons e modelos atractivos, o neo-comunismo esconso e festivo, esse que agora, finalmente, fenece. E porque foram apropriados pelo populismo dito "socialista", enfunando-lhe as velas nestes anos, naquele design "causas fracturantes" julgo que inventado pelo então jovem Sousa Pinto que era, nesses tempos inventivos, mui gostado por Mário Soares, este clarividente, percebendo o filão que aquilo era.

 

Passando por cima dessas minhas irritações lembro-me ainda da "causa fracturante" da minha juventude. Que era aquilo do nudismo, discussão abrasiva, política, moral, religiosa, legislativa. Como acto mais político do que mera fruição alguns "imorais" iam bronzear as partes (para eles nada) pudendas para o Meco e outros lugares demoníacos. Confesso que já nessa minha tenra idade achava a discussão um bocado ridícula. E ainda que tivesse uma, natural e saudável, curiosidade em ver as jovens (e até menos jovens) nuas, nunca me passou pela cabeça andar em pelota pela praia. E não só devido aos efeitos irritantes da areia e ao temor do inclemente Sol. Mas o que é certo que muitos gemiam e bramavam com o apocalipse da gente nua na praia, a dissolução, a devassidão, a decadência, a doença, que isso implicaria.

 

Agora resmungam por outras coisas, também elas ditas doentias, e querem até referendá-las. O país adornado e querem brincar aos votos.

 

É por isso que aqui meto a Annette Kellerman. Esta devassa, doente, promíscua, epidémica, decadente. Indecente. Olhem lá bem para ela, assim "vestida". Mulher da Babilónia (e,  se calhar, até gostava de homens ...).

publicado às 21:07

No Feedly (1)

por jpt, em 03.01.14

 

 

As melhores imagens de ciência em 2013, através do De Rerum Natura.

 

O colectivo do excelente À Pala de Walsh elege os dez filmes de 2013. Vale a pena ler.

 

Doze livros editados em Portugal no ano passado: a escolha do  Antologia do Esquecimento.

 

Uma selecção de 10 livros de 2013, especialmente centrada em banda desenhada e ilustração.

 

Os acontecimentos desportivos mais importantes de 2013, no XV contra XV.

 

Um interessante texto de Achille Mbembe sobre Nelson Mandela e a África do Sul actual, ecoado na Buala

 

Uma evocação do mestre de banda desenhada Sergio Toppi, e é ali que noto que o autor morreu, e já há alguns meses. 

 

Picasa: aguda observação sobre o cliquismo fotográfico actual.

 

Robert Mitchum no Escrever é Triste.

 

A Barriga de um Arquitecto é um excelentíssimo blog. Dinossauro já, cumpriu uma década.

  

Dá para viver sem se ter conta no banco? Um belo texto (e uma boa pergunta, sublinho eu quando aqui em Portugal) no Bandeira ao Vento, na sua bela série "Postais de um fotógrafo de bairro", uma colecção de pérolas.

 

As 20 palestras TED mais vistas (actualização). 

 

"A identidade cultural europeia", o prefácio de António Barreto ao livro de Vasco Graça Moura com esse título.

 

 Desejo assim para 2014 uma maior saúde às palavras, no Apenas Mais Um

 

Sobre Sá Carneiro e ao que o reduzem actualmente: no Abrupto.

 

"Meninas a intenção é boa, mas tanta maminha já cansa": uma acertada abordagem sobre as mamocas feministas, no Domadora de Camalões.

 

Um mergulho no bloguismo português, no Delito de Opinião.

 

Sei da existência de um documentário sobre o cante alentejano, feito por Sergio Tréfaut: através do Margem Esquerda do Odiana.

 

José Pacheco Pereirahá muito reconheço na figura de Ramalho Eanes uma dignidade pessoal e um sentido de estado e de serviço público, que são tão escassos na actualidade, que brilham no meio da escuridão moral e cívica em que está mergulhada a nossa vida pública, dominada por gente obcecada pela sua carreira, permeáveis a tudo, menos no seu bem-estar e “protagonismo”. Não admira que Eanes fosse ficando sozinho na sua honra modesta, enquanto ao lado tudo apodrecia. Não é que o seu mérito não seja absoluto, mas o feito do seu mérito ainda se salientou mais devido à degradação da política portuguesa.

 

Natal em Lisboa: eu cheguei a 24 e ainda assim deu para ver (e já nem falo na azáfama pós-natal dos saldos): O que este ano me surpreendeu foi a loucura das compras num período de crise. Há muito tempo que não via um tal frenesim e sou capaz de apostar que o consumo interno terá dado um pulo bastante significativo, apesar de haver quem diga o contrário. Como economista surpreende-me e como cidadã fico perplexa, porque o cartão de crédito vai ter de ser pago em Janeiro..., no Fio de Prumo.

publicado às 11:27

No dia do borda fora

por jpt, em 01.12.13

Primeiro de Dezembro, dia da independência portuguesa, também chamado da restauração. A tralha intelectual que vai regendo (sim, regendo) o país decidiu acabar com os feriados simbólicos para acabar com a "crise" e pronto - malvado calendário que fez o ex-feriado cair no domingo, perdeu-se um dia de produtivismo. 

Mas, falando sério, percebe-se que se acabe com este feriado. Nestas festividades não só se louvava a pena de morte, ainda para mais sem julgamento prévio, acontecida ao estadista Miguel de Vasconcelos, malvadamente defenestrado. Como também assim se apregoava o valor de tal "borda fora", sempre comichoso aos encarregados.

Sem ter nada a ver com o caso deixo duas "partilhas" (ando a ler muito pouco em blogs) de textos bem interessantes:

O aniversário da batalha de Negomano, a I Guerra Mundial em Moçambique, um texto no Herdeiro de Aécio.

José Pacheco Pereira, esse que a (blogo)esquerda portuguesa sempre abominou mas que agora afinal ..., sobre "os velhos".

publicado às 15:15

O aldrabismo no poder

por jpt, em 14.11.13

 

Fernando Moreira de Sá dá uma entrevista à revista "Visão" e conta as práticas de vários bloguistas portugueses, tantos deles jornalistas, no apoio às campanhas de Pedro Passos Coelho, tanto na ascensão ao poder no PSD como nas eleições legislativas. Falsificação de identidades, anonimatos, contra-informação rasteira, mentiras, boatice. Por pior que a governação de Sócrates tenha sido (e foi asquerosa), por mais práticas de desinformação que o PS tenha praticado (e Moreira de Sá exemplifica com o célebre blogue Câmara Corporativa, uma cloaca socialista), Portugal não é nem era uma ditadura, e como tal nem tudo se justifica ou justificou na luta política. Assim sendo este terrorismo verbal é totalmente inadmissível. Pois o que agora Moreira de Sá narra - enquanto seu agente (e muito ufano do mestrado muito bem classificado que fez sobre este seu esterco) -, a memória das tropelias de uma larga mão-cheia de bloguistas dos mais conhecidos blogs portugueses é um nojo.

 

Um nojo de práticas. Um nojo de gente.

 

O pior de tudo nem é o facto desta escumalha cometer isto. O pior é o que este tipo lembra (algo que já Pacheco Pereira, avisado, referira): que tantos deles ascenderam ao governo, em cargos de assessoria ou mesmo como titulares de cargos governativos. Almeida Leite, por exemplo, chegou a ascender a Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação!, como é isto possível?. O pior é mesmo isto. Este gajedo foi-se ao governo, o aldrabismo arrota no poder.

 

(Pressionando duas vezes nas imagens elas engrandecem, tornando-se mais legíveis. Leitura recomendável apenas para quem tenha estômago forte, que estas putas ordinárias - estão identificadas pelos nomes - são absolutamente repugnantes).

 

 

publicado às 20:06

(Amanhã é o centenário do nascimento de Álvaro Cunhal. Por isso aqui replico um postal que botei há uns meses. Também forma de um pequeno brinde, com rum, com a memória do meu pai, que dele foi grande admirador).

 

 

 

A Câmara Municipal de Lisboa chamou Álvaro Cunhal a uma avenida, neste ano do seu centenário. Resmunguice à parte, o homem foi "bigger than life", como se quer a alguns. Raríssimo, pois assim. Mais raríssimo ainda, se pensarmos no mundo português. Voto sim! Gulags?, Angolas?, Hungrias?, Checoslováquias?, o XX totalitário? Ok. Mas que panache tinha Cunhal. E que dimensão. Voto sim, venha a avenida Cunhal!

 

Depois lembro-me do meu pai António, comunista até à sua morte, "sem culto da personalidade", claro, e como tal "não-cunhalista" como o eram os comunistas da sua geração. Lembro agora que soube da morte do velho líder comunista numa manhã, em plena reunião na universidade. Ao entrar no anfiteatro, único português presente, vários colegas se levantaram para me darem os pêsames. Não, não tenho fama de comunista, alguns até me julgam algo fascista (e talvez não apenas por não ser fan da retórica semi-porno do revolucionarismo hedonista d'hoje em dia). Eram convictas essas condolências, um património simbólico do meu país que partia. Logo fui telefonar para a longínqua casa, "mãe, como está o pai?", "ai, filho, muito em baixo...", morrera pouco antes Vasco Gonçalves, naquele momento o sempre "secretário-geral". As figuras daquela geração. E, para aqueles, esta a maior de todas.

 

Entre esta lembrança de um homem ímpar e do apreço que lhe tinha o meu pai suspendo a vertigem crítica. E para isso nem preciso olhar os anões sôfregos que pululam na cena pública do meu país. Basta-me a memória do homem. Sem perseguir o que quis. Sabendo-o maior do que muito do que quero. E, com toda a certeza, do que os que querem o que eu quero.

publicado às 15:35

Rui Moreira

por jpt, em 26.10.13

(imagem retirada daqui)

Há alguns anos fez-se uma sessão do "Trio de Ataque" aqui em Maputo. Não gosto deste tipo de comentário futebolístico, mais que não seja porque cristaliza a ideia anti-concorrencial de que há três clubes (com destinos escrutinados) e o resto é paisagem. Mas a vinda das figuras público-desportivas animou as hostes da bola. Na véspera do programa fez-se um concorrido jantar no restaurante KaMpfumo, na estação dos CFM, na qual depois se veio a realizar o programa. Acorri ao repasto da bola (e até vim a blogar sobre isso). Na época o representante do pérfido Benfica era António Pedro Vasconcelos, que em dia anterior ali mesmo pontificou numa agradabilíssima tertúlia sobre cinema, organizada pela gerência. Uma simpatia, um agrado de pessoa, e com aquela cultura verdadeira que não precisa de se desfraldar. Pelo Sporting, o tal clube da elite (diz-se) vinha Rui Oliveira e Costa que, enfim ..., se mostrou tudo menos digno desse estereótipo, para não dizer mais. E pelo malvado Porto chegou Rui Moreira. Um senhor, e basta isso. Que inveja, resmungou este sportinguista, acabrunhado com a "representação" que ali lhe cabia.

Foi o único, e breve, contacto que tive com o agora presidente da câmara do Porto - essa cidade que dista menos de Lisboa do que Quissico de Maputo mas que há muitos que continuam a dizê-las basto apartadas, muitos mas de pouco mundo como assim se torna óbvio. Tanto pela boa imagem que então criei de Rui Moreira como pela desejada lufada de ar fresco no claudicante sistema partidário português, torci de longe pela sua vitória eleitoral na cidade do meu pai. E, também, para que Menezes (ainda que sportinguista) não ganhasse, o que seria um total paradoxo face ao estado do país, um contra-ciclo para o que é necessário - sendo que o simples facto do "edil" (como aqui se diz) de Gaia ter agora sido candidato do PSD ao Porto demonstra que em relação a este partido não há nada a fazer nem esperar. Se fosse coisa, o tal partido, era para o lixo. Como é gente, é aguentá-lo e acantoná-lo, se possível. Pois cheinho de más reses, como o episódio gritou.

Ok, Moreira ganhou e gostei. Mas, infelizmente, vai daí e continua a "bolar" sobre a bola. Agora vem com isto, invectivar o presidente do Sporting. Está já a espalhar-se ou ainda não saíu da câmara de descompressão? Não é este o papel, nem o registo, de um presidente da câmara. Ainda para mais de uma cidade da dimensão como o Porto tem. E ainda mais de quem acaba de chegar como ele chegou, um pouco por cima do rame-rame que vem minando o país. Bruno de Carvalho já lhe respondeu, de modo rude. Apropriado, pois quem anda à chuva molha-se. Entenda-se, populista é um presidente da câmara a surfar as paixões da bola. Está Moreira a espalhar-se? Está. A ver vamos se ele não é apenas isto. Mas, se calhar, é mesmo só isto. Com alguma "patine" de bom berço. Espero que não.

publicado às 15:49

Eleições portuguesas

por jpt, em 30.09.13

 

Acerca de ontem, cá de longe:

 

Em 1985 fui professor na escola do Catujal, Sacavém (na altura um para lá do Trancão verdadeiramente dantesco). Desde então que posso dizer que tenho uma ligação biográfica a Loures. Como tal realço a vitória do PCP nessa câmara, um dos factores que torna o "Partido" o grande vencedor de ontem aí em Portugal. Saúdo, particularmente, o cabeça-de-lista, Bernardino Soares, o político português que em XXI mais defendeu a democraticidade da Coreia do Norte e justificou as posições do poder do Zimbabwé. Do resto que leio (principalmente aqui no Delito de Opinião e nas ligações aqui deixadas) pouco consigo concluir. Alguns comentadores de futebol ganharam as suas eleições e outros perderam-nas. O Presidente da República, a meio do segundo mandato, propõe a mudança da lei eleitoral exactamente no dia das eleições - quando recrutei em Mafra (onde agora o PSD ganhou a câmara) aprendi a expressão "estar a dormir na forma", que me parece adequada a esta situação. O presidente da Comissão Nacional de Eleições disse que no fim-de-semana eleitoral não poderíamos comentar política junto dos nossos amigos. E quando lhe perguntaram se era só no facebook ou se também nos blogs que isso nos era proibido gaguejou, sem saber bem o que dizer. Aposto que não será transferido para outras funções. O caciquismo patrimonialista, coisa típica dos recônditos recantos rurais e/ou insulares, terras de bagaços matinais ou vinho morangueiro, começou a ser esfacelado na Madeira e em alguns outros lugares. O racionalismo pós-partidocrático vingou em Oeiras. O PS ganhou imensas câmaras e em votos. O presidente do PS teve uma grande derrota. De Sintra tenho algumas mimadas memórias, passeios e até pic-nics com meus pais. E, mais tarde, alguns charros fumados ali pela Adraga. Tive e tenho alguns amigos sintrenses, até de pendor socialista, que entram em convulsões quando se lembram da "família Estrela" acampada lá na terra, antes de partir com armas e bagagens para Estrasburgo. Elegeram agora, por coisas da termodinâmica, Basílio Horta. Ao longo dos anos tenho contactado com várias pessoas que trabalharam sob Horta. Dizem-no um indivíduo tirânico, inepto, com vocação para o show-off. Assim fica entregue o património mundial da UNESCO. A campanha de sensibilização contra os piropos não colheu grande sucesso e o BE afundou-se, ainda mais, nas eleições. O seu co-líder João Semedo, que me dizem ser um tipo muito decente e capaz, nem a vereador ascendeu. Está visto, a campanha para a liberalização do consumo do cannabis, já tão perturbada por esta "careta" crise económico-financeira, será mais uma vez adiada. Mesquita Machado não se fez suceder. Alguns delegados camarários da Mota e Engil e da Teixeira Duarte não foram eleitos. Há um milhão de mortos nos cadernos eleitorais, que não são actualizados desde o milénio passado. Alguns proto-delegados camarários da Mota e Engil e da Teixeira Duarte foram eleitos. Em Maputo a final do campeonato africano de basquetebol feminino: Moçambique perdeu por um cesto, mesmo no fim, com a malvada Angola. O Real Madrid não está bem, nem o Manchester United. Villas-Boas cumprimentou Mourinho antes do jogo que os opôs. Um português ganhou um torneio de ténis no circuito ATP. Um outro português ganhou na ponta final uma corrida internacional de ciclismo. Alguém ganhou o mundial de hóquei em patins. Ah, e Bernardino Soares ganhou em Loures: prevejo geminações com urbes zimbabweanas e norte-coreanas ...

 

[Postal escrito para o Delito de Opinião]

publicado às 17:41

  

(Postal no Delito de Opinião)

 

É costume ouvir e ler queixumes sobre o estado actual do ensino em Portugal, críticas aos modelos pedagógicos, aos currículos, ao ordenamento estatal (ministerial), aos paradigmas vigentes (o celebrado "eduquês"). Tudo isso, diz-se, que implica um défice das capacidades dos cidadãos. Não vou discordar, ignorante que sou das múltiplas dimensões da(s) problemática(s). Mas ocorre-me, talvez mais do que nunca, que a hipotética existência desse problema assume uma dimensão histórica, o "tempo longo", pois será uma questão de décadas, no mínimo. Deduzo isso pela constatação da generalizada iliteracia. Detecto-a agora, nestes últimos dias, na quantidade de textos vistos in-blog, in-facebook, nos sítios electrónicos dos jornais, nas tvs, em que os seus autores [gente entre os 30 e os 60 e muitos, na maioria licenciados e todos, visivelmente, com um mínimo de frequência do ensino secundário] afirmam, sonora e arreigadamente, que não são capazes de compreender a reduzida complexidade  deste texto.

 

Não se tratará de um défice de habilidades hermenêuticas, também elas disponibilizadas pelo sistema de educação. É mesmo uma questão de iliteracia, a um nível ainda mais básico. Que remete a tal crise para décadas bem anteriores, quando esta mole agora locutora frequentou os vários níveis do ensino nacional.

 

Mas há um outro registo, muito positivo. Esse lamento público (potenciado agora pela avalanche da palavra pública, via redes sociais e massificação da comunicação social) denota, vigorosamente, que as pessoas já não têm vergonha de publicitarem a sua ignorância, a sua incapacidade. Assim demonstrando que a percebem já não como uma natureza (até vergonhosa, num quadro de valores culpabilizador) mas sim como um estado transitório, algo a ultrapassar. Uma extrema e saudável mutação cultural, laica, democrática. E que convoca o sistema de educação nacional a acudir a tantos excluídos, apesar dos títulos académicos e conclusões "liceais", de uma corriqueira utilização da língua portuguesa. 

 

A realfabetização de adultos impõe-se. Haja recursos para tal.

publicado às 17:12

publicado às 15:50

Auto-exclusão

por jpt, em 04.07.13

 

[Postal para o Delito de Opinião]

 

Vivo longe de Portugal há muito tempo, e torna-se-me óbvio que os anos vão-me tornando ainda menos capaz de perceber isso aí, de me perceber. Um tipo angustia-se com o que vai ouvindo e lendo sobre o país. Por amor ao rincão, e por medo do hipotético reformado futuro também, que "isto" não é só cidadania. Já imigrado irritei-me com o guterrismo (no qual votei), espantei-me no interlúdio subsequente (no qual votei), desesperei-me com o engenheiro Sócrates (do qual estou inocente). Nisto que esteve agora, ou ainda mais-ou-menos está, enfim, apenas esperei algo - muito pouco e por muito pouco tempo, ao descobrir que a desvergonha centrista levava Daniel Campelo para o governo, um explicitar do desrespeito radical pelo lógica do regime ou seja, do desrespeito por quem vota e por quem não vota mas por aí anda. Ainda assim, e cansado da bandalheira relvista, há três meses aqui deixei o postal "next". A sua tese era simples, face à visível falta de unhas do PSD que se chegasse Portas a PM, a ver o que (se) poderia fazer dessa "gasta pátria".

 

 

Vejo agora o triste (para ser suave) espectáculo que Portas e o seu partido dão (e lembro-me, envergonhado, que in-blog apelei ao voto naquela reles gente). Retiro conclusões sobre a política aí? Nem tanto, apenas percebo que nada percebo do verdadeiro conteúdo. Que só digo asneiras. Ou, pelo menos, que digo muitas asneiras, pavoneando-me perorando na tasca do bairro (o "meu" ma-schamba) e aqui, na leitaria DO. Então, e para que não me apanhe um dia destes a apelar a um Gomes da Costa, à tomada do palácio de Inverno ou, pior ainda, à ascensão de Ana Drago ao poder, comprometo-me a não botar mais sobre política portuguesa. Como diz a célebre canção moçambicana do grande Dilon Djindji "juro palavra d'honra sinceramente vou morrer assim".

 

 

Vou agora, mais dia menos dia, a Portugal. Ver a minha mãe (e evitar os que "vêm a mãe", claro, os tardo-arrivistas que tanto levaram a isto). Ver a minha família, consanguínea, d'afinidade e espiritual. Um ou outro sítio, dos que me valem. Mais um ou outro medronho (envelhecido, de Monchique, se possível). Fugindo das conversas do "ai como isto está", o gemido que sempre se ouve desde o princípio de XXI. Nada tenho para dizer sobre, incapaz que sou. E nenhum conselho. Pois os meus da minha idade vão para velhos em demasia para emigrarem. E os meus mais novos já se baldaram. Quase todos, por enquanto.

publicado às 05:35

Mário Soares e os outros

por jpt, em 10.06.13

Tenho o facebook e a minha lista de blogs cheia das intervenções de Mário Soares, adversas ao governo português. Sobre este último já disse o que tinha a dizer no já velho dia 27.6.2011: um governo com o CDS/PP que coloca como secretário de estado um daniel campelo não tem qualquer hipótese, é mais da mesma merda, eco da corrupção do sistema político, então, na primeira era campelo, patrocinada pelo paupérrimo Sampaio.

 

Venho de uma função  oficial, o tal 10 de Junho das comunidades, onde encontro conhecidos e amigos, alguns funcionários outros nada disso, capazes de invectivar o presente e salvaguardar o passado. E assim a irritar-me, francamente. Amizade à parte fico irado. Gostam do passado, que regressa. Apreciam Soares (esse com o qual José Pacheco Pereira se apouca terminalmente, chamando-lhe agora "Presidente", como se estes cargos fossem imorredoiros, como se não fossem a termo certo, electivos, como se não fossemos nós uma república, e é pena ver um professor que respeitámos senilizar-se intelectualmente por mera estratégia, ecoando a parvónia protocolar americana, sacralizadora). Soares o do abraço, em visita oficial à Argélia, ao corrupto, corruptor Craxi, então auto-exilado pois procurado pela justiça italiana, tamanha a sua conivência com a Mafia. Os mesmos funcionários e outros nada disso que gostam de Sampaio, o presidente que foi abraçar o corrupto Abílio Curto, o presidente da câmara condenado à prisão (por "amizade", disse então em falso arroubo másculo, mascarando o pontapé dado na necessidade de defender a democracia e a tendencial limpeza do sistema administrativo-político).

 

Crise portuguesa? Sim, claro. A incapacidade de ver que a crise vem do populismo corruptor é sinal do profundo de que brota a crise. Não são os extremistas, adversários da democracia, que são os grandes inimigos desta. São estes aparentes democratas incapazes de encontraram as raízes sistémicas do abalo que sofremos. Da "banda do cavaco" a estes socialistas mediterrânicos. É refutando esta tralha, a formada nos 80s de Macau, socialista, podre desde então, e o bloco psd, germinado no cavaquistão. A democracia defender-se-á assim. Refutando esta escumalha, "presidentes" e não presidentes. Não topologicamente. Nunca com o amigo de mafioso Craxi ou com o amigo de corrupto Curto, nem com o gajo que ganhou upgrading da "Mariani".

 

Para a frente, democraticamente. E nunca para trás. E, nisso, claro, nunca com quem despreza a república, como agora o afinal servil Pacheco Pereira. Uma purga, é o que o país precisa. Já! Também, amizade à parte, diante dos funcionários ou nem tanto, amigos ou conhecidos. Assassinos do meu país. Por interesse próprio, alguns. Porque obtusos, outros.

publicado às 20:06

Adopção por homocasais

por jpt, em 20.05.13

 

Em Portugal votou-se agora favoravelmente a possibilidade dos casais homossexuais adoptarem crianças. Uma pantomina, uns deputados ausentaram-se num "vou ali e já venho" para não votarem, partidos deram liberdade de voto (como é possivel que um deputado não tenha sempre essa liberdade? e se há restrições a esta, que raio de hierarquia existe, que nas questões cruciais como esta cada um vota como quer e nas comezinhas das aprovações quotidianas há limites?).

Marinho Pinto, o populista com que a esquerdalhada anti-democrática vibra, vem agora em sentido contrário, negar a adopção homossexual e apupam-no. O que tem piada. Os "campanhistas" homófilos continuam as suas execráveis campanhas, tipo "os heterossexuais abandonam as crianças que nós queremos adoptar" - não, o que choca não é apenas o desrespeito pelo facto de pessoas morrerem e deixarem orfãos. É também a malfadada culpabilização sobre as pessoas. A mesma escória "gayófila" que agora culpabiliza os pais biológicos que abandonam crianças passíveis de adoptar é a escória que em torno do aborto (dita "interrupção voluntária de gravidez") se fartou de contextualizar, socio e culturalmente, as pobres mães "obrigadas" a abortar (ou a abandonar os recém-nascidos), assim "desculpabilizando". Agora, porque dá jeito à retórica, recupera-se a malfadada "culpa" (já agora, aquela "culpa" que submergiu os homossexuais durante tanto tempo).

E continuo a ouvir e ler o medíocre argumento de que é melhor entregar as crianças das instituições onde são mal-amadas aos casais homossexuais, uma espécie de mal menor. E estes surgindo como uma solução de última instância, a ficarem com o refugo adoptável. Ninguém quer o estafermo? Então que fique para os bons dos homossexuais. E é isto que os "campanhistas" verbalizam, sem qualquer pudor.

Deixemo-nos de coisas, como disse uma vez Manuela Ferreira Leite, o casamento serve para procriar (produzir filhos, criá-los e regular a atribuição dos bens). O resto vem por acréscimo, do Corin Tellado às novelas brasileiras passando por Bollywood e as comédias românticas da velha tarde de cinema. Então a esquerdalhada homófila, ignorante e raivosa, atirou-se ao ar com o óbvio assim afirmado. 

O casamento serve para (pro)criar. É esse o fundamento da instituição, muito para além das coisas de cada um. Como tal se se legislou a possibilidade do casamento homossexual isso traz, obrigatoriamente, a possibilidade de adoptar (e do acesso às modalidades de procriação assistida). Apenas a torpe hipocrisia do legislador de então permitiu esta delonga. Nisso se sublinhando a pacóvia cobardia daqueles deputados, os de então e os d'agora, os da "liberdade de voto" e os do "vou ali e já venho".

E é tempo de abandonar, de vez, esta miseranda e desprezível retórica culpabilizadora adoptada pelo movimento homófilo. Padresco.

publicado às 09:14


Bloguistas







Tags

Todos os Assuntos