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A encomenda de Arnaut

por jpt, em 27.12.14

 

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António Arnaut, antigo ministro da Saúde e nessa condição instaurador do Serviço Nacional de Saúde, que todos prezamos (ou deveríamos prezar), algo sempre lembrado quando nele se fala, e também antigo grão-mestre maçónico (algo que não me impulsiona tanto respeito, mas enfim ...), enviou por correio um livro ao detido José Sócrates, o qual lhe foi devolvido pelos serviços prisionais. O ancião indignou-se, vociferou que nem no tempo do fascismo e da PIDE isso acontecia, lembrando até que "nos tempos" enviava livros para um colega moçambicano então preso. Apesar de estarmos em quadra natalícia, com a gente mais dada às questões das respectivas famílias, uma série de cidadãos, mais ou menos dados ao adeptismo socrático-socialista, encontrou disponibilidade para ecoar essa indignação, gritando uma perseguição pessoal ao ex-líder socialista, e figura grada da actual direcção desse partido, como o comprova o tão recente e veemente seu elogio por Ferro Rodrigues, também ele ex-líder socialista e actual chefe do grupo parlamentar do PS. Nesse eixo argumentativo obviamente querendo reduzir as questões que a justiça lhe coloca a uma perseguição política e pessoal.

A argumentação de Arnaut é (apesar do SNS, que a gente louva) totalmente desonesta, e não é a sua idade que deve obstar a que se lhe diga isso na cara. Pois intenta a mensagem implícita, a de que Sócrates é um preso político, quando o homem está acusado de crimes de delito comum. O coro dos indignados é, nos melhores dos casos, ridículo ou seja, irreflectidamente desonesto, e não é a aparência democrática, esse tom de protecção das liberdades individuais, que deve obstar a que se lhes diga isso. Pois, como agora, alguns dias depois, vem a público, os serviços prisionais apenas cumpriram a lei. Ainda para mais elaborada quando Sócrates era primeiro-ministro.

As tentativas de protecção e defesa do antigo líder socialista vão descambando nisto, na mais rasteira das manipulações do elementar bom senso. Não acredito que Sócrates venha a ser condenado por corrupção, algo sempre difícil de provar - convém lembrar que a inusitada condenação de Isaltino de Morais, sendo uma vitória da democracia, não assentou na prova de corrupção mas de outros crimes. Mas toda a trapalhada, vergonhosa, que vem vindo a público sobre os bens de Sócrates não vai deixando dúvidas nos mais cépticos - deixará apenas terreno para os eternos "clientes", mas isso é outra dimensão da vida pública. Também por isso o crescente silêncio de tantos facebuquistas e bloguistas, durante anos tão céleres em defender o evidente biltre que nos governou (e o constante adiamento da visita a Évora do seu antigo número 2, agora secretário-geral do PS, o doutor António Costa, ainda que as férias de Natal estejam já adiantadas e que ele tivesse anunciado que seria neste período que iria abraçar o correligionário, agora em tamanhos apuros). E apenas os mais desajeitados (e os mais "obrigados") continuarão ao serviço, que "novos" "senhores" estão no horizonte. Velhos senhores, note-se bem, mas intentando rejuvenescer-se às custas de muita àgua sacudida dos respectivos capotes (alentejanos, ali em Évora).

publicado às 17:06


1 comentário

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De carlos sebastião a 28.12.2014 às 21:36

o raciocínio tá correcto, até porque ele próprio se refere àquela saqueta de correio verde como encomenda, mas em bom rigor e segundo a tabela dos CTT aquilo não é considerado encomenda e logo seria aplicado o artº 126º (correspondência). só me espanta que ninguém tenha levantado a questão.

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