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A esquerda que ri

por jpt, em 12.07.14

 

 

O Argentina-Alemanha vejo-o num bar, vindo de Mavalane onde me abandonara da família, ida "a banhos". Mesa alargada, gente conhecida, alguns amigos. O jogo cinzento, táctico diz-se, só lá para o fim nos animamos, até pela chegada de um argentino (celebrando pagando fartas rodadas). E por isso conversa alguma. Um bom amigo, profissional das empresas, sabedor dos bancos e das economias, vai-me abordando o "BES". E fala do DDT. Espanto-me, desconhecedor. "DDT"! diz, o petit-nom de Ricardo Salgado, o "Dono Disto Tudo" durante os largos últimos anos portugueses. Sorrio, sabida a condição desconhecida a denominação. Entretanto, resmungo, lá na "gasta pátria" desunham-se em partidites, "a esquerda/direita", como se assim não fosse, dele não fossem acólitos. "Pois", resmunga-me o amigo, nós na azia dos emigrados.

 

Apanho no Corta-Fitas eco de uma entrevista de Joana Amaral Dias, a antiga musa do neo-comunismo cool português: o "posicionamento esquerda-direita está ligado a uma estruturação psicológica que se dá por volta dos 18 meses". Assim "as pessoas de esquerda e de direita tem personalidade, cognição e ambições diferentes" e "aquilo que nós sabemos de uma maneira geral, é que a grande diferença entre os eleitores de esquerda e de direita é que os primeiros têm mais a capacidade de transformar aquilo que é inerente à condição humana, o ódio, o medo e a angústia, em laços com os outros – o tal poder para mudar". O grau de indigência é tamanho que nem vale a pena comentar. Mas lembrar quem a ouviu, ombreou, seguiu. A esquerda que ri, no vácuo recanto.

 

O Buala é um sítio muito interessante, sempre recomendável. Para quem não o conheça trata-se de um "portal multidisciplinar de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas em língua portuguesa", indispensável para um olhar mais informado. Espanto-me diante de um texto acabado de colocar: "A subida eleitoral da extrema-direita na Europa", um texto assinado por Plataforma Gueto (e a nota de apresentação deste autor [colectivo?] é elucidativa). Poder-me-ia perguntar sobre a pertinência da colocação no Buala de um texto destes, cuja tese é uma imputação, a da assumpção das teses da extrema-direita (europeia) pelas forças partidárias actualmente no poder português. Mas isso são os critérios editoriais do próprio Buala, não me compete a mim delimitá-los, quanto muito notá-los. E, sobre este caso, lamentar a sua colonização pela agenda de luta partidária portuguesa, ainda para mais numa deriva deste tipo. Mas mais do que isso convirá olhar para este "texto" panfletário de acção política, com os ademanes académicos - as bibliografias, as citações de nomes célebres (Mbembe), cruciais na academia portuguesa (Valentim Alexandre, José Manuel Sobral) ou com situacional capital estratégico (Luís Bernardo Honwana, nome amigo e respeitável ali a dar muito jeito). Convém olhar pois o texto cruza a ideia (nela assenta?) do lusotropicalismo [e sua sequela lusófona] como molde intelectual da direita portuguesa (a tal difusa extrema-direita actual que quer combater). Nele, apesar das citações e das bibliografias, nada ocorre sobre a transversalidade dessas perspectivas. Trata-se, pura e simplesmente, de imaginar o "inimigo", e identificá-lo (delimitá-lo). O tempero "academicista" sobre um pensamento nulo. Uma bosta abaixo de cão. A conspurcar o "Buala, portal multidisciplinar de reflexão, crítica e documentação das culturas africanas contemporâneas em língua portuguesa". Ou não.

publicado às 09:20



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