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A velha livraria

por jpt, em 11.12.14

 

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Há algumas semanas, num sábado de manhã, fui buscar a Carolina ao Clube Hípico, ao Campo Grande, para onde fora com umas das suas raríssimas amigas de Lisboa. Nos seus 12 anos ela mal conhece a cidade, que sempre desusou, e por isso regressámos em modo pedestre. Atravessámos a Torre do Tombo, indo-lhe à porta, para que conhecesse ela onde eu trabalhei um ano e tal, cruzámos a famigerada "Direito" onde andei um mês e meio antes de conseguir fugir, descemos ao Colégio Moderno, a rua do presidente Soares e da escola das suas amigas de cá, e fui-lhe mostrar as livrarias daquela rua, que frequentava diariamente naquele ano e meio de trabalho nos então "Arquivos Nacionais/Torre do Tombo", no início dos 1990s - frequência diária pois não se podia fumar lá dentro, o ambiente era um bocado tétrico, um servilismo patético para com a então vice-directora, uma coisa enjoativa, um medinho sempre presente. Chegado ao almoço tinha que sair dali, esquecer a cantina local, procurar um sol afastado daquele "pidesco" ambiente [o arquivo da PIDE estava num andar superior, talvez infectasse o edifício], abandonar a ditadura do relógio de ponto que fazia aquela gente perfilar-se na hora exacta da saída, o mundo do funcionalismo público no seu pior formato.

Saía então todos os dias, em alguns percorria os poucos restaurantes na área circundante, nos outros vasculhava as duas livrarias ali à "João Soares", uma especializada em livros estrangeiros (e da qual não me lembro o nome) e a outra a "Lazio", apinhada de edições nada recentes. Um manancial de livros, a comprar, folhear, registar para "mais tarde". Ou apenas passar o tempo. Recordo-me de, quantas vezes, ali me enjoar com o pó dos livros, um prazer paradoxal. 

Pois fui lá agora mostrá-la à Carolina, não porque pense eu que vá ela virar bibliofaga, menina que é dos tempos electrónicos e pós-pdf, apenas para partilhar onde gostei. Estava fechada a "Lazio", com uns papéis nas janelas, mas nela entravam dois homens, com ar diligente. Julguei assim ser coisa de arrumações ou rearranjos. Mas leio agora que fechou.

Que feche uma livraria daquelas no centro geográfico do mundo académico lisboeta espanta-me. Ou talvez já nem isso. Pois apenas vai assim.

publicado às 08:19


1 comentário

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De joão viegas a 12.12.2014 às 12:08

Foda-se !

Eu não consegui escapar à "Direito" e ainda hoje ando nisto (a muitos quilometros de distância). Isto nunca me impediu de frequentar as livrarias à volta desta esquina (eram 3 ou 4, uma mais ou menos galeria de arte ao mesmo tempo, outra foi uns temps da Bertrand). Calculava que tivessem desaparecido, mas esta mesma, a da esquina, sempre pensei que fosse eterna. Eterna como mundo é eterno, ou como nos o somos de uma certa maneira (?).

Mas não, eterna mesmo, é a nossa estupidez, a estupidez alarve do nosso tempo de mediocres, sociedade de tecnocratas que, dos clérigos que a fizeram nascer, apenas soube guardar as borbulhas e os recalcamentos mesquinhos, que adora como reliquias. A estupidez que atira foguetes de cada vez que se fecha uma livraria, ou de cada vez que se mata um elefante.

Tristeza.

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