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Astérix: o Papiro de César

por jpt, em 11.11.15

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Ainda para mais depois do trôpego último postal, aludindo à wikileaks, impõe-se-me ecoar este "Le Papyrus de César" que há pouco li. Não é a "Foice de Oiro", o "Combate dos Chefes", "O Escudo de Arverne", "Astérix e Cleópatra" e um punhado de outros álbuns dos gloriosos tempos do auge goscinnyano? Não será. Mas também eu não sou o mesmo petiz impressionável, 47 anos depois de "ler" o meu primeiro Astérix, rejubilando em êxtase diante de cada nova aventura. E em assim sendo, com esse desconto, fico muito agradado com este novo exemplar do culto. O argumento de Jean-Yves Ferri é bem construído, com aquele toque de actualidade que fez a série, ecoando subtilmente as aventuras de Assange, o homem da Wikileaks, manipulando com cuidados os traços estruturais do universo asterixiano original - e nisso fugindo ao desbragado "fantástico" com que o Uderzo tardio o poluíra. E o desenho de Didier Conrad é assustadoramente fiel ao original, qual verdadeiro clone do excelente Uderzo (o desenhador, não o argumentista), mantendo-nos confortáveis - Astérix é um culto, não é  para inovar. Confesso que às vezes me parece um bocado artificial (por exemplo a última vinheta da página 8 com um Astérix de expressão algo robótica) mas se calhar isso é exagero meu. É exactamente essa capacidade de criar algo original dentro das balizas de um universo ficcional mais do que estabelecido que saúdo, descrente que sou destas sequelas na banda desenhada póstumas aos criadores. E é por isso que o único verdadeiro senão que encontro nesta aventura  - sim, sou um fundamentalista asterixiano - é o momento em que Panoramix (p. 42) bebe a poção mágica. Que me lembre isso não "faz parte", o druida não bebe, é um dogma (em caso de necessidade é carregado por Obelix). E há valores que é preciso manter, quebra-se um, por pequeno que seja, e derruba-se o dique que protege da anarquia. 

 

Ainda assim, uma bela aventura. A rejuvenescer o velho leitor. E, espero, a encantar os novos.

 

[Eu li a versão francesa, espero que a portuguesa tenha regressado aos nomes originais das personagens, algo que não aconteceu nas últimas publicações, um triste sinal de mediocridade.]

publicado às 05:02



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