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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Assisti ontem a um interessante debate sobre a vaga migratória no mar Mediterrâneo, precedido de um pungente filme maltês sobre as desgraças acontecidas. Mais me apela ao bloganço o debate acontecido, um pouco na sequência do fluxo de notícias e comentários dos últimos tempos sobre esta matéria. Fundamentalmente porque muitos dos argumentos pró-abertura total das fronteiras me fazem torcer o nariz. Sei que esse meu franzir do cenho leva muito bom lisboeta a meter-me logo no grupo dos "xenófobos nacionalistas" (e de nada servirá puxar dos meus galões de imigrante durante duas décadas ... e de futuro imigrante, se esta carcaça aguentar).
Quando eu era miúdo foi a vaga "boat people", fugidos ao comunismo vietnamita. E bem depois a dos fugidos ao comunismo cubano. Memórias tétricas, um bocado apagadas pelo tempo. A gente sabe das vagas "road people" going north na América e going south na África abaixo do Sahel. O pior agora é a vaga boat people dos rohingya, fugidos da Birmânia - pior, acima de tudo, porque abanam o argumento europeu, o da primazia da malvadez ontológica europeia (as known as ocidental). Pois hoje em dia a questão apela a isto: a União Europeia é má pois não abre as portas. Que a gente diga isso tudo bem, a cada um a sua verborreia. Que um diplomata estrangeiro venha dizer isso, ainda que num quase jocoso tom, num debate lisboeta chateia-me.
São as fronteiras artificiais? São os fluxos migratórios uma constante da história? Ok, ok. São os migrantes todos refugiados, de algum modo? Hum ... isso é um patois de agit-prop, e de ong em busca de subsídio. Mas sim, de certa forma, também é uma verdade substantiva.
Mas acima de tudo esta ladainha do "direito ao asilo" esconde duas coisas. A primeira é a apetência pelos fluxos de mão-de-obra barata (e tendencialmente dessindicalizada) - ontem mesmo uma das participantes no debate referia a crise demográfica europeia e a necessidade de mão-de-obra para manter os "nossos" sistemas. A esquerda (bem-intencionada, e assim demoníaca como sempre) nem resmunga diante destes argumentos, preocupada a fazer piquetes contra os "xenófobos nacionalistas".
A segunda coisa escondida, que não dá jeito nenhum à conversa arejada e multicultural, é o direito ao "desasilo", ao direito às pessoas viverem onde estão, de onde "são". E isso implica pensar, neste mundo confuso, no direito à ingerência, em intervir alhures, em modelo subordinado ao desenvolvimento e à oposição aos regimes e movimentos rapaces. Ora isso choca sempre com aquilo de (estes) europeus sempre criticarem as intervenções externas e as não-intervenções externas desenvolvimentistas ou militares, sempre vistas como neo-coloniais ou neo-imperialistas. Pois faça-se o que se fizer o fundamental é criticar o poder de cá, o "nosso". É uma cosmologia umbiguista, evidentemente. E, claro, apoiar que essa gente venha para "cá" fazer os trabalhos que a gente não quer fazer, e ter os filhos que a gente não tem.
É cool. E nada imperialista, já agora ...