Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
"Ases do IX Mundial de Futebol - México 70", sugestivo nome da colecção de cromos das Edições Palirex sobre o campeonato mundial de futebol de 1970 que fui buscar ao baú, traz à memória quase tão fatigada como a pobre Selecção Nacional de Portugal no Brasil 2014, vários dos grandes jogadores dos últimos 50 anos e, eventualmente, a melhor equipa nacional de sempre, a do Brasil, que veio a conquistar o troféu pela 3ªvez, garantindo a posse permanente da cobiçada Taça Jules Rimet. Ora esta noção de permanência foi significativamente abalada quando os 3, 8 kg em ouro do troféu foram desviados criminosamente no Rio de Janeiro e nunca mais encontrados (diz-se que a taça terá visto a sua forma alterada, derretida que foi num superior passe de alquimia). No entanto, o desvio da Jules Rimet não era caso inédito e uma rábula do género já tinha acontecido em Inglaterra em 1966, meses antes do Campeonato do Mundo que o país sediava começar, e conta-se numa penada. A taça foi surripiada a 20 de Março quando estava exposta em Londres em simultâneo com uma mostra filatélica. Apesar da apertada vigilância, o larápio foi relativamente bem sucedido, se exceptuarmos o pequeno incómodo de ter sido preso sem contudo confessar o crime e o paradeiro do precioso objecto. A afamada Scotland Yard andou desatinada e aos papéis, nada encontrando, vendo-se enxovalhada uma semana depois por Pickles, um cão igualmente britânico que enquanto passeava o dono e levantava a pata para um habitual desanuviar da bexiga, se travestiu de Sherlock Holmes, farejou um arbusto e em vez de um apetecido e esperado osso, encontrou outro petisco igualmente duro de roer: Era a desconsiderada taça embrulhada em jornais.
Voltando aos protagonistas principais do jogo, ou que deviam sê-lo sempre e em qualquer ocasião, o Brasil de '70 tinha uma equipa com uma qualidade que dificilmente se repetirá. O seleccionador brasileiro era Zagallo (duas vezes campeão mundial enquanto jogador em 58 e 62 e muito justamente treinador campeão no México) e contava com o inevitável Pelé, único futebolista a conseguir 3 títulos mundiais, mas e não desfazendo no homem, coadjuvado por Clodoaldo, Gerson, Tostão, Piazza, Jairzinho, Carlos Alberto e Rivelino até eu era Pelé! Curiosamente se era do Rei Edson Arantes do Nascimento (sei de cor o nome o que não é habilidade...) que se esperavam os golos, este acabou por marcar só quatro e o melhor marcador do escrete acabou por ser o infernal Jairzinho, sucessor do mítico Garrincha no Botafogo, com 1 golo por partida - o melhor marcador do torneio foi o alemão, à época federal, o habillidoso e letal Gerd Muller, com 10 batatas apontadas na conta pessoal, incluindo dois hat-tricks consecutivos contra a Bulgária e contra a Roménia ainda na fase de grupos.
Se o Brasil era isto, a Itália e a República Federal da Alemanha eram igualmente grandes equipas e o jogo entre as duas selecções nas meias-finais ficou conhecido como o "Jogo do Século", só mais nada. Para dar uma pálida ideia da maluqueira que foi, fica um vídeo e adianto para quem não tiver pachorra para os poucos minutos do resumo que aos 90' o placard indicava 1-1 mas no final da meia-hora de prolongamento a Itália ganhou por 4 a 3. Entre outros, jogavam pelos transalpinos o lendário guarda-redes Albertosi (o seu supelente era Dino Zoff), Riva, Sandro Mazzola e o endiabrado Rivera e pelos boches encontravam-se o enorme Sepp Maier, Netzer, Overath, Schnellinger (que jogava no Milão), Vogts, Uwe Seeler, Muller e aquele que haveria de ficar conhecido como Kaiser, o extraordinário Franz Beckenbauer.