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Cahora-Bassa

por jpt, em 10.11.15

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O Diário de Notícias publica hoje uma notícia afirmando graves irregularidades na transacção da barragem de Cahora Bassa, um processo inscrito no acordo de independência de Moçambique e culminado em 2007 (com um episódio final em 2012). A notícia é muito problemática, por duas razões: a) vem daquela coisa do wikileaks, que ecoa informações diplomáticas, e como tal legítimas, americanas que foram roubadas. Ora quem usa produtos roubados, ainda por cima para ganhar dinheiro (vendendo jornais, publicidade, ou crescendo clics) é um receptor, exactamente como os tipos que compram aos ladrões a tralha que eles vão roubando de casas ou automóveis alheios. Assim sendo o diário de notícias passa a receptor, perde aqui as maiúsculas e nem leva o elo para a notícia que lhe cresça os clics; b) as mensagens que são ecoadas são meros telegramas diplomáticos, e nem sequer os verdadeiramente secretos. Em tempos li alguns desses (tive o azar de alguns, particularmente problemáticos, terem sido traduzidos no ma-schamba por um antigo machambeiro) e nunca são prova de nada, são apenas sínteses de conversas, um diz-que-diz dos "mentideros", às vezes só fumo, outras nem isso, outras afogueados, e outras, muito raramente, com brasa. Um pacote de atoardas, na sua maioria. E isto não é uma característica específica da diplomacia americana, como bem se sabe. 

 

Ou seja, num mundo ideal as pessoas virariam a cara para o lado, mudariam de página ou dariam "scroll down" a este tipo de notícias. Mas não vivemos num mundo ideal e as pessoas interessadas na saúde das suas sociedades mergulham, ávidas, neste tipo de informação, também porque sentem um défice democrático, administrações opacas. É por isso que tenho no meu mural de Facebook vários amigos moçambicanos a partilharem esta "notícia" que alude a, repito, graves irregularidades na transacção da propriedade de Cahora-Bassa do estado português para instituições moçambicanas, mediada por consórcios bancários em cujo cerne estava a banca portuguesa, e também a pública.

 

É isso mesmo que me interessa, o fenómeno da recepção pública deste tipo de notícias. A "notícia" sai hoje (porquê?) dia da queda do governo português e simbolicamente do regresso ao poder do partido socialista, esse que estava no poder naquela altura e que tanto interferiu e controlou a banca portuguesa, pública e portuguesa. E no meu mural de Facebook nem um dos milhares de contactos portugueses não-residentes em Moçambique, tantos deles tão eufóricos hoje com o anunciado regresso socialista ao poder, reparou, comentou ou  partilhou, naquela notícia. Porque desprezam a wikileaks? Nada disso, que se "pelam", à direita e à esquerda, para vituperar os americanos ou para "denunciar" reflexamente o que eles aludem. Não partilham, não atentam, porque gostam, se alimentam e orgasmam, com esta gente, e nada que lhes possa fazer perder o aparente brilho lhes apetece .... E aos outros chamam "fascistas"...

 

Adenda: Como quem leu o texto compreenderá eu não leio wikileakadas, acho patético todo o processo. Como tal não li a notícia, vi os cabeçalhos hoje sistematicamente partilhados pelos amigos moçambicanos (e/ou patrícios residentes em Moçambique). Por isso, ainda que surpreendido (como aliás também expresso no texto), julguei que a notícia era de hoje. Leitor atento avisa-me que não, que se trata de uma partilha generalizada de uma notícia antiga. Isto tem um efeito sobre o postal: retira a surpresa pelo facto de hoje não haver eco entre os portugueses (festivos ou não) da notícia. Mas por outro lado recorda uma coisa - a aludida confusão não teve qualquer efeito em termos de auto-reflexão na época. Em termos de imputação aos alheios (a "corrupta África Negra") teve-a em tempos, lembro-o bem. Mas não em termos de questionamento sobre as instituições nacionais. Como tal deixo o texto assim.

 

publicado às 17:07


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