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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
(mais "rascunhos")
Os meses iniciais de 2008 foram um período particularmente activos no campo dasa artes plásticas. Momento marcante de uma rara "descentralização", de uma exo-maputização, foi a apresentação da Zoologia dos Fluxos, de Jorge Dias, na Beira.
Marcante foi também a aparente colectiva "Dois Percursos Multi-culturais: o tempo ... já não tem tempo", onde se procurava congregar a (presumo que) primeira apresentação do trabalho de Frederico Morim com o de Celestino Mudaulane.
Digo "aparente colectiva" pois foi uma exposição que trazia alguns dos habituais problemas de tantas das mostras colectivas que têm vindo a ser feitas. Dois artistas que em nada dialogavam, apenas uma justaposição em paredes e peanhas contíguas. Seria (será) melhor começar a chamar a tais eventos uma "paralela" de artes plásticas.
O interesse de lembrar tal evento será ainda o de o usarmos para reflectir nas armadilhas do "multiculturalismo" que surgia em título - o cujo, na prática mas não na vontade organizativa, com toda a certeza integrando então os programas político-culturais do Ano Europeu do Multiculturalismo, implicita o irredentismo das "formas culturais". Com efeito a incomunicabilidade entre obras e artistas terá sido produto dos incidentes biográficos dos autores, um porventura indisponível para maior envolvimento, um outro apresentando uma verdadeira individual.
Mas o que ficou na memória, para além dos artistas, foi o "multiculturalismo" ideológico a gerar a incomunicação. Algo que até sociologicamente se denotava, como o mostrou o tipo de público que aderiu à exposição, bem delimitado.
[Frederico Morim]
O que tivemos então foi um contexto bem "pop" de Frederico Morim, artista proveniente do mundo (e de dimensões estéticas) da publicidade,
paralelamente a uma obra de Celestino Mudaulane, porventura o grande escultor actual em Moçambique, ali a ensaiar novos caminhos na sua cerâmica - os quais, honestamente, muito me desiludiram.
A última memória, bem para além dos artistas. O facto de Mudaulane ter apresentado uma obra e à sua revelia terem sido colocadas duas outras obras suas (dois desenhos). Na altura, e ainda hoje, isso levantou-me a estrutural questão, incidindo sobre o grau de autonomia (e, como tal, de responsabilização) que os artistas locais vão tendo face aos galeristas.
Pouco, como isto o demonstrou. E, pelos vistos, tal diminuição estatutária é aceite. Natureza oblige?