Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Estante Austral (3)
"Canal de Moçambique", edição de 20/8/2014
“Noveleta” é como Luís Carlos Patraquim chamou a este “A Canção de Zefanias Sforza” (Porto Editora, 2010), um belo livro que me parece continuar a passar algo despercebido por cá. E que, agora que o escritor nos é de novo vizinho, regressado que está de Portugal, poderia (ou mesmo deveria, num sentido ético) ser reapresentado, (re)distribuído pelas livrarias, falado. Ou seja, lido.
Nele decorre a transição do mundo de Lourenço Marques ao de Maputo, um percurso que nos é apresentado através da vida desse Zefanias (Pluribis) Sforza – personagem de pluralidade afixada nesse próprio Pluribus que levou de nome, assim como se feixe desaguado diante desta baía. E onde habita também a aparência de alter ego do seu criador, o habitual poeta aqui ficcionista.
A história da cidade é-nos contada, sobre alguma da sua etnografia por via de vislumbres dos hindus, dos muçulmanos, e depois das transformações e continuidades toponímicas, ecoando as iniciais presenças coloniais e seu abrupto final. Toda ela se condensa na biografia de Zefanias e na dos seus próximos. Um estreito mundo, social e espacialmente, balizado entre as barreiras do Alto Maé e o Chamanculo – este sentido tão longínquo que seria onde o bíblico “Noé” habitaria, segundo o “saber” da personagem Agostinho Demos. Este Demos, contraponto de Zefanias, pois pólo local da narrativa, feito a verdadeira matéria-prima da cidade, como lhe anuncia o apelido (“tribo” será a melhor tradução possível de “demos” apesar de nos insistirem em o dizer “povo”). Explícita nota de um auto-centramento feito encerramento, cujo afrontar será o caroço do livro.
(O texto completo está aqui).