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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Abaixo referi a proposta da presidente da assembleia da república portuguesa para a criação de um programa "Pessoa" que enquadre o desenvolvimento de um espaço comum para o ensino superior (e a investigação?) dos países CPLP. Referindo também a confluência disso com o programa apresentado pela nova direcção do Partido Socialista. Referi também a existência de um protocolo multilateral sobre o assunto datado de 2004, como forma de desconfiar da vacuidade das actuais declarações das lideranças políticas nacionais sobre esta matéria. E lembrando que já há uma década o anúncio do protocolo nos causava (aos envolvidos na matéria) tristes sorrisos, sabedores do que "a casa gasta". Em 2004 eu trabalhava há já dez anos ligado à cooperação nessa área, conhecia as trapalhadas provocadas pelas características sociológicas da administação portuguesa ligadas a esta área (em particular aqueles sectores hoje congregados no "Camões"). E a perfídia eunuca das instâncias universitárias, mergulhadas em rivalidades de pequena monta - poderão dizer que é mera má-língua, mas recordo que acompanhei uma reunião da Associação das Universidades de Língua Portuguesa (AULP) em 1999 em Maputo. Uma cena abjecta por parte das "autoridades académicas" portuguesas. Ao que me disseram, e me continuaram a dizer, uma coisa habitual. Enfim, o que obsta não é a falta de instrumentos políticos e financeiros, é mesma a pequena gente que partidos e sociedades semi-secretas alcandoram aos sectores intermédios dos poderes públicos (presidente do conselho dos institutos politécnicos, por exemplo, lembrando a abjecta personagem, vero traidor, em 1999) ou estacionam nos pequenos postos da administração (director de serviço, chefe de divisão, etc.).
Enfim, para além das memórias, convirá ir ao real actual, para ver o "estado da arte". Falando-se em 2015 deste espaço comum universitário lembrei-me do acontecido em Fevereiro de ...2015. Aconteceu em Lisboa o XII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Propus as minhas comunicações, uma para um "grupo de trabalho" proposto por dois antigos alunos nossos, no Departamento de Antropologia da UEM. Aceitaram-me e fiquei todo contente, que melhor do que ir falar onde estão os nossos mais-novos a organizar? A Vânia, já colega professora na UEM, está a acabar o doutoramento em Lisboa e o Hélder está a fazer, com grande brilhantismo segundo me dizem, o mestrado no Brasil, auspicioso começo da sua carreira.
Estava eu ansioso de saber novas dele, das suas impressões e projectos. Chegado ao recinto do congresso logo perguntei por ele. "Não veio!". "Porquê?!!", lamentei, logo antevendo a inexistência de financiamento para a viagem. "Não lhe deram visto para Portugal". Fiquei estupefacto, "o quê?!!!". "Sim, no consulado português - não recordo qual a cidade brasileira - disseram-lhe que sendo moçambicano devia ir a Moçambique para pedir o visto para Portugal".
Assim, sem mais.
E estes políticos, e candidatos a políticos, e reformados políticos (como Esteves) continuam a perorar. E a gente a ouvir.