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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Como referi antes visitei Lisboa recentemente, mostrando alguns lugares mais simbólicos ou típicos à minha filha. Junto ao castelo, como mostro aqui, e por todo o lado se encontra este esterco visual, sempre permitido - e até acarinhado - pelas autoridades populistas que gerem a cidade.
Esta desinteria colectiva, que faz feder a cidade, é também acarinhada nos meios intelectuais. Por um lado os fiéis da igreja "inscricionista", popularizada na década passada por um best-seller de José Gil - os portugueses têm medo de inscrever, disse, e então tocou a borrar ... E por outro lado, muito devido à complexidade da trama conceptual dedicada ao fenómeno artístico, entre quem não consegue entender a diferença entre expressão artística, expressão e mera flatulência. Há ainda quem pense que o direito fundamental da liberdade de expressão consiste na possibilidade de garatujar tudo o que (não) mexe ... Há ainda os que se dedicam a reflectir sobre a ínfima minoria destes miasmas, produzidos por sectores estudantis dos organismos partidários, chamando-lhes fenómenos espontâneos e atribuindo-lhe, por isso mesmo, relevância sociológica. É uma aldrabice, claro, mas quando debruada com galões académicos é muito bem aceite.
Na prática esta permissividade corresponde ao exercício mais reaccionário da sociedade urbana portuguesa actual. Pois é a promoção da ideia da infantilização do cidadão locutor - que "fale" ele (se exprima) por onamatopeias visuais ou, vá lá, com grunhidos algo compostos. E também da selvajaria dos núcleos impossidentes, que vivam eles neste mato visual, desprovido de regras. Ficando o resto, o "limpo e ordenado", para a nata deste creme.
Entretanto os intelectuais jornaleiros "reflectem" e aplaudem.