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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Para quem vive longe custa ver como, enquanto os patrícios (e/i)imigram, o "país" se encerra sob si mesmo, no coro da inépcia da pequena-burguesia que vocifera, a mãozinha na anca, o falsete convicto, as certezas abespinhadas.
Estes dois pequenos exemplos lexicais são sintomáticos. Pois num país com décadas de lusofonice, entre os saudosistas que sonham a língua comum [se possível homografada] como o resquício possível da velha ordem colonial e os lusotropicalistas que se orgasmam a cada reviravolta lexical ou sintáctica a la Mia Couto, a reacção que houve a estes dois textos é intoxicante, mostra bem o putrefacto reinante.
Foram meses da rapaziada e raparigada mais à esquerda (mas não só) a gozarem com o "inconseguimento" avançado por Assunção Esteves. Vivendo num país onde o "desconseguir" é do quotidiano (e até simbólico) e vindo de um outro onde a "incapacidade" "inábil" tanto "desfaz", todo esse coro mui cioso da pureza da língua (intervalando a crença nas virtudes do "grande espaço lusófono") servia-me qual "cada tiro cada melro" - cada gozador cada morcão, sem hesitação.
Agora surge António Costa num cartaz apelando ao "capacitar". Logo leio meia dúzia de resmunguices com o termo, algumas até vindas dos tais eixos profissionais/hobiescos (e lobiescos, já agora) "lusófonos". Vivendo há anos num país onde "capacitar"/"capacitação" é uso corrente, mesmo profissional e institucional, numa relativa deriva semântica do velho "capacitar" qual "compreender", todas as risadinhas piadísticas de agora parecem-me de mestres-escolas de pobre paróquia.
Muita abertura ao "mundo", ao "enriquecimento" mútuo da língua, etc e tal. Mas bem bem à superfície apenas o mesmo de sempre, agarrados às pobres courelas, entre montes, até dos vizinhos pastores desconfiando que esses vão até lá acima, nisso vendo um pouco mais.
(Já agora, no minuto e pico que acima reproduzo de Assunção Esteves, política com a qual não simpatizo, diz ela mais do que dias a fio de facebook português ou de sessões alvares dos actuais "parodiantes de lisboa" feitos comentadores políticos. E o vazio das reacções gozadoras incrementa-me o grau "frustracional". Face aos bimbos que adoram o futebolês e perdigotam com algo que não lhes caiba no pré-google).