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O Musgo

por jpt, em 19.02.15

Em 19 de Fevereiro fui viver para Moçambique, já lá tinha estado seis meses e tal em trabalhos. Foi em 1997, faz hoje exactamente 18 anos. Cada vez mais me convenço que errei agora, ao partir neste torna-viagem. Paciência, está feito. Telefonam-me de Maputo, a lembrarem a data, pretexto para a sorridente provocação "quando é que voltas?" em entoação de como se tivesse eu hora de chegada a Mavalane ... Sorrio, também, pois se nem visto tenho.

 

Para as machambas destes 18 anos e tal fico-me com este poema

 

 

Musgo

 

Dir-se-á mais tarde; 

por trémulos sinais de luz

no ocaso quase obscuro; 

se os templos contemplando

estes currais sem gado

ruíram de pobreza.

 

Dir-se-á depois

por púlpitos postos em silêncio;

peso também a decompor-se

no mesmo pouco som;

se desaba o desenho

da nave antes de fermentar

a cor da sua pedra,

como fermentam leite e lã

de ovelhas mais salinas.

 

Dir-se-á por fim

que nenhum tempo se demora

na rosácea intacta;

e talvez

que só o musgo dá, 

em seu discurso esquivo

de água e indiferença;

alguma ideia disto.

 

(Carlos de Oliveira, "Musgo")

publicado às 11:45



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