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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Neste último ano em Portugal comprara duas vezes o "Expresso", jornal pelo qual me desinteressei já nos anos 90s. Compro-o hoje, na curiosidade/entusiasmo pela sondagem publicada, essa que dá esperança na derrota do velho partido socialista, de antónio costa, do "Sócrates Sempre" de Eduardo Ferro Rodrigues (como lhe foi possível?!), compro-o hoje na curiosidade/sarcasmo de ler sobre Sócrates preso na Abade Faria, ali à Barão de Sabrosa onde cheguei a viver.
E é nesta edição do "Expresso" que acabo de ver a versão extensa (alargada) da fotografia que tem corrido mundo, a da criança síria afogada. E que fotografia, a desvendar o tal mundo e também as modalidades de construção do histrionismo passageiro através da comunicação social (essa que faz editais) e de nós-todos, os "partilhadores" internéticos, radio-amadores do mundo de hoje. Lá ao fundo, a algumas dezenas de metros do cadáver está um par de pescadores, em vestes veraneantes. A cana de pesca ainda em riste, a cadeirinha de praia bem à mão para cíclico descanso enquanto o peixito não morde o isco, o evidente coleman com a cerveja fresca com-toda-a-certeza fora do ângulo de visão. Decerto que incomodados, até comovidos, com o cadáver ali dado à costa, ainda por cima de náufrago tão jovem. E eles a dissertarem sobre o mal do mundo, com mais assunto para aparentarem um qualquer ser. Mas nem assim desmontando o estendal piscatório.
Somos todos aqueles pescadores. "To share or not to share" não é a questão.