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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Alexandra Lucas Coelho acaba de receber o prémio da Associação Portuguesa de Escritores para Romance e Novelas. Leio o seu pujante discurso da ocasião, multipartilhado no facebook. Multipartilhado e multicomentado/aplaudido, saudado. Como é óbvio não vejo as (por agora) centenas de partilhas e milhares de comentários mas numa diagonal no seu próprio mural noto algo, não surpreendente mas sintomático. O discurso contém uma belíssima abordagem à escrita (e à leitura) e ao que a escritora entende pelo conteúdo de um romance e o seu de romancista: "Sou mais do lado Moby Dick, até ao trespassar da última carne, a do caçador. Moby Dick agora sem género, ou transgénero. Moby Dick-Orlando, homem e mulher, humano e animal, deus e demónio." O aplauso geral sobrevoa isso, como se despiciendo - apesar de se tratar da aceitação de um prémio literário. E centra-se na subsequente veemente proclamação política da escritora. Não venho criticar isso (que, aliás, procede das próprias afirmações de Lucas Coelho, que liga escrita e política). O que me é significativo é contrastar isso com a ideia generalizada da "morte dos intelectuais", da desfunção social dos intelectuais-artistas (por excelência o romancista, qual demiurgo) nas sociedades actuais. O que o impacto imediato, fervilhante, deste discurso está a ter revela o contrário. Revela (pelo menos aparenta) que há vontade de vozes sedimentadas que reflictam e verbalizem, e não apenas o "tudologismo" quodiano, sublinhado a amarelo dos comentadores da imprensa (já agora, também algum dele premiado pelas excelências literárias).
Concordo eu com o que a escritora afirma? Sobre o que diz da literatura? Gosto. Sobre o que diz da situação política? Umas coisas sim, outras coisas não. O que é normal. Gosto, acima de tudo, que haja quem diga o que pensa. De forma articulada, como esta. E, acima de tudo, não sublinhada.