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["Ilha de Moçambique com a representação da fortaleza de São Sebastião", António Bocarro, Livro das Plantas de Todas as Fortalezas, Cidades e Povoações da Índia, Goa, 1635. Ilustrações de Pedro Barreto de Resende]

"Dehérain publicou há cinquenta anos, num livro cheio de interesse - Études sur l'Afrique -, quinze páginas sobre a malograda expedição holandesa enviada em 1662 à conquista de [Ilha de ] Moçambique. Compreeendia sete navios, com 1227 homens, o que dá suficiente ideia da grande importância que lhe deu em Amsterdão o Conselho [da Companhia das Índias]. No Brasil corriam mal para os Holandeses os feitos da guerra, mercê da tenacidade com que os colonos os combatiam, mas na Índia tudo lhes corria bem. Colombo e Calecut foram tomadas em 1656, Jafanapatão em 1658 e Negapatão em 1660. Cochim, fundação do Estado da Índia, seria por nós perdida em 1663.  Os Holandeses tinham decidido expulsar os portugueses do Índico, e resolveram conquistar Moçambique, porto fundamental do comércio com a África e da dominação naquele oceano. (...)

A Companhia [das Índias] armou especialmente cinco navios, destacou mais dois da linha de Java e juntou-lhes um iate que deveria ficar depois no Cabo. Um dos navios chegou porém tarde ao Cabo e não alinhou à partida. O comando foi confiado a Huybert de Lairesse e tudo se preparou no maior segredo, a fim de nada chegar ao conhecimento da espionagem portuguesa. A Fortaleza de Moçambique deveria ser tomada de surpresa; não sendo possível, recorrer-se-ia ao assalto; o último meio a adoptar seria o cerco. (...)

A viagem da Holanda ao Cabo foi trabalhosa, com algumas baixas - perto de 90 mortos. Para recompor as guarnições, Lairesse demorou-se no Cabo até 26 de Setembro de 1662, época do ano já avançada para o resto da viagem, que de regra não deve exceder Agosto. Naquele dia deixaram o Cabo, a caminho de Moçambique, 5 navios de linha e 2 ligeiros, com 1227 homens, em que 646 eram soldados.

A notícia do malogro da expedição chegou ao Cabo em Janeiro de 1663, por um dos navios da frota. Esta tinha gasto mais de um mês para atingir o cabo das Correntes. Outro mês foi gasto para atingir a baía Verhagens, que Dehérain julga ser  (...) a actual baía de Mafamede (Mofomeno) [entre o cabo de S. Sebastião e Sofala].

Não faltaram temporais e ventos contrários; os mantimentos começaram a escassear; apareceram as doenças. Lairesse resolveu retroceder para sul do cabo das Correntes para repousar as tripulações e andou para trás em 24 horas o caminho que para diante lhe consumira cinco semanas. Ancoraram num ponto da costa a que chamaram Baracatta, e não está identificado, e aí estiveram os navios mais de um mês, ameaçados de caírem sobre a costa. Tinham morrido 114 homens e 218 estavam doentes. Lairesse decidiu desistir.

Dehérain estranha, com justa razão, que Lairesse se tivesse metido tão aventurosamente ao Índico sem respeitar o regime das monções. E foram inegàvelmente os ventos que salvaram Moçambique. A praça dificilmente poderia resistir, e, tomada, seria quase impossível reavê-la, porque o tratado de paz luso-holandês de 6 de Agosto de 1661 entraria em vigor com o status quo da data da ratificação, e possessões portuguesas que tivessem sido conquistadas pela Holanda permaneceriam em seu poder. Por isso a Companhia tanto recomendara a Lairesse que andasse ligeiro." (meu sublinhado, jpt)

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[Alexandre Lobato, Quatro Estudos e Uma Evocação Para a História de Lourenço Marques, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1961, pp. 25-28]

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[Gravura reproduzida de Rafael Moreira (coord.), A Arquitectura Militar na Expansão Portuguesa, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1994]

publicado às 16:23


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