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Tudo (toda a imprensa) o indica, esta será a primeira semana do novo governo português, o regresso do PS ao palácio de São Bento, sob a liderança do seu secretário-geral António Costa. Em primeiro lugar aquilo que verdadeiramente interessa: o futuro primeiro-ministro é por via paterna descendente de famílias moçambicanas [avô paterno da comunidade goesa católica, de ascendência brâmane; avó paterna da conhecida família Frechaut, ramo de franceses índicos estabelecidos no país durante XIX] e espero que isso venha a influenciar, no respeito pelos interesses de ambos os países, um ainda maior reforço das boas relações, um pequeno tempero, se me é permitido o sorriso, na interacção.

 

Em segundo lugar aquilo que também interessa: por mais que eu trema de ira com isto do PS voltar ao poder (como é possível?, meu Deus!, clama este ateu ...), por mais que eu esteja crente que o PS de António Costa é mais do PS de José Sócrates, tenho que saudar esta coisa no meu país, isto de uma campanha renhidíssima e de uma pós-campanha mais-do-que-problemática não ter provocado as aleivosias racialistas ou mesmo racistas adversas a Costa que se poderiam temer, oriundas de sectores mais ultramontanos mas difusamente apreendidas (na prática até foi no PS que isso mais se notou). Não se trata de um "obamismo" (ainda que eu já me tenha rido com um apenas-jocoso "Obama baneane" que um amigo, moçambicano já agora, botou em jantar) que a situação sociológica é completamente diferente. Mas é um excelente sinal sobre o Portugal actual que as ligeiras matizes fenotípicas não sirvam para poluir o ambiente. É certo que alguns poderão clamar que há racismo no país e que neste caso a extrema homologia sociológica se sobrepõe a tudo o resto. Seja, mas ainda assim sob este prisma o ambiente desta ascensão de António Costa é um sinal muito saudável da sociedade portuguesa.

publicado às 13:58

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Hoje, enquanto jantando de tabuleiro sobre os joelhos, vejo na televisão duas entrevistas políticas absolutamente decisivas, ainda que lamentavelmente coincidentes, eu no velho zapping para as acompanhar.

 

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Sobre o futuro governo uma entrevista a Paulo Portas onde devastou, até com crueldade pouco cristã, o deputado António Costa - na sequência (rescaldo, melhor dizendo) das entrevistas a Maria Luís Albuquerque e Assunção Cristas que, quais valquírias, canibalizaram o referido proto-ex-secretário-geral do ainda partido socialista. O abjecto cadáver do antigo nº 2 do "Senhor Engenheiro" (como diz o patrono da cátedra Eduardo Lourenço de quem os Varoufakos tanto gostam) José Sócrates já fede depois de tanta bordoada.

 

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E a propósito das presidenciais uma excelente "prestação" (como agora se diz a velha "performance") de Marisa Matias, a nova candidata à presidência da república. Firmeza, humildade, objectivos definidos, e também um je ne sais quoi ... Muitas das suas ideias não serão as minhas. Mas ainda assim cativou a minha adesão, ganhou, desde já, o meu voto. E não só por considerar eu que se o "eleitorado", essa molécula abstrusa, votar no prof. Sousa comprova a sua total ... moleculice. Como tal ... Marisa 2015 é já o meu lema.

publicado às 23:51

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Enquanto o ziguezagueante António Costa depois do miserável resultado eleitoral da semana passada e para o  disfarçar, anda a bater a todas as portas tentando evitar o naufrágio socialista eminente do qual é o principal responsável ou, pelo menos, safar-se muito naturalmente do seu afogamento nas ondas revoltosas do lodaçal político nacional, vem uma das putativas tábuas de salvação, nem mais nem menos a excitada Exma Senhora D. Catarina Martins, líder de Bloco de Esquerda, no final de uma reunião com secretário-geral do PS, decretar que hoje acabou o governo de Passos e Portas. Minutos antes Costa tinha dito que a reunião havia sido interessante, que havia muito trabalho pela frente, mas que algum entendimento tinha sido conseguido. A D. Catarina do alto do seu metro e meio mal medido e dos seus 10% de votos recém conseguidos vai ser o reboque do desnorteado Costa e definir os destinos de Portugal?

As ossadas de Salazar na sua campa rasa do cemitério do Vimieiro ( Santa Comba Dão) agitaram-se e pensaram com as tábuas do seu caixão: Fosga-se, assim até eu...

publicado às 13:28

O próximo governo

por jpt, em 11.10.15

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Um passeio nos jornais e nos blogs portugueses dá para ver o quanto bramam "ilegítimo" os já adversos à aludida aliança governamental (acordo? coligação?) entre os partidos da esquerda parlamentar. Nada mais errado, é exactamente para isso que se vota (em partidos, não no senhor x ou na dona a; em listas de candidatos a deputados, não em candidatos a primeiro-ministro). A gente vota e os partidos cujos candidatos foram eleitos (pela gente) negoceiam para acordar maiorias governamentais. Ou seja, um hipotético futuro governo de aliança BE-PCP-PS (apenas bluff de António Costa? hum ... parece-me que o homem já jingou demais para ser apenas bluff, esturricar-se-á agora se der a entender que apenas foi isso) será totalmente legítimo e, como tal, democraticamente bem-vindo. 

 

Tem só um detalhe, sendo certo que é algo que em nada o ilegitima. Após quatro anos terríveis (e como vim encontrar isto no meu torna-viagem ...) de governo, com desemprego, emigração, cortes de salários e reformas, o "troikismo", o constante bramir jornalístico, mais as trapalhadas endógenas (o Relvas, a zanga de Portas, as trapalhadas infectas da velha-guarda cavaquista, os golden visas e o quadro mal vendido), duas derrotas eleitorais, a derrota final anunciada, a coligação governamental recupera e muito, num "sprint" à Mamede (para quem se lembra do velho campeão), e ganha as eleições bem mais do que por poucochinho (para surpresa de quem não tinha lido este aviso). Uma consistente maioria relativa, em palavras sisudas, a demonstrar muita coisa do pensamento político popular (perdão, do eleitorado). E como resposta o PS alia-se, mais do que inesperadamente, mais do que desanunciadamente, com quem nunca se aliou, em registo verdadeiramente original? Vão-se fritar, os vizinhos socialistas ... Começará logo no esmagamento nas presidenciais (e por isso não terão candidato, claro). E depois, em lume nada brando, no quotidiano. Interno (nas coisas lá deles) e externo (nas nossas vozes, o tal "eleitorado"). E, entretanto, torramo-nos nós.

 

Não há dúvida, é da droga. Leve, claro.

publicado às 23:16

O não-voto não é secreto

por mvf, em 02.10.15

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 Tinha um texto que nem me parecia completamente estúpido sobre estas eleições, a campanha para promover os competidores, uma espécie de análise quase tão maçadora como as dos profissionais do comentário e tão indiferente como um cão a aliviar a bexiga numa árvore ali no fim da rua. Apaguei o relambório e faço antes uma declaração de não-voto: Não voto PS sobretudo pelo belo desempenho do seu líder António Costa desde o vou-não-vou a jogo aquando da saída de Sócrates ( não da prisão mas sim de secretário-geral da agremiação sediada ao Rato ), passando no esfaqueamento ao pobre Tozé Seguro, reparando na promessa felizmente não cumprida de se manter presidente da Câmara Municipal de Lisboa até ao final do mandato deixando um desconhecido imberbe alisboetado a tomar conta da esburacada cidade, e lembrando todas as hesitações, contorcionismos e ziguezagues que afanosamente nos mostrou entre promessas feitas que sabe não poder cumprir e outras que garante não poder fazer porque justamente não saber se as poderá cumprir. Seguir esta linha com os tropeções na sua novilíngua atabalhoada - precaridade, competividade ou sumarinos, são alguns exemplos dos seus dotes oratórios - não é tarefa para um humilde e ignorante como eu. Tem sido pelo menos assim que muitos socialistas têm tratado todos os que não os escolhem para renovar o que deixaram quase pronto em 2011, ou seja, a bancarrota. Bem podem apregoar que a culpa foi da crise internacional e do diabo a quatro mas a malta tem um resíduo de inteligência onde se encaixa outro tanto de memória e a tanga não pega. Ao menos reconheçam que se espalharam e ajudaram a dar cabo do pobre país, caraças. Ficava-lhes bem uma pitada daquilo a que se chama auto-crítica e nomear os co-responsáveis. Por outro lado também se percebe que Costa não o possa fazer enquanto candidato a chefe do governo pois foi ministro de Sócrates e seu nº2 na hierarquia do partido.

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 Depois juntam-se a Costa que não os enxota e até escolhe alguns deles, muitos dos filosocráticos - a começar pelo tal Medina, passando pelo inenarrável Lello, alinhando nesta fileira o Varoufakis versão Zara Homem, ou seja uma versão pobrezinha do grego se isto é possível, um que se julga irreverente e frontal mas não passa de um proto-malcriado, o Galamba, e mais e mais e mais até acabar num dos homens mais feios de que há memória desde que o mundo é mundo e disso, pelo menos, está isento de culpa, o inefável Ferro Rodrigues, a quem António Costa pagando amizades antigas deu o lugar de líder parlamentar que utilizou frouxa e ineficazmente. Diz Costa sem se rir que é a renovação e prova-o sem margem para dúvida ao escolher para mandatário da campanha o  avançado septuagenário António Arnaut referido ad nauseam como o"pai do Serviço Nacional de Saúde" ficando por saber seria a putativa mãe. Arre que enjoa. Depois há um pressentir da eventual derrota sem disso ter a mais leve noção quando diz que votará o Orçamento Geral do Estado, qualquer que pudesse ser, que a PáF - que raio de nome que os gajos do PSD e doCDS arranjaram para a coligação... - apresentasse. Ora se isso se a PàF apresentasse o OGE era porque Costa não tinha ganho aquilo a que se propôs quando esfaqueou o antecessor. Depois há as questões das alianças à esquerda com o PC e/ou com o BE mas isso é toda uma outra loiça. Talvez decorativa das Caldas (da  Rainha).

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 Enfim, isto é um desabafo que acabou longo e do qual me penitencio, pedindo desculpa. Mas, não sendo sectário, não estando encostado a nenhuma estrutura partidária (gostei de poder dizer isto uma vez na vida!), não esperando prebendas ou favores, continuo indeciso quanto ao sentido do meu irrelevante voto mas sei quem não o apanha. Ná, o homem não é de confiança.

publicado às 21:32

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Abaixo o MVF colocou este postal sobre o locutor (as pessoas agoram dizem, sei lá porquê, cepiquer) dos comícios do PS. Com toda a boa-fé, pois se tratava de um documento divertidíssimo, dado ao sarcasmo, pois era audível um oxímoro político bem suculento. Confrade bloguista acaba de me enviar este filme-reportagem da Renascença no qual se pode (a custo, eu precisei de três audições) constatar (aos 44 segundos) que o referido animador gritou "Pêésse" e não outro qualquer termo dedicado ao antigo nº 2 do partido socialista aos tempos de José Sócrates e multi-ministro de governos socialistas e actual candidato a deputado por Lisboa, cidade da qual foi presidente da câmara durante a era vereador Salgado, em suma António Costa. 

 

Na impossibilidade do MVF em blogar hoje aqui deixo a rectificação. Não deixando de dizer que ao ouvir, mais demorada e atentamente, o tal locutor contratado me parece que ele deverá ter mais cuidado com o sotaque. E que aquela ênfase que usa, a lembrar tempos tão idos, me deixa imensas saudades do rei dos locutores verdadeiramente exaltantes, o grande Jorge Perestrelo. Mas enfim, a cada um(ns) o locutor que merece(m).

publicado às 13:36

Costa e os sírios

por jpt, em 03.09.15

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Até custa a acreditar mas, pelos vistos (e ouvidos) é mesmo verdade. Neste "telejornal" (basta presssionar e fazer avançar até aos 31 minutos e 35 segundos, é muito fácil) o secretário-geral do partido socialista português propõe que os refugiados sírios chegados a Portugal sejam colocados a limpar as matas, assim sem mais: querem coito? então vão lá varrer a caruma ....

 

Os adeptos, simpatizantes e militantes daquele partido, da herança do "socialismo democrático", da "social-democracia", das "boas causas", até dos "direitos humanos"? Aplaudem, com toda a certeza. E votam no homem. Por um lado isto é inenarrável, mostrando bem o que "ali" habita. Mas por outro descansa um bocado, que é um chorrilho tão constante que dá alento à esperança. Essa de que o homem não vai lá chegar ...

 

Adenda: presumo que esta convenção (relativa ao estatuto dos refugiados) esteja em vigor. Aos mais adeptos do candidato António Costa que por aqui passem proponho que cliquem, vão lá e procurem os capítulos III e IV (artigos 17 e 24, por exemplo). E vejam o inaceitável, não só em termos éticos e ideológicos, do pensamento costiano.

 

 

publicado às 19:40

Branquear o quê?

por jpt, em 01.09.15

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Nestes dias e meses que vêm não tenho nem terei tempo para isto do blogar. Mas leio nos escaparates as "gordas" da entrevista que Maria Filomena Mónica deu ao jornal "i". Entre outras coisas afirma que a campanha de Costa é muito má e interroga-se sobre o que lhe terá dado para se branquear. No dia seguinte a ler isto cruzo Lisboa com uma minha amadíssima apoiante do PS (e, por arrasto, de Costa). Ao almoço já lhe referira aquele comentário. Paramos num semáforo, ao fundo da avenida dos estados unidos da américa, e lá está um cartaz (outdoor no português de agora) com um António Costa mais pálido do que eu costumo estar em dia de ressaca naquelas épocas, como agora, de clausura doméstica. Aponto-lhe, à minha amadíssima companhia (e repito-me), o cartaz e ambos nos rimos. Eu de sarcasmo enojado, ela com aquele pudor das pessoas de bem neste malgré tout próprio de alguns dos simpatizantes socialistas... O outro, o anterior, enganava as pessoas, julgando que tal era necessário, falcatruando um curso de engenheiro. Este, o posterior, engana as pessoas, branqueando (dulcificando?) a tez. Julgando que tal é necessário? Que miserável racismo. O do próprio e o do seus cipaios. Sem qualquer hesitação: antes o anterior. Muito antes o anterior. Qu'isto é do pior que já vi neste nosso país.

publicado às 22:30

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Não contentes com a barracada do cartaz que aqui apresentei em postal anterior ( o tal que remete o desemprego para o tempio de Sócrates, um pequeno incoveniente propagandístico), o PS lança outro que merece a mais completa reprovação pela mentira e abuso inscritos bem como um pedidocível por parte da abusada.

Quererá o leitor saber de que falo cheio de má vontade para o gangue do Largo do Rato. Pois é uma história tão simples como miserável relatada pelo "Observador":

 Maria João Pinto diz o seguinte:

“Eu não estou desempregada desde 2012. Não me podem envolver desta maneira. Aqueles dados são mentira...Estou revoltadíssima”

.Ao jornal on-line, o PS vem afirmar que as pessoas ( Mª João Pinto é uma antiga colaboradora da Junta de Freguesia de Arroios em Lisboa que é liderada pelo PS) “aceitaram figurar nos cartazes” e admite que os testemunhos de desemprego não são reais, mas sim “representações”.

 

Representação? Visto daqui podiam ter dito que se trata de uma farsa mal amanhada e ficávamos descansados porque esclarecidos.

 

Respeitem as pessoas?

Ora merda mais isto!

publicado às 21:06
modificado por jpt a 8/11/15 às 18:26

Para que não se diga injustamente que sempre que tenho oportunidade venho para aqui criticar o secretário-geral do Partido Socialista, fica um exemplo que assim não é, mostrando até o maior regozijo pela campanha verdadeira que nos dá confiança na alternativa que propõe.

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A mais recente série de outdoors que Costa apadrinha apela naturalmente ao voto no PS e à subsequente formação de governo com ele como 1ºministro, é inovadora na sua mensagem: Em vez das (muitas e habituais) promessas vãs - lembra um amigo numa infrutífera manobra visando evitar que eu viesse agora aplaudir esta iniciativa propagandística, que Costa jurara publicamente e entre outras coisas que eventualmente não terá cumprido como a tolerância zero ao mau estacionamento, coisa de somenos importância, levar o mandato como presidente da Câmara Municipal de Lisboa até ao fim mas que se baldou a meio... - o PS ensaia uma espécie de auto-crítica em grande formato com a verdade como destaque.

António Costa vem garantir que esta senhora, até agora ilustre desconhecida do país que pretende governar, está desempregada sem qualquer apoio estatal desde 2010, tempo em que Portugal tinha como primeiro ministro o seu antecessor no PS, o Engenheiro José Sócrates não esquecendo que ele próprio, tinha sido ministro e era o nº2 do Largo do Rato. 

Louva-se aqui a intenção da campanha exaltando a coragem de Costa, mesmo correndo o risco que alguns carregados de animosidade pelo efusivo apoio que o António demonstrou ao Syriza, venham dizer que isto não se faz ao antigo timoneiro socialista preso em Évora e de quem António para além de correligionário diz ser amigo, e que outros, confusos, pensem que esta campanha é paga pelo PPD/PSD para desgraçar a credibilidade do homem.

A verdade como o azeite vem sempre ao de cima.

 

 

publicado às 01:25

O pai da criança

por mvf, em 14.07.15

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O acordo obtido entre a Grécia e a tróica a que o grego chama instituições, tem, ao que parece, dois pais e nenhum deles se chama Angela Dorothea e fica-se a saber que o fauno Hollande somente se fez passar por cegonha para trazer a boa nova pendurada no bico não tendo, afinal, qualquer  outra responsabilidade no fe(i)to.

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Para os cépticos e tele-excluídos em verdade vos digo que  vi na TV o primeiro ministro português atirando esta com bonomia e humildade:

“Devo dizer até que, curiosamente, a solução que acabou por desbloquear o último problema em aberto – que era justamente a solução quanto à utilização do fundo – partiu de uma ideia que eu próprio sugeri. Até tivemos por acaso uma intervenção que ajudou a desbloquear o problema” e remata o nosso Pedro com a mesma facilidade e no melhor tom coloquial: “Acho que este acordo mostra que é necessário, era necessário e continua a ser necessário recuperar a confiança entre todos aqueles que estavam a negociar. Eu recordo que as últimas negociações foram abandonadas pelo Governo grego, que decidiu convocar um referendo e deixar, portanto, todos aqueles que estavam a procurar um acordo nas negociações a falar sozinhos”.

 

Mais tarde leio que uma estrela brilhante do firmamento socialista (Ana Catarina Mendes) declarou - imagino que em  bicos dos pés e esfregando as mãos de satisfação com a perfomance internacional do seu tão amado como incontestado líder - que "este acordo só foi possível graças ao forte empenho dos socialistas, que uniram esforços, construíram pontes e demonstraram capacidade negocial em todo os momentos" lembrando aos distraídos que "Na última semana o secretário-geral do PS participou em várias reuniões de líderes do PSE e reforçou a necessidade de unidade e de um caminho alternativo, tendo contribuído para um maior empenhamento na evolução de posições da família socialista”.

É assim, ninguém gosta de ficar para trás e o apoio efusivo que Costa garantiu à vitória do Syriza mandando o velho amigo PASOK dar uma volta ao bilhar grande são águas passadas (desculpem voltar sempre a isto mas a cabra da memória atraiçoa-me...).

Estão pois de parabéns todos os pais mães, padrinhos, tios, cães, gatos, gregos, troi(c)anos, europeus (incluindo alemães e franceses), a porteira do Varoufakis que está sempre a contar as conversas que ouviu nos corredores, ao injustamente esquecido Triantafyllos Machairidis que alinhou no benfica há uma dezena de anos, bem como a outras instituições envolvidas no processo. Simultanea e sinceramente desejo um futuro risonho ao nascituro ( ainda não está todo cá fora, note-se...) e embora nunca duvidando das capacidades fabulosas de Passos & Costa nestas como noutras questões, um dilema se levanta: 

Quem escolher na hora da verdade?

Deixaram-me entre o martelo e a bigorna e talvez um teste ao ADN pudesse ajudar na decisão.

 

1604532_10202963786836073_1631615331_n.jpg                                                     Roda dos Enjeitados

                                                     Mosteiro de São Dinis, Odivelas

                                                                                        ©miguel valle de figueiredo 

Com pena de não ser dado a artes divinatórias, lembro com eterna saudade o grande Zandinga que por esta altura perguntaria às cartas no caso da coisa correr mal - longe vá o agoiro! - a quem ficaria atribuído o poder parental. Mais a seco, adivinhando contra-natura (minha) a posição dos putativos progenitores podemos sempre recuperar a velha Roda dos Enjeitados ( ou Expostos ) dos mosteiros e deixar lá a rosa enjeitada... Talvez Wolfgang Schäuble assumisse a desgraçada criatura. Ao menos com ele sabemos com o que contar.

 

publicado às 13:58

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 O cartoonista Bob sintetiza no "The Telegraph" a enorme coragem e capacidade negocial que o sempre ridente Tsripas e a pop-star Varoufakis demonstraram à frente do governo grego marxista-leninista e neo-nazi (coisa a que os revolucionários dos cafés de Lisboa parece não terem dado qualquer importância enquanto entre duas bicas e um pastel de nata confundiam o sonho com a puta da realidade...).

Sem outras considerações e com os resultados à vista, lembremos que pelo caminho ficou o enorme regozijo do inefável António Costa apoiando a posição radical do Syriza  e que, impante, declarou em momento de ejaculação precoce ao mesmo tempo que renegava a antiga amizade do PS com o irmão helénico, o velho PASOK:

Vitória do Syriza é um sinal de mudança que dá força para seguir a mesma linha

Um entusiasmo juvenil que mandou repetir pela boca do porta-voz do PS, um tal Porfírio qualquer coisa ( não fixei o nome, peço desculpa) assim que se souberam os primeiros resultados do referendo num vigoroso OXI que, afinal, para Tsripas & Cª não serve sequer para limpar o rabo a um cão.

 

 

publicado às 11:02

As portagens do alcaide

por jpt, em 10.11.14

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 (imagem colhida aqui)

 

Mesmo aqui ao lado, no escritório paternal, estão os 23 volumes da história de Portugal (oito naquela de Mattoso, quinze na outra de Medina). Poderia ir lá confirmar, ou vasculhar as restantes estantes, se esta minha ideia está correcta mas, francamente, não tenho tempo e energia. Fico-me neste meu senso comum, talvez polvilhado de incorrecções. A corrigir, se alguém me ensinar ...

 

Pois aprendi em tempos (já recuados) que com o liberalismo, após 1820-1832, se extinguiram as portagens no país. Tinha isto a ver com a extinção de direitos particularistas (senhoriais) mas também com uma nova concepção de país (nação, se preferirem), correspondente à modernidade. Uma nova perspectiva de cidadania também, uma isonomia (que se foi instalando processualmente) e uma igualdade no espaço geográfico, que correspondia à total liberdade de mobilidade no espaço efectivamente português (metropolitano, que ao tempo colonial o acesso às colónias era diverso).

 

Mas agora António Costa acaba de reinstalar portagens aos cidadãos: quem não for residente e cruzar o espaço lisboeta terá que pagar as moedas requeridas. Qual pequeno nobre, alcaide ou agrupamento de homens bons assentes na sua carta de foral, nos velhos tempos medievais. E nos séculos seguintes, do chamado Antigo Regime.

 

Conceptualmente é a medida mais reaccionária que já vi em 30 e tal anos de consciência de cidadania. Não é a mais gravosa. Mas é, de longe, a mais retrógada. Uma coisa inenarrável.

 

 

 

 

publicado às 23:14

Costa, o incolor?

por mvf, em 30.09.14

 

 

"O novo secretário-geral, o primeiro não branco a liderar um grande partido em Portugal"

 

Eis como Luis Osório num seu artigo de rescaldo sobre as primárias do Rato (in jornal i, 29/09/2014) define  António Costa.

Ora, sendo Costa um não branco, isso quer dizer o quê? Preto, amarelo, vermelho, azul, liláz, versicolor, incolor?

Alguns, porventura severos críticos, pensarão que se trata somente de uma saloiada, de traumas pós-coloniais, de uma distracção a emendar mais tarde mas que dado ao adiantado da hora e ao fecho da edição lá passou e assim ficou estampada, ou, em extremo, revelar uma crise aguda de hemorróidal. Outros, mais benevolentes, dirão que esta é uma (certa) Lisboa, bem pensante, cosmopolita, esplendorosa na sua modernidade, exemplo de uma boémia temperada e culta, muito Bairro Alto anos 90 e com mundo, como dantes se dizia.

Já eu, o pobre de mim, limitado na compreensão destes fenómenos, com vistas que de tão curtas não alcançam mais que a inóspita Torre do Bugio, doméstica e inultrapassável Taprobana intelectual, só digo assim:

Foda-se!

 

De acrescentar que Costa ainda não é secretário-geral do PS e tão só candidato a primeiro-ministro, mas isso é má-vontade minha que gostava que os gajos que são pagos para escrever em jornais fossem um pouco mais rigorosos.

 

 

publicado às 09:30

O Partido Socialista de António José Seguro ganhou, como se esperava e como todos sabem, as eleições pr'á Europa. A compreensível alegria pelo feito levou Francisco Assis a um estado de euforia que só o líder acompanhou, ultrapassando-o até na demonstração do contentamento. Visto na televisão o espectáculo do dueto do Altis, em que só faltou ao par vencedor dançar o "Vira" para entreter a plateia, com um discurso de Seguro que soava a pré-escrito para outro resultado, ou seja, preparado para uma natural e estrondosa vitória que teimou em não se confirmar sobre a tão famigerada como estafada coligação de direita, a Aliança Portugal, que deixasse o Governo a pão e água, uma coisa parecida com o que se passou com o antigo ídolo e grande campeão do socialismo do nosso pobre Tozé e do imortal Mário Soares, o fracatível Sr. Hollande, que acabou a levar na pá da Le Pen sem apelo nem agravo, deixando a França ( e a Europa) em estado político-cataléptico. Ao mesmo tempo que Seguro expandia a sua alegria e debitava disparates fechado em si próprio e Assis dava trabalho às suas glândulas sudoríparas como habitual, iam-se sabendo os resultados e não parecia que a tal vitória fosse, afinal, de tal modo esmagadora que levasse o cândido Tozé ainda com o tacho ao lume, a reclamar uma maioria absoluta nas legislativas do ano que vem, sem sequer olhar para a gigantesca abstenção da paróquia, o recorde de votos brancos e nulos, o fenómeno Marinho Pinto ultrapassando o desfeito BE da surfista Marisa e nem dando confiança ao partido do meio da esquerda, o Livre do esquecido Tavares, ou o que se ia conhecendo dos resultados europeus, que se diriam preocupantes. De notar que uma vitória expressiva nem seria uma habilidade por aí além, dado o que a Aliança Portugal (PPD-PSD/CDS-PP ou melhor, PSD-PP...) tem feito "pelo" País nos últimos três anos, gerindo uma herança miserável  - que seria bom não esquecer, já agora! - mas estabelecendo prioridades a mando ou voluntárias com terrível indiferença pelos resultados na pele, na vida, de grande parte dos portugueses, a que consegue juntar uma ineficácia notável que pode sem grande dificuldade confundir-se com incompetência ou falta de vontade, sendo ambas miseráveis, e em muitos dos casos a quase estagnação, sobretudo, naquilo que se diz essencial, a reforma do estado e a  dieta nas gorduras do dito como a que o cabeça-de-lista Rangel fez com tão nítidos e bons resultados.  Enfim, nestas coisas já se sabe, os nervos apoderam-se de um gajo, dizem-se coisas que são coisas que se dizem (antigo provérbio árabe), e no que toca a Seguro, esperar mais do que ele pode dar é pedir a um cão que suba a uma árvore. Situações em que a ansiedade e a pressão aumentam e que podem acontecer a qualquer momento a todos nós, podem levar a desvarios variados e mesmo a ejaculações precoces, o que espero sinceramente, não ter sido o caso, mas convém que em cargos de responsabilidade extrema, as pernas não tremam, a voz se não embargue, os sentimentos não embotem a necessidade da acção rápida, eficaz e ponderada.  

De qualquer modo, mesmo o PS tendo ganho a corrida para Bruxelas, foi para alguns sectores do partido como se tivesse perdido e eis que com a luz verde que Mário Soares acendeu  quando disse que aquilo foi uma vitória pírrica, reaparece de imediato como eventual desafiante à liderança, o António Costa. Soares, macaco velho, sabe-a toda e com a alusão ao rei Pirro revelou indirectamente a todos os interessados o que sempre soube: Seguro não fará o PS voltar aos tempos áureos e dando o sinal, logo Costa se chegaria à posição de partida. Um pequeno detalhe que me entristeceu bastamente foi o momento escolhido por Costa para o anúncio do seu sacríficio pela Pátria: António Costa estava como presidente da CML inaugurando um monumento que homenageia a vida e obra de Maria José Nogueira Pinto, quando não se conteve e declarou a sua disponibilidade para outros vôos. Na minha terra chama-se falta de respeito e de decoro, mas deve tratar-se de uma questão geográfica.
Voltando à vaca fria, que é como quem diz, a António José Seguro, dele não se ouviu dizer que fosse um cinéfilo inveterado mas certamente tem conhecimento de uma ou duas fitas clássicas. Uma delas, deve estar agora a atordoar-lhe a existência, sobretudo se a sua imaginação lhe pregar uma partida, e é nestas alturas de intranquilidade que as partidas acontecem, que as surpresas saltam do breu, que os abraços podem apertar, por amizade e carinho, o papo aos mais desprevenidos, que mãos supostamente amigas podem esconder instrumentos que interrompam a circulação sanguínea para além de estragar a mais cuidada e elegante camursina. Se Seguro viu Psycho, mesmo que não tenha entendido o enredo, sabe que a partir de agora não pode tomar um duche retemperador e merecido porque por detrás da cortina pode vir um facalhão empunhado por algum seu correlegionário. Seguro, inseguro, pode ser levado a voar na tal imaginação e a prever um remake do filme do velho Alfredo, uma versão ainda mais aterradora, num género ainda por explorar cinematograficamente, o thriller musical. Uma história leve e alegre como o poeta que o apoia ou apoiava, com uma carga de "suspense", um vai-não vai, um mata-não mata prolongado e com um fim dramático: No fundo, um psico-drama musicado em que ele personificaria Marion Crane, substituindo Janet Leigh com enorme desvantagem para os espectadores, enquanto um outro Anthony que não  o Perkins, interpretaria na perfeição o faquista Norman Bates numa produção à Bollywood.
Será que Tozé se enfia na banheira ou deixa a higiene de lado?
Aqui fica, como refresco da memória, um trecho do filme original de 1960:

publicado às 20:46
modificado por jpt a 11/7/14 às 04:43


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