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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
O ensaio inicial, “Uma Arte de Sobrevivência”, dedicado ao que será ser português parece-me um regresso ao culturalismo (e que me parece articular com os seguintes “Uma Tragédia Portuguesa, com certeza” e “Tabucchi, como nós”, assim associando o “desassossego” às outras componentes do tal “ser português”, entre as quais se recupera Teixeira de Pascoaes). Não vai daqui crítica, é um tom característico do “ensaísmo” português, em particular quando fala de Portugal (e com esta afirmação estou também eu pisando o culturalismo).
O “ensaio” quase sempre me confunde, por mais interessante que seja, como este livro (heurístico é uma palavra exo-bloguistica). Por um planar assumido, descontrolado. Às vezes espanta, mesmo que ensaio. E ilegitima o discurso. Assim (ainda que sabendo que a citação pode truncar os argumentos, e que mais vale ler o todo): “Em certo sentido, somos uma ilha inventada por nós: nos últimos quatro séculos, sempre nos relacionámos com os outros quando eles vinham ter connosco e não porque os procurassemos.”(20)
Li uma história diferente.
"Do seu posto de observação privilegiado (Salzburgo fica perto da fronteira entre a Áustria e a Alemanha), Zweig observara, atónito, as rápidas transformações sociais provocadas pela crise económica e financeira do pós-guerra: "Que época selvagem, anárquica, inverosímil, a daqueles anos em que, com a desvalorização do dinheiro, todos os outros valores na Áustria e na Alemanha começaram a resvalar! Um período de êxtase entusiástico e de vertigem descontrolada, uma mistura única de impaciência e fanatismo". [...] E especifica: "Tudo o que era extravagante e incontrolável conheceu uma época de ouro: teosofia, ocultismo, espiritismo, sonambulismo, antroposofia, quiromancia, grafologia, ioga indiano e misticismo paracelsiano. Tudo o que prometesse estados de extrema intensidade para além do que então se conhecia, todo o tipo de estupefacientes, mórfio, cocaína e heroína, tudo se vendia num instante; mas peças de teatro sobre o incesto e o parricídio, na política, ou o comunismo ou o fascismo, constituíam os únicos temas apetecidos, pelo seu extremismo; incondicionalmente banida estava, em contrapartida, qualquer forma de normalidade, de moderação". [Stefan Zweig, O Mundo de Ontem, p. 331].
[António Mega Ferreira, O Deserto Ocidental, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007, pp. 118-9]
E vai uma pequena citação que me parece muito aplicável às coisas literárias daqui, e a tantas discussões bizantinas já ouvidas (mais ouvidas do que lidas, que na palavra escrita se vai elidindo a questão):
"Em primeiro lugar não sei o que se possa considerar um autor português. Em quase cinco décadas de leitura, com centenas de originais de autores portugueses lidos, continuo por saber qual é o quid que faz de um escritor uma figura literária retintamente portuguesa."
(António Mega Ferreira, O Deserto Ocidental, Lisboa, Assírio & Alvim, 2007)
O ensaio inicial, "Uma Arte de Sobrevivência", dedicado ao que será ser português parece-me um regresso ao culturalismo (e que me parece articular com os seguintes "Uma Tragédia Portuguesa, com certeza" e "Tabucchi, como nós", assim associando o "desassossego" às outras componentes do tal "ser português", entre as quais se recupera Teixeira de Pascoaes). Não vai daqui crítica, é um tom característico do "ensaísmo" português, em particular quando fala de Portugal (e com esta afirmação estou também eu pisando o culturalismo).O "ensaio" quase sempre me confunde, por mais interessante que seja, como este livro (heurístico é uma palavra exo-bloguistica). Por um planar assumido, descontrolado. Às vezes espanta, mesmo que ensaio. E ilegitima o discurso. Assim (ainda que sabendo que a citação pode truncar os argumentos, e que mais vale ler o todo):
"Em certo sentido, somos uma ilha inventada por nós: nos últimos quatro séculos, sempre nos relacionámos com os outros quando eles vinham ter connosco e não porque os procurassemos."(20)
Li uma história diferente.