Cheguei a Washington a 4 de Outubro de 2002. John Allen Muhammad, o sniper de Washington, com o seu parceiro Lee Boyd Malvo faziam o seu sétimo disparo , o primeiro não mortal. Terminariam com 13 disparos , a 22 de Outubro, 10 mortais, finalmente capturados a 24.Dois ou três dias mais tarde liguei à Elsa, emigrada há muitos anos nos EUA, contacto que virou amiga. Ofereceu-se prontamente a me vir ajudar, nas suas folgas, a procurar casa, pois era agente imobiliária no estado da Virgínia, e a ela devo a muito bem negociada casa,onde depois viveria os quatro anos seguintes , entre a Connecticut Ave e a Wisconsin, nas margens do boémio bairro de Adams Morgan e com o Rock Creek Park, a poucos metros, que se entranha por toda cidade. Levava-me também aos grandes malls para comprar algumas coisas necessárias para nos instalarmos, o universal Ikea, o americano Home Depot, situados ao longo da Beltway, 12 faixas, com carros a moverem-se, sem parar, em ambos os sentidos, que circunda todo o District of Colombia. Cenário escolhido pela dupla para fazer os disparos, around the Beltway, nos parques de estacionamento dos malls ou em estações de serviço limítrofes, feitos a partir da traseira de um Chevrolet Caprice, azul, transformado para o efeito.A Elsa entrava a grande velocidade nos parques, deixava-me com a minha filha Leonor, na altura com 15 meses, à entrada, que a pegasse ao colo e de seguida dizia: “corre para o interior”, depois partia, novamente a grande velocidade para estacionar, eu ficáva a espreitar por detrás da parede, a ver a Elsa aparecer a correr em zigzag, como ela mais três ou quatro outros clientes, com ar assustado, que seguiam à risca o que era debitado por vários especialistas criminais em como evitar o tiro dum sniper, a toda a hora na televisão e na rádio.Pânico generalizado, uma comunidade inteira com a fobia de poder vir a ser a próxima vitíma.As escolas cancelavam as actividades ao ar livre, os pais corriam, mais cedo, a buscá-las, em zigzag.Eu descobria a cidade, inside the Beltway, com a Leonor no carrinho “guarda-chuva”, o centro, a National Gallery, o móbile do Alexander Calder na entrada da ala este, a livraria sempre com livros em saldo, o Museu de História Natural na esquina oposta, ao topo o Capitólio. Sentia-me seguro naquele sítio, que deve ser o com mais polícias por m2 do mundo. A viver este serial killer como espectador de um filme real com argumento de Hollywood, os imensos lençóis do Washington Post, à noite os noticiários da CNN, das televisões locais, os briefings diários do chefe da polícia Charles Moose, as mensagens de Muhammad deixadas em cartas de tarot. A carta da Morte, “Call me God”, na fronte.John Allen Muhammad foi executado por injecção letal a 10 de Novembro de 2009.
[PSB]