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Olivais

por jpt, em 20.06.15

olivais.jpg

 

 

 

Há anos participei no Olivesaria, um blog colectivo dedicado aos Olivais, bairro lisboeta. No qual cresci, como narrei neste texto nada "clean", a recordar o caldeirão fervilhante dos anos 70 e 80 que era o bairro, tão povoado. E ao qual agora voltei, para o encontrar empobrecido pois envelhecido - e os novos pobres desta terra são os velhos, e tantos e tão velhos há nesta terra ...

 

Por isso me desperta interesse esta palestra, que acontecerá na quarta-feira (18.30), na Av. de Roma. Quando Francisco Silva Dias, arquitecto que participou na urbanização do então oriente lisboeta, falará sobre a planificação do bairro e, decerto, sobre os ideiais urbanísticos, arquitectónicos, sociológicos que alimentaram aqueles dias e trabalhos. E, talvez, sobre os ideais políticos, aquele já tardo-salazarismo, ordenador pela osmose, o cúmulo do optimismo sociológico - este que a gente, distraída, pensa ser o característico da "esquerda".

publicado às 12:23

A Glória Ronda Alvalade

por jpt, em 10.10.12

 

Foi sabido hoje que o edifício Metropólis/Interface do Campo Grande (que servirá para os futuros escritórios da Zon), em Lisboa, ganhou o Prémio Sil de Arquitectura. A minha amiga arquitecta Joana Cabral, chefe de projecto desta obra, está aqui comigo a jantar em Maputo e concorda, algo contrariada, que o prémio obtido muito se deve ao facto deste edifício ter sido aspergido pela magnificencia e glória da sacra vizinhança.

 

Para mim ocorrem-me dois comentários, até paradoxais. O que o Sporting precisa é de um treinador como a Joana Cabral. Ou, em sinal contrário, que bom seria ver a Joana Cabral projectar "prém(d)ios" deste quilate entre Maputo e Rovuma. Haja quem a contrate, claro.

 

 

jpt

publicado às 22:44

Via e-mail e sem referência quanto à sua origem, recebi estas imagens do que me pareceu ser um projecto associado a uma ONG na América do Sul. Fui investigar sobre casas construídas com garrafas de plástico.

 

Parece que esta iniciativa decorreu em Warnes, na Bolívia, no ano de 2007 , com orientação de uma técnica (nas imagens) da ECO-TEC - Soluções Ambientais. Esta empresa oferece serviços de consultadoria para o aproveitamento de resíduos sólidos em todo o planeta. O intuito é levar as comunidades a descobrirem a possibilidade de aproveitamento dos resíduos sólidos resultantes do  consumo quotidiano. Neste caso concreto, foram escolhidas as garrafas de plástico para a construção de casas, uma vez que este material apresenta propriedades isoladoras.

 

O resultado desta técnica apurada por Andreas Froese, um alemão ecologista que se dedica à bio-construção e ao eco-desenho, é fabuloso. Para além de ser um projecto ecologicamente sustentável, também me arrancou um sorriso porque me lembrei do não menos fabuloso Antonio Gaudi, esse génio da arquitectura modernista.

 

VA

publicado às 16:55

Lusofonia arquitectónica

por jpt, em 13.09.11

Há algum tempo aqui coloquei o novo miradouro da baixa de Maputo, utilizando uma fotografia que uma amiga (real) colocara no seu mural de facebook, com isso despertando um debate sobre as "valências" de tal abordagem arquitectónica. Considerei-a então uma original forma de afirmar um miradouro, mas também não sem a sentir como típica de algumas características de alguma arquitectura actual na cidade. E aqui recoloco a fotografia

 

[Fotografia Carla Ribeiro, Cruzamento Av Zedequias Manganhela com Av Alberto Luthuli]

 

A quase inocente colocação desta fotografia teve ainda um corolário. Passados alguns dias no mural-fb da AL alguns dos mais radicais dos "espoliados do Ultramar", enquanto se lançavam em loas à bondade do colonialismo português e ao esforço aperfeiçoador das gentes humanas por via da assimilação e do indigenato ("ele" ainda há alguma gente assim, pouca mas frenética na internet), exemplificavam a perfídia das independências africanas com este edifício, ali dito "arquitectura de monhé", simbolizando a incúria e a maldade que subjugaram os pobres povos ultramarinos quando privados das benesses da santa tutela. [Isto enquanto invectivavam de "filhodap..." este jpt, pois aespoliado e como tal ilegítimo habitante do Padroado].

 

E com essa memória ainda recente não deixei de a associar quando uma amiga (virtual) me enviou via facebook a seguinte fotografia, simpatia que muito lhe agradeço. Infelizmente não conhecemos o seu autor e por isso não está nem identificada nem devidamente agradecida. Está tomada de empréstimo, por assim dizer. E isso impõe-se pois, neste contexto, é um verdadeiro exemplo de arquitectura lusófona ... Como sempre a conclusão, e aqui de âmbito muito amplo, "não há nada de novo sob este céu ...".

 

 

jpt

publicado às 10:38

Rescaldo de uma visita a Portugal

por jpt, em 15.08.11

Uma muito boa ida a Portugal, a família está muito bem (o que me destorna Atlas) e ainda lá me restam dois punhados de amigos (o que dá alento [ou alma, na linguagem da superstição]). Um breve rescaldo do que encontrei:

 

 

 

A crise está(-me) vasta e não pude comprar livros. Mas vi nas livrarias este vol. I das obras de Bulgákov. Tradução de Nina Guerra e GAF, que continuam a civilizar o país com a tradução dos escritores russos de XIX e XX, antes deles inaceitavelmente intraduzidos. Fiquei invejoso, o contentamento da posse chegará (?) em próxima visita.

 

 

As mesmas razões afastaram-me do A Cauda do Escorpião - o Adeus a Moçambique, de Giancarlo Coccia, recente publicação que para mim foi uma novidade. O Herdeiro de Aécio aborda o livro, muito criticamente, minorando o meu lamento.

 

 

Toda a gente fala da crise do capitalismo financeiro. Eu ainda resmungo com o industrial. O "indivíduo fruidor", da mescla vigente e dominante entre pós-marxismo e pós-catolicismo, só é quando rodeado de uma miríade de "gadgets" (termo inglês que significa penduricalhos). Mas o material desta produção industrial é mau, supra-perecível, daí que nos esvaímos em constantes actualizações e substituições. A minha máquina, com meia dúzia de anos ("tão antiga?", "vive em África? sabe? ... a humidade, o pó!...") avariou, a reparação tem o custo de uma nova. A máquina do meu pai (que não é Nikon, já agora) é mais velha do que eu e ainda fotografaria, se houvesse rolos. Conclusão: "não há dinheiro não há palhaço", deixo de ter máquina fotográfica. Um dia, quem sabe?, se isto me melhorar, comprarei outra. Que não será Nikon.

 

 

Fui lá. Depois falei disso. Como seria de prever arquitectos e amigos de arquitectos defendem o "Arco do Triunfo de Cascais" que Gonçalo Byrne construíu ali na baía. Dizem que "recuperou" e "marcou" e mais não-sei-o-quê. Dizem ainda, e vindo de quem vem é um argumento delicioso, que "os apartamentos são caríssimos e estão todos vendidos". Que jeito dá a mercadocracia em algumas situações. O monstro está acima retratado (clicando ele aumenta), não me aproximei mais. Por mero pavor.

 

 

Quinze anos depois voltei ao VilaLisa, mítico local na Mexilhoeira Grande (entre Lagos e Portimão). O meu entusiasmo pela comida reduziu-se muito, entretanto. Mas ali recordei-me glutão. Ainda vale a pena.

 

 

A parede que está ali ao fundo é a actual Escola Secundária D. Leonor (Lisboa). O edifício antigo continua, mas cresceu-lhe este gânglio em forma 

de paralelepípedo. Ou será tumor? Dizem-me que agora é assim ... que se recuperam as escolas.

 

Novo governo, crise generalizada. Como durante anos trabalhei em "cooperação" (Ajuda Pública ao Desenvolvimento) pergunto "que vai acontecer à cooperação?", gente nova e abordagens são esperadas. As notícias e as perspectivas são ... uma dor de alma. 

 

A retrospectiva de Pedro Cabrita Reis no Centro Cultural de Belém. Esmagadora.

(Numa sala ao lado uma individual de fotografia, de Alfredo Jaar, "Cem Vezes Nguyen", é uma fraude. Não há um qualquer antropólogo que tenha lido alguma coisa sobre "histórias de vida", sobre representação e isso, que pontapeie o rei-fotógrafo que tão nu se passeia?).

 

 

Li jornais (sempre vão sendo mais baratos). O Guia de Futebol 2011-2012 do Record é melhor do que os Cadernos de A Bola.

 

 

O jornal i, que quando apareceu tanto prometia, piorou. Não vende, dizem. E perdeu muitos jornalistas. Ainda assim vou comprando. Os amigos, feitos vizinhos, acusam-me de direitista, "servo do grande capital" por ler tal pasquim. Respondo-lhes que o jornal está cheio de textos de bloguistas de esquerda e até de neo-comunistas e velho-comunistas. Não acreditam. É a força dos preconceitos.

 

 

Há quase vinte anos o então director do Público afrontou as manifestações dos estudantes invectivando essa mole como "geração rasca", algo que ficou célebre. Não eram apenas os fundos das costas que eram mostrados, eram também os trocadilhos com o nome da então ministra da Educação que serviam como se argumentos políticos. Agora apanho no mesmo jornal um patético texto de Santana Castilho (Publico, 3.8). Castilho, que cheguei a encontrar aqui em finais de 90s, penso que ligado à cooperação com o então ISPU, despeja um incomensurável fel ("eu é que devia ser ministro") e dedica-se a jogos com o nome do agora ministro da Educação. Estará o Público na época dos "colunistas rascas"?

 

Helena Matos (texto só para assinantes):

"... não tenho qualquer interesse ou simpatia por sociedades secretas ou discretas e numa democracia nem percebo a sua razão de ser. Irrita-me solenemente a presunção dumas pessoas que a si mesmas se definem como homens bons e sobretudo todos aqueles rituais de igreja a fazer de conta que não é igreja, mais os aventais e os martelos que me parecem muito, mas mesmo muito rídiculos (...) os aventais da maçonaria movem-se cada vez mais no domínio do material. Não há na política deste país negócio obscuro, tráfico de influências, cumplicidades entre o público e o privado que não nos levem à irmandade dos aventais. Para cúmulo somos também informados de que os membros dos serviços de informações têm outras lealdades para lá daquelas que devem ao país e que inevitavelmente conduzem a esse enredo de lojas, grémios e orientes.

 

Se alguns milhares de homens deste país se sentem felizes por andar de avental, chamando-se irmãos e dizendo-se homens bons, essa é sinceramente uma coisa que não nos diz respeito e a mim me causa particular fastio. Mas a democracia que somos tem o dever de investigar o tráfico de influências em que justa ou injustamente a maçonaria surge no cerne e muito particularmente os partidos, sobretudo o PS e o PSD, têm de ser capazes de olhar para dentro e analisar as consequências para si e para o país das cumplicidades maçónicas de muitos dos seus dirigentes..

 

(...) Preocupemo-nos com os aventais que (...) se tornaram no símbolo daquilo que em Portugal o poder não pode e muito menos deve ser."

Sim. Por todo o lado a maçonaria. Na política - onde o inenarrável caso da votação em Fernando Nobre para presidente da AR, com apelo a solidariedades maçónicas passou como "natural" . Como é possível que um deputado apele ou actue através de solidariedades que não são públicas e escrutinadas? No PS e no actual governo, resmungam. Nas universidades, dizem-me. Com ascensões incompreensíveis, com pequenos e médios poderes (nas administrações das entidades académicas, na selecção de projectos e bolsas, etc). Até tipos que foram meus professores, uma escumalha.

 

À chegada a Lisboa vi isto:

 

 

António Reis, veterano deputado socialista. Que aqui recorda ter sido "presidente do conselho de ética da AR". Que disserta na televisão pública (acompanhado por um arremedo de jornalista, cheia de salamaleques, dando-lhe verdadeira passadeira) sobre o que é ser maçónico. Que recrutam na elite (sorrio, um tipo do PS!, a recrutar na elite). Que são procurados pelos políticos, que querem aderir para "colher os ensinamentos" que ali se redistribuem (não podiam ir à internet? A uns cursos de verão? por correspondência?). E o serviço público leva-o ao colo, na legitimação. Para os pacóvios se contentarem.

 

Que fazer com estas redes, esconsas, apropriadoras, adversas à sociedade aberta (explícita), democrática? Adversárias do desenvolvimento? Combatê-las? Como, se o teu vizinho é maçónico? Se o teu querido amigo os defende? Se o(s) teu(s) novo(s) ministro(s) também? Se a tua própria família te diz "não te metas com eles, cala-te"?

 

Há pelo menos uma coisa, fácil. Nunca votar em quem tem maçónicos. Como no partido deste infecto que recruta na elite ...

 

Entretanto, vim-me embora.

 

jpt

publicado às 01:10

Declaração de princípio moral (e de repugnância higiénica):

 

"... era um reles arquitecto, dessa pavorosa seita do pós-guerra que fez mais estragos na linha do horizonte europeu do que qualquer Luftwaffe. Em Veneza, o indivíduo desfigurara dois campi maravilhosos com os seus edifícios, um dos quais era, claro está, um banco, pois este género de animal humano adora os bancos com um fervor absolutamente narcísico, com o amor de um efeito pela sua causa. Só por essa "estrutura" (como nesse tempo se dizia) merecia amplamente, a meu ver, um par de cornos. Mas já que, tal como a mulher, também ele era, pelos vistos, membro do PC, melhor seria confiar a missão a um camarada."

 

[Joseph Brodsky, Marca de Água, Lisboa, D. Quixote, p. 17-18 (tradução de Ana Luísa Faria)]

 

(claro está que, aos meus quarenta anos, não há ninguém que se abomine tanto como os arquitectos. Em especial os "melhores").

publicado às 17:48

Arquitectura

por jpt, em 26.08.06

ssilvajorgecapa1

 

Do meu longínquo país chegam-me notícias de que os monstros sagrados da corporação reforçam a ditadura arquitectónica (quem, no mero "vulgo ignaro", se atreve a enfrentá-los?). Diga-se, a impessoalização do estar. Urbes nuas e agora, ameaça-se, os vestígios românticos a "pós-modernizarem-se".

 

 "Não me parece que o arquitecto deva, sistematicamente, utilizar a linguagem ou os hábitos do seu utente ou cliente mas tem pelo menos que usar uma linguagem que seja compreensível, e portanto esse linguagem tem muito, naturalmente, do momento, da linguagem do passado próximo, por vezes até do passado antigo" (Fernando Távora)

 

[Augusto Santos Silva, Vítor Oliveira Jorge (orgs.), Existe Uma Cultura Portuguesa?, Porto, Afrontamento, 1993, p. 93]

publicado às 10:20

O "Diálogo" na Arquitectura

por jpt, em 04.05.04

Não resisto a partilhar este texto delicioso do Sérgio Faria, inspirado num termo recorrente da gíria dos arquitectos.

 

Arrematando o assunto. Acho uma gracinha o jargão dos arquitetos para justificar uma obra invasiva: ele dizem que a obra "dialoga". Já disse o carnavalesco Ohtakinho Trinta, nosso Frank Gehry, que seu Hotel Renaissance "dialoga" com as árvores da Alameda Santos [SP]. E que seu Palácio da Carambola "dialoga" com os entornos da Zona Oeste. Pois na apresentação de seu projeto, o Paulo Mendes da Rocha informou que o mondrongo da Praça do Patriarca "dialogava" com a vizinha igreja de Santo Antonio, tombada pelo Condephaat. Se "dialogava" mesmo, eu imagino o diálogo: 

- E aí, Santo Antonio? 
- Fala, Paulo 
- Gostou do meu projeto? 
- Ele esconde a minha igreja, Paulo 
- Não é bem assim, ele dialoga... 
- Vai tomar no seu cu, Paulo

 

 

Para ver o "mamarracho" directamente invectivado ver aqui.

publicado às 15:36


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