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O ma-schamba sempre atento à realidade, acompanha por gosto e quase obrigação o Campeonato do Mundo de Futebol - Brasil 2014 e essa tarefa árdua impediu que a habitual rubrica dos Sábados entrasse a tempo, com a certeza que os ávidos frequentadores da casa compreenderão a prioridade e na sua extrema boa vontade desculparão a falta. Pegando no Brasil e por facilidade, estendemos hoje a passadeira a Heitor Villa-Lobos, tão grande como o seu país e que o sintetizou musicalmente como nenhum outro compositor, envolvendo os sons da natureza e o folclore da sua Terra Brasilis por onde viajou, numa roupagem sofisticada e complexa mas nem por isso menos exuberante, colorida e acessível. Deixemos as patacoadas porque mesmo que neste Domingo não haja bola em directo na televisão com o costumeiro chorrilho de disparates dos comentadores de serviço, nem eu me sinto com capacidade para os substituir já que para asneirar com propriedade no mesmo elevado patamar dos desportivos da RTP teria de estar bem mais acordado, nem vocês estão para perder tempo com um texto mal amanhado sobre o homem e a sua obra. Assim, acaba-se rapidamente a palheta, dizendo que Villa-Lobos foi um dos expoentes do Modernismo brasileiro, o que desde logo lhe valeu algumas críticas dos mais conservadores. Por exemplo no Jornal do Comércio, um tal Oscar Guanabarino - que apelido extraordinário! - atira flechas que muito erradamente pensou certeiras e definitivas. Diz ele sobre o iconoclasta, garantindo simultaneamente desta forma a imortalidade e a  superior e democrática noção radicada no princípio de que cada um diz o que lhe apetece:

« O seu grande talento está transviado... julgando haver possibilidade de fazer desaparecer o belo para das sua cinzas surgir o império do absurdo».

 

Por outro lado em 1918 enquanto a Europa ( e o Mundo) se aprestavam para enterrar o machado da 1ª Grande Guerra, Villa-Lobos enfrentava uma outra, desta feita com, pasme-se, músicos que se recusaram simplesmente a tocar as suas obras (a 1ª Sinfonia e Amazonas) num concerto a convite do director do Instituto Nacional de Música. Os músicos, cheios de vícios rotineiros, uns burocratas, meteram a viola no saco e evitam a interpretação das obras que consideram coisa cheia de dissonâncias ao que Villa-Lobos responde com rigor:

 

« Não escrevo dissonante para ser moderno. De maneira nenhuma. O que escrevo é consequência cósmica dos estudos que fiz, da síntese a que cheguei para espelhar uma natureza como a do Brasil. Prossegui, confrontando esses meus estudos com obras estrangeiras, e procurei um ponto de apoio para firmar o personalismo e a inalterabilidade das minhas ideias.».

 

Dissonante ou não, o certo é que o carioca Villa-Lobos nos deixou as  Bachianas Brasileiras, um conjunto maravilhoso de nove obras que são, como o próprio nome indica (sempre gostei desta forma...), uma homenagem a Bach. A Nº4 foi composta para piano em 1930 mas cerca uma dúzia de anos depois recebeu novo arranjo para orquestra e se não é a mais conhecida a mais gravada é a minha preferida. 

 

Vou dormir mais um bocado que bem preciso mesmo que não mereça. Advirtam-se entretanto e não liguem demasiado ao escrito.

mvf

publicado às 08:24
modificado por jpt a 28/12/14 às 15:24


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