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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Armando Baptista-Bastos, homem de livros e jornais, de verve aguçada. Escreve aqui "Os tristes dias do nosso infortúnio", uma profunda crítica a Aníbal Cavaco Silva. Ataca-lhe o discurso de anúncio de candidatura (do qual concedo que não gostei muito). Afirma-o expresso em "idioma de eguariço", considera-o presunçoso e arrogante, apupa-lhe o passado de primeiro-ministro considerando-o até subordinado a "doutrinas fascistas". E bem mais coisas. A cada um a sua opinião, mesmo face a este naco de prosa furibundo, hiperbólico (associar Cavaco a doutrinas fascistas nem a um "moço de estrebaria" ocorrerá). E do alto da sua carreira e da sua sempre agitada postura cívica o escritor e jornalista tem todo o direito a expressar o seu desagrado pelo político e cidadão Aníbal Cavaco Silva.
Pois. Mas enquanto fui lendo o ditirambo anti-Cavaco fui-me lembrando do Lisboagate. Quando se descobriu que a Câmara Municipal de Lisboa tinha atribuído, indevidamente, 3200 casas a amigos, funcionários e correligionários de quem vinha exercendo o poder. Um dos quais este irado teclista Baptista-Bastos, auto-proclamado símbolo da verticalidade, mas que foi pedir a casinha ao poder sem que entenda isso como algum mal, nem "Porque auferiu de um privilégio vedado ao cidadão comum. Que alguém que sempre foi tão moralmente exigente nos seus artigos de imprensa não perceba isto faz-me confusão." (João Miguel Tavares).
Será normal que este serviçal Baptista-Bastos continue a encenar a ira digna invectivando os políticos, e até com sobranceria sociológica. Tal como será normal que, de chapéu na mão, nunca diga dos que lhe dão casa e favores que se expressam como míseros "eguariços". Que pasquins infectos lhe paguem para botar o seu fel infecto, escrito no apartamentozito que foi camário, também é natural, é assim que mostram a publicidade que angariam. O que é espantoso é que cidadãos comuns, desses a quem o poder não dá casa, leiam e gostem deste lixo.
jpt