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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
João Machado da Graça, o verdadeiro fundador do bloguismo em Moçambique, através do seu Ideias para Debate, tornou-se (como tantos outros) num aguerrido faceboquista. E foi naquele suporte, no reduto de uma também bloguista, que se insurgiu contra aqueles que atravessam hemisférios e planisférios nesta época do ano, em demanda de símbolos natalícios, esses que ele ele considera vácuos de sentido. Dele discordo, pois aos símbolos da quadra encontro-os preenchidos, abundantes de significados.
(Fotografia do MVF)
Hoje, 3 de Dezembro, o ma-schamba faz dez anos. A ver se o colectivo, meio em pousio meio em pós-bloguismo, se juntará para um simpósio lisboeta na próxima época natalícia, no qual se comemore esta vetustez. Que o convívio ("estamos juntos") é o que mais conta.
Durante anos bloguei-o sozinho, depois acompanhado. Já me foi vício, já foi rotina. Já não é assim, mas ainda me é identitário, aquilo do jpt bloguista. Nisto correu uma década de verborreia, agora cada vez mais escassa. Neste longo tempo muita coisa mudou na internet e assim no in-blog. Mudaram, e muito, os visitantes. E surgiram outros meios de publicação (e de reprodução/"partilha") individual, muito mais interactivos e rápidos no manuseamento. Mas também de acesso a informação, sua recolecção e colecção. De facto, hoje, tendo contas de academia.edu, de instapaper, de pinterest, de vimeo, de goodreads, de paper.li, de youtube, de facebook, de twitter, do imdb e do flixster e do deezer, e sei lá mais de quê, os blogs parecem-me uma plataforma flinstoniana. Esses outros meios não são só lestos e fáceis de utilizar, como se mera vantagem tecnológica, até a desvalorizar. São mesmo preciosos. E não implicam, como se o obrigando, o abandono da leitura, o domínio da incessante partilha de slogans ou pobres imagens (o "memeísmo") , um mundo de superficialidade, como resmungam(os) alguns velhos bloguistas - talvez muito impressionados por aquele fenómeno do facebooking histriónico, o qual, já agora, também me parece em regressão.
Bem pelo contrário, são divertidíssimos (qualquer antigo coleccionador de cromos se delicia com o pinterest; um amante de livros mergulha no clube goodreads; os melómanos têm suportes espectaculares para se alimentarem; os imdb e flixster servirão os mais cinéfilos ou televisófilos). E são utilíssimos: o paper.li dá a cada um o seu jornal, sem perda de tempo ou subserviência aos publicitários e aos mandarins; os facebook e twitter acompanham as urgências (as catástrofes, as agitações políticas, os eventos desportivos) e os veros amigos distantes. E, também profissionalmente, o youtube e o vimeo são um manancial de palestras e documentários, o academia.edu uma excelente e vibrante biblioteca em rede, e também uma plataforma de publicação extremamente democrática. Para além do instapaper, que leva o troféu entre esta parafernália, pois é um magnífico mecanismo de leitura .
Com tudo isto é evidente que o (meu) bloguismo fenece. Mas não será só o meu. Nos dois contextos blogais que acompanhei a evolução foi diversa: em Moçambique a breve era blogal implicou uma mudança na palavra pública, que se tornou mais descomprometida, liberta, quebrando os monopólios editoriais e os hábitos (e temores) da auto-contenção. E também pontapeando as retóricas acacianas, que em finais de XX encontrei ainda acampadas nos jornais locais. Nos últimos anos quase tudo isso transitou, e cresceu, para um agitadíssimo facebuquismo nacional, feito verdadeiro rossio de discussão pública. Em Portugal a multiplicidade blogal foi muito maior, por óbvias razões socioeconómicas, mas os seus efeitos parecem-me ter sido menores, pois existente numa sociedade mais aberta. Ali, com o passar dos anos e a migração de muitos para outras diversões (e de alguns para a comunicação social) o tom blogal foi-se enquadrando, acinzentando por um lado, sujeitando-se por outro. Nisso tudo os blogs perderam fulgor e principalmente foi desaparecendo o tom de tertúlia, algo que muito me agradava. E também se desvaneceu aquilo que mais me atraía, o tom "punk" da escrita e da sua afixação: esse acabou, em parte também devido à ideia (e ao desejo) de qu'isto é uma sequela dos órgãos de comunicação social (não é, ponto final parágrafo).
Da minha década aqui fiz três colecções, daquilo que mais me interessou: a ma-schamba, que é a mais parecida com o blog, variada, sem rumo nem agenda; a Ao Balcão da Cantina e a A Oeste do Canal, com textos mais associáveis pois dedicados a Moçambique. E arrumei-as na minha conta na rede Academia (para quem as quiser ver; para a minha filha num dia futuro, se tiver paciência). Mas ainda acho piada a isto de blogar, qual catarse do fel, o apreço à escrita descuidada, Amadora, (quase) irresponsável. E assim a gente (mais eu e o camarada MVF nestes tempos) vamos aguentando as courelas.
Nostálgico (mas não saudosista) deixo uma memória de como se blogava há alguns anos, os "bons velhos tempos" como sempre dizem os velhos:
Deixo aqui a nota, referindo o simpósio bloguístico acontecido em Maputo na passada semana. Uns queijos e presuntos, uma parca taça de vinho, uma longa e prazenteira conversa que eu (ali como representante do ma-schamba) tive com o Vasco Galante (representando o maravilhoso Blog da Gorongosa).
O VG, que então conheci, é um tipo supra-simpático e superlativo na paixão que tem pelo seu (local de) trabalho, obviamente um homem de mão-cheia. O problema é deixá-lo partir, sem o seguirmos. Foi ele à sua vida, que tinha que ser, e ficámos (ficamos) nós num "e agora?!", cheios de necessidade de apanhar a estrada até ao Parque da Gorongosa.
Em breve, em breve ....
Entretanto, e estou a cometer uma inconfidência, anunciou que a National Geographic, edição mundial, terá em Julho próximo um sumptuoso artigo sobre o parque e seu ecossistema. Algo verdadeiramente importante. Pois a defesa deste parque (e dos outros) passa pela sua celebrização, verdadeiro muro contra a cupidez humana.
Aquino de Bragança foi um importante político e intelectual moçambicano. Morreu na queda do avião presidencial moçambicano, em 1986. A sua viúva, a gentil Sílvia Bragança, criou e vem alimentado o blog Remembering Aquino, forma de partilhar as suas memórias e dar conta daquilo que outros vão produzindo e/ou ecoando sobre a personalidade e a acção de Aquino de Bragança - uma carinhosa actividade que me parece exemplarmente ilustrada por esta fotografia.
Neste manter a memória daquele que era director do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane quando morreu, é também de referir a criação ainda recente do Centro de Estudos Sociais Aquino Bragança (CESAB), onde trabalham alguns dos vultos mais interessantes e importantes das ciências sociais moçambicanas (Amélia Souto, Euclides Gonçalves, Francisco Noa, João Trindade, João Paulo Borges Coelho, Teresa Cruz e Silva, entre outros) - nomes que poderão traduzir para as gerações mais novas a importância havida por aquele a quem escolheram para nomear o instituto.
jpt
Jambophotos - Fotografia em Moçambique é um vasto projecto em formato blog agora realizado pelo Luís Basto. Tem múltiplas secções, até mesmo uma agenda cultural, e justifica não só uma visita demorada como uma colocação nos "favoritos" de cada um, para constante acompanhamento. Entenda-se, ali chegado está-se no registo de apresentação profissional. Que corra bem ...
jpt
O David Morton não tem estado muito activo no seu Hotel Universo, um verdadeiro weblog (diário de campo) sobre o seu trabalho de terreno em Maputo. Mas quando bota vale sempre a pena. Agora deixou um belíssimo postal sobre os murais de Makwakwa, arte urbana em Maputo (o dito Maputo-caniço). A ver.
jpt
Nunca gostei do sempre-repetido mandamento bloguístico "escreve sobre o que sabes. Link to the rest". Sempre me irritou o prescritivo sobre esta irresponsável actividade, na qual para mim cada-um-como-cada-qual. Os limites do saber próprio (quando este existe) estão no trabalho, e isto do in-blog é para botar sobre o que vem à respectiva cabeça.
Para além disso o weblog é um diário, de impressões, e estas são (ou podem ser) múltiplas, esparsas - um tipo que só se interessa sobre o que sabe, caramba, é um chato. Claro que há os blogs especializados (dedicados), alguns fantásticos. Mas isso é uma saudável opção, não uma obrigação.
Mas o mandamento de "link to the rest" está estafado no bloguismo acima de tudo por razões tecnológicas. Com a vertigem imediatista do facebook, aquilo do clic-clic e ligação feita perdeu-se muito da dimensão inter-ligadora (e textual, reflexiva) do bloguismo. Aliás, os sistemas (blogspot, wordpress) terão que integrar essa função supra-ligadora. Ou desaparecem.
Como blogar neste contexto? Não sei bem, nem sei se isto tem muito futuro (há anos que se diz que o bloguismo è finito), ainda por cima com a "lentidão" ligadora que tem. Mas, pelo menos, é um sítio e um meio onde se pode escrever ... sobre o que não se sabe. Suprema liberdade potenciada pelo facebook, para onde podemos ir "linkar" coisas, fast-fast, clic-clic, com tanta vantagem ...
Uso o FB fundamentalmente como difusor de ma-schamba (a página blog ma-schamba, o grupo ma-schamba [modalidade que perdeu visibilidade nos murais devido às alterações do sistema FB] e o ma-schamba na aplicação NetworkedBlogs). Ainda assim acumulam-se as ligações, seja por réplicas imediatas de outros murais seja provenientes de outros suportes (blogs também). Como exemplo do supra-linkismo facebookista actual, até vertiginoso, (mas também para meu arquivo, e esperando que alguém se divirta abaixol) deixo os meus dois últimos meses de facebooking, as aventuras nessa likeland reino do clic-clic.
A ordem da colocação aqui é inversa da cronológica ...
64. O (necessário, urgente) elogio da Culinária Moçambicana
63. Documentário de Werner Herzog sobre pinturas rupestres
62. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
61. Assange, o wikilikeakista: o facebook é máquina de espionagem! Estes romanos são loucos!
60. Constante reprise
59. Pérolas do youtube ...
58. Um número especial da Science et Vie dedicado ao acidente nuclear de Fukushima (via Klepsýdra)
57. Pérolas do youtube ...
56. O Byrne de oiro.
55. The Clash "Should I Stay or Should I Go?": sem embebimento disponível ... É clicar e ouvir/ver ...
54. Gorongosa. Fauna, Flora e Paisagens, um belíssimo trabalho fotográfico disponibilizado no facebook.
53. 30 Postais sobre Moçambique (elo retirado). Vale a pena lavar a vista.
52. José Sócrates: "seis anos de batota". Que herança ... A arquivar, para não o esquecer.
51. O "vai vir charters" do Paulo Futre. Uma bela peça de marketing mas, muito mais do que tudo, uma lição de rir-se de si próprio. Viva Futre! (o meu candidato ...)
50. O excelente Nkwichi Lodge no Lago Niassa, um verdadeiro eco-lodge e com gente porreira à frente, foi escolhido como um dos 101 melhores hotéis mundiais [Já lá estivemos e sobre isso botei, deslumbrado].
49. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
48. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
47. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
46. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
45. Directório de blogs expatriados. Aqui a secção Moçambique.
44. Um ascensão fulgurante, dançarinos moçambicanos integram o último trabalho de Beyoncé.
43. João Pereira Coutinho, no fim de José Sócrates, o pior dos políticos portugueses, com o tique máximo da anti-democracia: "um político que prefere negar a realidade e confunde uma crítica ao governo com uma crítica ao país". Que nunca mais volte, é um desígnio nacional, apesar das suas ameaças "em andar por aí".
42. O excelente sítio Buala a trabalhar sobre Ruy Duarte de Carvalho.
41. O Da Casa Amarela a comemorar o aniversário de Dylan
40. A AL é uma emérita coleccionadora de cartoons e tem um mural FB fantástico nisso.
39. No 70º aniversário de Dylan, ele sobre Elis Regina
38. Forever Mickey
37. Água Vumba premiada, a minha bebida moçambicana preferida. (Sim, apesar de militante da dupla 2M - Manica)
36. A propósito da crise, versão pop-pirosa ...
35. 3XMiles
34. The Guardian a olhar para a imprensa moçambicana e seu impacto social. O elogio do jornal "Verdade", o popular primeiro gratuito, que tanto modificou a paisagem mediática aqui. E que é líder na imprensa informática, com o vigor que coloca - celebrizando-se na cobertura dos acontecimentos de 1 e 2 de Setembro de 2010.
33. Dexter, via MVF - que tem um refinado mural FB. E talvez por isso tão pouco aqui culime ...
32. Mitos industriais perversos, via A Arte da Fuga, um bom pontapé no guevarismo e, mais globalmente, no acriticismo.
31. Um céu limpo global, fruto de um projecto fotográfico de grande monta.
30. Uma nova supernova. A página da National Geographic dá-nos maravilhas diárias ...
29. Naipaul por Naipaul - agora aflorando a "escrita feminina". Um elefante em loja de femininismos ...;
28. Aquando das eleições portuguesas uma reflexão sobre as aldrabices das sondagens políticas portuguesas. Já nas últimas eleições isso se discutiu no bloguismo - o peso simbólico (académico, como se científico, e mediático-televisivo) dos sondageiros, alimentado pela idolatria da numerologia continua a permitir a subsistência e sobrevivência gente. Urge o ostracismo moral. Para todos ..
27. No país da Dirty Dilma: também ler um Que fazer?;
26. Sobre os telemóveis. Cancerígenos ou não?, via De Rerum Natura. Questão de "estação estúpida"? Ou bem pior do que isso? E que efeitos nos fanáticos twitteristas?
25. Chegou o icloud da Apple, e deve mudar bastante as coisas - como por exemplo nunca mais perder os ficheiros por corrupção dos "discos-afinal-moles".
24. Notícia da publicação do Caderno de campo na Guiné-Bissau (1947) de Orlando Ribeiro. Para a agenda de compras quando em Portugal ...
23. Lou Reed Forever
22. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
21. Bela galeria fotográfica de arte moderna
20. Kare Lisboa, na Lx Factory: gente família a lutar bem com a crise. E nós de longe a torcermos pelo sucesso, bem-merecido.
19. Lembrei-me da gentil guitarra do Beatle. (um Beatle nunca é ex).
18. Bjork, Venus as a Boy: lembrei-me do vulcão islandesa, mas sem direito a partilha (a função "embeber" foi retirada do youtube para este filme). É clicar para ouvir/ver ..
17. Tomai lá com o Bach, em Lisboa disse uma velha-amiga
16. África em vista aérea, uma galeria sumptuosa a mostrar o trabalho de George Steinmetz, "fotógrafo americano que percorreu e fotografou as paisagens africanas ao longo de 30 anos. Sobretudo do ar, a bordo de um parapente motorizado":
15. Uma dupla de Siouxie, a última das moicanas ...
14. Lago Niassa declarado reserva natural pelo governo de Moçambique, uma boa notícia enquanto há rumores de que empresas se preparam para acelerar a exploração dos "recursos" minerais existentes.
13. Ads of the World: conhecer o inimigo. Para melhor o combater.
12. Canal de Moçambique, o mais belo título dos jornais moçambicanos, a abrir a sua página no facebook;
11. Imperdível, textos sobre Arte Contemporânea africana;
10. Eu lembrei o Tony de Matos e logo uma amiga-FB completou ...
9. O Grande Tony de Matos - que eu sempre recordo a actuar no Coliseu dos Recreios em meados dos anos 1980s, então sala-nobre de Lisboa e como tal vedada aos cantores populares. Foi "special guest star" de Vitorino e levantou o público à ... entrada. Um sucesso, uma reparação. 25 anos depois honra ao Vitorino que provocou o momento ...
8. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"...
7. Da enorme série "recomendações dos amigos-FB"..
6. Uma série apaixonante, a ir ver: Closer To The Truth
5. Uma sumptuosa série sobre filósofos, disponível no youtube, ao qual chego via Crítica. Blog de Filosofia;
4. Vasco Palmeirim - um delicioso humorista dos novos tempos em Portugal que venho conhecendo via youtube ...
3. O silêncio dos livros, um belo blog mostrando leituras.
2. Retirado o título [o grau de doutorada] a deputada europeia [alemã] Silvana Koch-Mehrin que plagiou - informa o Diário de Notícias exactamente no dia em que deixei o resmungo sobre o posfácio dos plágios (e lembrando outro meu lamento mais dorido);
1. Stellarium, um fantástico programa informático que nos põe o planetário em casa (como qualquer miúdo da minha geração teria sonhado).
jpt
Já raro, hoje em dia. Vão-se sentando pessoas, até entre-desconhecidas. Ao longo das conversas aprendo uma anedota e dois blogs: Muliquela, bons textos informados sobre Moçambique, uma surpresa muito agradável. A acompanhar; Melomaniako, um blog de música, coisa a tender para raridade nestes tempos de youtubismo "partilhado" no facebook.
E a anedota (se calhar já velha, mas novidade para mim): "Sócrates foi eleito o sogro do ano. Porquê? Deixou tudo à nora" ...
jpt
Via facebook recebo uma simpática mensagem em resposta o à divulgação da página ma-schamba no facebook (a anterior foi apagada durante a nossa guerra civil, daí a lenta trabalheira da divulgação). A referida mensagem apela a mais Moçambique (notícias, actividade cultural e fotografias) aqui. Respondi que o blog não é sobre Moçambique mas sim sobre os seres que aqui blogam. Mas concedo que a maioria das pessoas aqui chega à espera de moçambicofilia [que há, diga-se], nem que seja por causa do nome. Por isso deixo aqui algumas pistas, tanto para o simpático correspondente como para outros visitantes poderem privar com o Moçambique que aqui vai escasseando:
Aboborita, um blog patrício em Moçambique. A AG acabou agora uma volta a Moçambique e, regressada aos teclados, promete botar o seu diário de viagem. A acompanhar.
Vivências Contadas, outro blog patrício, narrando experiências benévolas em Moçambique: como esta visita a Matemo, a fazer inveja aos desvalidos.
Mais geralmente há o Directório de blogs de expatriados em Moçambique (a maioria em inglês), que tem ainda o interesse de mapear um aglomerado de olhares padronizados sobre o país (quase todos os olhares o são, apenas refiro que aqui há um cacho à mão de colher).E o Pnet Moçambique, que em tempos organizei, e o qual tem centenas de blogs sobre Moçambique - uns em actividade muitos outros encerrados - e ainda que algo desactualizado será um bom trampolim para o "mais Moçambique" requerido e, muito concordo, desejável.jpt[imagem encontrada aqui]
O ma-schamba sente-se obrigado a anunciar um blog nomeado Na Sombra do Embondeiro. Dedicado às artes cénicas e musicais, aqui.
jptO Ouri Pota Chapata Pacamutondo tem o Mãos de Moçambique, um bom blog moçambicano, virado para as coisas da mente. Jornalista e académico, o Ouri Pota não tem só um blog, é mesmo bloguista e nisso lê outros blogs, avisa de novos blogs, faz ligações - tenho a agradecer-lhe um já antigo companheirismo feito em indicações para o PNETMoçambique e antes no ma-blog, para além daquelas saudáveis cumplicidades que se estabelecem entre bloguistas que olham para coisas similares.
Tive agora o prazer de o conhecer pessoalmente. Veio cá a casa para uma conversa sobre bloguismo, no âmbito de um projecto da responsabilidade da Universidade do Minho, do qual ele é um dos colaboradores aqui. Trata-se da análise de blogs em Portugal, Brasil e Moçambique. Se a conversa lhe foi útil não o sei, mas foi-me agradável, conhecê-lo e falar sobre blogs em Moçambique e não só.
Mas ficaram-me duas coisas inditas, que agora deixo. Sei que apareço normativo, mas ainda assim vou deixá-las. A primeira é sobre o bloguismo e como o olhar (analisar). A piada do bloguismo, desde que apareceu, foi ser um espaço de opinião pública aparentemente deshierarquizado, não filtrado (ou seja, não "disciplinado") e no qual não contavam as hierarquias trazidas de fora, estatutárias e profissionais. As relações entre-blogs tendiam a não ser piramidais, ainda que as estratégias de conquista de audiências levasse a interacções inigualitárias, e nisto centro-me no caso do bloguismo português, em particular o politicamente orientado (mas também o de aspirações literatas). Em Moçambique o caso foi algo diverso, quantitativamente menor e mais circunscrito a um contexto académico (e, depois, mediático), as hierarquias vieram para o bloguismo e foram-se esbatendo (e neste caso com a importância do Machado da Graça a abrir o Ideias para Debate, espaço aberto). Ou seja aqui foi no bloguismo, na sua prática, - e também por influência do agitado mundo dos debates in-chat - que as hierarquias estatutárias externas foram sendo abandonadas.
Por isso mesmo muito desconfio da capacidade analítica sobre o bloguismo de bloguistas que tenham uma opinião hierárquica e hierática do mundo bloguista. Um caso típico disso é a incapacidade de publicitar (já nem falo de colaborar) nos agregadores, associada à utilização da "ligação/divulgação" [o elo, que o anafalbetismo funcional denomina "link"] (parcimoniosa) de blogs alheios como uma recompensa a quem "merece" (na prática não sendo mais do que um sinal de auto-distinção). No fundo a utilização do bloguismo para tentar reproduzir um pretenso estatuto exo-bloguista não me parece transportar a perspicácia suficiente para ler este processo comunicativo - e já nem falo das minudências ridículas das retiradas de ligações, e coisas assim, como vingançazinhas de debates exógenos. Sem esquivas, passamos anos a avisar os alunos de ciências sociais dos "obstáculos" ao "pensamento analítico", esses etnocentrismo, sociocentrismo, até anacronismo. E não denunciamos como incompetente o egocentrismo, esse menear das primas donas. O "primadonismo" é a "doença infantil" da análise social.
O bom do Ouri Pota, que não é minimamente o objecto desta minha reflexão, perguntou-me ainda (o guião, presumo, é minhoto) sobre o que pensava eu da minha actividade bloguista como construtora da lusofonia. Engasguei-me claro. Já aqui muito escrevi sobre a lusofonia e não me apetecia repetir, ainda que em versão digest. Pedi um off the record ao Ouri Pota, no intuito de não vir a desagradar à Universidade do Minho, decerto ilustrada e educada, e disse-lhe da minha opinião: "a lusofonia, como conceito, é boa para limpar o cu". Passados uns dias arrependi-me e escrevi-lhe pedindo um in the record. Que os responsáveis da análise possam, se o Ouri Pota entender transcrever essa parte no seu relatório, levar com a minha opinião.
Já agora, não percebo uma coisa. Será de analisar um fenómeno social (o bloguismo) presumindo que ele produz algo (a tal lusofonia) - e como tal andar a perguntar aos indivíduos se o produzem - ou será de analisar um fenómeno social procurando o que ele produzirá (porventura a tal lusofonia)? Ou por outra forma, postulamos os conceitos na realidade ou procuramos que conceitos são produzidos e vividos no real?
Mas enfim, há que ter subsídios do Estado. Eu julguei é que o Estado (patrício, entenda-se) já estava "noutra".
jpt
Bem me parecia que o António Cabrita andava com ganas disso. E eis que se torna verdade. Algures no Maputo acima retratado está ele. Agora a blogar no seu novíssimo Raposas a Sul.
jptMemórias Sobre Malangatana é um blog que a Kulungwana acaba de criar, apelando à partilha dessas memórias. Iniciativa que pode ser interessante pois "cada um tem o seu Malangatana". Espero que haja quem queira participar, cada um deixando esse tal "seu Malangatana", as assim avivadas recordações da extraordinária personagem.
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Acabo de conhecer David Morton, um investigador americano há pouco chegado a Maputo para fazer uma pesquisa sobre a história urbana de Maputo, a construção física e social da cidade. Interessante temática, que faz com que se esteja de olho posto no homem. Acontece ainda que Morton, antigo jornalista e hoje historiador, também está armado com um blog. É confrade!. E está no belo Hotel Universo, um blog que de imediato deixa perceber um olhar avisado e, mais do que tudo, curioso sobre o país. Seu presente (como por exemplo a atenta crónica sobre a morte de Malangatana) e as suas formas históricas de constituição (como este texto, do qual retiro o célebre postal que chamou a atenção a Morton).
A acompanhar, portanto. Apesar daquele "petit rien" face aos liberais anglófonos, claro .... Mas crente que, entre-posts, ainda haverá tempo para um qualquer chá.
jpt
[Fumador Maconde (autor desconhecido, fotografia de Manuel Manarte)]
[se não escrever isto tenho que ir fumar um cigarro]
Após alguns textos em regime solitário ABM terminou no ma-schamba. No último texto entre aparentes reverências deturpa as minhas opiniões, e isso é feio. Reduz as minhas razões, expostas extensamente e, porventura, com demasiada intensidade, a um (vil?) “bem estar“. E usando uma retórica, até máscula, como se sobre tal coisa planasse. Não repito os meus argumentos sobre o afastamento do blog da política moçambicana imediata. Mas deixo isto: nos últimos anos ABM ocupou aqui importantíssimos cargos na banca. Está agora em sabática. E com toda a certeza que se estivesse em funções, ou prevendo assumi-las em breve, não publicaria o que publicou. Pode vir negar esta evidência. Mas será ridículo por incredível. Por isso mesmo esta sua retórica é inaceitável. E é-me ofensiva.
Frisa que o convidei. Sim. Quem ler os arquivos do blog verá que desde 2004 o ABM ali publicou textos. Sobre a história e a economia de Moçambique. Sobre a iconografia do país. Da qual é entusiasta amador. Foi essa paixão e o humor que a rodeava, e que veio acampar no ma-schamba em regime de comentários frequentes, que convidei, convoquei. Foi para isso que me desloquei a casa dele – como, de modo retorcido, invoca agora. Tendo logo ficado explícito quais eram as balizas do nosso empenhamento.
Diz ainda que se foi apercebendo da dificuldade em publicar no ma-schamba. Se a sentiu deveria ter publicado alhures. Saindo do blog ou separando registos – se abriu um blog sobre desporto no tempo colonial poderia ter aberto outros. Com ele partilhei (propondo-o como “amigo”) milhares de ligações no facebook, provenientes dos grupos de leitura do blog. Com esse enorme público, reprodutor ainda para mais, poderia divulgar blog(s) ou ter publicado “notas” no FB. Ou, como o faz regularmente, na imprensa moçambicana. Mas entendeu, apesar das “dificuldades” que sentia, usar o blog colectivo.
Este tipo de argumentação, ainda para mais sucedendo à publicação de um conjunto de textos que afrontam um poder, colhe simpatia em algumas pessoas. Disso exemplo são comentadores que surgem justificando-a. Até comentadores residentes, alguns porque – apesar de visitas veteranas – nunca tinham atentado nos “estatutos editoriais”. Outros, como o meu amigo Pedro Silveira, que é jurista, empresário e até tem cargos políticos, que não se apercebem de duas coisas: a) os contextos, internos e externos, do exercício da palavra são bem mais importantes do que meras “histórias”, como ele os reduz; b) os compromissos (mesmo que apenas em blog) são para cumprir. Enquanto se pode. Quando não se pode, quando não se quer, avisa-se e parte-se.
Para culminar este triste final ainda me aparece Isabel Metello, uma bloguista emigrante moçambicana em Portugal, a tentar pontapear-me. Com o mecanismo habitual: truncam-se e deturpam-se as palavras alheias e depois invectiva-se a sua desonestidade. Utilizando o português como uma burguesa bem letrada de Portugal (diversidades ["nuances"] sintácticas e semânticas que ao fim destes anos já consigo perceber) transforma o meu “[co-bloguistas que] “têm também interesses profissionais e pessoais no país” em “detêm interesses em Moçambique” – para os leitores com diferentes usos (sociológicos e regionais) do português recordo a diferente semântica do “ter” e do “deter” no português burguês de Portugal, e é com isso que Metello joga. Usualmente “ter” destina-se também ao intangível enquanto “deter” restringe-se a um conteúdo material ou até materialista [ex. "eu tenho interesses naquela rapariga" como eu gosto de, simpatizo com, tenho vontade/desejo; "eu detenho interesses naquela rapariga", eu sou o proxeneneta (chulo) dela]. Partindo desse aparente pormenor descuidado mas efectiva, e torpe, manipulação Metello invectiva-me por cuidar dos meus interesses pessoais e, por esses, por isso, não “procurar a verdade” sobre Moçambique no bloguismo. Algo que ela como “moçambicana” exige que seja o objectivo de um blog (ou, pelo menos, que fosse o do ma-schamba). Tem todo o direito de procurar a verdade (até nos blogs). Mas não pode exigir que os outros a procurem e a encontrem. Principalmente quando, como é o caso, nunca arvoraram esse objectivo. Para mim o blog sempre foi local de opinião, não de verdade. E a distinção não é um sofisma.
É certo que posso compreender a curiosidade de Isabel Metello, moçambicana emigrada em Portugal, e que quer encontrar nos blogs a verdade sobre Moçambique. Eu não tenho essa visão tão linear da “verdade” mas acarinho a ideia de uma relativa claridade provocada pelo confronto de opiniões. Também por isso, e dada a minha blogomania, colectei os blogs moçambicanos e sobre Moçambique. Primeiro com a ajuda do Paulo Querido fizemos o belo “ma-Blog” (que belo nome!), que actualizava o panorama global do bloguismo em Moçambique. Depois, acolhido pela rede PNET estruturei o PNETMoçambique. Ainda que algo desactualizado ali estão coligidos centenas de blogs moçambicanos e sobre Moçambique [Lamento, não há secção "verdade". Mas há secção "opinião"]. Foi o meu contributo para a disseminação no país da palavra, livre (até sob o ponto de vista de estilo, muito menos rebuscado do que aquele que grassava na imprensa nos finais do século passado e início de hoje), individual, polémica e polemizadora. Para o entrechocar de opiniões (o surgimento de verdades, quiçá). Um contributo sem grande sucesso, o sítio nunca teve grande audiência (talvez por ser coisa de um “tuga”, sempre achei). Mas é a minha participação (não o reclamar sobre os monumentos portugueses apeados ou as mudanças da toponímia ou a malandragem que sucedeu ao não-tão-bom-assim-mas-ainda-assim-honesto poder colonial). A “moçambicana” Isabel Metello, cheia de curiosidade pela verdade, não tem na sua lista de ligações no blog nem o pnetmoçambique nem blogs do país. Do seu país?
Porque abocanho eu a senhora emigrante moçambicana no meu país? Porque, como alguns dos leitores do ma-schamba sabem, é e sempre foi por causa da “Isabel Metello” que eu sempre fugi como o diabo da cruz da questão da política interna moçambicana. Apareceu ali, para final do blog, como arquétipo. Feio? Não, eunuco.