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Hugo Chavez no conclave

por jpt, em 13.03.13

Uma semana após a morte de Chávez cresce a procura por produtos como os conhecidos bonecos do presidente (Foto: Ronaldo Schemidt/AFP)


[Bonecos de Chávez são vendidos nesta terça-feira (12) nas ruas de Caracas (Foto: Ronaldo Schemidt/AFP)]

 

Para Nicolás Maduro, Presidente em exercício da Venezuela, o falecido Presidente Hugo Chávez terá tido alguma influência na eleição de um Papa argentino. “Nós sabemos que o nosso comandante subiu até às alturas, que está em frente de Cristo. Alguma coisa influenciou para que tenha sido escolhido um Papa sul-americano, alguma mão nova chegou a Cristo e lhe disse: chegou a hora da América do Sul. Assim nos parece”, disse Maduro em declarações transmitidas pela televisão oficial venezuelana. (nos jornais)

 

Em Portugal Boaventura Sousa Santos escreve um texto sobre Chavez de verdadeira ciência política, debruçando-se sobre a "química" chaveziana, base do seu poder, o socialismo de XXI. Culmina BSS com uma crítica aos políticos democratas (capitalistas) europeus, pois quando morrem não são chorados em sofrimento popular. Constate-se a mudança neste o teórico do socialismo de XXI: não só o sufrágio universal é insuficiente, as eleições não legitimam o poder, como também as "arruadas", antes tão convocadas, são insuficientes. Agora o critério de validade progressista, da legitimidade política, transitou para a dimensão dos rios de lágrimas apaixonadas (pre mortem e post mortem) que os políticos causam. O "condoímento" é o condimento desta teoria? 

 

Os bloguistas e leitores desta esquerda pós-iluminista (e defensora da teocracia iraniana - já agora, quantas lágrimas de pesar colherá Ahmadinejad?) "linkam" e "laicam". Os intelectuais apoiam. Os académicos apoiam. E, mais do que tudo, citam e referenciam. A imprensa remunera. O XXI português, o seu discurso político, resplandece. Deve ser da "química" do "carisma". 

 

Poderosa química, até alquímica. Pois, e como diz o lugar-tenente de Chavez, até Cristo, lá no sagrado Alto, lhe é sensível. Têm então os crentes, os praticantes e até os infiéis, um Papa Chaveziano.

 

publicado às 23:12

Arqueologia Subaquática 2

por jpt, em 27.05.04

Reproduzido ontem no Naufragio

 

 

Os Tesouros da Ilha

Boaventura de Sousa Santos

Visão, 22 de Agosto de 2002

 

A Ilha de Moçambique é um lugar incomparável, tanto pela sua história e pelas marcas visíveis dela na arquitectura e na arqueologia subaquática, como pelas suas potencialidades enquanto centro de reflexão sobre contactos e relações interculturais; um futuro que a Ilha começou, de facto, a construir há muitos séculos, antes e depois de os portugueses ali aportarem no séc. XV.

 

Fazendo jus a este impressionante conjunto arquitectónico, grande parte dele em ruínas, a UNESCO declarou a Ilha, em 1991, como património cultural da humanidade. Esta declaração faz com que a preservação e o florescimento da Ilha sejam tarefas imperativas tanto para Moçambique como para todos os restantes países do mundo, e nomeadamente para os que, para o mal e para o bem, partilham com Moçambique parte da sua história, como é o caso de Portugal.

 

O futuro da Ilha reside na valorização do seu riquíssimo património e no contexto único que ele pode oferecer para a promoção de diálogos entre culturas, para além, naturalmente, daqueles de que a Ilha é já testemunho vivo. Nesse futuro querem se activamente envolvidos os habitantes da Ilha e as suas associações como, aliás, decorre do estatuto de património cultural da humanidade. Ora, uns e outros estão preocupados. Temem que o seu património esteja a ser dilapidado se não mesmo pilhado. Ao largo da costa de Moçambique estão identificados e catalogados mais de cem naufrágios de navios, muitos deles à volta da Ilha. Um alvo apetecido para caçadores de tesouros. Desde há algum tempo, a empresa internacional Arqueonautas, em associação com a empresa moçambicana Património Internacional SARL, está a realizar pesquisa arqueológica subaquática à volta da Ilha.

 

Desconheço os termos do contrato de pesquisa celebrado com o Governo moçambicano e a empresa moçambicana, mas a versão aprovada do contrato-tipo concede a esta empresa o direito de se tornar proprietária de bens culturais cujo valor represente 50% do valor global do total dos bens encontrados. Mesmo que se faça a ressalva de os objectos a conceder à empresa serem semelhantes a outros descobertos na mesma localização e não serem considerados de valor excepcional, fica aberta a porta para a venda do património da Ilha.

 

Aqui reside a inquietação dos seus habitantes. Como não vêem nenhuma autoridade a fiscalizar os achados, perguntam-se sobre quem define o todo em relação ao qual se repartem os 50% dos achados. Como não são credivelmente informados, vêem ou imaginam ver peças valiosas a serem trazidas para terra embrulhadas em toalhas, vêem ou imaginam ver pequenos aviões a levantar do aeródromo do Lumbo com peças não declaradas, vêem ou imaginam ver peças valiosas exportadas sem controlo alfandegário.

 

Os habitantes e os amigos da Ilha estão inquietos e a sua inquietação aumenta cada dia que passa, sem que, estranhamente, o Governo moçambicano assine a Convenção da UNESCO sobre a protecção do património cultural subaquático, adoptada em Novembro de 2001, que expressamente proíbe a comercialização desse património. E só por uma via pode o Governo pôr fim a tal inquietação: assinando a Convenção e pondo fim a contratos que envolvam a comercialização do património arqueológico. Há que evitar o risco de a Ilha vir a perder o estatuto de património cultural da humanidade.

publicado às 19:54

E a propósito da Casa da Catembe

por jpt, em 21.01.04
O arquitecto da casa da Catembe será José Forjaz, aqui figura relevante. A seu propósito lembro um artigo na Visão (e aqui reproduzido no Savana) do prestigiado sociólogo Boaventura Sousa Santos, que se debruçava há alguns meses sobre personalidades de relevo em Moçambique. Entre outros louvava Forjaz, pois tinha sido escolhido para construir a casa de Kofi Annan. E dele dizia mais ou menos isto: que era capaz de reproduzir como ninguém os valores africanos.

Eu pus-me a resmungar, e ainda estou. Será que alguém me poderá elucidar, o que é isso de "valores africanos"?

publicado às 15:22


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