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30º templo: Chico

por jpt, em 21.06.14

 

Chico Buarque é a minha juventude, o meu homem, my man. Não só ele mas também. O Chico Buarque, eu ainda menino, dos vinis da minha irmã, querida, também mãe (que não lê este blog), do seu marido, meu mano. O Chico Buarque do tanto mar, raisparta,a cantar (a)o meu país que se fez país quando eu entrei no liceu, assim elixir de juventude daquilo Portugal que então era apenas coisa. O Chico Buarque do amor, da doçura, naquele meu país sedento disso saído da guerra e dos boçais toureiros, da merda machista forcada e bêbeda em que ainda crescemos. Assim o Chico Buarque da grandeza de ser homem com h pequeno. (Já depois) o Chico Buarque da festa do Avante, o tímido, ébrio, choroso, com medo, pavor, daqueles milhares de isqueiros acesos, dele amorosos, totalmente apaixonados, a começarmos a década que foi nossa, aquela dos 80s, a amarmos Chico com a sua beleza, o seu enleio, a sua magna elegância, a sua total fraqueza.

 

Chico Buarque, a vida, faz agora 70 anos (e como estou eu sensível a estas coisa, a dias dos meus 50, como [se] passou isto?!!!). Fica aqui esta hora e quarenta e três minutos de "Chico", neste enternecedor registo, como se minimalista, sem orquestrações insufladas. Ouvi-lo é viver ...

 

 

publicado às 23:56

Um ilustre septuagenário

por jpt, em 19.06.14

Há exactamente dez anos coloquei este postal. Nesse dia Chico Buarque chegava a sexagenário. Hoje repito-o:

 

Alma de vinil, tempo do vinil, esse de casa da mana que eu, tão novo, novinho, ainda nem o tinha.

Tanta canção, "olha a voz que me resta...por favor, deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa..." (Gota d' água), e, quando era eu menino, tanto estranhava o saber ele tão bem escrever como mulher. Para, afinal, crescer a saber que é assim mesmo, que não há diferença. Dessas...

Tanta canção,

deixo aqui duas das tantas letras da minha vida. Da minha alma de vinil. Riscada até...


Com açúcar, com afeto (1966)

Com açúcar, com afeto
Fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa
Qual o quê
Com seu terno mais bonito
Você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário
Vai em busca do salário
Pra poder me sustentar
Qual o quê
No caminho da oficina
Há um bar em cada esquina
Pra você comemorar
Sei lá o quê

Sei que alguém vai sentar junto
Você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias
De quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo
Sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo
Vai bater um samba antigo
Pra você rememorar

Quando a noite enfim lhe cansa
Você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão
Qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida
Diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado
Maltrapilho e maltratado
Ainda quis me aborrecer
Qual o quê
Logo vou esquentar seu prato
Dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você


Foto: Mário Luiz Thompson


Bom conselho (1972)

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

E agora, 2014, junto-lhe os filmes:

 

 

publicado às 10:41

Politeísmo (77)

por jpt, em 06.09.13

publicado às 18:00

Semanário

por jpt, em 16.06.12

Publicidade Gratuita:

 

"Os Fantasmas do Rovuma", de Ricardo Marques do qual já aqui referi um bom livro. Esta recente obra (publicada pela Oficina do Livro), dedica-se à tão esquecida I Guerra Mundial em Moçambique, uma era histórica apaixonante (e terrível). Estou verdadeiramente inquieto para chegar ao livro. E, em antecipação, recomendo-o a todos. Desde que não o esgotem, claro.

 

Capa: O novo Brasil: jornalista moçambicano impedido de entrar no país. (O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos do Brasil). Ou seja, a ong moçambicana Justiça Ambiental vê barrado o seu enviado ao Brasil, provavelmente por influência dos interesses mineiros brasileiros. A "esquerda que ri", europeia ou europeízada, que dirá à presidentA?

 

Contracapa: O "velho" Brasil: o que vale a pena


Política portuguesa: o governo e seus (des)equilíbrios internos, vistos por jpp.

 

Página Internacional: o aborto na China. É uma questão que "dá pano para mangas". E dois itens particularmente interessantes, sempre esquecidos: a política demográfica do estado chinês permite aos casais das zonas rurais que tenham dois filhos se, e apenas se, o primeiro for rapariga (um défice ontológico, claro); se a família tiver quase 5000 euros pode ter um segundo filho. Imagine-se se isto fosse no Malawi ou assim o que não diriam as ongs e quejandos, a "esquerda que ri" europeia. Já para não falar nas pinças com que se tem que falar de "aborto".

 

A grecitude europeia. A demência festiva alastrará?


Sociedade: um discurso de 10 de Junho. Para quem não gosta de tralhas.


Educação: "o mais importante é estar com atenção nas aulas". Quando o calendário escolar português entra em férias convém ler uma aluna falando do ensino. E lembrar-nos do "eduquês" e dos "libertários".


Viagens:O litoral português.O Portugal rural.


Publicidade:Bom Gosto e Saúde.

 

Economia:Como estamos reféns do industrialismo.

 

Cultura:1 Filme:

 

 

Rui Knopfli, por Eugénio Lisboa.

 

 

A morte de Eddy Paape, o desenhador de Luc Orient (argumentos do magno Greg) - uma das delícias da minha juventude. Que, contristado, descubro, atrasado, via O Herdeiro de Aécio.

 

1 Canção


DesportoUm blog: o "És a Nossa Fé!". já está entre os 100 blogs mais lidos em Portugal ...

 

Um belíssimo texto sobre o Europeu de futebol.

 

1 Frase.

 

jpt

publicado às 14:48

Leite Derramado

por jpt, em 09.11.10

Chico Buarque, que volta e meia é elogiado no ma-schamba acaba de ganhar o Prémio PT de literatura 2010. Ao que o jornal Público noticia recebeu o prémio em cerimónia simpática e simpaticamente desprovida de gritaria política. O prémio foi atribuído ao livro "Leite Derramado". Já li. Confesso que não gostei muito, apesar de ser Chico Buarque. Não gostei muito e até me atrevi a escrever algo sobre o livro.

E exactamente pelo escrevi que me diverte imenso que lhe tenham dado tantos prémios. Boas intenções e boas correcções não fazem literatura, e nisso nada apouca este livro. Mas com toda a certeza que fazem prémios. E, nesta indústria premiológica e sob ululares dilmáticos, alguém anda distraído, insensível às incorrecções. É divertido. Mais será quando alguém acordar.

jpt

publicado às 11:54

Brasil

por jpt, em 07.11.10

O Brasil é uma vergonha. E Chico Buarque o pior daquilo tudo. (Agora que se foi o presidente racista que não gosta de louros com olhos azuis). [Para os mais dados à mpb vou avançando que aqui vi Gilberto Gil na esquizofrénica função de ministro-cantor, a chamar o poder ao palco em salamaleques de apreço. Um nojo. Prostituto. Fosse o homem da "direita" e cuspiam-lhe na campa. Onde há muito vegeta.]

jpt

publicado às 00:27

Chico Buarque e josé sócrates

por jpt, em 30.05.10

 

É (mais) um "pequeno" exemplo da visão paradigmática do poder socialista português. José Sócrates vai ao Brasil e logo se faz constar que Chico Buarque quis conhecer José Sócrates. O cantor - acima retratado há quarenta e tal anos, quando já era Chico Buarque de Hollanda, época desde a qual já decorreram vários "sócrates" por estes países - veio, algo incomodado, negar - seria preciso negar?, a reles mentira não é tão óbvia?

 

Mais uma vez, pois é mais forte do que eles, lá se extravasou a mesquinhez mentirosa (e arrivista) desta gente, na sua tendência para o culto da personalidade (um caso sintomático este), na sua vertigem para a pequena (e grande?) mentira manipulatória do real, na sua adesão à encenação.

 

O que vale é que vamos ouvindo Chico Buarque. Até já ninguém se lembrar destes "sócrates" - alguém se lembra do nome daqueles tipos do tempo do Tanto Mar? Aqui fica a música, até para vergonha dalguns e dalgumas que com a meia-idade andam "navegando" socraticamente, até esquecidos de si próprios. (Ou será que, afinal, nunca existiram?). E junto-lhe um belo bónus. Para a gente se esquecer mais depressa destes trastes: os do poder; os assessores da tanga; e todos seus apoiantes - já indesculpabilizáveis, tamanho o despautério a que aquilo chegou, e há já muito tempo.

 

jpt

publicado às 12:39

Chico Buarque, Leite Derramado

por jpt, em 29.10.09

chicobuarqueleitederramado

[Chico Buarque, Leite Derramado, Dom Quixote, 2009]

 

Eulálio de Assumpção, centenário moribundo em hospital público, deixa as suas memórias em registo fragmentário e até balbuciante. Homem de velha estirpe, descendendo até de "um doutor Eulálio Ximenez d'Assumpção, alquimista e médico particular de D. Manuel I" (212), transposta para o Brasil na comitiva de D. João VI, aí originando uma linha de Eulálios de Assumpção grandes proprietários. Através deste Eulálio de Assumpção (com seus avatares geracionais) pode-se entrever certo percurso do Brasil, em particular do Rio de Janeiro - até mesmo sob o ponto de vista urbanístico - de XIX e XX. Mas mais do que referir a óbvia ligação ao registo das "Memórias Póstumas ..." de Machado de Assis o que me chamou a atenção foi o fundo ideal do livro.

 

O protagonista é o verdadeiro Eulálio da Assumpção final, o da inversão de sentido, todos os que se lhe seguem (mas que morrerão antes dele) são tristes sequelas. Com ele, assassinado que foi seu pai em finais dos anos 20, se inicia um longo e doloroso processo de decadência. Económica, social, territorial (as deslocações das suas residências acompanham a geografia histórica do Rio). Mas onde está a força motriz dessa decadência? Na sua fragilidade pessoal, desprovido da verdadeira energia dos Assumpções, do encanto estratégico de seu pai. Mas bem mais do que isso, radica a decadência na incapacidade de resistir ao simples carnal. A morte do pai, o desaparecimento do seu viril controle civilizacional, deixa de imediato o jovem Eulálio à mercê da natureza desbragada, inconsequente, irracional - em pleno funeral de seu pai descontrola-se com a visão de sua futura mulher Matilde, e tem que se retirar, incumprindo a sua função social.

 

Nesse sentido a morte do pai empurra-o para uma distraída miscigenação: "Mas ora, ora, papai, disse Maria Eulália, está na cara que esse aí puxou a minha mãe mulata. Não sei quem abastecia minha filha com tantas maledicências, Matilde tinha a pele quase castanha, mas nunca foi mulata. Teria quanto muito uma ascendência mourisca, por via de seus ancestrais ibéricos, talvez algum longínquo sangue indígena." (172). Meio século depois, já avô empobrecido, continuava incapaz de reconhecer o que a sua mãe (e afinal todos os outros) identificara: "Minha mãe era de outro século, em certa ocasião chegou a me perguntar se Matilde não tinha cheiro de corpo. Só porque Matilde era de pele quase castanha, era a mais moreninha de sete irmãs, filhas de um deputado correligionário de meu pai." (39). Distracção feita de falta de preconceitos com a qual crescera: "No entanto garanto que a convivência com Balbino [com quem também desejou relações sexuais] fez de mim um adulto sem preconceitos de cor. Nisso não puxei ao meu pai, que só apreciava as louras e as ruivas, de preferência sardentas. Nem à minha mãe, que ao me ver arrastando a asa para Matilde, de saída me perguntou se por acaso a menina não tinha cheiro de corpo." (27). - [esta repetição, até estilisticamente deselegante, do episódio do "cheiro de corpo" inquirido pela mãe salienta a sua importância na economia da narrativa].

 

Todo o percurso deste Eulálio de Assumpção se marca na desgraçada relação conjugal com esta, afinal, mulata. Que o trairá e abandonará, assim reforçando-lhe o imobilismo existencial, condenando-o ao imobilismo afectivo. E que marcará racicamente os seguintes Eulálios de Assumpção, cada vez mais negros, por herança genética e hipotéticos cruzamentos, cada vez mais inconsequentes e falidos, mais descentrados, culminando no último dos seus descendentes, o gigolo-traficante já negão.

 

Este típico evolucionismo decadentista brasileiro de XIX, o da miscigenação como factor "natural" obstáculo à civilização, causa de decadência, surpreendeu-me em Chico Buarque. Será que tresli? Ou é mesmo um manifesto antropológico em forma de ficção?

 

jpt

publicado às 11:11

perguntei, abaixo, pai quase recente e em inultrapassável enlevo. A Sara Monteiro, que faz o favor de me acompanhar neste estaminé, respondeu-me, se calhar elucidou-me:

 

 

Uma canção desnaturada

 

Por que cresceste curuminha 
Assim depressa, estabanada 
Saíste maquiada dentro do meu vestido 
Se fosse permitido eu revertia o tempo 
Pra reviver a tempo de poder 
Te ver as pernas bambas curuminha 
Batendo com a moleira 
Te emporcalhando inteira 
E eu te negar meu colo 
Recuperar as noites curuminha 
Que eu te deixei em claro 
Ignorar teu choro e só cuidar de mim 
Deixar-te arder de febre curuminha 
Cinqüenta graus tossir bater o queixo 
Vestir-te com desleixo 
Tratar uma ama-seca 
Quebrar tua boneca curuminha 
Raspar o teu cabelo 
Ir te exibindo pelos botequins 
Tornar azeite o leite do peito que mirraste 
No chão que engatinhaste salpicar mil cacos de vidro 
Pelo cordão perdido te recolher pra sempre 
R escuridão do ventre curuminha 
De onde não deverias nunca ter saído.

 

  

[Chico Buarque - esse que tocou ao jantar cá em casa, hoje sexta-feira, ainda mais dia de amigo(a)s] 

 

 

 

publicado às 22:17

A amizade (Chico Buarque)

por jpt, em 17.03.05

"Com um mínimo de pudor, mais um tanto de ódio preservado, nossa amizade se consolidou; à diferença do amor, que extravasa a toda a hora, a amizade precisa ter seus diques."

 

[Chico Buarque, Budapeste]

publicado às 11:16

Alma de vinil,

por jpt, em 19.06.04
tempo do vinil, esse de casa da mana que eu, tão novo, novinho, ainda nem o tinha.

Tanta canção

"olha a voz que me resta...por favor, deixa em paz meu coração, que ele é um pote até aqui de mágoa..." (Gota d' água)

e, quando era eu menino, tanto estranhava o saber ele tão bem escrever como mulher. Para, afinal, crescer a saber que é assim mesmo, que não há diferença. Dessas...

Tanta canção

deixo aqui duas das tantas letras da minha vida. Da minha alma de vinil. Riscada até...

Com açúcar, com afeto (1966)

Com açúcar, com afeto
Fiz seu doce predileto
Pra você parar em casa
Qual o quê
Com seu terno mais bonito
Você sai, não acredito
Quando diz que não se atrasa
Você diz que é operário
Vai em busca do salário
Pra poder me sustentar
Qual o quê
No caminho da oficina
Há um bar em cada esquina
Pra você comemorar
Sei lá o quê

Sei que alguém vai sentar junto
Você vai puxar assunto
Discutindo futebol
E ficar olhando as saias
De quem vive pelas praias
Coloridas pelo sol
Vem a noite e mais um copo
Sei que alegre ma non troppo
Você vai querer cantar
Na caixinha um novo amigo
Vai bater um samba antigo
Pra você rememorar

Quando a noite enfim lhe cansa
Você vem feito criança
Pra chorar o meu perdão
Qual o quê
Diz pra eu não ficar sentida
Diz que vai mudar de vida
Pra agradar meu coração
E ao lhe ver assim cansado
Maltrapilho e maltratado
Ainda quis me aborrecer
Qual o quê
Logo vou esquentar seu prato
Dou um beijo em seu retrato
E abro os meus braços pra você



Foto: Mário Luiz Thompson

Bom conselho (1972)

Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa
Espere sentado
Ou você se cansa
Está provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigo
Deixe esse regaço
Brinque com meu fogo
Venha se queimar
Faça como eu digo
Faça como eu faço
Aja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempo
Vim de não sei onde
Devagar é que não se vai longe
Eu semeio vento na minha cidade
Vou pra rua e bebo a tempestade

publicado às 06:55


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