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Uma entrevista de Richard Price, fundador da Academia.edu, feita há alguns meses quando a rede tinha sete milhões de inscritos. Bem interessante sobre o processo científico e sua dimensão económica e editorial. Passados alguns meses, em Junho passado, o número cruzou os 10 milhões.

 

(Na coluna da direita ligações para nossos [Ana Leão, Fernando Florêncio, José Teixeira e Vera Azevedo] perfis naquela rede).

publicado às 16:00

As ciências em Portugal

por jpt, em 26.01.14

 

 

Isto da "necessária ligação da ciência com o mundo real", com a "produção" e a "indústria", bem como isso da "inutilidade" das "ciências sociais", é conversa antiga, e bem para além de Portugal. Muita gente a toma por "evidência" ("é assim mesmo"). E é um discurso que pasta na verrina contra os doutores - "somos um país de doutores" sempre se resmungou no Portugal de tão poucos doutores -, algo muito devido à cagança doutorista dos sôsdotôres, esta também possível pelo facto de estes serem (relativamente) poucos. Por isso a actual remodelação dos custos e procedimentos com a ciência em Portugal não traz argumentações novas nem verdadeiramente surpreendentes - mesmo o historiador Rui Rocha invectivando o despesismo (que soa sempre bem) e o clientelismo político-científico (se calhar com alguma razão) quando considera que o investimento científico produz uma sociedade obscurantista (algo que tanto chocou tantos ouvintes) é uma "actualização" pouco inovadora do (tão rico, se visto na sua densidade) discurso "Counter-Enlightement". Sim, há alguma razão na oposição ao "produtivismo" científico, com a avaliação quantitativa e com algumas temáticas bizantinas (e neste mundo de ideologia identitarista o que não faltam é, literalmente, pesquisas bizantinas). Mas é (também) disso que se faz a ciência.

 

Há gente muito mais capaz para dissertar sobre isto. Mas deixo algumas ligações a textos sobre a polémica actual, com particular atenção à crítica contra a (utilidade e pertinência) das ciências sociais, também de quando em vez elevada em Moçambique. Dois exemplos de que o sarcasmo, por vezes, pode ser uma boa arma: Salvaguardo já alguma pequena incorrecção mas ouvi isto na rádio (sabe o que é? aquele aparelho que tem no carro que lhe dá as notícias e o trânsito? já ouviu falar de Maxwell? Foi a investigação dele na teoria do campo eletromagnético que deu origem à invenção do rádio, sabia?), escreve, letal, a astrónoma (e analista de negócios) Paula Brochado ao ministro da Economia. No Macroscópio está a transcrição do texto de Diogo Ramada Curto, publicado no Público, e a acertar no alvo. 

 

No Público a jornalista Ana Cristina Pereira deixa um artigo sobre as ciências sociais, que permite reflectir para além das evidências (já agora, um dos papéis das ciências sociais é esse).

 

O populismo que reinou em Portugal nas últimas décadas tornou o país num "comboio descendente", parece(u)-me óbvio. Desesperadamente óbvio. A memória é muito selectiva. Os socratistas que ainda andam por aí (louvando os dotes regeneradores do PEC 4, por exemplo) fazem por esquecer que "crise global" explodida o caudilho ainda queria fazer TGVs e aeroportos, e disso não falam, que não convirá ao "mind-lifting" que pretendem.

 

Mas uma coisa é tentar tornar sustentável um modelo civilizacional, entre os constrangimentos internacionais e as pressões clientelares internas. Outra, bem diversa, é o obscurantismo anti-científico. Que brota por lá.

 

 

publicado às 09:09

Rede de textos

por jpt, em 19.08.13

 

Já aqui referi esta rede social Academia.edu [onde também tenho uma conta pessoal]. Dedicada à partilha de textos académicos ou quase. Tem vindo a crescer e vem sendo reforçada com algumas funcionalidades interessantes, que facilitam a comunicação e até a interacção. E é notória uma crescente participação de colegas moçambicanos, em particular de muitos recém-licenciados. É bom isso, em particular porque num país onde escasseiam as revistas e o acesso livre às bibliotecas informáticas internacionais. 

 

Para mais, na vertente rede social, tem duas grandes vantagens: nada cacofónica; sem ponta de "memeísmo" (indignista ou não).

publicado às 19:47

Astrologia

por jpt, em 27.02.12

Poucas coisas me irritarão tanto como as da astrologia. Felizmente envelheci, e com isso já ninguém me pergunta o "signo" - já não há mulheres a indagarem(-se) de uma hipotética compatibilidade comigo (ou a encenaram a indagação). Mas o vácuo astrológico continua por aí - basta ver a quantidade de aplicações zodíacas que os facebooqueiros utilizam. Ou assistir a uma estação televisiva portuguesa, dessas a quem o Estado concedeu licenças para emitirem e as transformam em licenças para Mayas e quejandas - como pude constatar em recente visita a Portugal.

Sobre a irritante matéria apanhei há pouco uma reflexão, não particularmente original mas muito partilhável:

"Desejo deixar claro imediatamente que, falando de geografias e de astronomias imaginárias, não me ocuparei de astrologia. ... a astrologia não é uma ciência, exacta ou errada que seja, mas uma religião (ou uma superstição - sendo as superstições sempre as religiões dos outros), e, como tal, não pode ser demonstrada como verdadeira nem falsa; é apenas uma questão de fé, e nas questões de fé é sempre melhor não nos imiscuirmos, se não por mais nada, ao menos por respeito a quem crê.

É que as geografias e as astronomias imaginárias de que falarei foram praticadas por pessoas que exploravam, de boa fé, o céu e a Terra tal qual os viam - e se, contudo, se enganaram, não podemos dizer que fosse por má-fé. Pelo contrário, quem se está ocupando, ainda hoje, de astrologia, sabe muito bem que se refere a uma curva celeste diferente daquela que a astronomia já explorou e definiu; no entanto, continua a comportar-se como se aquela imagem do céu fosse verdadeira. Diante da má-fé dos astrólogos não se pode exercer qualquer simpatia. Não é gente que se tenha enganado, são enganadores. Assunto encerrado." (Umberto Eco, Construir o Inimigo e Outros Escritos Ocasionais, Gradiva, pp. 203-204).

jpt

publicado às 21:17

Uma enorme depressão

por jpt, em 02.12.11

 

Burgess de sua graça, canadiana de nacionalidade e depositária de importante espólio fóssil do período câmbrico, que marca a explosão de diversas formas de vida. Integra-se na espectacular paisagem das Rocky Mountains e protagoniza agora um site maravilhoso aqui. Vale a pena passar por lá e embarcar no submarino virtual que nos leva ao fundo do mar há muito desaparecido e onde tantas destas formas de vida habitavam. Ou passear pela galeria de fósseis aí descobertos e que abriram novas perspectivas sobre a evolução das espécies:

Graças a eles sabemos hoje que a vida evolui através de extinções massivas seguidas de diferenciação dos sobreviventes, e não por uma caminhada segura e cada vez mais alta, em direção a um progresso ininterrupto.

E onde se prova também que há depressões que vêm por bem.

 

AL

 

(Nota: permiti-me traduzir shale por depressão. A tradução mais correcta seria jazida.)

publicado às 03:05


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