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O Professor

por jpt, em 18.03.13

 

Nosso professor no mestrado, no ISCTE. Nós chegados de outras áreas, desconfiados do discurso economês, aquela arrogância ideológica que se grita ciência, aquela outra vinda da costela dos gestores disfarçados. E a sermos recebidos por um economista assim, economia compreensiva, outros a dizerem-na "economia social". Debruçado na questão do desenvolvimento, mudar "isto" - e acho que ainda não se lhe chamava "sustentável", era "enraízado" o apelido inglês que se lhe dava. E quão complexo era pensar o desenvolvimento naquele princípio dos anos 1990s, esbroado o mito comunista, explodindo os "tigres", alterando-se a situação política em África sob "Bretton Woods", contratualizando-se o GATT. E, já então, notoriamente descentrando-se o mundo da Europa. Podemo-nos sentar, eu, o FF e não só, e não só, e constatar que para tanto do que se anda hoje a discutir [a nossa vida, o nosso futuro, e o da(s) nossa(s) comunidade(s)] fomos nós convocados naquela altura. Alguns responderam à chamada, outros nem tanto. Pois a cada um o seu caminho, intelectual e profissional.

 

Assim um Professor. Um cavalheiro, também, dotado de uma enorme doçura, cruzada com a ironia bem-humorada. Com especial carinho por nós, gente da antropologia. Não só pelo seu humanismo. E não só por causa da sua paixão por Cabo Verde ... Passados anos, uma década, integrou um processo de formação pós-graduada em Maputo. Por várias vezes aqui esteve. Foi visita cá em casa, nós cerimoniosos, em reverência não só pela sua idade. Nessas vezes chegou, pelo acaso, até a coincidir com o antropólogo da sua família, o Jorge, nosso companheiro de há muito. E era sempre um prazer a conversa com ele. Até pelo seu interesse no que aqui fazíamos e no aqui se passava, até nisso denotando um raro descentramento. De si próprio, do seu e nosso país. E do pequeno  mundo académico.

 

Um economista nada acidental. Ficam os livros ali na estante. E também a sua página informática. Para quem o leu e conheceu. E para quem não o leu. Está aqui: Mário Murteira.

publicado às 00:21

Em Lisboa, na próxima semana, David Sogge falará sobre a perversão da ajuda externa. Como o cartaz ecoa, verdadeira epígrafe (panfletária?) "Ao longo das duas últimas décadas, tem-se verificado um grande problema, no campo da ajuda externa: onde as suas principais instituições têm força, a pobreza tende a ficar pior, não melhor". Gostava de assistir. Para aprender sobre a matéria.

E, já agora, para ver se no "debate" alguém do público convocado (e também pela instituição da ajuda externa portuguesa, singularmente chamada "Camões", poeta do império ["ele" há cada coisa]) colocará esta dúvida: será realista colocar esta epígrafe numa cidade capital de um país que vive há pelo menos 25 anos com uma gigantesca ajuda externa, cujas instituições têm ali imensa força, e onde a pobreza em muito se reduziu?

Mas nada disso soará. Que na "espuma do dia" isso da "ajuda externa" é só aquilo para o ACP, os pobrezinhos quase selvagens, não-brancos.

Que cansaço com estas ideologias, cardápio retemperador. Em particular, muito em particular, quando meras legitimações ("vamos todos ouvir o Sogge") das catastróficas instituições do rame-rame. E pró-alento dos funcionários.

jpt

publicado às 11:43

Mandimba, distrito no Niassa

por jpt, em 31.10.12

Há já dez anos fui pela primeira vez ao Niassa. Dessas três semanas já deixei memória aqui, no texto "As estradas do Niassa".

Essa viagem foi de trabalho, uma consultoria. Logo na época o representante da organização que a encomendou me disse que poderia divulgar o texto final. É um relatório, em registo "seco". Uma década depois, para os hipotéticos interessados na região, aqui deixo ligação para o "Estrutura política local e seu enquadramento socioeconómico no distrito de Mandimba". O texto é grande mas tem (obviamente) um índice no princípio. E, para não desiludir alguém, aviso que não tem imagens.

jpt

publicado às 03:42

Este é o texto que enviei para a edição de hoje do "Canal de Moçambique". Já vi que não saíu, talvez por o ter enviado em cima da hora de fecho. Talvez porque foi importante o Michael Moore ter tido uma página ... (enfim, não posso deixar de resmungar um pouco). De qualquer forma aqui fica o meu "Ao Balcão da Cantina" desta semana. Com uma vénia ao Augusto Carvalho:

 

Um adeus à estação arqueológica da Matola

 

Ali na Matola existiu até agora uma estação arqueológica. Sobre este “sítio” recorro a Teresa Cruz e Silva, no seu texto “O sul de Moçambique e o povoamento da África sul-oriental na idade do ferro inferior. Algumas considerações”, editado pelo Centro de Estudos Africanos em 1978: “A estação arqueológica (25º 57’ S, 32º 27’ E) situa-se a cerca de 20 metros acima do nível do mar, e a cerca de 1500 metros do rio Matola. (…) Concluímos que as suas características são da Idade do Ferro Inferior, e apresentam tipologicamente, fortes ligações com o material de Kwale no Quénia, Nkope a sul do lago Niassa, e Silver Leaves em Tzaneen, no nordeste do Mpumalanga” (actualizei os nomes respeitantes a entidades políticas actuais). Com isto está-se a falar de dados respeitantes ao início da Idade de Ferro na África Austral, associada à expansão nesta área das populações a que nos acostumámos chamar “Bantu” e à introdução novos de padrões culturais, a agricultura, a domesticação de animais, a tecnologia do ferro e a sedentarização. Para além da disseminação de padrões linguísticos, a tal mancha “bantu” que se tornou dominante. No respeitante aos dados da estação da Matola, e de algumas outras poucas estações no sul de Moçambique, estamos a falar de dados dos primeiros séculos no calendário cristão (grosso modo até 400 ou 500 d.c.). Naquela estação as primeiras escavações mostraram que “Entre os 75 cms e os 85 cms de profundidade, encontrava-se um solo contendo vestígios de uma lixeira com 10 000 fragmentos de olaria; alguma escória e ferro; conchas …; uma pequena quantidade de ossos … e sementes carbonizadas …”.  Um contexto rico que, inclusivamente, originou que se criasse uma denominação arqueológica, a “tradição Matola”, para sublinhar a especificidade cultural e temporal desta área e destes vestígios.

 

Mais não me alongo sobre as características da estação, até para não cansar o leitor leigo em pormenores técnicos. Mas não me parece necessário sublinhar a importância destes vestígios em termos de conhecimento sobre a história do continente, e do fluxo histórico particular à zona austral oriental africana. Refiro dois pontos: que apesar do trabalho de décadas na área da arqueologia muito haverá a fazer em Moçambique – a arqueologia é uma ciência lenta e cara (como aliás o deverá ser a ciência quando o realmente é), exige deslocações e não se pode dobrar aos prazos das encomendas de apressados doadores. Nem tampouco serve para legitimar as suas propostas políticas, sociais ou económicas. Muito há, portanto, para fazer.

 

Um outro ponto, importante, é que o país tem desde há bem pouco uma licenciatura em Arqueologia, na Universidade Eduardo Mondlane. Será necessário reforçar a ideia de que uma abertura de uma licenciatura destas, criar especialistas no passado profundo e silencioso, é um vigoroso sinal de desenvolvimento? Real, não retórico? Virado para a produção de um conhecimento que não é instrumentalmente identitário mas que pretende ser, pode ser, constitutivo de um olhar da sociedade sobre si própria e o mundo, mais denso, mais produtivo. E que, paralelamente, pode criar um núcleo alargado de quadros nacionais com sabedoria e atenção dedicada à preservação do património. Material, intelectual. Atitude, prática, profissão, que não serão monopólios dos arqueólogos mas para as quais os seus saberes especializados os conduzem.

 

Esta preservação do património poderá ter, e tem muitas vezes, efeitos identitários no sentido da (re)construção de um passado próprio. Mas muito mais do que isso tem efeitos identitários no sentido da construção de um futuro próprio. E às vezes é essa “equação” que se torna difícil de transmitir aos que nos rodeiam, distraídos destas questões. Que falar em preservação do património, no seu estudo, é fundamental, quando para tanta gente “tudo isso” pertence a um passado a esquecer, a ultrapassar, a “desenvolver”.

 

Tudo isto me surge a propósito da minha estupefacção actual, pois acabo de saber que a estação arqueológica da Matola foi destruída. Para que nela se construísse uma casa, de um particular. Esta construção, que confesso não ter tido coragem para ir visitar, foi licenciada. Colegas, tão doridos quanto eu, que visitaram a zona avisam que a placa indicativa da estação continua. Só a própria estação se esfumou. Um deles perguntou, corajoso, aos trabalhadores: “então mas não havia aqui vestígios?”. E a resposta veio, cândida, sem maldade: “sim, havia muita “loiça”. Levámos para o lixo”.

 

Não me fico na questão pragmática: essa de haver uma nova licenciatura, com necessidade de trabalho de campo para os estudantes, e como tal da facilidade em levá-los até à vizinha Matola para praticarem numa estação já descoberta. E do quão incoerente tudo isto aparece: abre-se uma licenciatura, investe-se no passado ou seja, no futuro. E, aqui ao lado, destrói-se uma riqueza incalculável para que surja mais uma mansão (ou cabana que fosse).

 

Resmungo também diante da ideia que me parece estar na base do licenciamento de uma obra destas, a de que o património que deve ser resguardado é o espectacular, as edificações, o vistoso, quiçá as jóias, as obras de arte. Desconhecendo que são estas aparentes minudências, os ossos, as sementes, as escórias, os fragmentos de olaria ou de qualquer outro material, que são imprescindíveis e riquíssimos materiais para se mergulhar no passado, na história de todos nós. Quantas vezes tão mais faladores do que o belo vaso ou o vigoroso castro (zimbabué, se  se preferir chamar assim).

 

Que fazer? Que pensar?

 

 

 

*****

 

Para mais detalhes sobre a situação arqueológica em Moçambique ver "O princípio e o presente. A arqueologia na redescoberta do passado em Moçambique", de João Morais (1989). Ainda de Maria da Conceição Rodrigues, "O primeiro sítio com vestígios de utilização de ferro e cerâmica "tradicional" da Early Iron Age localizado em Moçambique - província da Zambézia (2006), texto não incidindo exactamente sobre esta zona mas abrangendo a mesma temática.

 

E ainda a Gazeta do Departamento de Arqueologia e Antropologia, nº 4, Setembro de 2011, com extensa entrevista com o arqueólogo Hilário Madiquida e referência à "tradição Matola (ou Kwale-Matola) em texto da arqueóloga Solange Macamo.

 

Sobre a Idade do Ferro em África, esta página da Universidade Columbia

 

jpt

publicado às 11:39

O desenvolvimento em 2012

por jpt, em 14.05.12

No último "Sol" (edição moçambicana) a coluna rotativa "Cartas da Minha Terra" é da autoria de Belmiro Adamugy. Aborda o desenvolvimento, uma visão crítica à situação em Moçambique. E proto-conclui: "Precisamos extirpar o mato que habita as nossas mentes". Hum ..., arrotear a terra para dela fazer brotar ideias e ideais, metáfora racionalista? Hum ..., não me parece que seja isso, é a metáfora "mato" como é usada aqui, extirpar a ruralidade. "Tirar a selva do rapaz" ... Em 2012. ?. !.

Sei que é um vício de pensamento mas, às vezes, olhar a actualidade aqui parece-se com ler a história alheia. Longínqua. E é triste.

jpt

publicado às 09:07

Aqui há bastos anos, em amena cavaqueira com um militar de um país em guerra e depois de uma entrevista sincera e cândida sobre guerra, armas e desarmamento, olha-me ele nos olhos e diz-me: Sabe doutora, grande parte dos nossos problemas foram criados por vocês.O “vocês” neste caso era eu como representante da putativa comunidade internacional de auxílio ao desenvolvimento. Como assim? pergunto eu ainda que bem ciente dos males das “boas intenções” e das hipocrisias das políticas internacionais. Sabe, continua ele em ar meditativo, vêm vocês para aqui com as vossas Unicefes e as vossas vacinas, baixam-nos a mortalidade infantil, acodem-nos nas calamidades naturais, financiam-nos escolas básicas e iludem os nossos jovens com o futuro melhor que a educação lhes vai dar. Mas depois, não nos ajudam mais. Aos 14, 15 anos eles saem da escola e já não querem trabalhar com os pais, não querem trabalhar a terra; querem um emprego, com gabinete e secretária e nós não temos estrutura para os absorver. Dantes tínhamos as nossas calamidades que nos regulavam a população, vocês agora dão vida a todos e depois largam-nos nas nossas mãos. Temos jovens e jovens e jovens, mal preparados e poucos homens para trabalhar, para pagar impostos, para contribuir para o Estado. Vocês passam o problema para nós e depois ainda se queixam que nós isto e nós aquilo.

 

Consigo parar a tempo o insulto perante o cinismo e hesito – digo, não digo, digo, não digo. Lanço rapidamente um pensamento ao básico das conversas difíceis (conversa do “eu”; positivo, negativo, negativo, positivo) e digo: Senhor General, vai-me desculpar a franqueza, mas concordo em parte consigo e noutras discordo absolutamente. Discordo absolutamente quando se queixa das vacinas e das calamidades porque EU acho humanamente insustentável que se deixem morrer pessoas, ou ficarem marcadas para a vida, devido a doenças preveníveis ou tratáveis, ou porque não usamos os meios que temos para as salvar. Depois, porque (despersonaliza, penso eu, despersonaliza) foram os últimos trinta anos de guerra que mataram a geração que devia agora estar a produzir e a pagar impostos, foi a guerra que destruiu sistematicamente toda e qualquer estrutura que vos pudesse ajudar a construir um país próspero e finalmente porque o Estado tem outras fontes de rendimento muito superiores aos impostos que possam vir a cobrar. Tendo dito isto, simpatizo com os problemas que enfrentam com a comunidade internacional, mas ela é o que é e embora não seja fácil gerir os seus variados interesses, exigências e caprichos, EU acredito na vossa capacidade para o conseguirem fazer.

 

Olhou para mim fixamente, desviou os olhos, rodou a cadeira para o lado, contraiu os maxilares, (pensei estou feita!), suspirou, rodou a cadeira de frente para mim, olhou-me novamente, (pensei outra vez estou feita!, tento lembrar-me se alguém saberia onde eu estava) e diz-me: Bem que me tinham avisado! Bem que me disseram que a doutora nos dizia coisas que mais ninguém tinha coragem para nos dizer assim cara a cara. Diga-me, não tem medo? Eu? Medo? Eu que estava petrificada, o que de certa forma deu jeito, convenhamos, pois mantive-me direita e impávida na cadeira onde me encontrava. (Fase dois da conversa difícil: "eu" e personaliza).Senhor General, EU penso que sem medo não há coragem. O Senhor General combateu uma guerra, penso que certamente terá também tido medo nalgumas ocasiões. Mas continuou porque acreditou. As minhas armas são a franqueza e as palavras, porque eu acredito que a vida das pessoas pode melhorar e aqui quem a pode melhorar são os senhores. E digo o que digo porque sou vossa amiga e os amigos também servem para nos dizer o que nos custa ouvir. EU só posso falar; são os senhores quem pode agir.

 

Levantou-se, aproximou-se de mim. Eu, ainda petrificada, encolhi-me interiormente mas mantive a (com)postura, pôs-me uma mão no ombro, estendeu-me a outra e disse-me: tem todo o meu respeito. Tem carta branca para ir onde quiser e qualquer problema que tenha enquanto por aqui andar ligue-me. Está sob a minha protecção. Apertámos a mão, saí do gabinete. Fui direita à casa de banho e bolsei-me toda, coberta em suores. Livrei-me da bílis da minha cobardia e dos insultos calados. Demorei alguns segundos até me recompor nas pernas e saí do ministério de cabeça caída e coração apertado. Vendi-me?, perguntava-me.

 

Esta conversa não me tem saído da cabeça nos últimos dias por uma estranha associação com as revoltas a que temos assistido e com as deolindas locais. Remetem-me para as pirâmides demográficas. Onde todos parecem ver motivos políticos e religiosos, eu não consigo deixar de ver também um conflito geracional. A pirâmide demográfica do país do meu General é quase igual à do Egipto, do Bahrain e da Líbia (para só nomear estes três países), que apresentam aquilo a que os ingleses chamam um pronunciado “youth bulge”. Tal como nestes três países, também o regime do país do meu General tem sobrevivido devido à complacência internacional em aceitar o inaceitável sob a capa dos recursos ou das seguranças estratégicas. Tal como nestes três países também os jovens do país do meu General começam a dar um ar da sua graça.

 

Discretamente ainda – um incêndio aqui, uns graffitis ali, um ligeiro aumento de decibéis na voz do descontentamento. Algo me diz que  também o país do meu General é uma das peças na fila de dominós que em cadeia se derrubam. O meu discurso foi bonito, a promessa do General cumpriu-se e nunca tive problemas nesse país. Perante os ditadores hoje caídos vemos agora criticamente espalhados por todo o lado os apertos de mão, os banquetes, as palmadinhas nas costas que os representantes das nossas democracias não se coibiram de distribuir. Recuperam-se discursos e negociatas. E eu continuo a interrogar-me. Vendi-me?, pergunto-me eu ainda hoje. Infelizmente, acho que sim. Sob a capa do meu medo, da minha arrogância em querer motivar acção e das minhas (boas) intenções também eu me vendi. Sou tão cúmplice como os outros; também eu, por inércia, por medo ou por tacitez, contribuí para que se aceitasse o inaceitável e aqui confesso que também eu apertei a mão ao diabo.

 

AL

publicado às 18:56

Bronislaw Geremek e a pobreza

por jpt, em 17.07.08
Aqui tomo conhecimento da morte de Bronislaw Geremek.

E logo me recordo das palavras introdutórias ao seu esplêndido "A Piedade e a Forca", que sempre me acompanham, vivendo como vivo num país subjugado ao calão do Banco Mundial, feito mito omnipresente (e dito omnisciente) da Luta Contra a Pobreza Absoluta, o constante PARPA. Não diz só isto, na sua história da utilização do termo "pobreza". Mas assim é inultrapassável:

"Na Europa do século XIX ainda encontramos em certa literatura polemística e no pensamento social uma visão da pobreza como uma "doença vergonhosa" da sociedade moderna que urge debelar por meios novos. Concomitantemente, porém, assiste-se a uma gradual reformulação da abordagem conceptual das análises sociais e do estilo do discurso ideológico. A crise dos programas filantrópicos, o despertar da consciência social das masas e as mutações nas estruturas da vida política fazem com que seja praticamente eliminado da linguagem económica e social o termo "pobreza" (e "miséria"): porque carrega um sentido subjacente de piedade, apresenta-se como um juízo de valor que confere uma atitude de superioridade ao que o emprega. Essa carga semântica emotiva torna-o demasiado ambíguo para servir de instrumento de reflexão e, portanto, pouco operacional nas investigações da ciências sociais. Todavia, quando se estuda o fenómeno nos seus aspectos históricos (...) assiste-se igualmente ao acentuar da tendência para enquadrar a questão da miséria no âmbito (...) da análise das causas das desigualdades sociais e da repartição do rendimento nacional vem substituir a tradicional problemática da pobreza."

[Bronislaw Gemerek, A Piedade e a Forca. História da Miséria e da Caridade na Europa, Lisboa, Terramar, 1995 [1986], tradução de Maria da Assunção Santos]

publicado às 02:27

Sítio ODAMoz

por jpt, em 26.11.07
ODAmoz "é um novo instrumento electrónico financiado pela CE que fornece uma informação da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (ODA a Moçambique). Foi criado como resposta à Declaração de Paris segundo a qual deve – se fortificar a harmonização e alinhamento entre os doadores e alinhamento entre os Governos. A ODAmoz permite captar projectos e Programas dos doadores e Agências das Nações Unidas a operarem no país."


Tem uma vasta gama de informações. A ligação constante fica afixada na coluna da direita, no grupo "sítios" (há quem chame "sites" mas existem escolas de línguas).

publicado às 23:41

Um necessario texto, hoje publicado no jornal Noticias. Francisco Noa rematando contra o nao-pensamento que se quer dominante. Eis:


A Riqueza das NaçõesFrancisco Noa

Um país se faz com homens e livros.

Monteiro Lobato, escritor brasileiro

Colocação

A Riqueza das Nações é o título de uma das obras mais emblemáticas da era moderna. Da autoria do escocês Adam Smith (1723?-1790), trata-se de um grandioso trabalho dividido em cinco livros, fruto de um aturado e notável exercício de investigação, em que cruzando teoria e prática, o autor emerge como o pai da economia do nosso tempo e um dos teóricos mais relevantes do liberalismo económico.Defensor acérrimo da iniciativa privada, pressuposto segundo o qual o governo deve ter pouca ou nenhuma intervenção, Adam Smith entendia que era na actuação dos indivíduos, com muito trabalho e muito empenho, e numa base de livre concorrência, que se realizaria o crescimento económico e a inovação tecnológica que, em última instância, resultaria na riqueza das nações.As teorias deste ilustre pensador do século XVIII, que obviamente tiveram os seus detractores e seguidores, influenciaram não só gerações inteiras de economistas e políticos do mundo inteiro, como serviram de inspiração a muitos dos países que são hoje as mais destacadas referências de desenvolvimento económico, social e tecnológico.

Equívocos

Nos últimos tempos, com apreensão e assombro, tenho escutado de alguns quadrantes da sociedade moçambicana, políticos, sócio-económicos e, mesmo (pasme-se!) académicos(!), com uma insistência que raia a afronta indecorosa e irresponsável, afirmações do género: “precisamos de riqueza não de teorias”, “não é com palavras que se desenvolve o país”, “empreendedorismo faz-se com trabalho não com livros”, “a academia precisa de produzir riqueza e não andar a escrever livros bonitos”, etc...E a agravar esta percepção temos a perversa associação feita entre o livro e as ciências sociais, as humanidades e todos os seus correlatos que surgem assim interligados se não como uma das causas do nosso atraso quase endémico, pelo menos como factores de entrave para o salto que se pretende dar. Isto, justamente, porque na óptica esclarecida dessas pessoas, esses domínios representam teorias e ideias estéreis, imobilismo, parasitismo e alienação em relação a questões fundamentais para o desenvolvimento do país.Por outro lado, está claramente implícito nas pressuposições destas respeitáveis figuras que se, por um lado, a riqueza só pode ser material, por outro, ela irá brotar somente quando os homens meterem desenfreadamente as mãos na terra, nas ferramentas, nas máquinas e nos negócios. Mais grave, ainda, um estranho golpe de amnésia faz com que se esqueçam que tanto eles como o mundo chegaram onde chegaram, por terem franqueado a entrada para os trilhos da edificação pessoal através do conhecimento, especialmente daquele que está sistematizado nos livros.Penso que podemos encontrar parte da justificação destas posições nas razões que, de seguida, proponho:· primeiro, devido a uma enraizada e atávica reminiscência da matriz cultural do nosso colonizador disseminou-se, neste país, uma cultura de afirmação intelectual, social e profissional que, cada vez mais, assenta na pose, no estatuto, no cargo que se ocupa, no título académico (doutores e outros que tais) e nas mesuras ao poder do que propriamente na capacidade de intervir produtiva, crítica e qualitativamente na resolução das grandes questões do país· segundo, o desregramento galopante de valores a todos os níveis que fazem as pessoas perderem, ou não adquirirem nunca, a capacidade de destrinçar o essencial do acessório, o contingente do estratégico e o efémero daquilo que é duradoiro· terceiro, a colagem ao princípio da performatividade, responsável pela hegemonia da racionalidade técnica e tecnológica, e que adoptado de forma apressada e perfunctória leva as pessoas a acreditarem que só é válido tudo aquilo que tem uma aplicação prática, visível e imediata· quarto, a crise da legitimação do conhecimento muito bem analisado por Jean-François Lyotard no seu livro A Condição Pós-Moderna (1989), onde entre outras colocações, o autor chama a atenção para o facto de se viver um dilema sobre o estatuto actual do saber científico que torna mais vincada a questão da dupla legitimação: quem decide o que é o saber e quem sabe o que convém decidir. Daí que a subordinação das universidades aos poderes (político, económico) e às demagogias é apenas um passo. Isto é, deixam de ser as instituições de ensino superior a determinarem os critérios da sua auto-legitimação e de legitimação das competências fundamentais para o desenvolvimento do saber e da sociedade.Que ninguém tenha dúvidas que a riqueza de um país vai resultar da cultura de trabalho que for assumida sábia e responsavelmente por cada um e por todos os cidadãos dessa nação. Mas que se desengane quem acreditar que essa riqueza será fruto única e exclusivamente do trabalho braçal, da monótona circularidade das máquinas e dos negócios que se possam desenvolver, no nosso caso, muitas vezes, de forma obscura, penosa e inconsequente. Ou, por outro lado, estará redondamente enganado quem assumir que o conceito de riqueza se circunscreve única e exclusivamente à realidade objectual e aos bens materiais.Duas das grande revoluções que permitiram o saldo intelectual e tecnológico do Ocidente, Revolução Científica (secs. XVI-XVIII) e Revolução Industrial (séc. XVIII), só triunfaram, efectivamente, e tiveram o alcance que tiveram e cujos efeitos perduram, porque foram acompanhadas e profundamente alimentadas por um sistemático, intenso e profícuo exercício filosófico e humanista. Temos, neste particular, entre outros, Erasmo de Roterdão, Francis Bacon, René Descartes, John Locke, Thomas Hobbes, Diderot, Kant, Voltaire, Montesquieu, Rousseau, etc...O inquestionável sucesso desenvolvementista de países como o Japão, a China, a Índia, a Coreia do Sul, Singapura só é real porque o investimento nas tecnologias é acompanhado, quando não antecipado, por uma profunda e consequente profusão de ideias e de teorias, das mais arrojadas às mais realistas, das mais mirabolantes às mais pragmáticas. E sobretudo porque existe um profundo lastro humanista materializado no lugar que a cultura e o próprio homem ocupam nas estratégias que se inscrevem no projecto de país que cada uma dessas nações desenha e define claramente.Num país como a China que, como é sabido, de há uns anos para cá vem apresentando os maiores índices de crescimento económico, em todo o mundo, e num regime político muito rígido, a acção de intelectuais, em que, entre outros, se destaca o historiador Wang Hui, tem levado o governo a flexibilizar as suas posições e a introduzir alterações profundas em questões de impacto social como seja a melhoria das condições dos trabalhadores nas cidades e no campo, no maior respeito pelos direitos humanos, em geral, ou caso da aplicação da pena de morte, em particular.

Do saber e da liberdade de pensar

Retomando as posições a que fiz referência, no início, gostaria de tentar desfazer alguns equívocos:· primeiro, a insistência na demarcação epistemológica entre ciências sociais e humanas e ciências naturais e tecnológicas, ou entre saber teórico e saber prático ou, simplesmente, entre ciência e técnica; trata-se, obviamente, de uma distinção dicotómica, de natureza anacrónica e que resulta do facto de se resistir a perceber, ainda, as grandes transformações teóricas, científicas, culturais e filosóficas que se vêm processando desde os meados do século XIX e que demonstram a inutilidade, ineficácia e a falta de sentido desse tipo de dualismos, perante uma racionalidade que, segundo Boaventura de Sousa Santos, em Um Discurso sobre as Ciências (2003), é aglutinadora, problematizadora e pluralista. Por outro lado, a vocação interdisciplinar das ciências pós-modernas e a crise das evidências fazem ruir as demarcações que a viva força se tentam fazer entre os vários campos de conhecimento.· segundo, não existe desenvolvimento real e efectivo enquanto não houver clareza e honestidade intelectual na definição de estratégias. E toda a estratégia, para ser bem sucedida, é incompatível com visões imediatistas, miméticas, dogmáticas, sectárias e míopes. Acabei, há dias, de ler Memórias em Voo Rasante (2006) de Jacinto Veloso, um livro extremamente interessante e curioso sobretudo por aquilo que ele não diz. Julgo que o princípio que, segundo ele próprio, rege a acção da diplomacia entre serviços secretos de “nunca falar mentira e raramente dizer a verdade” será o grande responsável por essa estimulante margem do muito que ficou por dizer. Nesta obra, são várias as passagens em que o autor não só sugere como faz referência aos inúmeros erros que foram cometidos ao longo destes últimos quarenta anos - acto absolutamente notório por ser raro, como se fosse sustentável acreditar-se que ninguém se engana, ninguém comete erros e ninguém tem dúvidas -, como também insiste quer na necessidade se um projecto do país realista, consistente e consequente quer na importância de estratégias eficazes para viabilizar esse mesmo projecto. “Recordar Eduardo Mondlane”, como último capítulo do livro, parece-me, neste aspecto, uma escolha eloquentemente significativa e intencional.· terceiro, meter no mesmo saco, ciências sociais, livro, cultura (refiro-me a cultura como edificação), como alvos a abater, implícita e explicitamente, é bem um dos grandes sintomas de ligeireza do nosso tempo e da tirania do materialismo pós-industrial e rasca. E é também revelação do temor que se tem em relação à palavra enquanto expressão de ideias livres, plurais, dinâmicas, construtivas, inconformadas, diversificadas, questionadoras. Sobretudo, enquanto afirmação de sabedoria e de um apurado sentido crítico.Sabemos todos que por razões várias, internas e externas, os países africanos vão teimosa e dolorosamente disputando os últimos lugares na lista dos países em vias de desenvolvimento. A expressão “vias de desenvolvimento” não passa, em muitos casos, de um eufemismo que disfarça mal a aviltante condição dessas nações.E teimosamente continuamos a não perceber que o défice intelectual, reflexão e de debate (não a demagógica e populista; aliás, o Elísio Macamo tem várias vezes apelado para a questão da competência no debate) vai impedindo que as nossas mentes e vontades vislumbrem as soluções e os caminhos que, adequados ao nosso tempo e aos nossos circunstancialismos, verdadeiramente nos iriam colocar nos trilhos de um desenvolvimento real, sólido e irreversível.Nenhuma sociedade, especialmente no mundo actual, se pode considerar minimamente funcional e estável enquanto não assumir o conhecimento, na sua totalidade e profundidade, como seu maior fundamento.Num livro já antigo mas muito actual, Jean-Marie Domenach, em O Retorno do Trágico (1968), chama a atenção para o facto de toda a sociedade em transformação pedir aos seus intelectuais doutrinas estáveis, onde os enigmas encontrem soluções e o sofrimento consolação. Isto é, só o pensamento sistemático, livre, fundamentado e diversificado assegura um destino mais suportável e mais risonho para os países. 

É, nesta conformidade, e com lúcida frontalidade, que o historiador congolês Elikia Mbongolo, numa entrevista reproduzida pelo semanário Savana (23/02/2007), reconhece que não existe propriamente uma intelligentsia real, em Moçambique, capaz de, à semelhança de outros países africanos como o Senegal, o Gana, o Quénia e a Nigéria, debater os interesses do país, tomar posições e fazer avançar as suas resoluções. Para ele, um intelectual tout court, deve assumir uma liberdade de análise, de abordagem, de tom e de palavra.Muito recentemente, perante a absurdidade do morticínio e da devastação causada pela explosão do paiol, nos arredores da cidade de Maputo, foi notória a inépcia e quase inexistência dessa intelectualidade que, encolhida e temerosa, ficou-se pelo silêncio envergonhado e pela indignação sussurrada. A reacção espontânea, por isso talvez desarticulada e desapoiada, de cerca de sessenta pessoas, maioritariamente jovens, numa manifestação rápida e desproporcionalmente reprimida e abafada, demonstrou que nem tudo está perdido. A indignação funciona, muitas vezes, como uma válvula de escape daquilo que as pessoas têm de mais profundo e nobre.Há dias, colocava os meus estudantes - como o tenho feito sempre na minha actividade como professor há cerca de vinte e cinco anos - perante um dos desafios que considero absolutamente prementes e inadiáveis para o nosso tempo e para a nossa sociedade, em particular: eles (todos nós, afinal) tinham que rapidamente escolher entre pertencerem à massa pensante, crítica e inconformada ou serem simplesmente massa esparguete.Não tenho dúvidas, também, que o processo de esparguetização desta sociedade está em curso e de forma acelerada. Basta que nos detenhamos a olhar para o espaço público e para espaços que deviam ser verdadeiras fábricas de soluções e de conhecimento, caso das universidades, e verificar como todos eles estão invadidos pela incompetência, o aventureirismo, o analfabetismo funcional, a subserviência, o arrivismo, a impostura intelectual e uma assustadora ausência de profissionalismo indiciando uma insuportável tibieza no que concerne a posturas, atitudes, valores e exigências.

Ode à riqueza do espírito

Entre muitas coisas que se nos vão impondo, a cada um e a todos, o que precisamos, mesmo, é de produzir muito pensamento, muita investigação, muita imaginação (sobretudo muita imaginação para nos sabermos reinventar a nós próprios e aos nossos destinos), muita cultura, materializados em ideias, arte, ciência, acções concretas e livros infindáveis, belíssimos e úteis.Livros com muita teoria e livros com um incomensurável sentido prático e da realidade.Livros que nos ensinarão a escolher as melhoras culturas para a nossa agricultura precária, as melhores máquinas para a nossa indústria quase inexistente, os melhores instrumentos para contornarmos a nossa indigência quase generalizada.Livros com os quais aprenderemos a melhor desenhar e construir as nossas casas, escolas, hospitais, estradas, pontes e barragens. E que nos expliquem, sobretudo, como criar uma burguesia forte, instruída, trabalhadora e patriótica.Livros que nos permitirão ter melhores médicos, melhores professores e melhores técnicos, no geral.Livros que exprimirão e elevarão a nossa sabedoria, livros que resgatarão o que de melhor existe dentro de nós, livros que nos ensinarão a melhor governar os nossos atormentados países, territórios inóspitos onde escasseiam os livres pensadores, a criatividade e a possibilidade de intervenção efectiva e consequente.Livros, enfim, que nos farão melhores cidadãos, tanto do país em que vivemos como do mundo que aspiramos habitar. Cidadãos conscientes dos nossos direitos e dos nossos deveres.Livros como o que foi superiormente escrito por Adam Smith e por outros em múltiplos e variados domínios de conhecimento, ou, então, os que nos têm sido legados pelas consciências verdadeira e notoriamente iluminadas por esse mundo fora e ao longo dos tempos: Homero, Virgílio, Dante, Camões, Shakespeare, Cervantes, Goethe, Proust, Henry James, Jane Austen, Thomas Mann, Dostoiewski, Machado de Assis, Pessoa, Kafka, Hemingway, Jorge Amado, Sartre, Senghor, Cesaire, Nkrumah, Cesare Pavese, Fanon, Garcia Marquez, Nadine Gordimer, Soyinka, Chinua Achebe, Craveirinha, Cotzee, etc, etc, e que são, afinal, a suprema expressão da riqueza das nações e da humanidade. Por isso mesmo, todos eles, livros belíssimos, incontornáveis e imortais.Não tenho dúvidas de que a respiração de uma nação é feita através produções de espírito que ela realiza. Em especial, dos livros que ela lê, produz e faz circular.Para terminar, entendo que o desafio primordial que se nos coloca antes de continuarmos a falar em desenvolvimento e de combater o que quer que seja, será o de clarificarmos, individual e colectivamente, qual a nossa relação com o pensamento livre, questionador, consequente e plural, pensamento como real expressão de elevação, de sabedoria e de cultura. O que pretendemos, afinal, a sua demonização ou a sua consagração?

Maputo, Abril de 2007

publicado às 15:08

...

por jpt, em 20.05.05
No Ideias para Debate Q. Langa procura encetar um debate sobre sexualidade e identidades sexuais em Moçambique. Não acho que seja dos seus melhores textos, mas é uma pedrada no silêncio público aqui sobre tais temas. [Lembro exposição "As Manas" sobre prostituta/os travestis, apresentada em 2003 na Associação Moçambicana de Fotografia - um desconforto generalizado, uma falta de jeito visível no nervosismo dos visitantes].

Há "coisas sobre as quais não se fala". Ou porque aqui "não existem" (o "homossexualismo") ou porque não é coisa de "bom tom" (o "heterossexualismo"). A não ser nas conversas do entre nós, à mistura das gabarolices, lendas individuais, falsas voracidades.

O subdesenvolvimento é isto. Não falar.

publicado às 15:44

A Etiópia em Nós

por jpt, em 08.03.05

 

"The university - then named Haile Selassie I University - was perhaps the most significant modernist institution in all of Ethiopia. The grand scheme of modernization - the march of advanced nations, followed by backward ones, along a continuum defined by different groups sucess in applying science and knowledge - had come to define reality for many of the new Ethiopian educated elite...."

 

"On the eve of the revolution in Ethiopia, there were two great world models of modernization, two mutually exclusive paths to wealth and power for underdeveloped countries, namely, capitalism and socialism. In the stories told by apologists for each, the same factors - the market on the one hand, and planning on the other - were alternately the very secret of progress or the most basic explanation of backwardness..."

 

"...in the heat of revolutionary struggle, modernist discourse quickly lost contact with qualifying reality, and its binary logic took on an unhindered life of its own..."

 

"...the zemecha students [universitários enviados para o mundo rural para estabelecer a nova ordem revolucionária] found not support but fierce opposition from peasants. Most of the students came ... not only with a superiority born of modern education but with the traditional contempt of Orthodox Christian believers for so-called pagans. The mixture of these sentiments made ... chiefs, who typically occupied religious as well as political roles, appear to the zemachs as especially egregious figures who oppressed their followers through superstitious beliefs..."

 

"Student revolutionaries had their own vision of the new rural order...carrying Mao's Little Red Book, would lecture peasants on class struggle and the necessity for collective farming, while peasant association leaders kept asking where they would get the oxen urgently needed for plowing and when fertilizer would be delivered" (Marina, David Ottaway, Ethiopia, 12)...

 

"The difficulty is that rural people typically live in different cultural worlds than urban revolutionaries, and, as James Scott argued..."The radical intelligentsia, at least initially, is often as culturally distant, if not more distant, from the peasantry thant the dominant elites whom they wish to replace "...

 

[Donald L . Donham, Marxist Modern. An Ethnographic History of the Ethiopian Revolution, pp. 25, 26, 33, 34, 36)

publicado às 12:10

Respondeu, amável, João Miranda ao que aqui deixei, meio atabalhoado. Tem razão o comentário do MiguelS, ele próprio muito mais dotado e tarimbado para falar da economia daqui, já deixei texto excessivamente longo. Mas ainda assim regresso ao tema, maçando, pois certas palavras são como as castanhas do caju. E regresso face ao texto de JM pois parece-me que não terei sido explícito, ainda que longo.
1. Eu não afirmo que o investimento na educação seja universalmente precedente, e causa do crescimento económico. Foi afirmado uma relação causal empírica, procurei (e demorei) afirmar que quanto muito serão, neste caso, concomitantes. (JM sublinha 10 anos de crescimento económico, eu claro que concordo, mas vou dizendo que são 30 anos - incluindo os da guerra - de acelerado crescimento educacional: e isto num país ainda muito pobre e ainda com baixa escolaridade).2. Sublinho que a essas precedências causais torço o nariz. Um pouco similar é o postulado mainstream actual, o qual afirma a democracia como causa do desenvolvimento. Também aqui acho muito forçado a universalização. Afirmo-o aqui para reforçar a minha reacção ao texto de JM. Não lhe quero inverter causalidades, discordo do exemplo empírico escolhido e, mais do que tudo, da abordagem.3. Enquanto meio para o crescimento económico (e eu fujo a encher o Ma-Schamba com a questão da relação nada linear crescimento-desenvolvimento, aqui não é o meu local de trabalho) posso interrogar-me se uma sociedade sem recursos endógenos ou exógenos pode investir na educação. Aí JM terá razão. Mas também poderemos questionar se uma sociedade sem recursos humanos formados pode produzir e integrar/reproduzir a riqueza produzida? Não falo de "pescadinhas de rabo na boca", soluções eunucas. Falo de que me choca a linearidade causal.4. Há uma dimensão implícita no texto de JM, e também no meu exemplo paralelo. É a educação um meio ou um fim, um instrumento ou um valor em si? Ou, para retomar a dicotomia a que eu apelei, é a democracia um meio ou um fim, um instrumento ou um valor em si?5. No que toca à formulação de JM a subordinação causal não surge como mera descrição. É também uma postura intelectual. Não quero violentar o pensamento alheio, mas parece-me óbvio que o que afirma é um privilegiar do investimento social no crescimento económico em detrimento de uma política sublinhando a educação. Mais, quando diz que "os países que investem" eu não resisto a lê-lo como afirmando (e estou a interpretar o bloguista que já vou conhecendo) "os Estados que investem".Esta é uma posição política crítica perfeitamente legítima. Aquilo que me choca é assentar (pelo menos bloguisticamente) em generalizações apressadas que, e desculpo-me do imperativo, a ilegitimam. Torno a chamar a atenção para o comentário do Luís Aguiar-Conraria sobre os pressupostos da utilização da comparação.6. Vai longo e não quero maçar mais. Apenas isto. Porquê tanta linha sobre blog outro? Acho piada ao Blasfémias, uma azáfama. Mas mais do que isso, é muito interessante ver um blog liberal cheio de sucesso e leitores. Eu não me revejo no liberalismo económico, talvez costela aqui ou ali, mas espinal medula social-democrata. Mas em Portugal não há tradição de pensamento e disseminação de informação sobre o liberalismo: herança católica, fascismo e coorporativismo, sua oposição muito marxizante, uma democracia estadocentrada (por herança do brevissimo período revolucionário mas acima de tudo porque sistema de reprodução política).Daí que um blog liberal, cheio de gente de boa e rápida tecla é interessantissimo e mais do que tudo, bem-vindo. Talvez por isso me irrite tanto com a pressa linear que vou aqui e ali descobrindo - ainda que não esteja a exigir uma revista filial de universidades inglesas, claro está.
7. Referir o interesse do Blasfémias não é afirmar-lhe nenhuma responsabilidade social. Credo! Tudo menos isso. Já disse, e repito, cada blog como cada qual (ou quais). Do bloguismo, e repito-me de novo, velho, acho que o mais interessante é o fenómeno de auto-edição (poesia, prosa, desenho, foto) e colectânea. Mas esta disseminação da expressão escrita política é também fundamental, ainda para mais cruzando gente a pensar diferente, o que talvez impelisse a um menor linearismo (palavra aqui posta para fugir ao panfletarismo, que é assim um bocadinho agressivo). E neste sentido aqui chamo a atenção para um texto ao qual cheguei via Ideias-Soltas, colocado no Albardeiro, blog que desconhecia.
Cito-lhe excerto: "Pelo contrário, a blogosfera permite o alargamento exponencial daquilo que Pierre Bourdieu define como “competência social” para ter opinião política, retirando-a do domínio exclusivista da tecnicidade burocrático-profissional. E se, em muitos casos, essa dimensão interventiva dos blogs ainda não se verifica, como diz o ditado “o caminho faz-se caminhando”.
E acho que caminharemos melhor se juntarmos a ligeireza e a brevidade do post com um bocadinho menos de pressa. Falo da educação em Moçambique? Também, mas muito das irritações deste Ma-Schamblog, como disse o Mar Salgado.
A seguir a esta verborreia vou passar uns dias a meter fotos, claro está.

publicado às 00:11

Crescimento e Educação II

por jpt, em 15.12.04
Concluindo o texto ontem encetado, relativo à utilização que João Miranda fez do caso moçambicano para afirmar dissociação entre educação e enriquecimento nacional.

JM baseia o seu raciocínio numa consideração. Moçambique tem uma baixa taxa de escolaridade. Portanto pressupõe uma não aposta na educação. Relaciona isto com o facto de que Moçambique ter um elevado crescimento económico (10%). E assume o corolário lógico, que logo generaliza ("globaliza"?), a educação não é anterior ao crescimento económico.

Não vou aqui discutir essa tese. Mas o caso empírico que serve, indutivamente, para provar a afirmação de JM.

1. Moçambique tem uma baixa taxa de escolaridade, mas isso não implica uma não-aposta. Recorro, sumariamente, à história. À época da independência a população escolarizada era mínima. Sei que dizer isso para leitores portugueses é estar a chamar o coro dos "eu tinha colegas negros no liceu". Honestamente não vale a pena discutir com esses, ainda hoje vêm o mundo do tamanho do seu quintal de então (onde, dizem, tratavam bem os empregados) e da sua sala de aula. E 30 ou 40 anos depois ainda não cresceram.

Com os que vale a pena argumentar poder-se-á resumir: o ensino (tal como a sociedade) era muito racializado; a população negra que ascendia ao ensino secundário era da camada "assimilada" (pouco mais de 1% da população) e mesmo nesta nem todos o conseguiam. Esta chegada ao ensino secundário foi tardia, na sua maioria nos anos 60. As causas desta barreira racial não são estranhas: a criação de uma camada negra formada era vista como inútil (racismo explícito), perigosa (criação de mentes independentistas ou rebeldes), contraproducente (criação de uma concorrência no mercado de trabalho face aos portugueses - aliás houve uma política de branquização dos serviços no LM de finais de XIX, em prejuízo de uma pequenissima camada "crioula" então existente) e desnecessária (não esquecer que a própria população portuguesa era muito pouco escolarizada: "o vinho é que induca").

O ensino avançado restringia-se a essa pequena parcela de filhos de "assimilados", do qual uma ínfima parte ascendeu à universidade. Havia ainda um ensino proporcionado em especial pela Igreja Católica, que tendo dimensão quantitativa (muito propalado no mito colonial, e ainda hoje) se restringia, na sua maioria, a uma espécie de 3ª classe muito rudimentar. Refiro ainda outras missões cristãs, de difícil relacionamento com o Estado de então, e com políticas mais extensivas de ensino.

Na independência escasseiam os quadros. Retiram-se (por vontade própria e muito por indução) os portugueses.

Daí em diante houve um esforço na criação de um sistema educativo. Até com uma crença, que hoje parecerá estranha, nas capacidades endógenas, cria-se no final do subdesenvolvimento em vinte anos. Um típico voluntarismo revolucionário.

Depois a guerra civil. Múltiplas causas. E um dos efeitos será o da destruição do sistema educativo entretanto criado. Pela guerra, pela deslocação de populações. Mas também pelo facto de que o professor rural, tal como o enfermeiro, era o símbolo do Estado, o funcionário do Estado no mundo rural. Donde o primeiro alvo.

Após a paz de 1992 retoma-se a construção de um sistema de educação generalizado. Julgo que cerca de 1997 a cobertura estava já ao nível de 1983, quando os efeitos da guerra começaram a implicar a sua retracção. Tem continuado a crescer, ainda que com enormes lacunas. Na segunda metade de 90 criaram-se 7 Institutos do Magistério Primário, procurando aumentar número e qualificações dos professores. Alarga-se a formação de professores do ensino secundário ao centro e norte. Etc, etc.

Também o ensino superior foi crescendo em número, sendo descentralizado. Crescem as universidades privadas, que contam com apoios indirectos do Estado. Em suma, há uma verdadeira aposta na educação. Digo-o consciente do gigantesco deficit que o sistema de educação moçambicano tem. Mas esse deficit não pode ser considerado uma não-aposta. Deve é ser considerada uma aposta realizada a partir de condições muito frágeis, muito incipientes. E num país com muito poucos recursos, e muito dependente nesta matéria da ajuda externa. E nessa condição ser uma política passível de críticas. Mas isso são contas de outro rosário, não aqui, não meu.

Ou seja, a base do raciocínio de JM, a não aposta na educação porque há baixa taxa de escolaridade é totalmente falsa.

E atenção, seguindo-lhe a metodologia de raciocínio. Se um exemplo de JM serve para provar a sua tese, será que afirmar-lhe a inexactidão empírica é suficiente para a infirmar?

2. A economia cresce 10%, é fantástico. Mas as estatísticas são muito falíveis, os sistemas de recolha de informação são muito frágeis, como em grande parte da África subsahariana. É voz corrente, ainda, que as estatísticas moçambicanas foram durante anos a fio subavaliadas, no sentido de garantirem posições privilegiadas na recepção de ajuda internacional. Mais, aquilo que é economia "formal" e "informal" e suas interrelações é muito fluído, no ano-a-ano. Portanto é possível relativizar o tal crescimento. [E isto não nos poderá surpreender, sabendo o local estratégico que o INE português constitui].

Mas mais importante, este crescimento económico assenta em alguns, e muito poucos projectos. A instalação de uma fábrica de alumínio em Maputo, a Mozal, implicou um crescimento macroecómico na ordem daquilo que JM fala, e o seu desenvolvimento continua a influenciar os agregados macroeconómicos. O reestabelecimento da produção de Cahora-Bassa (aliás associado ao funcionalmento da Mozal) inflaccionou estes números. Há, aceite-se, uma lenta melhoria económica do país (notícia de agora, a produção de açúcar a níveis do tempo colonial). Mas os números não são assim tão mágicos, reflectem o impacto de poucas unidades de capital estrangeiro (e exportável, atenção) numa economia praticamente desindustrializada. Não estou a criticar o modelo, estou a constatar.

Ou seja, falar de um grande crescimento económico deverá acompanhar duas questões. Sobre a natureza dos números, o seu efectivo fundamento. E, acima de tudo, sobre o seu impacto social. Quando falo de "social" não estou a falar de redistribuição, pobrezinhos e etc. Estou a falar do seu impacto na sociedade, e nas suas modalidades de reprodução.

Ou seja, o segundo termo da equação de JM é muito discutível [eu não sou economista, não posso mergulhar nesta contra-argumentação com tanto arreganho como no ponto anterior]. Se um exemplo de JM serve para provar a sua tese, então afirmar-lhe um exemplo discutível servirá para lhe provar o contrário?

3. A articulação entre educação e crescimento tem aqui um exemplo interessante. Já aqui falei da Mozal, fábrica de alumínio de aparência sul-africana, bandeira australiana, capital da Mitsubishi, mas verdadeira sede alemã. O seu impacto na economia (os tais números) do país foi gigantesco. É uma unidade fabril moderna, ao que parece de ponta - um colega meu, o excelente Paulo Granjo do ICS está a trabalhar sobre ela, e muito mais poderia dizer do que eu. Mas aqui o que será interessante é notar que para uma fábrica de ponta, com processos tecnológicos e organizativos radicalmente novos no país (e salários elevados para este mercado) foram recrutados operários com ensino secundário e licenciaturas - eu próprio tive um aluno de ciências jurídicas que lá é operário. Porque essa escolarização era preferencial para a selecção de futuros operários a trabalharem com metodologias inovadoras no país.
4. Entenda-se, esta minha argumentação, que espero não parecer panegírica, porque não tem essa intenção, não invalida a tese de JM. Nem a discute. Nos comentários ao meu texto o Luís Aguiar-Conraria tece considerações sobre cuidados prévios à utilização do método comparativo. Concordo no global.

É que acima de tudo interessa-me aqui ver como se afirmam verdades gerais assentes em extrapolações sobre casos individuais nada compreendidos. Isto não é um erro inibitório. Se assim fosse não poderíamos falar de algo sobre o qual não fossemos bastante conhecedores (para evitar o extremismo "especialista"). Mas o vigor deste tipo, constante, de extrapolações é uma falência do raciocínio, em última análise matriz dos dogmatismos que o Lutz ali adivinha. No fundo os mesmos processos dos velhos marxistas ortodoxos. Nem mais.

O interesse do real é ser tão complexo. Não cabe num post. Em especial quando o queremos assertivo.

(isto está um bocado mal mastigado, mas hoje terá que ficar assim, que é de madrugada já)

publicado às 00:02

Crescimento e Educação

por jpt, em 13.12.04
João Miranda acaba de colocar um texto no Blasfémias utilizando Moçambique como exemplo de uma tese.

1. Há alguns dias que tenho grandes dificuldades em comentar no sistema blogspot, recebo negativas mal-criadas deste teor: "Open proxy detected. Comment posting disabled. If you think you have received this message in error, please contact the webmaster." Como o Blasfémias tem um ritmo trepidante de colocações julgo que quando conseguir meter algo por lá o texto em causa já estará no limbo do pé de ecrã. Daí que o aborde aqui. Reza assim:

"Moçambique tem das mais baixas taxas de escolaridade do mundo.

Moçambique tem das mais altas taxas de crescimento económico do mundo (na casa dos 10% ao longo dos últimos anos).

Conclusão: os países não ficam ricos porque apostam na educação. Os países apostam na educação quando ficam ricos."

2. Para mim JM é um caso complicado na blogosfera portuguesa. Lendo-o há meses, desde os tempos do seu blog individual, confesso que ainda não o percebi. Bloguista talentoso é-o, verve e acutilância, síntese e provocação. Mas é a sério ou é a brincar? A sociobiologia light, os simplismos sobre o liberalismo, as analogias históricas, tudo isto é assim mesmo ou são só carolos para "abrir cabeças", pedradas na pasmaceira? Confesso-me confuso, medíocre intérprete. Mas custa-me crer num projecto a tão longo prazo de ironia grosseira [leia-se "grossa"] de aparência intelectual (até porque me parece pouco eficaz quanto a "abrir cabeças"). Cada vez mais me convenço em que tudo aquilo é a sério. Se calhar este meu pendor para uma versão "séria" está influenciada pelo actual (e sério) relativo mal-estar de alguns membros do Blasfémias, o qual espero seja em breve ultrapassado. Que aquele postar contínuo já faz parte da blogoespreitadela quotidiana.

3. Isto não é uma questão pessoal, eu leio JM porque gosto de o ler. Se não gostasse ia à minha vida, lia outras coisas, não se justificaria andar para aqui a escrever sobre tudo isto.

Mas tem a ver com o que acho disto tudo, do bloguismo. Há bloguistas que se levam a sério, alguns exageradamente a sério. Outros surgem ligeiros, outros irónicos e, o supra-sumo, auto-irónicos. Há ainda outros insuportavelmente ligeiros.

Cá em casa mora um que tem dias de insuportável auto-convencimento, preocupado com os males do mundo (mais do seu país) e convicto de que a sua palavra vale de algo, heurístico curandeiro. Soberba diria, se católico. Mera estupidez diz, quando mais bem-dormido. Mas entendendo eu um blog como um diário também lhe aceito as variações do humor, e que cada um tem o direito de se achar importante ou desimportante, útil ou inútil, clarividente ou tralalá. E de mudar de ideias ao longo do(s) dia(s).

4. Regresso a JM, porque ilustre blogard. E ao seu post de hoje. Da síntese sobre Moçambique retira uma tese (oops, dialéctica, os alemães, os alemães...): o investimento na educação é exógeno ao crescimento económico.

Ora veja-se, a síntese não vale um caracol. É errada nos seus termos. Absolutos. E relativos (não, não é o temido relativismo, é contextualização, história - e atenção, contextualizar com a história não é historicismo).

[Agora vou à clínica com a miúda, lá para a madrugada continuarei]
[Lamento, fica para logo de manhã]

publicado às 18:06

Bazaruto Goes Beverly Hills [?]

por jpt, em 07.12.04
Retirei a notícia daqui.

Bazaruto Goes Beverly Hills
Business Day (Johannesburg), November 24, 2004

Developers target the rich and famous for island residential project.

MOZAMBIQUE's Bazaruto Island will soon feature an exclusive residential development aimed at the world's rich and famous. It will be the first residential development on the island and the last, because Bazaruto is a nature reserve. Because of this the resale values of the properties will run into millions of dollars. Oprah Winfrey, Will Smith and John Travolta are among the potential buyers said to be interested in the development.

Developers Jean Reyneke and Chris Krause, directors of Bazaruto Holdings, will be launching The Palms at Bazaruto today but say it is an invitation-only launch. Reyneke says the development will comprise 24 stands ranging from 2500m' to 3500m' in size and priced from R4,5m. The buyers will then be given a list of architects and guidelines for the houses they want built, but the common theme will be "colonial maritime". 
Reyneke says the style of properties will be similar to those in Martha's Vineyard in the US and that the development is aimed at the top 10% of the market.

"We want to recreate The Hamptons in Mozambique," Reyneke says. Reyneke says there are 160 palm trees in the central communal area of the site. "It's the only part of the island where there are natural palm trees." Although the land is purchased on a 99-year lease, the owners will receive title deeds once they build their homes. "We are already doing presales. All the elite in Africa are buying plots," says Reyneke.

Some of the interested parties include African presidents, as well as businessmen from SA, the Emirates and the rest of Africa. The Palms is also being marketed in Europe and the US. "In the US we are marketing it directly to people like Oprah Winfrey, Will Smith and John Travolta. The agency I'm using in the US is the Ferrari family, who lease properties to all the A-list stars."

Reyneke says The Palms is an exclusive development because Bazaruto along with the other four islands off the Mozambican coast have been declared nature reserves and no further development will be allowed. The only other major development on Bazaruto is the five-star Indigo Bay Hotel. Reyneke says there is also easy access to the island. "There is a brand new tarred 1500m airstrip on the island which can handle corporate jets and other aircraft. The flight from Johannesburg is only two hours long ," he says.

He says there are also daily scheduled flights with South African firm Pelican Air to the island. He says most people fly to Vilanculos and then either charter a boat or travel by ferry.

***
Pois:

"We want to recreate The Hamptons in Mozambique" em "colonial maritime". apesar de "We are already doing presales. All the elite in Africa are buying plots", enfim vão ter que gramar com a vizinhança.

E já agora, aquilo é uma reserva marítima. A primeira vez que eu e a Inês fomos a Magaruque nos dois primeiros dias éramos os únicos hóspedes. Uma maravilha, natural e romântica. Mas ainda assim, tão vazio, do lado do continente havia óleo dos barcos à tona de água. Como será pós-The Hamptons? Apesar do "colonial maritime"?

publicado às 16:42


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