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Dia da mãe, politeísmo (117)

por jpt, em 04.05.14

Agora que a pirosada do dia da mãe já passou, raisparta este calendário das boas intenções ("já telefonaste à tua mãe?"), mais os bonbons e as florzecas e coisas assim ....

 

publicado às 23:25

Assinalando o 40º aniversário da Revolução que pôs fim ao Estado Novo e abriu caminho à instauração do regime democrático em Portugal, o Teatro Nacional D. Maria II tem sido palco do congresso 'A Revolução de Abril', o qual explora as condições e circunstâncias em que um golpe militar se transformou numa Revolução, e as transformações que Portugal conheceu entre Abril de 1974 e a aprovação da Constituição em 1976.

"Discute-se, a partir da categoria conceptual «revolução», o significado de vários acontecimentos, de protagonismos de actores sociais e políticos diversos, de ideias que marcaram várias dinâmicas do País naquele tempo, contemplando-se aspectos políticos, militares, legais, diplomáticos, económicos, sociais, religiosos e culturais. Examina-se também como a Revolução de Abril se inscreveu na memória coletiva dos portugueses e que representações tem merecido nas artes e na comunicação social.
Pretende-se levar ao conhecimento do público interessado as reflexões de personalidades de referência pela sua participação e análise do período da Revolução em combinação com os resultados interpretativos que se têm produzido nos últimos anos, na Universidade, sobre a evolução de Portugal, em 1974-1975, num incentivo à reflexão crítica sobre a nossa contemporaneidade."

Amanhã, dia 24 de Abril, as sessões terão em conta 'A Comunicação Social na Revolução' , 'Revolução e Religiões' e 'Autonomias e Poder local'.

De salientar as sessões dos passados dias 22 e 23 de Abril onde temas como 'Revolução e Violência', 'Descolonização e Relações Externas', 'Cultura, Educação e Ciência' e 'Estado e Grupos de Interesse' foram abordados de forma pertinente e eficaz.

 

25 de ABRIL SEMPRE!

 

VA

publicado às 00:38
modificado por jpt a 11/7/14 às 04:54

Sobre o Ruanda

por jpt, em 08.04.14

 

 

Sou amigo do Fernando Florêncio há vinte e cinco anos, desde o final da nossa licenciatura. Depois partilhámos algumas andanças. Se há defeito que tem é a qualidade da discrição. E tanto a noto agora, quando tantos efemeridam os vinte anos exactos da macro-desgraça do Ruanda. Pois neste mundo em que agora quase todos nos "montramos", até info-histriónicos, imagino-o a encolher os ombros, lá pela lusa Atenas. Não é pose, o homem é mesmo assim.

 

Mas ele que me desculpe, finto-lhe a maneira. Logo a seguir ao mais escatológico dos momentos da nossa vida o FF passou dois anos no meio do vulcão. Entre 1994 e 1996 esteve no Ruanda, mergulhado num trabalho duríssimo, e cheio de responsabilidades. Daqueles que magoam. Tanto que não há analogias ou imaginação que nos possam fazer compreender. Voltou de lá sem pinga daquele "olhem para mim aqui", aquele másculo oco de tantos tipos "de terreno" que a gente vai vendo por aí.

 

Não há, com toda a certeza, em Portugal (e em português) quem tenha podido abordar a situação com a sua densidade. Por isso mesmo deixo aqui ligação para um texto que publicou na revista Cadernos de Estudos Africanos, uma reflexão mesclando uma visão histórico-antropológica com a vasta e intensíssima experiência que ali teve: "Uma História de Violência Sobre as Brumas des Virunga. Morte e Poder no Ruanda". Vinte páginas para compreender aquela desgraça e seu contexto abrangente.

publicado às 08:46

Acordo com o som de uma mensagem a entrar no telemóvel pelas 6h45 do dia 7 de Abril de 2010.

O dia já amanheceu, o ar está húmido, quente, o céu nublado. Prevê-se que a forte chuvada da noite anterior continue a fazer-se sentir em Maputo.

Hoje comemora-se o Dia da Mulher Moçambicana e a mensagem no meu telemóvel diz que tenho de estar pronta às 8h00 para ser transportada para a Cadeia Feminina de Ndlavela, situada nos arredores da cidade.

Devolvo a mensagem e combino o transporte. Avisam-me que vai ser uma aventura uma vez que as chuvas da noite anterior inundaram as estradas de terra batida que dão acesso ao estabelecimento prisional, que não sabem se vamos conseguir passar sem um todo-o-terreno e que H. me irá buscar à porta de casa.

Às 8h03 H. está à minha espera juntamente com A. Não os conheço, mas a conversa flui divertida e sem formalismos. Antes de entrar na EN2 rumo à Matola, passamos pelo bairro de Mafalala, pelo mercado de Xipamanine e paramos junto a uma zona fabril, onde um veículo protocolar se junta à nossa pequena comitiva.

Seguimos para ao bairro de Ndlavela, no município da Matola. A viagem assemelhou-se à 'travessia do Rio Zambeze‘ e ainda hoje não consigo compreender como é que o automóvel onde me encontrava conseguiu passar as poças com três metros de diâmetro e meio metro de profundidade que circundavam a única estrada de possível acesso à cadeia. Observei a construção das casas em tijolo de cimento delimitadas por organizadas sebes de caniço, as pessoas que circulavam por todo o lado, as 'barracas de caniço' que abriam as portas aos primeiros clientes, os caminhos impraticáveis, os risos e os olhares incrédulos perante a nossa passagem. De repente, no meio do bairro, abriram-se os enormes portões da Cadeia Feminina de Ndlavela.

Depois de algumas formalidades de entrada, dirigimo-nos ao recinto onde iriam decorrer as comemorações. Lucrécia Paco encontrava-se a ultimar a montagem do espaço cénico onde iria decorrer o espectáculo e dava indicações aos técnicos municipais contratados para o efeito. De imediato agradeci-lhe o facto de ter conseguido transporte para que fosse possível assistir ao seu espectáculo em dia tão especial.

'Mulher Asfalto' estava a algumas horas de se apresentar às reclusas da cadeia de Ndlavela no Dia da Mulher Moçambicana. Preparámo-nos para ouvir os discursos oficiais sobre a efeméride e assistir a um jogo de futebol feminino.

Distraída com os gritos de incentivo das claques, constituídas maioritariamente por familiares e funcionários, lembro-me de ter pensado nos fundamentos ideológicos que levaram a nação moçambicana pós-independência a consagrar um dia feriado à mulher moçambicana. A ocasião comemora também o dia da morte de Josina Machel que, no final dos anos 1960, se juntou à luta armada da FRELIMO pela independência de Moçambique.

Se o discurso oficial do governo moçambicano vai no sentido de se pensar paritariamente o lugar da mulher na sociedade moçambicana, por outro lado, essa paridade não é sentida na vivência quotidiana.

São justamente as sistemáticas situações de exclusão, nomeadamente pelo género, que os agentes culturais consideram importante denunciar.

'Mulher Asfalto' com encenação e interpretação de Lucrécia Paco é a perfeita ilustração dessa atitude.

 

(excerto da tese 'Moçambique em Cena: Nação, Género e Modenidade no Teatro (Maputo 1992-2010)" de Vera Azevedo; foto da actriz Lucrécia Paco no espectáculo "Mulher Asfalto" versão de 2014)   

 

VA

 

 

publicado às 14:41

 

A actriz protagonista. E o anúncio do filme em questão:

 

 

 

Ao longo do ma-schamba bem tenho resmungado contra esta piroseira do calendário laico, que a cada dia de santo católico (mais ou menos mágico, mais ou menos antepassado local) - essas superstições das brumas de antanho que vão sendo acarinhadas pela plutocracia apostólica romana - quer substituir por uma santa causa. "Ele" é o dia contra o cancro, contra a gasolina, contra o não-sei-quê. E, às vezes, a favor disto ou daquilo. São os santinhos pós-modernos, é o que é.

 

Mas que sirvam para alguma coisa. Para pensar. Hoje vem-me este "Volver" ("Voltar"), um filme fascista do espanhol Almodovar, um cómico que teve sucesso nas últimas décadas de XX, navegando a "movida" de Tierno Galvan e as olimpíadas de 1992. E muito dado à afirmação das mulheres, construtor, gabam-no, de grandes personagens femininas. A lembrar no dia que querem internacional das mulheres.

 

Este "Volver" foi o último filme dele que vi. Como nos seus anteriores fui lá à procura de um sorriso mais continuado, um pouco de boa disposição, ainda que a verve do cineasta se tenha vindo a esgarçar. Saí irado, enjoado tamanha a repugnância. Sim, tem Penelope Cruz, actriz que faz vacilar os mais arreigados valores. E com ela, as outras boas actrizes (a corte do cineasta) e Almodovar ele mesmo, pelo que todos aplaudem.

 

Não vou resumir a historieta, uma quase-saga familiar, centrada num conjunto de mulheres com garra e esguias na acção, cativantes, industriosas, combativas. Personagens para cativar, seguir, acarinhar. Há quatro homens no filme, todos trastes ou a modos que isso. Dois secundaríssimos, um assistente de produção cinematográfica, que ensaia a sua posição para uma deslambida sedução; um pobre dono de restaurante, meio-falido e notoriamente incompetente, sobre o qual se deixa a névoa de um suave assédio com base na sua posição de patrão. E dois relevantes: o marido de personagem de Penelope Cruz (sobre a qual tentam agir os anteriores, claro), um verme ébrio, mandrião, futeboleiro, que tenta violar a sua filha (não-biológica) púbere. E o pai de Penélope Cruz, com fortes tendências polígamas. Estes dois são assassinados, um involuntariamente, o outro, o pobre pai "infiel", queimado vivo pela pérfida ciumenta mulher.

 

O filme é a sorridente consagração destes assassinatos, o elogio das mulheres rijas, belas, activas e autónomas, que matam os homens. Lhes congelam os cadáveres. Queimam os corpos. O povo ri-se, paraboliza a tralha. Almodovariza-se, claro, que ainda é chic.

 

Lembro-me que então saí do cinema como "homem à beira de um ataque de nervos". Fosse este o registo elogioso numa cobóiada a tratar assim os índios, num filme israelita a tratar assim os árabes ou vice-versa, um stallone a esmagar tardo-vietcongues ou neo-aladinos, um anacrónico grupo de "maquisards" a esventrar alemães na Bretanha ou sei mais lá o quê, e a gente resmungaria sobre o tom. Assim não. Gosta-se, o contrário "fica mal". Resmunguei, disseram que era um exagerado, que via coisas, ideologias, onde elas não existem.

 

Passados anos, há algumas semanas, fui a Nampula. Fiquei numa agradável pensão, a "Ruby". Onde às quintas-feiras se organiza um "walk-in", no pequeno jardim há cinema.  Regressei de Angoche numa quinta, por lá me realojei. Havia cinema, umas dezenas de espectadores. O filme era o "Volver". Sorri, e lá fiquei a esconder a febre com uns whiskies e a olhar a Penelope Cruz. No final as senhoras presentes passaram os pequenos filmes, alusivos ao dia que era - e que eu desconhecia. Era o dia do "One Billion Rising", contra a violência masculina.

 

Um filme de causa, ali confirmei, uns passados anos. Em Nampula, imagine-se. Que não  é, exactamente, o mais cosmopolita dos locais.

 

Causa justa, dizem. "Gender", anglicizam. Queimem os infiéis, ululam. 

 

É o dia internacional destas mulheres? Hoje, 8 de  Março, é o dia de São João de Deus. Antes ele, antes essa superstição, que estas derivas fascistas das "boas causas".

publicado às 17:03

A todos um bom Natal

por jpt, em 24.12.12

 

Aqui ficam os votos de um Natal em Paz para todos e mais alguns.

 

mvf

publicado às 00:26

O mestre do suspense ...

por jpt, em 13.08.11

 ... faria hoje 122 anos.

 

 

Drama is life with the dull bits cut out.

 

 

AL

publicado às 13:25

Museu e memória

por jpt, em 18.07.11

 

Visitei o Museu de Robben Island em 1997, tinha ele aberto há pouco tempo. Havia ainda muito poucos a fazê-lo e naquele dia meio cinzento e de mar picado convenhamos que a travessia não era a mais convidativa; éramos um grupo de cerca de 10 pessoas. Fomos recebidos no cais por um ex-prisioneiro que nos fez o tour da prisão-museu. Talvez por causa do dia ventoso e meio cinzento, talvez por sermos poucos os visitantes, talvez também porque o local a tal convidava, o ambiente tornou-se introspectivo e o nosso guia guiou-nos pela calçada da sua memória. Deambulámos vagarosamente pelos corredores, pátios, salas e celas enquanto ele, quase num transe, ia entrelaçando as suas vivências no espaço que percorríamos e nas vidas que por lá passaram. Abalados pelo local e sob o peso da sua catarse, nós, os visitantes, seguíamo-lo em silêncio. Acabámos sentados nos bancos corridos de uma das salas adjacentes aos balneários enquanto ele acabava a sua história: Depois de tantos anos aqui dentro não consegui viver lá fora... A chegada do ferry que nos ia levar de volta despertou-nos do feitiço em que nos encontrávamos. Ele limpou as lágrimas, apertou a mão a cada um de nós e desapareceu por uma porta. Nós seguimos para o ferry, num silêncio que só foi quebrado por sussurros quase à chegada a Capetown.Celebramos hoje o aniversário de Mandela. Disseram-me um dia que falar dele é como falar do 25 de Abril ou do 11 de Setembro; todos parecemos ter uma memória pessoal a ele associada. A minha é esta.

 

AL

publicado às 01:34

36 anos

por jpt, em 25.06.11

 

Assisti uma vez ao arriar da bandeira portuguesa para dar lugar à bandeira de uma nação que nascia. Foi em Timor Leste, em 20 Maio de 2002 e a emoção da cerimónia perdura ainda em mim. Arriou-se a nossa bandeira como um antepassado que parte, deixando a outros o seu legado. Lá longe e estrangeira, invadiu-me uma doce nostalgia por este país – o meu – tão pequeno e tão mal amado. Tocou o nosso hino e, também eu, sim, num nacionalismo bacoco, verti uma lágrima, indiferente ao belicismo da letra. Mas ver hastear a bandeira de uma nação que naquele momento (formalmente) nascia comoveu-me ainda mais, numa enorme alegria de esperança e num sentido de renascer difícil de articular. Multiplicou-se então a minha lágrima em mil.Era ainda miúda quando Moçambique celebrou a sua independência, mas hoje ao ver estas imagens sinto exactamente o que senti em Dili naquele dia de Maio e marejam-me os olhos com igual emoção. Historicamente unidos, soberanamente diferentes e pares em igualdade. Finalmente!

 

AL

publicado às 11:35

Camões em discurso directo

por jpt, em 10.06.11

Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo

Jurando de não Mais em Outra Ver-me

 

Como quando do mar tempestuoso 
O marinheiro todo trabalhado, 
De um naufrágio cruel saindo a nado, 
Só de ouvir falar nele está medroso; 

Firme jura que o vê-lo bonançoso 
Do seu lar o não tire sossegado; 
Mas esquecido já do horror passado, 
Dele a fiar se torna cobiçoso; 

Assi, Senhora, eu que da tormenta 
De vossa vista fujo, por salvar-me, 
Jurando de não mais em outra ver-me; 

Com a alma que de vós nunca se ausenta, 
Me torno, por cobiça de ganhar-me, 
Onde estive tão perto de perder-me. 

 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

 

AL

publicado às 23:49


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