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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Interessante texto no Machina Speculatrix: ali se refere a iniciativa a presidente da A.R. portuguesa, Assunção Esteves, de propor aos membros da CPLP o programa “Programa Pessoa CPLP”, de mobilidade de estudantes do ensino superior e profissional similar ao "Erasmus" na União Europeia.
Porfírio Silva (o autor do blog) saúda a iniciativa de Esteves e a sua abertura às ideias da oposição pois, recorda, esta é uma proposta da nova direcção do Partido Socialista (a qual julgo que ele integra) inscrita no seu documento programático "Agenda para a Década", inclusive com o realce de um capítulo "Valorizar o Espaço Lusófono" e que cita no postal que aqui ligo. Independentemente da paternidade da proposta - questão política que Porfírio Silva aflora -, muito saúdo esta convergência sobre a matéria, a qual muito me interessa, até profissionalmente.
Entretanto, e porque o próprio postal em causa convoca explicitamente à reflexão dos leitores sobre o assunto, lembrei-me de um postal no ma-schamba: "Intercâmbio universitário em espaço lusófono". Está datado de 15 de Junho de 2004: refere a assinatura entre os ministro da educação/ensino superior da CPLP de um protocolo para a criação em dez anos de um espaço lusófono comum de ensino superior, para "promover a mobilidade de estudantes, professores, investigadores e técnicos".
Então, nesse postal, elaborei algumas ideias sobre a matéria. E transcrevi a notícia do "Público" com os desígnios do membro do governo português. Foi há onze anos. 11 anos! - e seria interessante saber o que se fez entretanto. Algo?
Agora os grandes partidos portugueses propõem o mesmo. E discute-se a paternidade da ideia "actual" ...
Até daqui a uma década.
Hoje é o dia do professor moçambicano. Por isso mesmo, para os meus colegas, agora distantes, que se possam interessar aqui deixo um programa televisivo holandês (legendado em português), algo sumptuoso: "O Belo e a Consolação", 23 entrevistas feitas a grandes mestres, provenientes de várias áreas da reflexão. Todos ali a distribuirem material para que possamos pensar. No último episódio um debate alargado, precioso. Espero que os que aqui passem se agradem com esta partillha:
[Debate Final]
Gabriel Mithá Ribeiro é um investigador que tem basta obra sobre o período colonial português, particularmente em Moçambique. E tem também publicado sobre a situação do ensino em Portugal, assente na sua longa experiência de docente do ensino secundário, realçando-se o seu livro relativamente recente "O Ensino da História". Se face ao seu olhar dedicado ao regime colonial tenho grande distância já sobre as suas ideias relativas ao sistema de ensino tal não acontece, ainda que salvaguarde não ter experiência do mesmo, o meu é um "olhar de fora" (ou, melhor dizendo, um "olhar de pai").
Sobre esta matéria acaba de publicar um texto, porventura inserido na discussão actual em Portugal sobre os processos de contratação de professores. Impõe-se citá-lo, ainda que recomende a leitura do texto completo (bastará pressionar a ligação inclusa na citação):
Independentemente da comparação com a situação moçambicana ser um bocado forçada (Moçambique é realmente um dos países mais pobres do mundo e a situação do panorama escolar é ... descendente, por mais que seja impopular dizê-lo), é forçoso atentar nesta opinião. Muito provavelmente por uma mescla de questões culturais (a cosmologia dominante no sector educativo) e por questões corporativas (a capacidade de exigências da corporação docente) continua-se a evitar enfrentar esta questão crucial, que vive na escola (a confusão nas salas de aulas) e alimenta a vida social. E não se olha a isso pelas tais razões que habitam os sectores sociais mais ligados ao ensino mas também por um "trauma" colectivo, pois quando se fala na necessidade de "autoridade" e de "disciplina" logo se chocam os arautos desse pobre "individualismo" actual (o mosto do pós-marxismo), que nessa trapalhada ideológica se julgam de "esquerda", agitando "salazares" e "fáxismos".
Culmino com uma pequena e muito recente empiria. A minha filha transitou para uma escola internacional na Bélgica, milhares de alunos de dezenas de países europeus. O esquema curricular do seu 8º ano é simples, similar para todas as múltiplas línguas ali presentes: uma turma de portugueses, que têm algumas disciplinas centrais (português, matemática) leccionadas em português; outras disciplinas são ensinadas em inglês e em francês, sendo que nestas as turmas são misturadas, ocasionando verdadeiras "sociedades de nações" no seio de cada uma delas.
Ora no final de um dos primeiros dias regressou a casa narrando um episódio. Que considerou significante, mas não a surpreendeu, vinda de uma escola portuguesa. Pois os alunos aqui escolhem os seus lugares nas salas de aula e, assim, os seus companheiros de carteira. Mas os professores anglófonos e francófonos abrem uma excepção nessa gestão, impedem - sem acinte, nem atitudes persecutórias - que os alunos portugueses se sentem juntos. Porque, e explicitam, o comportamento dos portugueses na sala de aulas destoa do assumido pelos alunos das restantes (28, pelo menos) nacionalidades.
É só um pequeno episódio, claro. Não significa nada, claro. E os outros são da pérfida Europa, claro. Etc. e tal. E este bloguista é um reaccionário, de "direita", um "fáxista" até. Pois o que não cabe no pacote das reclamações sindicais e no can-can hedonista nunca presta, como é óbvio.
Nos inícios dos anos 80 lá entrei na universidade. Um bocado enganado inscrevi-me na faculdade de direito, na dita "clássica" de Lisboa. No primeiro dia lá fui de autocarro para a alameda universitária, acompanhado do meu grande amigo Tiago Faden, também ele nos mesmos propósitos, inaugurávamos a "carreira universitária". Aproximados do calhamaço Estado Novo que albergava a temida faculdade, célebre pela sapiência, intransigência e extremo rigor dos seus doutores residentes, avistámos uma turba ululante na entrada. Era a recepção ao caloiro, não custou a perceber, até porque a esperávamos. Aquilo consistia no seguinte: a frontaria estava quase encerrada, apenas uma porta central permitia entrada no locus do (futuro) saber, a qual estava barrada por uma mesa. Cada ignaro recém-chegado àquele bordel tinha que subir à mesa, ser apupado, dela descer, e percorrer o enorme átrio entre duas alas festivas de "veteranos", talvez centenas deles, percurso no qual, consoante o acaso, lhe era cortado algum cabelo, esfregados vários produtos comestíveis ou emprestados alguns calduços (na crença que ele os devolveria nos anos posteriores a outros intelectualmente imberbes). Entenda-se, nada de mesmo grave, nada de particularmente acintoso nem violento. O que custava mesmo era o ar alvar dos festivos praxadores, futuros (actuais) juizes, advogados, notários, políticos e até senhores professores doutores, do nossa amada pátria.
Nós vínhamos dos Olivais, e nessa altura isso significava algo. Ao ver aquele tralha nem sequer resmungámos um "nem pensar". Eu botei logo um "caralho, filhasdaputa" (o Tiago não, que sempre foi muito mais educado do que eu) e dirigimo-nos à porta lateral da frontaria, dizendo para a abrirem, arvorando o ar olivalense que aquela corja terá confundido com o ar mais quartanista que imaginavam, vindos eles das berças ou pseudo-betos dos arrabaldes lisboetas, pois, deixemo-nos de merdas, muito daquela tralha é mero arrivismo. Entrámos sem mais, e pronto, fomos até ao fundo para olhar, naquele primeiro dia, a perfeita demonstração da miséria humana. [O MVF, que eu ainda não conhecia, lembra-me que também entrou no mesmo dia, e também, claro, deu ordem de sentido ao palhaço praxador que lhe coube em rifa].
Por lá aguentei o tempo que consegui e poucas memórias guardo daquela faculdade: o cheiro a mijo, entranhado, no piso inferior; a arrogância docente e o temor discente; o sebentismo. E o grupo dos académicos, das vestes negras, urubus e urubuas, passeando-se bamboleantes em grupo pelos corredores, em torno de um tipo que falava bem, com algum carisma e com uma cagança enorme (veio a transformar-se em diplomata, disseram-me décadas depois), encantando as suas sequazes, pirosas nos seus sapatos bicudos pretos, de salto alto, que sempre me lembravam barcos rabelos. Era, naquela época, ainda pós-Abril, o início do regresso do lixo académico, as tunas e praxes, a "identidade" estudantil. Um mês e meio passado lá me safei daquilo e fui para o ISCTE onde, naquele tempo, nem pensar em ver gente que estudava sociologia ou antropologia meter-se em tais tarefas, nem grupelhos nem vestes. Seria um paradoxo, intelectual, na altura letal. Não sei como será hoje.
Ficou-me, desse primeiro dia, um enorme desprezo. Pela tralha de distinção sociológica, isso de alguém ser "integrado" na escola, isso de se necessitar de um "rito" qualquer para estudar. Depois, para além disso, há práticas mais nojentas ou violentas e há as mais cândidas. Nenhuma se justifica.
A propósito da desgraça acontecida no Meco, tantos mortos, fala-se muito em Portugal sobre o assunto. Leio, entre jornais e redes sociais, e até gente do governo, a fogueira pronta para o puto sobrevivente. É sempre necessário um bode expiatório. Conviria lembrar que era um grupo dito de comissão de praxes, todos voluntários (e, aparentemente, responsáveis das festividades), e que não estavam ali nem forçados nem rodeados de uma multidão pressionante. Ser responsável pelas praxes apouca alguém? Essa tralha de "dux" é miseranda? Sim. Mas, caramba, aquela desgraça resultou da imprudência, ingenuidade, até imbecilidade. De um "dux", e dos seus sequazes. E, acima de tudo, de um enorme, dolorosíssimo, malfadado, azar. Apague-se a fogueira. Para drama basta o acontecido ...
As praxes? Alguns dizem que não deverão ser proibidas, pois isso não as terminará. Pois é um bom argumento. Mas também se poderá contra-argumentar que o assassinato, a fraude bancária, a condução sem licença, o comércio de heroína e alguns outros fenómenos também decorrem, apesar de ilegalizados. Proíbam-se as praxes, expulsem-se todos (todos) os futuros prevaricadores do ensino português (público e privado). Ensine-se alguma sociologia aos miúdos, e explique-se-lhes o que é isso de "casta". Elas fenecerão.
E deixemo-nos de imolar bodes expiatórios. Úteis, apenas, para que tudo continue na mesma.
- "Balada da Emigração: para o meu pai", no Domadora de Camalães
- Um excelente texto: "Cinco mitos em torno das praxes", no A Terceira Noite.
- Idem: "A abjecção das praxes", de José Pacheco Pereira no "Público".
- "O tempura, o mores", de Rui Rocha no Delito de Opinião, é uma verdadeira delícia.
- Sobre a trapalhada do AO90 fica "O acordo ortográfico que veio simplificar a escrita", de Luís Aguiar-Conraria no A Destreza das Dúvidas.
Um amigo envia-me por email o teste que os professores portugueses tiveram que fazer. Processo que não acompanhei, é por esta sua mensagem que percebo que a prova ocorreu. Não tenho acompanhado a matéria, não tenho opinião formada sobre a necessidade ou oportunidade desta prova. Mas fico curioso e vou ler o enunciado da prova, para ver o que o Ministério da Educação da república questiona aos seus professores para os avaliar.
Começa tudo por um trecho de Nuno Bragança (boa ...) seguido por pertinentes perguntas, tipo qual o significado de "negreiros"? Depois uma questão daquelas antigas de uma torneira pinga x gotas por minuto e em cada gota vão Y mililitros, quanto tempo levará a encher uma tina (uma quê?") de não sei quantos centímetros cúbicos?
Aproximo-me do importante terceiro item: "Quantos livros leu a Sílvia"? perguntam.
Desisto. Só podem estar a gozar ...
Gabriel Mithá Ribeiro, um homem com ventrículo de cá, tem um novo livro, este "Ensino da História", a publicar pelo Pingo Doce. Asssim sendo o livro não precisa de publicidade, pois será vendido nas "grandes superfícies". Mas será decerto interessante assistir ao seu lançamento, em que o autor debaterá com Rui Ramos, e com todos os interessados que comparecerem. A sessão decorrerá no dia 30 de Novembro às 19h, nos armazéns "El Corte Inglés" de Lisboa, 7º piso.
jpt
É minha ideia, talvez algo "poluída" pela amizade, que o arquitecto Mário do Rosário é o mais sábio dos meus conhecimentos em Moçambique. Profundo conhecedor do país, que calcorreia há décadas, abrangendo-o com um olhar de arquitecto atento às dimensões sociais que é muito raro numa profissão internacionalmente encantada com a réplica das urbes, endo-centrada e onde a religião actual é o culto do menir (falo) de vidro. Mário do Rosário é também o coordenador do curso de Arquitectura no ISCTEM, o segundo curso do país nessa disciplina, o que me permite ter esperança que nos próximos anos despertarão em Moçambique alguns (nunca serão mais que alguns ...) arquitectos menos como eles costumam ser.
Amanhã o Mário do Rosário falará no Porto, na Faculdade de Letras. Aconselho quem lhe esteja próximo a que interrompa a respectiva agenda e vá ouvir este humanista.
Aqui fica uma breve sinopse. Que é, acima de tudo, uma complexa agenda de reflexão:
Repensar Arquitectura em Moçambique e na região: desafios e oportunidades na necesssidade de sobrevivência e de crescimento humano, económico e sociocultural; procurar os contornos de uma identidade cultural, feita de cruzamento de culturas facilitadas pelo Índico, tendo em conta os intercâmbios culturais, o colonialismo, o imperialismo moderno.
Reflectir sobre o periodo pós-guerras, sob uma Paz regional e de empobrecimento crescente, tendo em conta as assimetrias de eixos de exploração de recursos naturais espartilhando o território em áreas isoladas longe dos benefícios do dito desenvolvimento – a nova ordem urbana regional, num contexto de vivência da Natureza, ao sabor das suas mudanças, e sem perspectiva de industrialização.
Neste contexto que relação homem x materiais naturais x espaços construídos na Natureza? Que estrutura urbana? Gerida pela Cidadania ou pelos eixos de exploração do Capital? Que visão para o futuro espaço africano? Afirmação moderna da sua própria Cultura ou submissão aos cânones despersonalizantes do mundo ocidental?
jpt
Repito a colocação da animação e junto-lhe uma sessão. "Criatividade é tão importante como a literacia". Vale sempre ouvir Ken Robinson. Ainda para mais tem um sentido de humor fantástico (deliciosamente certo quando aborda essa "forma de vida", os "professores universitários, por exemplo).
Ken Robinson no youtube, com muita informação e filmes. Subscrevendo o canal fica-se a receber novidades.jptEm meados dos anos 90s trabalhei na "Comissão dos Descobrimentos". Foi um período breve numa belíssima casa, cheia de gente super-competente, entusiasta. E uma equipa muito jovem, àvida de fazer e de induzir realizações. Entrei quando António Hespanha substituíu Vasco Graça Moura como comissário da CNCDP. Essa bela equipa já lá estava, na maioria continuou, e foi reforçada com alguns quadros. E foi um privilégio conhecê-los. E aprender.
Foi também nessa altura que conheci "o Hespanha", como a gente o chamava, como tantas vezes ele induzia, académico de grande porte nada dado aos tiques cardinalícios, tão recorrentes na corporação, e que tanto apoucam tantos graduados. Vinha célebre entre os historiadores, pelo seu rigor e excelência. Pelo que então vi, enquanto estive na "Comissão" e depois, já em Maputo, com ela articulando acções, e até o recebendo em quasi-épicas viagens, "o Hespanha" foi então um homem com uma brilhante concepção dos conteúdos daquele ciclo comemorativo nacional, nisso se demonstrando um intelectual de mão-cheia. E, coisa tão importante, um tipo muito decente. Raro, até porque isto da excelência e da decência nem sempre convivem.
Agora leio que o dispensaram da Universidade Autónoma por, muito pacificamente, ter dito sobre o ensino superior privado português um conjunto de ideias que são generalizadamente comungadas. Como ele próprio diz no seu blog: Conversas: "Esta opinião é, de resto, favorável à real autonomia e a um desenvolvimento correto e sustentado das universidades privadas, como hoje está patente, pela positiva – veja-se o caso da Universidade Católica - e pela negativa."
Uma vergonha. Que arrasta pela lama a tal Universidade Autónoma. Mas que mostra bem o ambiente fedorento da "gasta pátria". (Sim, sei que vai gente aparecer a resmungar contra o homem, a dizer que é ou foi comunista, que isto-e-aquilo, que "morde na mão que o alimenta" - estou mesmo a ver essa -, que etc. e tal. Trastes assim a sublinharem, como se fosse preciso, o tal fedor).
jpt
Como vem aí o início do ano lectivo (calendário do hemisfério norte) lembrei-me desta questão e, hoje à noite na esplanada, estive a despejar sobre o assunto. Por isso aqui recoloco o texto que meti em Setembro de 2010, que se mantém completamente actual.
[Rua das escolas internacionais, 8 de Setembro 2010, 12 horas. O único carro que intenta deslocar-se é o branco que vem em direcção ao fotógrafo. Os outros estacionaram. Um dia como os outros.]
Ali à Costa do Sol é a rua das escolas estrangeiras, numa sequência a portuguesa, a francesa, a americana. Maior a portuguesa. E peculiar, uma outra cultura. Comum, ainda que não universal é transversal "sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra razão", como reza a tal Declaração de Direitos. Tem ritos essa cultura, como se obrigatórios. Matronas portuguesas, mais ou menos recém-chegadas, respeitáveis donas nacionais, entenda-se originárias, mais ou menos provectas membras da "comunidade" indo-descendente, é vê-las chegar depositando ou levantando rebentos. Iguaizinhas aos respectivos maridos, aquando nos mesmos propósitos. É parar na segunda, ou até terceira, fila - não vão as crianças, ou até elas e eles, ter que caminhar 30 ou 40 metros entre a viatura e o portão da escola e o obrigatório vice-versa. Coisa que, decerto, faria os petizes suspeitar da pouca importância dos progenitores, pois parar à porta - e ligar o "telemóvel" ou o "celular" (o nome dado ao instrumento é a única distinção no seio desta população) - é o símbolo de ser gente grande, respeitável. Alastra isso aos alguns motoristas, ali a buscar o patrãozinho ou patroazinha, que diriam os "senhores" se as crianças, e tantas já pejadas de acnes e hormonas liberais, tivessem que caminhar até à viatura. Toda esta mole estaciona como quer, inverte o sentido como bem entende, tranca tudo e todos - alguns apressados, ali metidos sabe Deus porquê, e as outras comunidades culturais, outros usos e costumes, ali vizinhas. Entenda-se, aquelas que de carro vão às outras escolas, e cujos hábitos ou genomas as leva a conduzir de modo diverso.
Em tempos, em qualquer dia de maior placidez, deu-me uma de social-democrata, entenda-se de optimismo pedagógico gauchiste, e ainda propus a professores que fizessem uma campanha de educação rodoviária e social, que usassem as crianças para "policiar" aquela gentalha que a vil natureza lhes concedeu como paternidade. Respondeu-me um sorriso cansado, e tão justificado ele era. Pois é claro que as próprias crianças (uns monstros, como parece que muito acertadamente as diagnosticou Sigmund Freud) se sentiriam expropriadas dos seus "direitos adquiridos" se o papá ou a mamã (ou o chófer da casa) não os tratassem como os príncipes que julgam ser, passadeira vermelha a caminho do insucesso dos privilegiados. Em dias de maior esclarecimento, de realismo antropológico, fico convicto que isto só se arranjaria com castigos corporais, chicote, trabalhos forçados (construção de estradas em longínquos distritos para os nacionais, limpeza das matas portuguesas para os patrícios, entretanto colocados em Portugal ao abrigo de acordo inter-Estados).
Cultura. Mas não como condição, causa explicativa. Que é ver toda esta gente muito respeitadora, parando ordeiramente quando passam as sirenes do poder. Encostando delicadamente quando a polícia (transitos ou cinzentinhos) os mandam parar. A "cultura" é-lhes então diferente. Agora, ali, onde a questão é estratégia, afirmar estatuto, ahh ahh, "daqui ninguém me tira"! Status-dropping, de celular na mão, de telemóvel na mão. Que é gente muito ocupada, muito popular. Que muitos querem e precisam ouvir.
jpt
O mês passado decorreu em Maputo o encontro da Associação das Universidades de Língua Portuguesa e agora mesmo, em Lisboa, decorreu o encontro Cooperação e Educação: África e o Mundo, organizado pelo Centro de Estudos Africanos e pela Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria.
Estas iniciativas têm tido bastante sucesso, como noto neste "paper" que aqui transcrevo, que encontro no mural de facebook de um meu colega de departamento (moçambicano, claro está). As universidades portuguesas "a darem novos mundos ao mundo" da educação ...
jpt
"Os Fantasmas do Rovuma", de Ricardo Marques do qual já aqui referi um bom livro. Esta recente obra (publicada pela Oficina do Livro), dedica-se à tão esquecida I Guerra Mundial em Moçambique, uma era histórica apaixonante (e terrível). Estou verdadeiramente inquieto para chegar ao livro. E, em antecipação, recomendo-o a todos. Desde que não o esgotem, claro.
Capa: O novo Brasil: jornalista moçambicano impedido de entrar no país. (O que é bom para a General Motors é bom para os Estados Unidos do Brasil). Ou seja, a ong moçambicana Justiça Ambiental vê barrado o seu enviado ao Brasil, provavelmente por influência dos interesses mineiros brasileiros. A "esquerda que ri", europeia ou europeízada, que dirá à presidentA?
Contracapa: O "velho" Brasil: o que vale a pena
Política portuguesa: o governo e seus (des)equilíbrios internos, vistos por jpp.
Página Internacional: o aborto na China. É uma questão que "dá pano para mangas". E dois itens particularmente interessantes, sempre esquecidos: a política demográfica do estado chinês permite aos casais das zonas rurais que tenham dois filhos se, e apenas se, o primeiro for rapariga (um défice ontológico, claro); se a família tiver quase 5000 euros pode ter um segundo filho. Imagine-se se isto fosse no Malawi ou assim o que não diriam as ongs e quejandos, a "esquerda que ri" europeia. Já para não falar nas pinças com que se tem que falar de "aborto".
A grecitude europeia. A demência festiva alastrará?
Sociedade: um discurso de 10 de Junho. Para quem não gosta de tralhas.
Educação: "o mais importante é estar com atenção nas aulas". Quando o calendário escolar português entra em férias convém ler uma aluna falando do ensino. E lembrar-nos do "eduquês" e dos "libertários".
Viagens:O litoral português.O Portugal rural.
Publicidade:Bom Gosto e Saúde.
Economia:Como estamos reféns do industrialismo.
Cultura:1 Filme:
Rui Knopfli, por Eugénio Lisboa.
A morte de Eddy Paape, o desenhador de Luc Orient (argumentos do magno Greg) - uma das delícias da minha juventude. Que, contristado, descubro, atrasado, via O Herdeiro de Aécio.
1 Canção
Desporto: Um blog: o "És a Nossa Fé!". já está entre os 100 blogs mais lidos em Portugal ...
Um belíssimo texto sobre o Europeu de futebol.
jpt
No seu mural de Facebook o jornalista José Manuel Fernandes reproduziu agora os exames da 4ª classe em 1966, perguntando "quem seria hoje capaz de os resolver?", capciosa questão conduzindo-nos ao diagnóstico do radical ignorância actual. Dantes é que era bom, como é óbvio. Claro que por lá colhe centenas de "laiques", a vox populi de hoje, grande parte desta sempre sensível a estes "rapidismos" a escorregarem para o chinelo ...
Nem vou discutir as questões ligadas com o ensino da cidadania (sim, é uma dimensão escolar, curricular), nem com a impregnação de modalidades de actuação intelectual (que, em última essência, são o cerne da escola), ou outras coisas mais explícitas que terão mudado no currículo escolar no último meio século.
Nem vou defender a escola actual. Já aqui resmunguei contra a lassidão da aprendizagem no actual ensino básico, algo que descobri quando a minha filha transitou de uma escola internacional para a portuguesa. O diferencial era tão grande que a avançaram um ano e ela, ainda assim, navegava com toda a facilidade pelo paulatino currículo.
E também não elogio a actual escola porque, tendo lá uma filha, vivo em permanente irritação com a cultura profissional dos docentes, submersos num lamaçal intelectual culpabilizador desses energúmenos que somos nós, os vis pais, ou "papás", como somos tratados com desprezo. Pois para os membros daquela corporação que vou conhecendo, os culpados do estado do mundo, e concomitante insucesso escolar, é a repugnante família - daí o fascínio por tralhas como "E Tudo Começa no Berço", do psicólogo Luís Maia. Interessante, se para José Manuel Fernandes (e todos os seus laicadores), o bondade residia na escola do Estado Novo, pois aí-então é que se aprendia, para o psicólogo Luís Maia (e todos os seus reprodutores), a bondade terá residido numa qualquer família (do Estado Novo?) passada, que disciplinava as crianças e as preparava para irem, educadamente, à Escola como receptáculos do saber. Estão bem uns para os outros ... ainda que, se calhar, não saibam disso.
[Mas aquilo do psicólogo Luís Maia, que tanto blogo-eco teve, lembrou-me do quanto mudam as ... "vontades" com o passar dos tempos. Há alguns anos a "família" era vista como um coito de pais falocratas, ditadores domésticos, pró-alcoolizados e violadores, e de mães violadas, traumatizadas, frígidas e emasculadoras das proles, tudo isso correspondendo à gestação de gerações de complexados incapacitados. Daí a necessidade de "escangalhar" a instituição familiar. Agora esta mesma família é vista como um recreio onde os gentios crescem selvagens, desregulados, felizes e mimados. Terão as coisas mudado assim tanto?]
Enfim, derivações minhas. Porque o interessante são os tais "orgulhosos" exames da 4ª classe de 1966, no ocaso do Senhor Presidente do Conselho António de Oliveira Salazar (já agora, constava, garboso, do meu livro de leitura), reproduzidos, com saudade e apreço, por José Manuel Fernandes. Não resisti e fui vê-los. Ridículo exemplo, para os objectivos pretendidos. E no mural de JMF deixei este comentário, obrigatoriamente curto pois no FB (ligeiramente alindado aqui):
"Que tristeza. Pura demagogia. Isto não "cabe" no seu perfil intelectual, é uma mera atoarda. Explico-me: tenho uma filha com 9 anos, no meio do 5º ano (o antigo 1º do ciclo preparatório). Vou-lhe acompanhando os estudos - neste momento ela responderia a grande parte disto. Com algumas diferenças, a formulação das questões de matemática (as coisas do azeite, as torneiras que pingam, esses antigos quebra-cabeças que tantos nos marcaram) é algo diversa - e já me custa ajudá-la. E, claro, as questões de geografia e de história são algo diversas [está agora a entrar na II dinastia]. Certo, muito do que utilizaria para responder a estas perguntas aprendeu neste 5º ano (e não na "4ª classe"), o que corresponde a um diferente arrumação do currículo (notar que em 1966 a 4ª classe ainda era a conclusão de estudos de uma boa parte da população) - como por exemplo conhecimentos de geologia, astronomia, biologia, ética (eu chamar-lhe-ia "filosofia social"), artes, etc. E corresponde também a diversos métodos e conteúdos de expressão apreendidos. ... Um mau momento seu, garanto-lhe."
Ou seja, em querendo apoucar o conteúdo do ensino actual por este modo não se vai lá. Talvez existam outras coisas para discutir. Para além do "dantes é que era bom" e dos "malandros dos pais incompetentes".
jpt