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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
"Buscarei acolhida entre a grei dos sábios, pois as boas letras dão-nos homens, a filosofia mais que homens e a teologia dá-nos santos. Seguramente que me será concedido encontrar repouso no meio deles, depois de ter feito todos estes rodeios. Mas, Santos Deus!, eis que até aqui deparo com outras espécie de guerras, menos sanguinária, é certo, mas nem por isso menos louca. Uma escola opõe-se a outra escola e, como se a verdade mudasse com os lugares, assim certos princípios doutrinais não cruzam o mar, outros não atravessam os Alpes, outros não transpõem o Reno, e até, na mesma academia, o dialéctico tem guerra com o retórico e o teólogo se opõe ao jurisconsulto. Chega-se ao ponto de, dentro do mesmo género de profissão, o tomista pelejar com o escotista, o nominalista com o realista, o platónico com o peripatético, de tal forma que nem sequer chegam a acordo em pontos de quotiliquê e amiúde se digladiam com a máxima violência acerca de questões de lana caprina, até que o calor da discussão recrudesce, passando dos argumentos aos insultos, dos insultos às punhadas, e, se a questão não se resolve com punhais e lanças, trespassam-se com penas ervadas, mordem-se uns aos outros com escritos armados de dentes, cada um vibra o dardo mortífero da língua contra o bom nome do outro."
[Erasmo de Roterdão, "Queixa da Paz", A Guerra e Queixa da Paz, Edições 70, pp.90-91]
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