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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Nesta madrugada consulto jornais e FB e leio pouco e muitos sobre o referendo grego, imenso entusiasmo em Moçambique (onde alguém escreve que é uma realvorada da Humanidade ....!!!) e em Portugal (onde colegas-amigos não escrevem mas transpiram "amanhãs que cantam"). Entusiasmo-me, sempre gostei de oxi(´moros). Dou-me meia hora e mergulho em proto-adesão com os "espoliados do Mediterrâneo (norte)":
1 - 9 páginas (a dois espaços) em linguagem muito escorreita Georgios Kouretas, "The Greek Debt Crisis: Origins and Implications"; (recomendando dois textos acessíveis e de cariz abrangente: Reinhardt & Rogoff, "Growth in a Time of Debt" e "The aftermath of finantial crisis");
2- um texto curto: Manan Vyas, "The origin of the greek sovereign debt crisis" (no resumo final indexa seis pontos, nem todos oriundos da perfídia merkeliana);
3 - The Economist, 2011, The causes: a very short history of crisis;
E, para momentos de menor apetência de leitura, um filme de 2012, muito "pedagógico", um tom bem adequado à minha ignorância em coisas da economia. Decerto que haverá, na infinidade de textos sobre a matéria, outras versões com diferentes interpretações. Se alguém quiser deixar referências - que não sejam as festivas ou resmungonas - serão muito bem-vindas. A ver se eu melhoro o mapa ...
Greek financial crisis (part 2): What Greece could have done if it had its own currency
How and why Greece would leave the Euro (part 3): The pain and mechanics of leaving the Euro
Why Europe is worried about Greece: Why the Greek situation is scary for Europe as a whole
Um dia lá em Maputo o bom do António Cabrita tirou-me esta fotografia, pois achou-me parecido com um andarilho que por lá passara, não sei se turista se cooperante, disse-me ele que assim para o turbulento, um tal de Herakles, amigo de outro lá da comunidade grega maputense, um tipo dado às artes, o Lisipo, este com o qual o próprio Cabrita tinha acamaradado, julgo que coisas de uns copos conjuntos e da realização de um catálogo para uma exposição do helénico e de umas ilustrações para um ou outro livro do próprio Cabrita, se não estou em erro.
Nesta alvorada lembro-me desses gregos, e em particular do meu sósia, gente que não cheguei a conhecer, e que deixaram boa impressão lá por Maputo. A propósito da crise económica-financeira na Grécia deles, sobre a qual tanto estou a ler nos jornais, nos blogs e nos murais-FB patrícios e moçambicanos. E fico compungido, com esta minha distracção. É que, apesar das parecenças, sou o único tipo que não sabe como resolver aquilo, todos os outros conhecem a (uma) solução. E botam-na, freneticamente.
Devia ter estudado mais.
Nas arrumações, penelopianas, das estantes cai este livrinho. Breve colecta de esplêndidos textos, os quatro primeiros que lhe dão título, poderosos e magnânimos do tempo da resistência ao nazismo invasor, como não brotar o espanto diante da elevação de quem escreveu em Julho de 1944 "Mas ao julgar o vosso atroz comportamento eu não esquecerei que os vossos e os nossos partiram da mesma solidão, que os vossos e os nossos participaram, como toda a Europa, da mesma tragédia da inteligência. E, mau grado o que vós sois, continuarei a chamar-vos homens. Para sermos fiéis à nossa fé, temos de respeitar em vós aquilo que vós não respeitastes nos outros." (54)? Ainda que,como lembrou logo em 1945, diante de "funcionários do ódio e da tortura" (84)?
Camus, que parece hoje um pouco "fora de moda" (quem fala hoje do "O estrangeiro", "A queda" ou "A Peste"?), deixa um projecto para o futuro, como se o escrevesse hoje: " ... é preciso curar todos esses corações envenenados. E, amanhã, a batalha mais difícil a ganhar ao inimigo, é no fundo de nós próprios que ela se desenrolará e a vitória final obtê-la-emos graças ao esforço superior que transformará o nosso apetite de ódio em desejo de justiça. Não ceder ao ódio, não fazer concessões à violência, não admitir que as nossas paixões sejam cegas ... (...) trata-se de admitir que o nosso adversário pode ter razão e que as suas razões, mesmo sendo más, podem ser desinteressadas. Numa palavra, trata-se de refazer a nossa mentalidade política." (85), adversa a "esse romantismo de mau gosto que prefere sentir a compreender que prefere sentir a compreender, como se sentir e compreender fossem separáveis." ( ...) "Basta que façamos o esforço de compreender sem preconceitos, basta que falemos de objectividade, para que seja denunciada a vossa pretensa subtileza e feito o processo de todas as vossas pretensões." (86).
Nele a lucidez de em 1947, enquanto refuta o marxismo pois "absolutamente falso porque pretende ser verdadeiro de uma forma absoluta" (117), identificar que "o problema colonial é o mais complexo de todos os problemas (...) determina a história dos próximos cinquenta anos (...) e nunca poderemos resolver esse problema se partirmos dos mais nefastos preconceitos." (98). Fica uma proposta, que não parece assim tão descabida na actualidade mesmo que a sua linguagem o aparente: a "democracia nacional ou internacional ... uma forma de sociedade em que a lei está por cima dos governos e que, sendo a expresssão de uma vontade colectiva, é representada por um corpo legislativo. É isto que se tenta fazer hoje? É verdade que uma lei internacional está a ser preparada. Mas esta lei é feita e desfeita pelos governos, isto é, pelo executivo. Estamos pois num regime de ditadura internacional. O único meio de que dispomos para lhe escapar é de conseguir que a lei internacional esteja acima dos governos; por conseguinte, fazermos nós próprios a lei, isto é dispormos de um parlamento resultante de eleições mundiais, nas quais participarão todos os povos." (125).
Culminando: "se por vezes parecemos preferir a justiça ao nosso país, é porque queremos amar o nosso país unicamente dentro da justiça, tal como queremos amá-lo na verdade e na esperança" (28).
Ontem, 7 de Janeiro de 2015 foi um (outro, mais um) dia terrível para o mundo em que andamos. O atentado a um jornal no centro de Paris pelo que simboliza não pode ser tolerado e também não merece adjectivações por óbvias que são e já esgotadas que foram nas últimas horas por tanta gente por esse mundo fora. Este atentado (outro, mais um) é tão só um ataque ao modo de vida dito ocidental em que a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, traduções da liberdade de pensamento, são valores fundamentais e, portanto, indiscutíveis. Pode gostar-se mais ou menos, pouco ou mesmo nada de publicações como o "Charlie Hebdo" mas matar a sangue frio quem desenha escreve, cria, denuncia, critica, é um passo atrás naquilo em que acreditamos, uma nova ordem em que a violência valerá mais que a palavra, que o medo se sobreporá a tudo e a todos. Podemos considerar de gosto duvidoso as bonecadas que o hebdomadário publicava consoante toquem nas nossas "coisas", nas nossas " causas" ou apreciar o brilhantismo dos seus autores quando a sátira se dirige aos nossos adversários, temos direito a não concordar e a considerar de mau gosto a linha editorial do "Charlie" mas nada disso justifica entrar de AK 47 na redacção e executar quem se encontrar na linha de fogo como resposta razoável a críticas às suas crenças ou usar esse pretexto último para mascarar a sua própria essência, a de assassino. Assassinos, é o que são, nada mais. Assassinos cruéis, impiedosos e preparados como se provou quando enfiaram uma bala na cabeça do policia Ahmed Merabed já antes atingido e estendido no chão. Assassinos, nada mais que isso.
Ontem quando vi as primeiras notícias sobre o atentado lembrei-me de Nietsche que dizia mais ou menos por estas palavras que na luta com o monstro devemos cuidar de não nos tornarmos igual a ele. De seguida escrevi esta lembrança no Facebook e repito-o hoje, mas o que sobra desta ideia e do que aconteceu é uma simples questão para a qual não encontro resposta: o que fazer, como fazer? A única coisa que sei é que o medo não pode cortar, limitar, a liberdade e não pode ser o terror a estabelecer os limites do respeito e sobre esse muito se teria de discorrer. Imagine-se que o cartoonista português António e os seus colegas de redacção tivessem sido abatidos por radicais, desta feita católicos, à conta do extraordinário "boneco" do preservativo no nariz do Papa João Paulo II (publicado no "Expresso" em 1993) considerado como ofensivo e de mau gosto por muito boa gente. Quais as consequências? E se a fatwa lançada sobre Salmon Rushdie (Versículos Satânicos) pelo ayatollah Khomeini tivesse sido efectivada quais as consequências? E quais consequências deste atentado? As respostas às maiores provocações - não violentas em sentido vulgar - não podem ser a facada, o tiro, o morteiro, o míssil. Não parece assim de repente que caiba às vítimas a responsabilidade de arranjar soluções quando se sabe que os radicais, por definição, não estão muito abertos a diálogos. No caso deste atentado não faço ideia se os assassinos estão enquadrados em movimentos mais organizados ou se quiseram ser heróis em regime free-lance de kalash em punho contra as perigosas penas afiadas dos cartoonistas. Não sei, e nem quero saber, se são sunitas radicais, salafitas, defensores da unicidade em que nada existe fora do seu deus e daí a limpeza em leitura ligeira e prática pesada, ou se não passam de uns bons montes de merda convencidos que a morte das andorinhas é o fim da Primavera. Não sei nem quero saber o que leva a actos como este. Mas gostava de ver, já que é em nome de Allah que esta gente actua, que os responsáveis religiosos fossem mais enérgicos na condenação, mais claros no seu afastamento desta rapaziada. Gostava muito que a religião deixasse de ser pretexto ou capa opaca para luta político-militar pois é disso que se trata. Se não podes vencê-los ao menos afasta-te deles, seria uma sugestão gratuita para os imãs... Sei mas agora não quero saber de contextualizações, de explicações mais acertadas ou mais entontecidas que acabam, talvez inadvertidamente, como justificação em raciocínio semelhante ao que culpa a provocadora que é violada e não o criminoso violador. E só piora quando o quadro é apresentado por pessoas com responsabilidades políticas como o caso da gritadora euro-deputada Ana Gomes que no "twitter" quis colar, ainda que com cuspo, esta javardice às políticas anti-europeias que ela própria, pelos vistos sem ter essa noção, personifica.
E conheço mas não me interessam para nada, posições relativistas que gente de boa-vontade ou genuinamente estupidificada não percebe que a responsabilidade directa e derradeira é de quem dispara por mais que se tente escudar em fundamentos mais ou menos remotos que mais não são desculpas esfarrapadas para esconder os filhos da puta. Os dois que entraram pela redacção do "Charlie Hebdo", que mataram (até agora) 12 pessoas são dois irmãos: Said Kouach e Chérif Kouachi. Dois filhos de puta.
Cuidemos, no entanto e sempre, de não nos tornarmos iguais ao monstro porque se o fizermos corremos o enorme risco de criarmos muitos outros.
Será bonito, amanhã, se a nação escocesa se independentizar. Não só por ser assim ser, se assim o for, um dia histórico na minha e nossas vidas. Mas por ser um dia da liberdade, do respeito devido. Com os tropeções todos que dela deriva, dele deriva.
Canto pois, com mau sotaque:
O flower of Scotland
When will we see
Your like again
That fought and died for
Your wee bit hill and glen
And stood against him
Proud Edward's army
And sent him homeward
Tae think again
The hills are bare now
And autumn leaves lie thick and still
O'er land that is lost now
Which those so dearly held
That stood against him
Proud Edward's army
And sent him homeward
Tae think again
Those days are passed now
And in the past they must remain
But we can still rise now
And be the nation again
That stood against him
Proud Edward's army
And sent him homeward
Tae think again
O flower of Scotland
When will we see
Your like again
That fought and died for
Your wee bit hill and glen
And stood against him
Proud Edward's army
And sent him homeward
Tae think again
The hills are bare now
And autumn leaves lie thick and still
O'er land that is lost now
Which those so dearly held
O flower of Scotland
When will we see
Your like again
That fought and died for
Your wee bit hill and glen
And stood against him
Proud Edward's army
And sent him homeward
Tae think again
[A nova Europa?]
- No Domadora de Camaleões, partindo de Maputo, sobre as questões de "género", bem para além da sua redução ao "transgenderismo", típica nos devaneios pequeno-lisboetas.
- "Aprenderam muito pouco" no Fio de Prumo, uma aguda nota sobre algum Portugal.
- Uma semana após as eleições europeias, e da agitação em Portugal que se lhes seguiu: no Delito de Opinião o melhor texto sobre o assunto, centrado sobre o "fracasso" eleitoral de António José Seguro.
- E também sobre isso, "A grande mistificação".
- As horríveis capas de livros, agora produzidas pela Porto Editora.
- Lembrando "Echo & the Bunnymen", bela banda dos 80s.
- Um pouco de história: a neutralidade espanhola na II Guerra Mundial, no Herdeiro de Aécio.
- Jorge Jesus tem (aqui) toda razão! (via Pedro Rolo Duarte).
- 3 tipos para um campeonato, um blog dedicado ao Brasil-14. A acompanhar.
- Visão de Mercado, o melhor blog de futebol em português: em particular para o defeso clubístico (rescaldos e contratações) e para isto das antevisões do mundial. Substitui, com imensa vantagem, os jornais desportivos.
- Jorge de Sena, muito bem lembrado no Portugal dos Pequeninos.
- Rugby: o jogo da batalha medieval, o regresso a um belíssimo texto no XV contra XV.
- "Então e como é que ficou aquilo dos Miró?" pergunta-me na esplanada do café um patrício, desconhecido. "Sei lá!", que me interessa isso a mim, aqui na vidinha e tão longe ... ("O Miró foi o tipo dos Jogos Olímpicos de 92?, não foi? perguntar-me-ei mudo, depois). Para os miróinteressados recomendo a leitura deste texto de Alexandre Pomar.
- Bergman em texto de Francisco Valente.
- A Suíça disse Fuck the EU?, no Domadora de Camaleões.
e
- O fim do veterano Beco das Imagens, dedicado à banda desenhada. Mas tudo continua no Cabaret Voltaire.
- Nada o dispõe à acção, o novo blog (por enquanto) de FNV.
Há alguns meses Durão Barroso comentou a posição francesa sobre a excepção cultural no seio da liberalização comercial. A reacção francesa foi iracunda e bastante desvalorizadora da Comissão Europeia, algo que vindo da pátria de Monnet e de Delors não deixou de ser surpreendente. Em Portugal li, logo, algumas céleres vozes criticando o dito de Durão Barroso. Claro, e para além do assunto, há que bater no homem. Por várias razões, uma das quais é esta esquizóide forma de xenofobia lusa, a de dizer mal de qualquer patrício mal ele tenha assomado além fronteiras. A barbárie barrosista foi logo proclamada, não só mas também pela intelectualidade bem-pensante. Na altura lembrei-me disto que se segue, mas não sabia onde estava, depois fui de férias e passou-me. Agora saltou da estante, esta delícia de Amselle, um belíssimo antropólogo francês ("Branchements", 2001, pp. 14-15).
"À cet égard, plutôt que de protester contre la domination américaine et de réclamer un état d'exception culturelle assorti de quotas, il serait préfèrable de montrer en quoi la culture française contemporaine, son signifié, ne peut s'exprimer que dans un signifiant planétaire globalisé, celui de la culture américaine. Si celle-ci, à l'instar de la culture française au XVIIIe siècle, est devenue un opérateur d'universalisation, ainsi que le démontre le sens - France-États-Unis - dans lequel sont produits les remake, cela ne correspond pas pour autant à une situation d'aliénation ou de colonisation de l'esprit français par la puissance américaine, situation stigmatisée naguère par Étiemble à l'aide du vocable "franglais". Parler franglais, c'est peut-être, pour les Français, énoncer la vérité de leur culture, de même que, pour le groupe sarcellois Bisso na Bisso, se brancher sur le rap américain est le meilleur moyen de retrouver ses racines congolaises. Contrairement à ce que pensent les obsédés de la pureté des origines, la médiation est le chemin le plus court vers l'"authenticité" ... Par le biais du "samplage" (sampling) s'exprime l'originalité d'une culture dont on serait bien en peine de dire si elle est française, américaine ou africaine."
Talvez pouco interessante para muitos. Mas, e repito, uma delícia, principalmente quando recordo alguns indignistas, furibundos facebuquistas. Colegas, ou quase.
"Porque é que Angela Merkel vai ganhar as legislativas alemãs de domingo?", de Helena Ferro Gouveia. Também porque como diz "O futuro de Portugal também passa por aqui : por compreender os países vitais, como a Alemanha, num momento em que o mundo está em profunda transformação,". E o furibundismo (em particular o internético) é um fortíssimo obstáculo à compreensão, seja lá do que for. Por isso tanto vale ler este texto.
Dodge City, de Henrique Fialho. Interessante texto sobre o (clássico filme de) Michael Curtiz.
"Um hálito de Laura Dern" de Manuel S. Fonseca. Um bela apologia de "Um Coração Selvagem" de Lynch.
Elogio das Autárquicas, postal de Pacheco Pereira. Concordo. Realço: "É fácil gozar com os candidatos das autárquicas e a Rede está cheia desse gozo ... Gente que não é capaz de dizer nada contra a campanha ilegal de Menezes, em que o dinheiro escorre por todo o lado, as listas “Isaltino” e “Valentim Loureiro”, as propostas absurdas de manuais escolares e medicamentos gratuitos para todos, tuneis e pontes por todo o lado, propostas chocantes em candidatos do PSD e CDS, e capaz de no virar da esquina vir exigir os cortes retrospectivos às pensões dos reformados e despedimentos nas função pública (e silêncio sobre os trabalhadores das autarquias que irão para a rua depois das eleições…), e desatar-se a rir com as cenas dos candidatos mais boçais, os cartazes ridículos, as palavras de ordem de duplo sentido, os trajes domingueiros e casamenteiros de candidatos e candidatas. De facto, eles não têm dinheiro para pagar a agências de comunicação, contratar empresas de marketing político e comprar centenas de outdoors.". Está tudo ao contrário.
As Necessidades e a Porcaria, postal de Rui Rocha no Delito de Opinião. Rui Machete, o actual MNE português, é um homem com muito má fama. E com algum proveito. Lucrou com a corrupta trapalhada do BPN. E aldrabou sobre o assunto. Tem que sair do governo, já. Se não sair tem que sair o governo.
No mural-FB de um meu amigo real está afixada esta deliciosa fotografia. Que não diz quase tudo. Mas diz muito e deixa, assim, cada um dizer o mais que lhe ocorre. E o que ocorre a cada um depende muito de onde está, de onde vive e onde quer viver.
Na minha "gasta" e "amada" pátria e arredores, subjugados pela sensação de crise, há quem queira acabar com o capitalismo. É um assunto a discutir. Os seus antepassados políticos foram uns viscerais defensores do capitalismo ("de Estado") mas pode ser que tenham aprendido alguma coisa, com aquilo do "socialismo real" e dos morticínios praticados e da efectiva pobreza disseminada. Duvido, mas poderá haver esperança na razão humana? Há os liberais, esses do liberalismo económico, que defendem o capitalismo, e que são panteístas, acreditam que por todo o lado (até nas calotas polares que não derretem, claro, e nas florestas, que desabrocham, viçosas) está deus nosso senhor em avatar mão invisível, provocando que seja virtuoso tudo o que se passa entre os homens desde que estes livres indivíduos, desalgemados da influência desse mito (ainda que algemador) "sociedade", às vezes dito "estado".
Depois há a maioria, que defende o capitalismo, o capitalismo corporativo. Para a qual tudo estará bem desde que tudo fique como antes, que as corporações nacionais (os países, para quem não entenda) privilegiadas se mantenham ricas e as corporações nacionais desprivilegiadas melhorem um bocadinho, coitadinhas - são estes os grandes clientes da democracia populista, que tem vingado no continente. Por outras palavras, mantenha-se ao limite possível a "troca desigual" internacional e as futuras gerações que paguem os défices que entretanto provocamos com os níveis de consumo e de .... serviços - e por alguma razão há algumas décadas se proibiram os supraendividamentos públicos aos sistemas bancários estatais, remetendo-se os estados para empréstimos na banca privada. Certo, tudo terminou como está agora. Há quem veja esta medida como uma "(teoria da) conspiração" do capital. Esquecem é que suas causas foram (também) a demência endividadora do populismo multipartidário, e a tentativa de a vedar. Neste eixo corporativo há um fluído grupo composto pelos que dizem querer acabar com o capitalismo, os "indignados", mas não querem bem isso. São os barulhentos neo-Keynesianos, querem viver no capitalismo desde que tenham os privilégios de o fazer e a liberdade de protestar por isso mesmo, e também de fazerem o bem, "ajudarem" na "alterglobalização" - à qual antes chamavam "ajuda pública ao desenvolvimento" -, coitados dos indígenas. Mas não lhes apetece assumir isso, tudo um aparente conservadorismo que não fica bem no youtube.
Eu não sei bem em qual destes grupos estou. Ando angustiado, com o meu país e com a minha família. Apetecia-me que a gente continuasse a viver bem.
Tal como diz a fotografia penso que isto não é uma "crise" (no mundo nunca houve tanta gente a viver bem ou, pelo menos, melhor). É o capitalismo. Está agora numa fase de "capitalismo real"? Sim, e em alguns sítios isso esmaga (noutros faz brotar). Por isso a pedir uma grande mudança. Radical. Talvez a exigir revolucionários, mais ou menos furibundos, furiosos, descabelados. Mas nunca populistas. Principalmente os de ar sereno.
Fico então a pensar, em píncaros de ingenuidade, se será possível um capitalismo "de rosto humano".
Um eurocapitalismo, para glosar a expressão europeia dos anos 1970s.
Viajei no Chipre em 1982, o primeiro inter-rail. Ficou-me uma imagem meio esbatida, pelo tempo e não só. Lembro o Muro de Nicósia, que achei pouco imponente e bem estranho (até porque na altura os "turcos" infiéis não eram os inimigos, estes vinham mais do norte), o alegre convívio júnior, até esfuziante, uma fome combatida a cervejas e muito ocasionais spaguetis e estes magníficos mosaicos de Paphos. Foi uma semana, depois voltámos à Grécia, inebriados pela história no Peloponeso, e pela fome vivida e as cervejas bebidas.
Pelo Chipre e cipriotas ficou-me este carinho, de memória. Agora vejo que lhes esbulharam as poupanças. Não sei que lhes terá acontecido e o que terão feito para se chegar a este desenho. Cheira-me que é o princípio do fim. Do quê não sei, mas de alguma coisa será. Não que me surpreenda, cá no blog falou-se disso há uns dois anos. Emigrantes remediados, pequeninos aforradores, pensámos que o dinheiro (a moeda) entregue à guarda dos gabirús poderia desaparecer. Nos comentários co-bloguistas mais sábios na vil matéria aconselhavam: compra dólares, não os guardes em Portugal (e arredores).
Ora aí está. Hoje vê-se grego o cipriota e eu não disse nada ... amanhã ver-se-á grego o búlgaro e eu não direi nada ... depois de amanhã, ver-se-á grego o ... É ir ler o Brecht, que tem uma ladaínha dessas.
Solução? Simples. Ponham o dinheiro no estrangeiro, mesmo que seja pouco. Num estrangeiro. Escolham bem. Façam como os gabirús. E, se puderem, vão atrás dele. Não deles. Dele.