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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Sou amigo do Fernando Florêncio há vinte e cinco anos, desde o final da nossa licenciatura. Depois partilhámos algumas andanças. Se há defeito que tem é a qualidade da discrição. E tanto a noto agora, quando tantos efemeridam os vinte anos exactos da macro-desgraça do Ruanda. Pois neste mundo em que agora quase todos nos "montramos", até info-histriónicos, imagino-o a encolher os ombros, lá pela lusa Atenas. Não é pose, o homem é mesmo assim.
Mas ele que me desculpe, finto-lhe a maneira. Logo a seguir ao mais escatológico dos momentos da nossa vida o FF passou dois anos no meio do vulcão. Entre 1994 e 1996 esteve no Ruanda, mergulhado num trabalho duríssimo, e cheio de responsabilidades. Daqueles que magoam. Tanto que não há analogias ou imaginação que nos possam fazer compreender. Voltou de lá sem pinga daquele "olhem para mim aqui", aquele másculo oco de tantos tipos "de terreno" que a gente vai vendo por aí.
Não há, com toda a certeza, em Portugal (e em português) quem tenha podido abordar a situação com a sua densidade. Por isso mesmo deixo aqui ligação para um texto que publicou na revista Cadernos de Estudos Africanos, uma reflexão mesclando uma visão histórico-antropológica com a vasta e intensíssima experiência que ali teve: "Uma História de Violência Sobre as Brumas des Virunga. Morte e Poder no Ruanda". Vinte páginas para compreender aquela desgraça e seu contexto abrangente.
Expresso da Meia Noite 08-11-2013 from Pedro Mocho on Vimeo.
Aqui deixo o programa da SIC Notícias da passada sexta-feira dedicado a Moçambique. No qual participou o nosso (ma-schamba) FF. Como já se passaram alguns dias sobre a realização do programa quero lembrar que o imigrante português e os dois luso-moçambicanos que tinham sido raptados, razão da participação do membro do governo português neste programa, foram entretanto libertados.
Daqui a bocado, à 1 da manhã (23 em Portugal) na estação SIC Notícias o programa "Expresso da Meia-Noite" abordará Moçambique. Entre os convidados estará o nosso FF (Fernando Florêncio, no seu avatar de professor de antropologia em Coimbra). Para quem não receba o canal (eu, por exemplo) refiro que no "sítio", acima ligado, será colocada a gravação.
Também estará presente o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas do governo português José Cesário. Nada me move contra este membro do governo. Muito menos, como é óbvio, contra as comunidades portuguesas (entidades meio míticas a que eu, veterano emigrado, voto particular simpatia). Mas permito-me referir isto: nos últimos meses foram raptados em Moçambique dois imigrantes portugueses e dois luso-moçambicanos. Sobre o assunto já falou este mesmo secretário de estado, o actual vice-primeiro ministro e (muito mal, diga-se) o próprio Presidente da República. Agora de novo o secretário de estado das comunidades. Isto aparenta alguma verborreia (entenda-se, exactamente o antónimo exacto da palavra "diplomacia"). Noutros tempos portugueses, e face à complexa situação política em Moçambique (a qual também inclui o frisson sobre o ciclo de criminalidade urbana), quanto muito falaria, e com toda a parcimónia que a racionalidade político-diplomática impõe, o secretário de estado dos negócios estrangeiros e da cooperação.
Não será preciso ser grande águia para retirar daqui duas considerações: uma alteração totalmente casuística da política externa portuguesa face a Moçambique (pois assim agora denotado como predominantemente local de emigração nacional); o esfacelamento do próprio MNE ocorrido sob a governação de Passos Coelho. Sou completamente insuspeito de simpatias cegas pelo PS (estão aqui os arquivos do ma-schamba para o comprovar). Mas para quem conheceu "secretários de estado da cooperação" com a dimensão de José Lamego, Luís Amado e João Gomes Cravinho, é completamente patético acompanhar o ramalhete de SENECs que Passos Coelho tem vindo a apresentar. Talvez por isso o silêncio agora. Sem outro significado, afinal, que o do vácuo?
(É óbvio que sai isto da minha irritante cabeça, e que o bom do FF não tem responsabilidade nenhuma na minha resmunguice, apenas me avisou que ia lá estar a falar.)
Portugal vive um período assaz feliz desfrutando por estes tempos de uma harmoniosa conjunção entre a meteorologia e a política. A primeira embala-nos em magníficos dias ensolarados, convidando ao convívio com os relaxantes sons do marear. A segunda vê-se assim compelida a prolongar a tradicional pachorrenta época estúpida da nacional política de verão. Perfeita conjunção em harmonia. E eu deleito-me neste embalo de comadres desavindas, uma chamando " péssima moça de recados" à outra, esta comparando-a a um filósofo felizmente recentemente desaparecido, a primeira ripostando que lhe vai dar uma sova, a segunda que a primeira deve mais por cabeça do que ela. É pena que isto vá acabar já nesta semana, o tempo esfria a partir de quinta, volta ao normal, dizem os especialistas, e a telenovela termina no domingo, com a renovação do contracto, de ambas. É pena, porque depois só restam as picardias entre o jorge jesus e o vitor pereira, e essas em comparação parecem episódios de uma telenovela mexicana, dobrada em português-brasileiro. Se ao menos o vilas-boas ainda andasse por cá. Será que o burton não aproveitava isto e fazia uma bela película? Eu mantinha o coelho, mas já agora contractava uma alice nacional, esta, por exemplo.
Se calhar o melhor é mesmo levar-me mais a sério e ir pagar os meus 17.000 euros que o PP diz que cada um de nós deve, no continente, como diz o outro. Pior estão os insulares, que devem 24.000 cada um, por cabeça, como dizem os economistas. Com um bocadinho de sorte, ainda me encontro nas finanças com a alice.
FF