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Prémios Literários

por jpt, em 02.12.10
[caption id="attachment_16309" align="aligncenter" width="290" caption="Gonçalo M. Tavares"][/caption]

Foi a minha sobrinha, que escreve uns livros prodigiosos, digo eu sem vergonha de expressar a minha parcialidade avuncular,

[se os académico-jornalistas bloguistas lusos podem afivelar um ar sério, composto e honesto, e gabar os livros da editora que os publica sem avisarem que, já agora, "isto é da minha editora" não posso eu gabar a minha sobrinha, ainda por cima explicitando-o? Digamos que vai por arrastão o elogio da literatura ... (sempre me saíram uns grandes aldrabãozitos os (in)ditos sôres doutores)]

que me meteu a ler Gonçalo M. Tavares pela primeira vez. Elogios bastos. Li e não gostei nada. Ela deu-me mais livros, até coisas publicadas em comum. Leio, começo com afinco e acabo com fastio, continuo sem gostar. Tenho preconceitos diante de G. M. Tavares. Mas são positivos, isto de me chegar por estas mãos. E assim tão bem acompanhado. Agora os franceses enchem-no de prémios e elogios. O Melhor Livro Estrangeiro em França e coisas deste quilate.

Fico a olhar-me. Prémios alheios não obrigam a gostar, claro. Mas qual será a razão do meu desgosto diante de tanto gosto alheio? Ainda vou tentar outra vez, uma última vez. Coração aberto. Ou, pelo menos, uma nesga dele.

jpt

publicado às 18:59

um-homem-k

[Gonçalo M. Tavares, Um Homem: Klaus Klump, Editorial Caminho, 2003]

Um livro ofertada por uma mais-nova que muito tenho em conta, embrulhado em elogios. Depois de lido uma breve ronda pelos blogs literários (via google). A deixar-me a desilusão, se tantos concordam com o génio coube-me a mim a triste realidade de não o saber reconhecer.

"Mas claro que o corpo não é uma coisa Ocidental. Claro que o corpo não foi inventado no Ocidente, embora no Ocidente se possa pensar nisso. Inventaram tudo: as máquinas, as ideias, a linguagem, por que não inventaram também o corpo? Mas o corpo de Klaus, com as suas mãos nos bolsos, não era um corpo Ocidental. Era um corpo de homem." (101) - não, não é um mero pormenor, num livro centrado em devastações de corpos e elaborações sensoriais. É um pormaior de lugar comum. Será o génio do lugar comum, porventura, mas francamente o caroço pueril está lá todo. Intacto.

Má-disposição deste leitor? "Os jornais, por via das notícias, produzem um barulho fixo. Um barulho que se mantém enquanto alguém o lê. Mas na notícia acontece isto: os sofrimentos individuais e as alegrias íntimas desaparecem, tudo se torna propriedade colectiva: o jornal como teoria geral da inexistência do indivíduo. Só existe pessoa-acontecimento se existir pessoa-espectador: a privacidade absoluta, verdadeira, a individualidade pura, não são acontecimentos, são não-acontecimentos, isto é, à letra: a individualidade (a de zero espectadores) não acontece. Quase que se poderia afirmar que a existência individual e privada será uma invenção, precisamente, individual. Como provar a existência de momentos puramente íntimos, não testemunhados por ninguém, a não ser pela consciência do próprio? Não podemos provar, só acreditar. Acredito que o outro existe enquanto indivíduo, acredito: crença; não sei: não é um conhecimento." (115).

Sobrinha, estou mesmo tio velho. Francamente. Não chega isto.

 

publicado às 00:13


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