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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
“O dinheiro é uma coisa engraçada. Pode alterar a personalidade de uma pessoa. Não que a pessoa mude realmente no seu íntimo; o que se passa é que os outros mudam de atitude para com ela. Isto pode fazer que a pessoa comece a olhar para si mesma de forma diferente, como se fosse um oficial de alta patente, ou uma celebridade. Não acho que tenha perdido a cabeça; no fundo continuo a ser o mesmo homem humilde, o mesmo Liu Feng. Na nossa cidade há um conhecido empresário do ramo das mobílias. Todas as noites conduz uma mota Yamaha novinha em folha até ao Jardim das Oito Divindades e se senta para comer um jantar de quinze pratos. Nunca fala com ninguém e come sempre sozinho. Nas costas dele, as pessoas chamam-lhe perdulário, solitário, neocapitalista, etc. Até certo ponto, sinto pena dele. Deve ter sido maltratado pelos outros. Mas agora é rico; e, já que não pode magoá-los fisicamente, humilha-os mostrando-lhes o seu desprezo. As pessoas amam o dinheiro, ao passo que ele se está nas tintas para aquilo que as pessoas amam. Por isso esbanja dinheiro como se fosse lixo e come como um imperador.”
(Ha Jin, O Noivo, Lisboa, Gradiva, 2001, p.114)