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Um inédito de Heliodoro Baptista

por jpt, em 01.02.06

T. S. Eliot The Shadows of Rainbow

(Ao Ricardo Rangel e ao Kok Nam)

1. The formal word exact without vulgarityA história agora é o Iraque, já que nós, bronzeos,e a história somos o molde. Na voz do sangue,há sempre um negro ou cigano de violão azul.

Há um tempo para as estrelas dormireme outro para fazerem amor; quer dizer,copular de olhos acesos ou já mortiços.

E inútil esbracejar ante os verdugos.Diriam: espera assim, vergastado, pois viráa escuridão. Teremos luz, o vinho, a dança, a orgia,porque, sabes, os cavalos também se abatem. E as flores!(Não é cada poema o caixão, o epitáfio, o ilegível mármore?)

2. Temos, há muito, sibilas, na boca e na garganta índicas.Angoche ou Zavala são só luzes fixas pela "Nikon"?!Temos a perturbação no vórtice das aves, na plenarotação de iluminações luarentas; e há veios raivososde conversas cerca das gazelas e da pose eterna das garças.Há rostos no oculto e este cheira a crime, a incursãode uma balada de tiros, com odor perfeito, único,do espumoso aberto às nossas 24 horas. Mas é do larda amizade ou da submissão? As praias e as reservasdevoram turistas e seus iates, aviões a jacto (ou, poeta,da jactância?), pela agitação de tanto cascalho marinho.

And do not think of the fruit of action

3. É inútil esbracejar, se hispar a artéria do jazzde um encenado morremorrer na Julius Nyerereou nos pês-agás da Coop. Ei-lo, o grito de Átila!E ele tem alvos; não cessa o que, ímpio, enlameiaesta tecla (secas, fome; dilúvios, miséria!) de Dali,de três metros suficientes para um poeta dizê-lo:"Temos a cama franca, a mulher, útil paixão!"

Into another intensity; o fim é sempre evolução.

(Dezembro 2005)

[publicado no Savana, 6.1.06]

Aqui transcrito em especial para o À Sombra dos Palmares, o Fazendo Caminho e o Insónia.

publicado às 02:08

Nos Joelhos do Silêncio

por jpt, em 12.01.06

NoSilenciodosJoelhos.jpg

A publicação deste "Nos Joelhos do Silêncio" de Heliodoro Baptista (Caminho, 2005) passou algo despercebida aqui em Maputo. Talvez não na Beira, a cidade do poeta, onde o livro contou com lançamento público, mas não me constou nada de semelhante na capital. Também algum silêncio mediático, vi publicado no Savana o texto de Adelino Timóteo, que constou do referido lançamento, e uma crónica muito elogiosa de Luís Carlos Patraquim (com cujas crónicas semanais tenho muitas dificuldades, por vezes até de entendimento, contrariamente ao correr da sua poesia). Talvez algo mais tenha sido ecoado, mas parece pouco para um novo livro, tantos anos depois, de um poeta (e personagem) aqui importante como HB, esse que veste os modos de poeta maldito e lenda beirense, ancorado no "Recordo o tanto mal que me fizeram / como se bebesse um misterioso vinho / Até à última gota da garrafa." [p. 78]

Certo é que o livro também não brotou. Nunca o vi nas livrarias (o meu foi comprado em Lisboa) e duvido até que tenha merecido edição local (Ndjra, a filial moçambicana da Caminho). Presumo que apenas tenha sido editado em Portugal, mera presunção. Mas se errada então a edição local foi em tão diminuta quantidade que não ultrapassou o boca-em-boca.

Eu confesso os meus problemas com a poesia de HB. Já com o

HBFolha.jpg

[Por Cima de Toda a Folha, AEMO, 1987] e com o

HBFilhaThandi.jpg[A Filha de Thandi, AEMO, 1991]

a distância notou-se-me. Neste livro que colecta poemas de décadas repete-se.

Talvez seja eu por demais sensível ao veneno desse que se diz "A língua bifurcada da cobra / de duas cabeças; esse sou eu." [p. 17]. Talvez me custe o constante diagnóstico de um tempo longo em que "...as aves já não cantam, tossem" [p.18], constante opinião que é mesmo "Registo Anistórico" ("África se entorta-se / e o ditador coça-se") [p. 50]. Talvez não seja eu deste seu mundo, onde "É de vidas que se fala aqui / e, sobretudo, de destroços humanos, / do que restou de todos nós." [p. 76]. Talvez não tenha eu a mesma moral, não me chocando tanto com a "Improvável ficção / de uma terra; um país onde até o sonho / é comprado na economia programada / dos prolíferos dumba-nengues" [p. 77], talvez não ache obrigação aos "Malangatana Ngwenha" deste mundo o "Esgrime, na defesa e no ataque, os pincéis / do teu génio e junta, na tua aringa já cercada / ... todos os outros para a festa". Sim, talvez que todo o incómodo ou, sendo franco, o des-gosto com os textos de HB seja o de eu ser de outro mundo e de lá não entrar. Talvez isso. Mas também talvez a forma. Que o conteúdo não é tudo - nem no que olhamos como documento.

E como não o sei aqui deixo deixo um belo texto, bastante elogioso, que no Insónia foi dedicado a este livro. E também uma crítica de Pires Laranjeira (Jornal de Letras, 918, 7.12.2006; tem um pequeno erro, este é não o 2º, como aí é referido, mas o 3º livro de poesia do autor), de sinal um pouco diferente, e onde me encontro mais.

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HBPL1.jpgHBPL2.jpg

HBPL3.jpgHBPL4.jpg

 

publicado às 17:40

...

por jpt, em 21.03.05
(Desde quando insatisfaçãoquer dizer pessimismo?A água suja não podeficar clara e potável?)[Heliodoro Baptista, "Detalhe", Por Cima de Toda a Folha]

publicado às 09:45

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por jpt, em 21.03.05
O Sono dos FilhosContra a palma das mãossua respiração traz-noso infinito lumede um sol lembradona memória dos olhos.Banho-os nocturnamentecom lágrimas de geloe eles riem revolvem-seno doce útero do sono.Nesse calor originalminhas desastradas mãos sabemque trepida como nuncao coração do mundo.[Heliodoro Baptista, Por Cima de Toda a Folha]

publicado às 09:37


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