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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
"Assim que viu o Helesponto inteiro coalhado de navios, todas as suas margens e as planuras de Ábidos cobertas pelos seus homens, Xerxes felicitou-se a si próprio, mas em seguida, chorou. Logo que se apercebeu disso, Artábano, aquele que anteriormente aventara livremente a opinião de que não era aconselhável marchar contra a Grécia, esse homem, ao notar as lágrimas de Xerxes, disse-lhe: "Ó Rei, como é diversa a tua atitude de agora e de há pouco! Há momentos felicitavas-te, agora choras!" "É que me veio ao pensamento - disse ele - lamentar a brevidade de toda a vida humana, uma vez que, de tantos homens que aqui estão, dentro de cem anos, nem um só sobreviverá." Artábano respondeu: "Ainda sofremos outra calamidade mais deplorável ao longo da vida. É que, sendo ela tão curta, não há homem algum tão feliz, nem dos que aqui estão, nem de outros, a quem não suceda, muitas vezes, e não uma só, preferir morrer a viver. As desgraças que se abatem sobre nós e as doenças que nos afligem fazem com que a vida pareça longa, a despeito da sua curta duração. E assim a morte se tornou para o homem o refúgio de eleição contra tão penosa vida. E o deus, depois de nos dar a provar um pouco a doçura da vida, nisso mesmo mostra a sua inveja."
[Heródoto de Halicarnasso, Histórias, Livro VII (tradução de Maria Helena da Rocha Pereira)]