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Começa hoje em Maputo uma quinzena de actividades dedicadas a evocar José Soares Martins, ali antigo conselheiro cultural português e historiador (com o pseudónimo José Capela).

 

Para quem tiver curiosidade deixo ligação para dois breves textos que escrevi sobre a sua obra historiográfica, por ocasião do lançamento de alguns dos seus mais recentes livros: 

 

- "José Soares Martins, "Caldas Xavier. Relatório dos acontecimentos havidos no prazo Maganja aquém Chire, Moçambique, 1884";

 

- "José Soares Martins, "Conde de Ferreira & Cª. Traficantes de Escravos...".

 

 

publicado às 16:06

2014: livro do ano

por jpt, em 30.12.14

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publicado às 21:19

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Texto para a edição de 12.11.2014 do “Canal de Moçambique”

 

Maputo-Roteiro Histórico Iconográfico da Cidade

 

Nesta semana em que se comemorou o dia da cidade, assinalando o aniversário da sua elevação a esse estatuto, haverá várias formas de o celebrar. A melhor, decerto, será aquela de nela passear, repousadamente, escutando-a, vasculhando-lhe detalhes. Como a azáfama não costuma ser muito parceira desses deleites proponho outra forma: regressar a livros que lhe foram dedicados, (re)conhecer-lhe história e conteúdos.

 

E uma bela forma de nela entrar será através deste “Maputo – Roteiro Histórico Iconográfico da Cidade”, mais uma das múltiplas e cuidadas publicações que António Sopa, figura incontornável da vida intelectual moçambicana, vem produzindo, neste caso ombreando com Bartolomeu Rungo. É um livro já com uma década (2005), editado pelo então Centro de Estudos Brasileiros (que depois se tornou Centro Cultural Brasil-Moçambique, em desnecessário mimetismo, pois a sigla CEB já era da cidade). Tratou-se de uma edição  popular, de preço acessível, um feito que prestigiou a instituição editora.

 

O livro é exactamente aquilo que o título promete: um cuidado roteiro histórico de Maputo. Nisso uma excelente introdução – e também memória. Por isso mesmo cito o seu início, que anuncia o projecto que nele está patente: “Quem chega a Maputo tem grandes dificuldades em reconstituir as origens do povoado. As referências quase que desapareceram e é preciso estar atento para vislumbrar no casario moderno da cidade os elementos arquitectónicos que lhe serviram de génese.” (p. 5).

 

(Texto completo pressionando aqui)

publicado às 15:33

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 Texto para a edição de  14.10.2014 do "Canal de Moçambique"

 

 

 

“Espaços e Cidades em Moçambique” de Isabel Castro Henriques.

 

Como já será evidente aos hipotéticos leitores esta “Estante Austral” não se prende com as novidades ou, mesmo, com a actualidade da edição. Trata-se de uma conversa com os livros existentes, um desarrumar até aleatório das estantes dedicadas a temáticas moçambicanas, maneira de recordar (ou  até mesmo dar a conhecer) aquilo ausente dos escaparates dos livreiros ou mesmo esquecido nas estantes mais recônditas das bibliotecas, públicas e pessoais. E se algumas vezes despertar a vontade alheia de vasculhar em busca do aqui referido será já vitória. Maior será esta ainda se produzir alguma reedição.

 

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 Vem o preâmbulo a propósito deste “Espaços e Cidades em Moçambique”, um pequeno e precioso livro editado em 1998, muito provavelmente já esgotado. Trata-se de uma obra da historiadora portuguesa Isabel Castro Henriques, reconhecida especialista sobre a história angolana. Na prática trata-se de um livro suporte, funcionando como catálogo da exposição então produzida pela mesma autora por encomenda da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, mas feito com a perícia que lhe permitiu ficar como obra autónoma, suficiente por si mesma, um mimo à leitura.

 

(Texto completo aqui)

publicado às 00:55

 

 

 

Estante Austral (6)

“Canal de Moçambique”, edição de 17.9.2014

 

José Soares Martins, cuja obra de historiador sempre ocorreu sob o pseudónimo José Capela, faleceu este passado domingo (13.9.2014) com 82 anos. Forma-mor de o celebrar é lê-lo, mergulhar na sua importante obra dedicada às relações entre a sociedade portuguesa e as sociedades do actual Moçambique, em particular no século XIX, cuja profunda imbrincação foi desvendando através da sua abordagem pioneira ao longo de quatro décadas de publicações.

 

Capela recusou o ocaso e manteve-se investigador até agora, octogenário. Notáveis estes seus dois recentes livros: “Conde de Ferreira e Cª. Traficantes de Escravos” (Afrontamento, 2012) e “Delfim José de Oliveira, Diário da Viagem da Colónia Militar de Lisboa a Tete, 1859-1860” (Húmus, 2014), uma narrativa cuja publicação prefaciou, anotou e organizou. Sei que entretando reescrevia outro dos seus fundamentais livros, enriquecido por mais documentação pesquisada e novas reflexões. E que outros textos trabalhava, incessantemente.

 

O primeiro dos livros que aqui refiro, “Conde de Ferreira e Cª. Traficantes de Escravos”, é uma inestimável contribuição para a análise, desvendadora, da profunda influência do comércio entre Portugal e o actual Moçambique em XIX nas modalidades de organização política e económica portuguesa, em particular para a sedimentação do regime liberal e suas burguesias metropolitanas, obra portanto em sequência óbvia com as preocupações que o autor sempre erigiu na sua análise. 

 

(O texto completo encontra-se nesta ligação).

publicado às 12:27

 

 

Neste dia do seu funeral aqui partilho um breve trecho de José Soares Martins (José Capela) sobre as suas impressões à chegada a Moçambique, com 22 anos. Onde viveria 40 anos. Este é um excerto de um trabalho realizado por Isabel Galhano, do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto, que nos últimos anos longamente entrevistou o historiador.

 

 

publicado às 15:56

Uma breve mensagem anuncia-me a morte, acontecida hoje à noite, de José Soares Martins (o historiador José Capela). Era esperada, dado o recente agravamento da sua condição. Sobre a sua importância na minha vida escrevi há pouco tempo, num momento crucial para mim, este "Como cheguei aqui", apontamento intimista que ele nunca veio a ler. Há algum tempo escrevi, dedicado ao seu trabalho, este breve texto. O qual ele acolheu, e isso muito me satisfez, com uma enorme e exagerada simpatia.

 

Longe dos meus livros, encaixotados num contentor, deixo aqui cópia de capas de alguns dos muitos livros que ele publicou. Pobre nota que intenta recordar um historiador fundamental nas relações entre Portugal e Moçambique. De um diplomata de excepção, em Moçambique conselheiro cultural entre 1977 e 1996. E de um homem insigne.

 

José Soares Martins (José Capela) teria merecido maior atenção por parte de ambas as repúblicas, ainda que tenha sido alvo de justificada atenção. Recordo que há anos, cerca de 1997, foi sondada a Universidade Eduardo Mondlane para que lhe fosse atribuído um honoris causa. Algo que não aconteceu por meras razões políticas, ainda que Soares Martins fosse uma personagem respeitada no país. Mas teria sido então o primeiro honoris causa dado pela UEM e isso inviabilizou o facto - julgo que o primeiro foi alguns anos depois atribuído a Nelson Mandela. Alheio a honrarias, mas historiador credor das leituras que lhe eram devidas, Soares Martins apenas sorriu ao facto. Alguns anos depois, após o desencadear dos doutoramentos em Maputo, talvez alguma coisa pudesse ter sido feita de novo para potenciar o olhar sobre esta obra, a historiográfica e a existencial. Não houve - nem na academia moçambicana nem na diplomacia portuguesa - quem a induzisse.

 

Sei que há dois anos, por iniciativa do Centro de Estudos Africanos da Universidade de Porto, de novo se levantou essa hipótese, significativa pois mais do que mera honraria, intentando um renovar do interesse pelo trabalho incessante que Soares Martins (Capela) sempre desenvolveu (ainda há poucos meses recebi o seu último livro). Foi então proposta e aceite a atribuição desse grau por parte dessa Universidade. E então, após contacto desencadeado por admiradores da sua obra, também a Universidade Politécnica de Moçambique, decidiu atribuir esse título ao historiador. Mas as difíceis condições de saúde de Capela (Soares Martins) acabaram por impedir a atribuição de ambos os títulos.

 

Há cerca de um mês, em convívio com Luís Carlos Patraquim este, inopinadamente, telefonou-lhe. Falou-lhe e passou-me o telefone. Atendeu, com voz viva e alegre, algo que ainda cresceu mais quando percebeu que estávamos em Maputo, e não em Lisboa como julgara inicialmente. Como se algo dali lhe enviássemos. O Patraquim, que estava mais avançado do que eu, disse-lhe "devo-te tudo". Eu, que estava a seguir, não me fiquei atrás e disse-lhe, mais cerimonioso, "devo-lhe tudo, senhor doutor". Ele riu-se, com aquele riso que ainda lembro. 

 

Agora fico aqui, muito mais sozinho. Obrigado, Luís Carlos Patraquim, por esse teu telefonema, que me permitiu o agradecimento que ainda não explicitara.

 

 

[António Melo, José Capela, Luís Moita, Nuno Teotónio Pereira, "Colonialismo e Lutas de Libertação. 7 Cadernos Sobre a Guerra Colonial", Porto, Afrontamento, 1978 (edição policopiada clandestina em 1971)]

 

 

[José Capela (selecção, prefácio, notas), “Moçambique Pelo Seu Povo”, Porto, Afrontamento, 1971]

 

José Capela, "Escravatura. Conceitos. A Empresa de Saque", Porto, Afrontamento, 1978 (1ª edição 1974)

 

]

José Capela, "A Burguesia Mercantil do Porto e as Colónias (1834-1900), Porto, Afrontamento, 1975

 

José Capela, "As Burguesias Portuguesas e a Abolição do Tráfico da Escravatura, 1810-1842", Porto, Afrontamento, 1979

 

]

José Capela, "O Movimento Operário de Lourenço Marques, 1898-1927", Porto, Afrontamento, 1981

 

 

José Capela e Eduardo Medeiros, "O Tráfico de Escravos Para as Ilhas do Índico, 1720-1902", Maputo, Núcleo Editorial da Universidade Eduardo Mondlane, 1987

 

 

Manuel de Vasconcellos e Cirne, "Memoria sobre a Provincia de Moçambique", Maputo, Arquivo Histórico de Moçambique, 1990 (prefácio e notas de José Capela)

José Capela, "A República Militar da Maganja da Costa, 1862-1898", Porto, Afrontamento, 1992

 

]

 

José Capela, "O Escravismo Colonial em Moçambique", Porto, Afrontamento, 1993

 

 

José Capela, "Moçambique na Literatura Historiográfica Portuguesa", Maputo, (separata), 1994

 

]

José Capela, "O Álcool na Colonização do Sul do Save, 1860-1920", Maputo, edição do autor, 1995

 

 

 

José Capela, "Donas, Senhores e Escravos", Porto, Afrontamento, 1996

 

José Capela, “O Tráfico de Escravos nos Portos de Moçambique”, Porto, Afrontamento, 2002

 

 

José Capela (prefácio e notas), “Caldas Xavier. Relatórios dos acontecimentos havidos no prazo Maganja aquém Chire, Moçambique, 1864″, Porto, Húmus, 2011

 

 

publicado às 20:20

 

 

Uma preciosidade, verdadeira, apresentada anteontem em Coimbra. Esta apurada colectânea das crónicas de João Albasini, trabalho de Fátima Mendonça e de César Braga-Pinto, publicada pela editora moçambicana Alcance. O livro será apresentado hoje, domingo, no Porto (Feira do Livro, Jardins do Palácio de Cristal, Galeria da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, às 19 horas).

 

João Albasini (1876-1922) é uma personagem crucial da história intelectual moçambicana. E já foi eleito como protagonista literário, por João Paulo Borges Coelho no seu recente "O Olho de Hertzog". O livro integra dois artigos contextualizadores, cada um deles escrito por um dos organizadores, a luso-moçambicana Fátima Mendonça e o brasileiro Braga-Pinto. Integra 97 crónicas, anotadas, publicadas nos célebres e fundacionais jornais de Lourenço Marques, "O Africano" (1908-1918) e o "O Brado Africano" (1918-1974).

 

No contexto da edição moçambicana e na bibliografia sobre a história de Moçambique este livro é um verdadeiro luxo. Um monumento imperdível. 

 

Agora vou lê-lo.

publicado às 09:37

 

 

Não sei se o texto foi publicado nesta edição do "Canal de Moçambique". Pois na prática é uma repetição de um já publicado há dois anos, ainda que o tenha refeito. Mas como agora se assinala o centenário da Primeira Guerra Mundial pensei que seria interessante regressar ao assunto em Moçambique, onde as campanhas que aconteceram no norte do país são amplamente ignoradas - apesar do "O olho de Hertzog" do João Paulo Borges Coelho, que durante elas se passa.

 

Por isso o texto enviado para o jornal para esta minha coluna bibliográfica foi esta nota de leitura sobre "Os Fantasmas do Rovuma", de Ricardo Marques, a história da I Guerra Mundial em Moçambique. Um livro que devia ser importado e divulgado, até discutido, no país. Talvez o venha a ser. Se isto ajudar ficarei todo ufano.

publicado às 20:22

A casa do ANC

por jpt, em 21.07.14

 

 

 

 

São agora os meus últimos fins de tarde aqui, voam, como voaram os milhares anteriores. Estou só no Shamwari, que em tempos tanto frequentei com amigos, que também já lá não estão. À frente, cada vez mais ruína, está a velha casa, memória de um "Maputo madeira-e-zinco", coisa já tão rara, e que podia ser icónica se noutro local. Ou melhor, deveria ser icónica neste local. Durante anos pensei escrever algo sobre ela, nunca o fiz, mas também sobre tanto fui sendo incapaz de botar... Pois tantas as histórias que evoca, dizem-ma quase-sede do ANC aqui "nos anos de chumbo". Esses dos ataques inopinados, alguns tétricos de absurdo, como aquele atentado a uns dirigentes em que o "comando" se enganou e assassinou os habitantes do "flat" ao lado. Entre a recuperação das histórias e a reconfiguração da complexa história Moçambique-ANC, sempre beliscada pelo pragmático "Inkomati" tanto haverá para fazer. É nisso que penso durante as cervejas solitárias do Shamwari, a resmungar que deveria era escrever qualquer coisa para o "Canal de Moçambique", despedida que fosse, a propôr uma casa-museu nesta casa (que foi?) do ANC, também forma de manter um, um que seja, exemplo de um Maputo antigo, de uma forma histórica.

 

No dia seguinte, sábado, vou fotografar, a máquina recusa-se por qualquer botão desafinado. Uso o telemóvel, mas voltarei depois para a captar como deve ser, para ilustrar o texto se o Veloso o quiser. Volto na terça-feira seguinte. Já tinha sido arrasada...! Tal é o ritmo do neo-Maputo.

 

Fica assim esta foto. A última foto da que não será a casa-museu do ANC. E sinto-a auto-retrato.

 

publicado às 21:00

Ilustração de Achille Beltrame

 

Assinala-se (não se "comemora", como alguns dizem) hoje o centenário do assassinato do herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, Franz Ferdinand, e da sua mulher, em Serajevo, cujas ondas de choque conduziram à primeira guerra mundial (1914-18). E ao verdadeiro fim do século XIX, disseram alguns, e da "era dos impérios" disseram (mal, em minha opinião) outros.

 

Claro que há imensa coisa escrita sobre esta guerra, talvez a mais demencial de todas - tanto pelas suas forças motrizes como, e talvez mais por isso, pela sua coreografia militar, resultante numa matança então nunca vista. Mas aqui chamo a atenção para um blog em constante actualização, dedicado à participação portuguesa, o Portugal e a I Guerra Mundial

 

Num campo mais particular constato, e com algum susto, que as novas gerações pouco ou nada sabem sobre este macro-episódio da história universal. É costume, verdadeiro ritual, um professor de antropologia aludir ao contexto do trabalho de campo (dito fundacional) de Bronislaw Malinowski na Ocêania, como enquadrado no momento da I Guerra Mundial. Acontece que os jovens não têm ideia, às vezes nem cronológica, quanto mais substantitiva, do referido. E, como corolário, aqui em Moçambique muito menos das suas implicações na história do país, naquele momento e no seu futuro.

 

Também por isso deixei duas breves notas de leitura para dois livros que penso serem importantes para a história da I Guerra Mundial em Moçambique: o muito recente e bem conseguido "Os Fantasmas do Rovuma", de Ricardo Marques (que deveria aqui ser lançado, apresentado e divulgado); e um livro magnífico, escrito por um soldado português de então e recentemente reeditado, "Kináni (Quem Vive?). Crónicas da Guerra do Norte de Moçambique", de Cardoso Mirão, um cru relato sobre aquelas campanhas, e também sobre a mentalidade e a sociologia militar de então, absolutamente imperdível (e que belo filme daria, farto-me de insistir cada vez que cruzo alguém da indústria cinematográfica). Para além de ser um espelho acurado sobre os processos sociológicos e culturais de instalação colonial. E, claro, aproveito para chamar a atenção para o "O Olho de Hertzog" de João Paulo Borges Coelho, dedicado a este momento histórico no país, razão para o irmos (re)ler agora.

 

 

 

Desse "esquecimento", amputador da percepção dos processos constitutivos da entidade nacional moçambicana, é sintomático o facto do total desconhecimento que os alunos universitários têm do significado desta estátua, a sempre referida "senhora da cobra", sita na baixa de Maputo. O único exemplar da monumentália colonial que ficou patente, e avisadamente, pois evoca também os inúmeros mortos moçambicanos - soldados e, na esmagadora maioria, carregadores - que esta guerra provocou no norte do país. Algo que subsistitu durante décadas na história oral no norte: lembro que na década de 1990, trabalhando eu no Cabo Delgado, recorrentemente os anciãos me aludiam à guerra dos "ma-germanes", situando-a, algo confusamente, na década de 1940 (óbvia associação à II Guerra Mundial).

 

Sendo assim talvez esta (maldita) "efeméride" possa servir de momento para se falar sobre estes factos aqui.

 

Das minhas parcas leituras sobre o assunto também quero realçar dois pontos: o como este processo da I Guerra Mundial portuguesa em África foi determinante no "projecto colonial" republicano, e como essa concepção (mundivisão, se se quiser) republicana transitou, como algumas outras, para a percepção que a intelectualidade socialista (entenda-se, do partido socialista português) entendeu, nas últimas décadas de XX o relacionamento dito "lusófono".

 

O segundo, completamente diverso, é um olhar sobre uma figura paradigmática, símbolo de uma "visão do mundo" de então (o oficial prussiano; ou o "junker", se se quiser), o lendário e excepcional comandante alemão, general Von-Lettow-Vorbeck. Fosse ele anglófono e muitos filmes lhe teriam sido dedicados. O seu livro "My reminiscences of East Africa" (acesso livre) é um texto sumptuoso para qualquer curioso sobre o assunto.

publicado às 13:51

 

 

A feira do livro em Lisboa começa amanhã. Chamo a atenção das carteiras dos potenciais interessados que este ano haverá um pavilhão do livro moçambicano, organizado pelo Instituto Nacional do Livro e do Disco. No qual, segundo me dizem, se congregarão as editoras nacionais. A actividade editorial tem crescido nos últimos anos, sendo de esperar que a conjunto de obras ali disponibilizadas possa satisfazer os amadores de Moçambique e os curiosos. E também os leitores com interesses profissionais. 

 

Certo que há editoras associadas a congéneres portuguesas (Leya, Texto, Porto, Paulistas) que talvez tenham outras hipóteses de colocação dos seus livros em Portugal. Mas espero que integrem este pavilhão. Para além disso outras há em verdadeiro crescimento. Em particular a "Alcance", que tem editado bastante literatura nacional e importantes reedições de obras há muito esgotadas (textos de 1980s e 1990s, na sua maioria). E a "Marimbique", a editora que mais belos livros faz no país, cujo catálogo inclui um excelente conjunto de ensaios sobre várias temáticas em Moçambique.

 

Deixo aqui duas recomendações, obras que estou a ler e a muito gostar, e que espero disponíveis nesse pavilhão:

 

 

Este muito recente "A Alegria é Uma Coisa Rara", de António Sopa [publicado pela Marimbique], a história social da música no Lourenço Marques de XX. A formação e disseminação dos ritmos populares sitos nos subúrbios, em mescla dos ritmos de várias origens no país, culminando na celebrização do ritmo marrabenta no "cimento", e o contacto com o jazz, bem como as dimensões sociológicas das festas, concertos e do comércio musical. É, e digo-o com franqueza, um livro soberbo.

 

 

 

E o último livro de Ungulani Ba Ka Khosa, este "Entre as Memórias Silenciadas" (da Alcance), o seu regresso à excelência, em minha opinião o grande texto de Khosa desde os anos 90s, uma devastadora apneia na história moçambicana. Imperdível.

 

Mas há mais, será só ir lá ao tal pavilhão. Tenham muitas despesas, é o meu desejo.

publicado às 13:21

 

Hoje duas sessões simultâneas de apresentação de quatro livros, não há dúvida que Maio anda animado em Maputo. Na ECA às 17.30 apresentação de dois deles, projectos apoiados pela Kulungwana e editados pela Marimbique: "Kikiriki", um trabalho de Ciro Pereira sobre o maestro Filipe Machiana, muito apetecível, já aqui ao meu lado. E o "A Alegria é uma Coisa Rara", história da música em Lourenço Marques, de António Sopa, um livro verdadeiramente soberbo, que estou a acabar de ler e que mais do que recomendo, absolutamente imperdível. 

 

No Camões, casa que obviamente reanimou, Adelino Timóteo apresenta às 18 horas dois livros publicados pela Alcance, "Nós, os de Macurungo" e "Não Chores Carmen".

 

 

 

 

Amanhã, também por aquela hora das 18 horas, e também no Camões, é apresentada a edição moçambicana (Ndjira) do último livro de João Paulo Borges Coelho, "Rainhas da Noite". Que já li e muito recomendo. Mas sobre o jpbc está o ma-schamba cheio de elogios, não se justifica continuá-los, qual ladainha. Apenas ecoar. O livro, que saíu em edição portuguesa há alguns meses, já foi lido por vários amigos e amigas meus. Que sendo leitores habituais do autor enchem de elogios este seu último. Como tal recomendável.

 

 

 

 

publicado às 09:15

 

 

Já é uma tradição, este anual "Encontros com a História", realizado no Camões. Actividade que vem sendo organizada por Aurélio Rocha (FLCS da UEM) e por Augusto Nascimento (IICT de Lisboa). Está a decorrer nesta semana em Maputo e na próxima semana será também feita em Xai-Xai e na Beira.

 

Infelizmente coincide com o meu horário de docência e perderei todas as sessões. Sem desprimor para com nenhum dos outros oradores, tenho pena de ter falhado a primeira sessão de Frederico Delgado Rosa, colega de Lisboa, mais difícil de aqui escutar e que publicou há pouco um interessantíssimo livro em co-autoria com Filipe Verde, "Exploradores Portugueses e Reis Africanos". Deixo o programa em baixo.

 

Hoje falará Severino Ngoenha, homem sempre a escutar. Para quem possa convirá dar um salto até à Nyerere.

 

05/05/14: Frederico Delgado Rosa (Univ. Nova de Lisboa): "Continuidades invisíveis: o assassínio de Humberto Delgado antes e depois do 25 de Abril" 

06/05/14Joel das Neves Tembe (FLCS UEM): "A Luta Armada de Libertação e a legitimação do vanguardismo da FRELIMO"

07/05/14: Severino Ngoenha (Univ. São Tomás de Moçambique): "A Luta Armada: uma perspectiva filosófica"

08/05/14Aurélio Rocha, (FLCS UEM): "A Independência de Moçambique e o 25 de Abril: uma perspectiva"

09/05/14: Augusto Nascimento, (Instituto de Investigação Científica e Tropical de Lisboa): "Militâncias e Lutas pela Independência nas ex-colónias portuguesas: um balanço histórico» 

publicado às 08:55

No centenário da I Guerra Mundial

por jpt, em 13.02.14

[Embarque de tropas portuguesas para Angola]

 

Neste ano centenário do início da I Guerra Mundial surge o blog dedicado Portugal e a I Guerra Mundial, um blog dedicado feito por João Cruz. Interessante e rico, de informação, de imagens e filmes, de referências a documentação bibliográfica portuguesa e internacional. Mais do que aconselhável.

 

Na apresentação do blog o seu autor diz: "Todas as guerras são estúpidas. Mas há, certamente, umas mais estúpidas do que outras. A I Guerra Mundial foi particularmente estúpida. ( ...) tem a particularidade de juntar a escala gigantesca de morticínio a um elevado nível de incompetência, crueldade, sofrimento, teimosia e inconsequência."

 

Entretanto João Cruz reproduziu (e nisso me deu a conhecer o seu belo blog) um velho texto meu sobre um livro que muito recomendo. Trata-se de "Kinani (Quem Vive?). Crónicas da Guerra no Norte de Moçambique, de Cardoso Mirão.", as memórias de um combatente português naquela esquecida frente da Grande Guerra.

publicado às 03:21


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