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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Ontem noite ainda não longa levaram-me a conhecer o Largo do Intendente, aquela zona que "nos tempos" era má demais mesmo para os passeios em busca do pitoresco. Agora semi-recuperada e palco, dizem-me, da animação boémia, dita cultural, e levemente gauchiste ..., felizmente descaracterizadora daquela profunda miséria que naquele antanho ali habitava. Caímos, inesperadamente, num festival musical ali a decorrer nestes dias. O pequeno rossio atulhado de gente, os bares apinhados, ambiente simpático, muito típico - eu com a cada vez mais habitual sensação de ser avô, tamanha a juventude circundante. Tanta que até agride, ainda que tão pacífica.
Mas o importante é ter percebido que hoje à noite, por aquela hora das vinte e uma e trinta, o grande Hugh Masekela tocará, o encerramento do tal festival, "Lisboa mistura". Vi-o há anos, muitos, lá em Maputo. Vai ser interessante ver o mais-velho aqui, não sei se pela primeira vez nesta capital ...
Para quem não o conhece: vão até lá. E deixo aqui a sua "Stimela" (Xitimela), já tornada "clássico", numa versão recente [e aqui já colocara velha versão com transcrição da letra). Até logo? (E fica a célebre Stimela, tocada em 2013)
Abaixo um comentário sobre emigrantes moçambicanos fez-me lembrar esta música de Hugh Masekela, um fantástico hino. Sim, eu sei que o comentário não se referia a este mundo. Efeitos dos xizatos memorialistas, recortando discursos, livros e iconografias, e até quantas vezes transcritos para a própria historiografia.
[Sobre a canção ver uma boas descrições aqui e aqui]
There is a train that comes from Namibia and Malawi
there is a train that comes from Zambia and Zimbabwe,
There is a train that comes from Angola and Mozambique,
From Lesotho, from Botswana, from Swaziland,
From all the hinterland of Southern and Central Africa.
This train carries young and old, African men
Who are conscripted to come and work on contract
In the golden mineral mines of Johannesburg
And its surrounding metropolis, sixteen hours or more a day
For almost no pay.
Deep, deep, deep down in the belly of the earth
When they are digging and drilling that shiny mighty evasive stone,
Or when they dish that mish mesh mush food
into their iron plates with the iron shank.
Or when they sit in their stinking, funky, filthy,
Flea-ridden barracks and hostels.
They think about the loved ones they may never see again Because they might have already been forcibly removed
From where they last left them
Or wantonly murdered in the dead of night
By roving, marauding gangs of no particular origin,
We are told. they think about their lands, their herds
That were taken away from them
With a gun, bomb, teargas and the cannon.
And when they hear that Choo-Choo train
They always curse, curse the coal train,
The coal train that brought them to Johannesburg.
[imagem encontrada neste texto (uma adaptação do texto "A Place in the City" de Lilli Callinicos, aqui biografada).]
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