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Na morte de Adelino Serras Pires

por jpt, em 12.08.15

(Ausente e sem acesso a computador a Ana Leão pede-me para colocar este seu postal, em modo de homenagem)

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1- Stu Rosa, Comandante da Apollo 14; 2 e 3-Adelino Serras Pires; 4-Dottie Duke, Carnaval, 5-pisteiro, 6-Charlie Duke, Comandante da Apollo 16. [fotografias encontradas aqui]

 

Morreu-me hoje um grande amigo. Homem grande de coragem e integridade feito. Envolto em polémicas e controvérsias assim as confrontou - sem medo e seguro das escolhas que fez, mesmo em desagrado da maioria. Morreu hoje um cacador apaixonado, para quem a ética da caça era ainda um valor a respeitar. Conhecia o mato como ninguém e com ele aprendi que aparentes opostos de podem casar num homem com rectidão.

 


Morreu-me hoje um amigo com quem nem sempre concordei, mas que sempre admirei e respeitei. Morreu-me. Deixou-me as memórias dos momentos comuns e a lembrança da amizade que nos uniu. Morreu-me hoje um amigo. Morreu o Adelino Serras Pires.

publicado às 02:38

Adelino Serras Pires

por jpt, em 11.08.15

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[Adelino Serras Pires & Fiona Claire Capstick, The Winds of Havoc, St. Martin's Press, 2001]

 

Acabo de tomar conhecimento do falecimento de Adelino Serras Pires, homem muito conhecido da sociedade moçambicana do tempo colonial, em particular no centro do país, e também nos tempos posteriores. Tive o prazer de o conhecer, brevemente, há cerca de uma década numa sua visita a Maputo. Apresentaram-mo numa esplanada da cidade e eu fui a correr a casa em busca do meu exemplar destas suas memórias, um belíssimo testemunho de época. Gentilíssimo logo acompanhou o autógrafo com alguma ironia, numa frase denotando um "talvez discordemos em muito" quanto às nossas visões sobre África em geral e Moçambique em particular, mas algo que em nada se opôs a uma agradabilíssima conversa que ali tivemos. Homem carismático também, bastou o breve contacto para o perceber. Crescido no Guro, feito homem na Beira, figura do turismo e dinamizador da caça naquela era colonial, partiu do país e veio a sedear-se na África do Sul, continuando sempre interessado em Moçambique. As versões sobre a sua ligação à guerra civil são díspares e não serei eu, com o reduzido conhecimento que dele e delas tive, que irei elaborar sobre o assunto. Sei que durante ela esteve preso, julgo que com um filho (li o livro há já mais de uma década e escrevo agora de rompante e de memória), capturado na Tanzânia. Segundo ele durante actividades ligadas ao turismo, segundo outros devido às suas ligações à Renamo. Do que li e do que apreendi quando o contactei fica-me a memória de um homem "maior do que a vida". E uma testemunha ímpar de uma era no país, e do ambiente cultural que nele vigorava. Deixo abaixo a transcrição de um postal que aqui coloquei há muitos anos sobre o seu livro. É a minha vénia:

 

 

São as memórias de Serras Pires (que têm edição portuguesa, presumo que na Europa-América), homem do mundo, de relativas posses, uma personagem bem conhecida, com a característica de serem muitíssimo legíveis (a co-autora, Fiona Capstick é uma profissional da escrita). Colono filho de colono, Serras Pires teve (e ainda tem) uma vida cheia, figura carismática. [Para os adeptos da caça este é um livro incontornável]. Muito interessante a forma como aqui se explicita, sistemática e conscientemente, a visão benéfica da África colonial, e de como no livro se subentende, e entende, as particulares modalidades de relacionamento (por um lado sistémico, por outro lado pessoalizado) de relacionamento com os africanos "originários", como agora se diz. Mas traz também as flutuações de relacionamento intra-mundo colonial - são recorrentes e profundas as críticas à governação colonial, aos mandarins metropolitanos, ao BNU (a finança todo-poderosa) e, excelente, "aos a sul do Save" (questão que largas décadas depois, e com tão diferentes actores, ainda se coloca). Um episódio marcou-me na leitura do livro - o pai Serras Pires, velho colono inaugural na região do Guro adoece, já idoso, ao fim de trinta anos na região. Tem que ser evacuado de urgência mas não sobreviverá à viagem de carro até à Beira. É então necessário evacuá-lo de avião mas não há pista de aterragem no Guro. Será construída durante uma noite, por mobilização popular. Cabe a história no modelo? Explica o colonialismo? Se sim, cristalizamo-la e embandeiramo-la? Se não, censuramo-la?

publicado às 20:55

Maria Barroso

por mvf, em 07.07.15

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Morreu Maria Barroso. Conheci de raspão em meia dúzia de ocasiões, foi sempre muito simpática comigo mas não posso dizer mais do que isto. Sobre a sua vida pública tratam os jornais e a sua orientação ideológico-partidária pouco me interessa porque, pelo que  alguns amigos que a conheceram de perto sempre me disseram (e do pouco que vi), era uma Senhora, uma Amiga fiel como devem ser os Amigos e Mulher de enorme capacidade, o que ultrapassa, ou deve fazer ultrapassar, diferenças políticas. Fiz este retrato na apresentação da candidatura de Elísio Summavielle a presidente da Câmara Municipal de Mafra, um indefectível de Maria de Jesus Barroso, que aqui lhe exaltava as qualidades com uma energia extraordinária para o que imagino ser possível em idade avançada. Tenho algum orgulho neste retrato, um bom momento se me perdoam a imodéstia, que fica para eles, os seus Amigos, sobretudo para eles, como memória futura das pessoas relevantes  que nos vão passando pela vida.

publicado às 17:58
modificado por jpt a 12/8/15 às 10:55

Camarada

por jpt, em 19.06.15

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(Paulo Gentil; fotografia de Sérgio Santimano)

 

 

Esta é uma das canções da minha vida. Em tempos recuados também, mas não desde há décadas, por ser um carinhoso cantar desta partilha companheira de um charro, da procurada leveza amigada, isso mesmo que um dia fomos cantar à Aula Magna lisboeta, quando o Sérgio Godinho fora preso no Brasil, ainda os tempos daquela ditadura, por razões de posse de umas gramas de erva. Mas já então, e agora ainda mais, mesmo mesmo nada disso pois muito mais, que a canção subia a hino, como o foi, por dizer isto " É que hoje fiz um amigo / E coisa mais preciosa no mundo não há (...) / Guardei um amigo / Que é coisa que vale milhões", e era e é mais do que o suficiente para a fazer este isso tão grande ...

 

Agora as décadas passaram, chegou a idade e já não é o meu tempo de fazer amigos. Mas sim, como hoje, o de os perder, partidos para sempre,  e eu a cantar embargado "É que hoje perdi um amigo / E coisa mais preciosa no mundo não há (...) / que é coisa que vale milhões". Avançou o Paulinho, o meu querido Paulinho, tinha que ser. E assim, como já o disse, sentindo-o muito, a savana está a ficar desarborizada, sem sombras e sem refúgios. E um homem desabrigado, enquanto aqui vai ficando.

 

Conheci-o já depois daqueles tempos épicos, "os anos de chumbo" que narram em Moçambique, doirados para os homens que o são por mais duros e injustos que fossem, esses tempos e até aqueles homens. Talvez melhor dizendo, tempos doirando os homens, coisa complexa para quem não conhece o país e se apresta em juízos, que nada mais são do que posconceitos, assim falhos.

 

Apanhei-o, apanhámo-nos, depois, já naquela tão aparente modorra do Maputo da paz. As nossas mulheres mui amigas, as nossas filhas crescendo juntas (e como tanto as amamos!, pais velhotes ...), um punhado de amigos em conjunto, este a desvanecer-se tão depresssa, e como dói isto do Kok e do Jorginho também já terem avançado, e mais para mim, não tanto para ele, o Luís, esse que me devastou, me mudou para tão pior, quando foi e eu não consegui estar. E o nosso Sporting, coisa sempre jocosa, mais o resto tudo. Pretextos, e ainda bem que assim foi, para a gente tantas vezes se sentar juntos, partilhando. O jarro de vinho, com alguma parcimónia, sempre o notei, mais um charro ou outro, da parte dele, eu mais naquelas apneias dos uísques e assins. E à nossa volta cada um ao seu ritmo.

 

E nisto eu a aprender Moçambique. Ele o mais moçambicano que apanhei, um profundo zambeziano do zumbo ao índico, do maputo ao rovuma, apaixonado pelo seu país. Pois um conhecedor, amante. Avançasse eu, ou outrem, para a distante província, para qualquer recôndito distrito, havia sempre alguém que ele conhecia, um contacto a fazer, a facilitar as dificeis condições, ainda para mais porque, e quantas vezes mo aconteceu, "és amigo do Paulo Gentil? então estás em casa, do que precisas?", seja lá onde fosse, fosse lá quem fosse ... Pois nele havia um conhecimento denso do país feito saber da história, aquela dos ditos "chuabos", da escola de Chimoio, dos tempos da independência, da guerra civil, na qual andou mesmo mesmo como "camarada comissário político" (como lhe respondia eu ao "professor" nas nossas chamadas telefónicas), e do daquilo do depois, do mundo "ongs", do desenvolvimento, um conhecimento que era o das pessoas que a fizeram, à tal história, e que a estão a fazer, algo que nós, antropólogos, chamamos etnográfico.

 

Um saber feito de memória prodigiosa mas acima de tudo de sabedoria, e não estou a ser redundante. De respeito e, acima de tudo, de um enorme interesse por quem o rodeava. Mais ainda de louvar pois em homem nada plácido, um gajo de irritações, mau-feitio, como o deve ser homem que o é, homem de feitio. Mas homem, e isso sabiam, sabiamo-lo, nós os outros. Por isso mesmo, pelo apreço e cuidado por todos os com quem ombreava, algo a que também se pode chamar só respeito ou mesmo amor, o digo, o sei, o mais moçambicano, o maior moçambicano, que cruzei. E assim, só por assim o ser, ainda que sarcástico, irónico, mesmo até malandro, sendo, e por todos sabido e vivido, homem de amigos, tantos amigos, eu apenas um deles, mas assim a sentir-me tão especial, decerto como todos os outros. Homem ... como tão poucos.

 

Apanhei-o agora no fim, aqui na Lisboa dele tão longínqua. Chegado cansado, pois este mesmo fim, mas o mesmo trato, nada rasurado, o mesmo humor, o mesmo afã do mundo. E conto-o para que os camaradas de Maputo o saibam, os possam assim acompanhar, a alguns destes seus últimos passos. Fui ter com ele ao hospital, aos Capuchos, à primeira consulta, cheguei e aperto de mão pois nada de abraços (e nem o abracei, caralho ...). O médico, um tipo chamado Brotas, muito porreiro, a dizer que entrássemos juntos na consulta, e a gente a negar-se, eu num "não é preciso, só estou a acompanhar" e à terceira insistência do médico, obviamente preocupado, o Paulo logo letal "Zé, o tipo deve julgar que a gente é um casal", coisa dos tempos d'agora-aqui, e a gente a rir-se, sem maldade, apenas de nós próprios, e mais dele próprio, agora-assim, foda-se que estava a morrer. Que coragem!

 

Avançou-me até à Póvoa de Santo Adrião, onde a família tinha casa, arrabalde lisboeta que eu desconhecia. Logo ao melhor restaurante da zona, o "Floresta", a fazer amizade com os empregados, eles seduzidos. A comer nada mas com todo o prazer. Eu a beber a minha angústia. Depois, no segundo dia que lá fui parei, sozinho, no quiosque (a barraca, como se diz na terra) da rua dele, a comprar tabaco, e a miúda "então, o seu amigo hoje não vem?", e ele já era do bairro, gostado e precisado! E eu, que aqui vivo, e tantos outros, e ninguém nos liga ...

 

Dias depois outra consulta, apenas para mais delongas para um homem já sem tempo. No fim perguntei-lhe "camarada comissário político e agora? onde queres ir?", e ele a querer sair dali, daquela Póvoa de Santo Adrião, até à Lisboa ali depois dos montes. "Feira do Livro" disse-me. Avisei-o que era um subir e descer cansativo  para ele e, raisparta, de que vale lá ir, nós sem dinheiro, para além de que aquilo para mim é só comprar livros para a estante, pois tantos já em casa sem serem lidos, e posso-lhos emprestadar, é só ele vir buscar. E ele a rir-se "gosto disso!, é isso mesmo, quero comprar livros para a estante", assim a pensar o futuro, e eu a esmaecer diante de tanta força. Mas ainda era cedo, meio da manhã, a Feira ainda fechada. Fomos almoçar, "talvez ao rio, não?" propus, mas logo lhe dizendo "que nos interessa o Tejo a nós, vindos do Índico?" E assim fomos ao mercado de Alvalade, uma espécie do mercado do peixe lá de Maputo onde acabámos no restaurante local. Eu a presumir um peixinho grelhado, adequado julguei eu. Mas nada disso, "uma cataplana de gambas e peixe" escolheu e assim foi, ele a picar algo com o prazer da vida e eu a alambuzar-me, enquanto lhe prometia metade do frasco de piripiri que o Elísio me trouxe agora de Maputo ...

 

Comemos e falámos. Do futuro. Um pouco disto de Nyusi mas muito mais do como estamos, que vamos fazer, nós-próprios. Ele preocupado comigo, com a minha família "Zé ....!!!" a obrigar-me a pensar, "que estás a fazer?". E eu preocupado, "como estás de reforma?" "de dinheiro?", como "vai ser o regresso?", a esperança quase desesperada a fazer-me ainda mais imbecil. Ele a exigir pagar naquele dia, e assim foi. E a navegar esse futuro que aí vem. Ambos sem reformas, sem bens alguns, sem emprego, sem nada disso. Camaradas manos. "Estamos fodidos, camarada!!" disse-lhe. E ele, quase a morrer, a rir-se devagar, num concordante "estamos!". Pois o Paulo, depois da adesão, dos 40 anos de militância, da guerra feita, e depois de tanto distrito calcorreado, de tanta ong trabalhada, daquilo do desenvolvimento, de tanto contacto, de tanta amizade, nada acumulou. Nada quis. Nada apropriou, nada aproveitou. A sua maneira de andar direito, erecto. De amar, solidário. Orgulhoso.

 

Pois todo se deu, assim fruindo. Todo conheceu, assim fruindo.

 

E eu, agora, hoje, não o vou comparar com os outros. Pois nem o merecem. Fico-me a chorá-lo. Homem a chorar a falta que ele me vai fazer.

publicado às 03:25

Tofinho

por jpt, em 24.10.14

 

Só o Tofinho. Pois morreu hoje uma amiga que adorava esta praia 

publicado às 11:27

Páscoa 2014

por jpt, em 20.04.14

No dia em que iam matá-lo, Santiago Nasar levantou-se às 5 e 30 da manhã para esperar o barco em que chegava o bispo. Tinha sonhado que atravessava uma mata de figueiras-bravas, onde caía uma chuva miúda e branda, e por instantes foi feliz no sono, mas ao acordar sentiu-se todo borrado de caca de pássaros. "Sonhava sempre com árvores", disse-me a mãe, Plácida Linero, recordando vinte e sete anos depois os pormenores daquela segunda-feira ingrata. "Na semana anterior tinha sonhado que ia sozinho num avião de papel de estanho que voava sem tropeçar por entre as amendoeiras", disse-me. Tinha uma reputação bastante bem ganha de intérprete certeira dos sonhos alheios, desde que lhos contassem em jejum, mas não descobrira qualquer augúrio aziago nesses dois sonhos do filho, nem nos restantes sonhos com árvores que ele lhe contara nas manhãs que precederam a sua morte.

publicado às 22:53

Paco de Lucía

por jpt, em 26.02.14

 

Dele vi uma mão cheia de espectáculos, sempre encantando, mágico. Tive vários dos seus discos de vinil e tenho vários dos outros (entre os quais Castro Marim, aludindo à  sua terra natal, ao sul de Portugal). Horas de música, basta isso agora em vez de palavras quando se está diante de um gigante destes, sem hipérboles.

 

Fica aqui alguma selecção, ad-hoc, curtas e concertos completos. Ele, ele com seu grupo, ele tocando Rodrigo, ele com o trio internacional que correu mundo (Meola e McLaughlin). No fim deixo um documentário nele centrado. Felizmente deixou vasta obra, inúmeros registos, poderemos recordar. E saudar a sorte de dele termos sido contemporâneos:

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado às 08:39

Coluna, o Monstro Sagrado

por jpt, em 25.02.14

 

 

 

 

 

Morreu Mário Coluna, o grande jogador, o Monstro Sagrado. Nunca o vi jogar, apenas breves excertos de arquivo televisivo. Outros poderão falar sobre o antigo capitão do Benfica e da selecção portuguesa, bi-campeão europeu e eterno campeão português, extraordinário jogador reza a lenda, e acredito totalmente nela. E sobre a sua carreira de treinador e dirigente desportivo. Ficou também um livro, sua biografia, da autoria de Renato Caldeira (publicada em 2003 em Maputo) - o qual vale a pena ler, também como documento daqueles anos d'ouro do futebolista Coluna. 

 

Conheci-o mais tarde, gentilíssimo, quando cheguei a Maputo. Vinha às actividades culturais nas quais eu estava presente. Era convidado e vinha. A gente esquecia-se logo da pintura, escultura, literatura ou outro qualquer assunto, rodeávamo-lo ouvindo histórias, e pedindo mais. E ele, com aquele sorriso cheio, que lhe era tão próprio, aquela voz cava, contava mais. Às vezes deixava escapar alguma mágoa, podia ter sido milionário, o dinheiro que lhe ofereciam os grandes clubes italianos teria dado para comprar prédios na Av. de Roma, confidenciava - e na época esse teria sido um investimento certo. Mas o Benfica não deixara, Salazar não deixara. Conto a história, tantas vezes por ele repetida, porque a ouvi várias vezes e em versões não tão encomiásticas das autoridades de então, como já mais tarde, no ocaso da sua vida, a história foi ecoada pelos jornais.

 

Lembro-me que quando o conheci fiquei um pouco indeciso, como o tratar? Ele, estrela respeitável e neo-sexagenário. Escolhi "Mestre", que o era. Mas desisti, após algumas vezes, pois todos o tratavam, com desvelo, carinho e grande respeito, por "Monstro". Sim, Senhor Mário Coluna em modalidade mais protocolar, quando diante d'outros, mas entre nós, admiradores, "Monstro". Ao longo dos anos encontrei-o nos palcos de convívio, ele envelhecendo, eu também. Belas conversas - uma vez quase se zangou comigo quando tive a audácia de alvitrar, em mero diálogo, que no tempo dele havia "mais espaço" em campo, os jogadores ocupavam-no menos. Calei-me, quem manda um leigo meter a foice em seara de Mestre.

 

Há pouco tempo morreu Eusébio - até nisto estão juntos. E a selecção do Além está a receber grandes reforços, estes dois a entrarem de caras como titulares. Li na altura alguns dislates sobre a "identidade" de Eusébio  - as pessoas têm défices culturais grandes, aprisionadas no mito da monoidentidade. Que a pobre polémica não se repita agora: Coluna era um homem muito orgulhoso do seu passado futebolístico, nisso sendo uma homem aprazível e nada arrogante. Muito orgulhoso dos triunfos, do seu enorme talento, de ter sido companheiro de quem foi (e falava com desvelo dos jogadores de então). Também de ter sido, ainda para mais vindo das suas origens mescladas e moçambicanas, capitão do Benfica e da selecção portuguesa. E era moçambicano, com prazer e orgulho - quantas vezes resmungão, como cada um de nós no seu país. Para além disso adorava, e de que maneira, o Sport Lisboa e Benfica.

 

Viva Coluna, Viva o Monstro Sagrado. E, por ele, só por ele, Viva o Benfica!

publicado às 18:01

Uanhenga Xitu

por jpt, em 15.02.14

 

Esta semana morreu Uanhenga Xitu, o delicioso escritor angolano. A quem nunca o leu deixo o "conselho", leia-o, é muito interessante. E, mais ainda, é saboroso. Há alguns anos foi  publicado em Portugal este "Bola com Feitiço" (dois contos: o mesmo "Bola com Feitiço" e "Mestre Tamoda") em edição de bolso, ainda andará pelos escaparates, será de fácil acesso. E por isso aqui o lembro. Em tempos deixei uma pequena nota de leitura sobre este livro [está aqui guardada], escrita porque me fez pensar na "modernidade" e na "lusofonia". Um livro que também se recomenda aos amantes do futebol (o conto "Bola com feitiço" é uma delícia para nós, "tribo do futebol").

 

Para relembrar ou como introdução ao escritor aqui fica este "apelo à leitura".

publicado às 08:35

Mandela

por jpt, em 05.12.13

Em 1994 presenciei a ascensão ao poder de Nelson Mandela. Algo que me marcou como nenhuma outra situação, também, acima de tudo, por ele, homem público inigualável. O melhor da sua era, da nossa vida. Dos poderosos ninguém o segue, espelho que se tornou da pequenez humana. Serão os desapossados a lembrá-lo, verdadeiramente. Ele, com toda a certeza, soube-o e sonhou-o. Obrigado Nelson Mandela (Madiba). "Now (Sempre) is the time".

publicado às 21:52

Joaquim Falé

por jpt, em 20.11.13

 

Saí uns parcos dias e no regresso a Maputo deparo-me com a notícia da morte, inopinada, fulminante, do meu patrício Joaquim Falé, companheiro de geração. Um homem super amável, gentil, disponível, discreto mas sempre armado de um sorriso desarmante. Quando eu cheguei já ele cá estava há alguns anos, depois de ter passado duas décadas na Suíça. Ligado ao turismo, calcorreou o país, reconhecendo disponibilidades turísticas, organizando percursos e acompanhando grupos. E descrevia-o com risonhos olhos de encantado. Nos finais de 90s alguns dos passeios que fiz foram por ele indicados, até organizados. Nos últimos anos esteve ligado à imprensa digital, editor de várias publicações no eixo do Club of Mozambique (Moçambique Hoje, Daily News Updates, e outros). Um percurso profissional cheio, e lembro-me de o encontrar tradutor do interessantíssimo "Os Suíços em Moçambique", o livro de Adolphe Linder (Arquivo Histórico de Moçambique, 2001), uma detalhada história da presença suíça no país.

 

Bem antes, ainda no século XX, o Falé tinha sido pioneiro na divulgação das letras e das artes moçambicanas (e africanas) nos suportes electrónicos, e isto bem antes da disseminação da internet no país (e até da sua expansão internacional), e acho que isso não será muito conhecido. Até porque muitos dos suportes ("sites") dessa longínqua (em termos internéticos) era foram caindo em desuso. Mas fica esta página "Autores Africanos. Do Rovuma ao Maputo" (que encetou em 1996!), com um vasto manancial de referências. Era-lhe um hóbi, denotando um homem sensível, culto sem disso fazer alarde. Quando comecei a blogar, em 2003 era recorrente encontrar referências às colocações  que o Falé fizera. Mas nunca transitou, que eu saiba, para os novos suportes blogais, divulgados já em XXI, porventura devido às obrigações profissionais. E pela sua riqueza: homem de família que era, com uma acarinhadíssima prole. Agora dele orfã e isso bem custa saber.

 

Até já, Falé.

publicado às 15:21

Giap

por jpt, em 05.10.13

(General Vo Nguyen Giap reviewing the liberation troops in 1945.)

 

Morreu ontem Giap, que foi uma personagem lendária do século XX. Nisso a sua morte ecoa a morte do velho século, e milénio, assim nas últimas despedidas - e o espanto que se sente ao ver esta fotografia, o homem que morre agora já em 1945 era activo líder na II Guerra Mundial. Mas ao recordarmos o comandante militar que venceu França e depois EUA talvez o possamos ver de outra forma, como o primeiro homem de XXI. Independentemente desse tipo de considerações aqui deixo ligação para uma galeria de fotografias publicada aquando do seu centenário.

publicado às 01:00

Monoteísmo (10) - In memoriam

por mvf, em 13.09.13

Pode parecer estranho deixar uma valsa como homenagem póstuma. Seria mais adequado um requiem ou outra obra pesada e séria, talvez uma missa solene? Talvez, mas como a homenagem é a Vítor Damas, o Leão Voador, fica como segue, lembrando a graciosidade, a elegância, os gestos rápidos e precisos, com que Damas defendeu as balizas do Sporting e da Selecção Nacional. Faz hoje 10 anos que morreu. Não houve outro como ele.

 

 

publicado às 17:36
modificado por jpt a 23/1/15 às 01:59

Vítor Damas

por jpt, em 13.09.13

 

Faz parte da meninice, do crescer, isso de ter ídolos. Depois, com a idade que acompanha consciência e desencanto, eles esfumam-se, uns tornado meros humanos outros até apenas nada. Eu tive alguns. O cume da minha idolatria foi com Vítor Damas, o maravilhoso guarda-redes do Sporting. Vibrei com ele na baliza (abaixo uma defesa contra a Inglaterra que me lembro de ver em directo, há 35 anos, tamanha a comoção sentida). Sofri quando partiu para Espanha. Resmunguei quando voltou a Portugal sem que o clube o tivesse contratado. E adorei, então eu já homem feito, quando voltou ao nosso clube. Damas era e continuou a ser o maior. Como meu ídolo nunca empalideceu. Faz hoje dez anos que morreu. O meu ídolo quando miúdo. O meu ídolo depois disso. 

 

 

publicado às 15:30

 

A série "All in the family" tornou-se não só modelo como monumento. E também recordação de uma idade de ouro. Da tv e de biografias próprias. Morreu agora Jean Stapleton, sempre Edith Bunker. Em vez de prosápias de ensaísta mais vale ir ao youtube, onde estão os episódios. Uma eterna delícia

 

 

publicado às 13:19


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