Jall Sinth Hussein,
Poemas do Índico, uma edição Amores Perfeitos.
Abaixo transcrevo excerto do prefácio, da autoria de António Jacinto Pascoal, a quem mais uma vez agradeço a simpatia para com o Ma-Schamba.
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Jall Sinth Mussa Hussein (? – 1982) nasceu em Muipiti, na Ilha de Moçambique, filho de dois indianos a que, à época, se chamava de monhés. Não sabemos a data de seu nascimento, mas segundo aquilo que meu pai nos contou, terá morrido em 1982, em Maputo. Meu pai, militar de carreira, cumpria o serviço militar em Moçambique, tendo passado por Tete, Nampula e Lourenço Marques. Visitava regularmente a ilha, onde fazia praia junto ao forte, e foi aí que, um dia, terá conhecido Jall. (…)
Neste livro reúne-se o conjunto dos tercetos que Jall intitulou de Basma que é uma palavra de origem turcomana ligada à estamparia de tecidos (recorde-se que Jall era dono de um bazar), bem como uma série de poemas sob o nome de O Que Dizem as Coisas. Os dois livros fazem parte de uma unidade que uma folha branca escrita a lápis designou por Poemas do Índico. E de facto, há uma coerência temática na obra deste indiano, em que a obrigação de estar atento ao real e à fusão com os elementos da natureza são temas recorrentes. Estamos em crer que este livro transmite a herança duma cultura fronteiriça oriental no limiar do Ocidente, possuindo uma sensibilidade e uma nobreza comum a imensas obras de ressonância árabe e asiática que celebram o amor pela vida como o mais alto valor na vida. (…)
A obra de Jall Hussein é um hino à dignidade, à luta e à liberdade humanas, numa espécie de diluição do homem com os elementos da natureza. As referências constantes a autores orientais, o referente do Índico, a forma poética que remete para o hai-ku japonês, e os poemas de filiação taoista e helénica prefiguram uma poesia que busca a essência do mundo e as grandes preocupações do homem, sem deixar de estar atenta às fragilidades e aos aspectos mais ínfimos da condição humana. É, por isso, uma poesia universal, plena de um discurso hierático, mística e clássica, revelando as necessidades mínimas da linguagem.
António Jacinto Pascoal