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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Assim a correr, que isto não merece muito tempo, lembro os resmungos do Comité Olímpico Português com o país que lhe saíu na rifa. Durante os Jogos o chefe da missão olímpica veio chamar incultos aos portugueses (sou eu que estou com os azeites ou isto é inadmissível, ainda para mais durante a missão?). E agora no final o quase eterno presidente do COP vem dizer que, a bem pensar, o que é preciso é que os portugueses ponham os filhos a praticar desporto (ou, de outra forma, vem-nos chamar incultos). Não é que não tenha alguma razão. A minha experiência com a juventude portuguesa passa pela magna escola portuguesa de Moçambique onde a cultura desportiva (docente) dominante é: os rapazes jogam futebol (a ver se são os futuros ronaldos) e as miúdas mascam pastilha e treinam para dançarinas de claque (a ver se irão para a cama com os futuros ronaldos). Presumo que lá no rincão as coisas não sejam muito diferentes.
Mas ainda assim isto do COP irrita-me um bocado. Há quatro anos descarregaram em cima do pobre do lançador, castigado por ter menos humor do que músculo. Agora descarregam em cima de nós. E então lembro-me quando cruzei o eterno presidente do COP mais a sua comitiva (do grupo só me lembro do então presidente do andebol). Eram os jogos da lusofonia (sub-16) em Maputo, em 1997 ou 1998. Lá tive umas conversas com eles, organizei um convívio no mini-golf para as centenas de atletas, e falei com eles na Mtomoni e no 720 da Nyerere. Aquilo que realmente lhes enchia a alma e provocava a verve era o desejo de organizar uma olimpíada. Defendiam a necessidade de organizar uma candidatura para 2008 ou 2012, já nem lembro, para poder aspirar à organização em 2016 ou 2020. Para mim, que ainda era jovem, tudo aquilo e todos aqueles encanecidos dirigentes, me parecia mergulhado em demência megalómana.
Hoje em dia, quando olimpíada sobre olimpíada lhes vejo os queixumes, lembro-me dessa época. E dá-me vontade de lhes chamar ... incultos.
jpt
Três notas antropológicas no fim destes jogos, que acompanhei em registo lite zapping, entre o tabuleiro de comida fria e o tabuleiro de comida requentada:
1. O Medalheiro: absolutamente extraordinária a actuação dos britânicos. Passava-se de um canal para outro, de um desporto para outro, e lá estavam os seus atletas, a ganharem competições, medalhas ou na compita final (os tais "diplomas", como se chama agora). A nota antropológica? Como as decisões estratégicas (organizar os Jogos) implicam inflexões institucionais, demarcam práticas e concepções. E conduzem a um sucesso (desportivo) destes.
Levaram a palma em muitas áreas. Na beleza e elegância no mínimo ascenderam ao diploma ... Estou algo seduzido pelas virtudes monárquicas.
2. Os velocistas jamaicanos. Espantoso domínio. Nota antropológica? Como explicar que uma tão pequena população tenha tamanha superioridade?. A antropologia biológica propõe-se resolver o assunto apontando o gene ACTN3, dizendo-o causa do fenómeno. A explicação neo-darwinista, em versão spenceriana ("a sobrevivência dos mais fortes" - coisa que não é de Darwin), surge celebrizada pelo ex-campeão Michael Johnson. A tese, ufana, indica que os corredores jamaicanos são os mais apetrechados geneticamente, dado que descendentes dos mais robustos, os sobreviventes ao tráfico esclavagista transatlântico. A "pequena história" (a la carte?) já vem confimar as hipóteses - como, aliás, é sempre costume. Talvez, talvez. Mas a antropologia política avança outra hipótese: o antigo campeão Carl Lewis diz, pura e simplesmente, que os controlos anti-droga são mais leves na Jamaica. Talvez, talvez. A ver vamos. Mais etnografia, sff.
3. Uma terceira nota antropológica, até mesmo de registo filosófico-ontológico. O agora ucraniano Valery Borzov (campeão dos 100 e 200 metros em 1972) entregou as medalhas dos 4X400 metros. Tremi face à robustez física com que se apresentou. Gelei com a "cortesia", siberiana, que demonstrou para com as atletas premiadas (até com as suas compatriotas, ali bronzeadas). Tudo a lembrar os tempos do apparatchikismo ("A Caçada", de Bilal mostra como era). Mas mais do que essa deriva para a antropologia política, há a questão ontológica.
Pois se até o Borzov fica assim que mais seremos nós, o Homem, do que vão pó insuflável? De que vale tudo isto?
No nosso blog sportinguista És a Nossa Fé! deixei dois breves apontamentos sobre o futuro imediato do Sporting: este e mais este.
jpt(Modifiquei o texto, amputando-lhe o que não é realmente importante) Escolhida que foi a sede dos Jogos Olímpicos sucedeu-se o júbilo. Primeiro ponto, e aí estou de corpo e alma, a virulenta canelada no infecto obamismo que a imbecilidade racista vem agitando nos dois últimos anos. Aleluia! Depois, bi-aleluia, viva a lusofonia - nossos "irmãos" brasileiros acolherão o mundial do futebol e as olimpíadas, e aí estou sem corpo nem alma. E, num terceiro aleluia, é o crescendo sul, o crescente sul. E aqui estou a rir-me do sulismo desnorteado.
O quarto aleluia, o meu aleluia, é que esta olimpíada pode fazer lembrar que o regime corrupto de Lula da Silva é grande incentivador - tal como anteriores títeres de Brasília - do abate amazónico. Sim, eu sei que a culpa é do Grande Capital. Mas como eles, os lulas, D'ele recebem jorna, pode ser altura para a gente lembrar isto. Sempre são as epistemologias do centro. Perdão, da humanidade.
jpt
Tudo isso vem a cabeca quando Nelson Évora ganha o ouro no triplo-salto dos Jogos Olimpicos e o jornal Publico - o "jornal de referência" ao que sempre ouvi dizer - tem um enviado a Pequim chamado Hugo Daniel Sousa, de profissão jornalista, a escrever (duas vezes) que para que Évora chegasse a campeão olímpico foi necessário "delapidar o diamante". Paulo Querido, a um profissional da palavra escrita que bota isto a gente chama-lhe o quê? "Lumpen"?
Todos os cartazes dos Jogos Olímpicos, óptima iniciativa do Memória Virtual numa colaboração com Paulo Querido.
Estou a ficar velho, a amolecer, e se calhar a Carolina empurra-me.
E provo-o nestas coisas dos Jogos Olímpicos, aos quais estou hoje desatento, indiferente a todos esses comboios da química, até querendo esquecer os meus meros patins nesses inflaccionados modos, antigos já de vinte anos.
Provo-o também, a esse amolecimento, ao ver a reportagem sobre o lutador português, ali de sorriso rasgadissimo a sonhar uma medalha, para a dedicar à filha, e um ar de quem até se envergonha do atrevimento. Esse lutador que, já agora, também é surdo-quasemudo.
No sofá, ao vê-lo, logo arranjo um cigarro para acender, a esconder a cara da Inês, não me vá ela surpreender os olhos agora traidores da idade e me dê um qualquer olhar de carinho que me desmanche a pose, estúpido envergonhado. Enfim, sampaíces.
Vai-te a eles, pá! E que, só neste caso, não se lixem as medalhas. Porra, ganda gajo!
A ver se te enchem o Marquês. Eu irei apitar para a Nyerere!