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Sou algo ambivalente face a Jorge Sampaio. Por duas vezes apanhei-o em visita a Moçambique quando era ele presidente da República e deixou muito boa impressão. E é um grande sportinguista. Mas, por outro lado, não consigo esquecer dois momentos da sua presidência: quando abjurou a constituição que tinha jurado defender, e aceitou a coligação disfarçada PS-CDS, aquela aldrabice feita por Pina Moura e Paulo Portas (o que aparentaria ser suficiente para ser ele apeado de Belém, o "impeachment" como dizem os televisivos); e quando foi dar um abraço ("em nome da amizade") ao autarca socialista corrupto da Guarda - e talvez tenha sido essa sua hierarquia (o apreço pela amizade acima da aversão à corrupção) que provocou o seu silêncio durante o consulado socratista, pois ninguém pode imaginar que a elite socialista não soubesse da trapalhada imunda do grupo do poder. Mas, ainda assim, tenho algum apreço pela sua figura. Talvez pelo já referido sportinguismo.

A ONU acaba de lhe atribuir o prémio Mandela, de periodicidade quinquenal, instaurado no ano passado e agora concedido pela primeira vez, destinado a quem tenha relevantes empresas em defesa dos objectivos das Nações Unidas. É, e não só pelo nome do galardão, uma grande honraria. Os motivos da atribuição chegam nas notícias: o serviço na luta contra a tuberculose. E o apoio ao acolhimento português aos refugiados sírios. Coisas e feitos verdadeiramente muito elevados, que esmaecem aquele meu relativo desagrado, vindo da tal plasticidade face aos desmandos do seu partido.

Mas mais do que o prémio interessam-me os ecos que ele tem (ou não tem) no país. Pois vem na sequência do acontecido na passada semana: Portugal foi escolhido pelo MIPEX como o 2º melhor país relativamente às práticas de integração de imigrantes, após a Suécia. Ou seja, em duas semanas seguidas as capacidades e as políticas do país, e das suas instituições estatais, em receber imigrantes e refugiados são rasgadamente elogiadas no estrangeiro.

Percorro os blogs mais "à esquerda", os murais-FB dos mais militantistas, entre os quais muitos do meus colegas - sempre prontos a criticar o "poder" e os "burocratas" do Estado, o racismo ímplicto e explícito deste e dos seus membros - , e também os jornais. Eco disto? Nenhum ou muitíssimo pouco. Pois o que lhes interessa é "denunciar" os males, apontar o "racismo" e até o "fascismo" do Estado e dos seus agentes apoiantes. Submersos numa auto-crítica constante, uma autofagia lusa, desbragada. Um impensamento, até desonesto, que nada seria se não fosse um facto: muitos dos seus locutores são remunerados pelo Estado. Para caricaturar as instituições. E para não reflectirem. Só isso. Pois não é nada "sexy" dizer bem .... o elogio e o reconhecimento são vistos como defeitos.

publicado às 17:50


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