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Pioneiro do jornalismo fotográfico Moçambique, olhar único na sua mescla de paixão e ironia, há pelo menos uma década que Ricardo Rangel vem assistindo a uma sucessão de homenagens oficiais. Mais que merecidas, e duplamente pois Rangel não as troca por particular vénia, mantendo-se dono daquele tom jovial, corrosivo, que convoca os circundantes. A pensarem, nisso que lhe são decerto homenagens privadas quotidianas. Que me lembre desde que alguém em Portugal se lembrou de o condecorar como Oficial da Ordem do Infante (1998) seguiram-se a moçambicana Nanchingwea e a francesa Cavaleiro das Artes e Letras (2007). Agora a Universidade Eduardo Mondlane atribuíu-lhe o doutoramento honoris causa, coincidindo com a evocação dos seus 50 anos de actividade profissional como fotógrafo. Efeméride saudada com uma exposição retrospectiva apresentada no Centro Cultural Franco-Moçambicano, "Ricardo Rangel. História, histórias ... 50 Anos de fotojornalismo em Moçambique" – os franceses atentos a não se ficarem pela condecoração, claro -, honesta conjugação de meia centena de fotos comissariada por Marie Lelièvre e produzida pelo próprio "Franco".

Poderia esta exposição ter mais brilho? Ter originado um catálogo e texto enquadrador? Com toda a certeza, mas decerto que os meios não abundavam e essa certeza sublinha-lhe os méritos.

Mas neste cortejo particular relevo terá esta recente colectânea de textos, explicitamente deixada como "Ricardo Rangel. Homenagem de Amigos" (Ndjira, 2008), obra organizada por Ramiro Oliveira, integrando reproduções de quadros sobre suas fotografias da autoria do seu velho companheiro de há quarenta anos, o pintor José Pádua. A essas se juntam 12 textos sobre o fotógrafo, desde uma nota de Ricardo Saavedra sobre uma exposição de 1969 até ao texto de António Pinto de Abreu sobre este livro, memória de quatro décadas de olhares sobre Rangel que incluem autores como António Sopa, Calane da Silva, Luís Bernardo Honwana, Mia Couto, Nelson Saúte e outros. Gente rendida, anos a fio, a essas lentes de carinho que foram fazendo um longo "álbum de crítica aos poderes prostituintes ... [no qual] reúnes a tua consciente desobediência, teu cívico inconformismo, a tua indocilidade e a tua infracção às regras do jogo ... deles.", como disse José Craveirinha (14-15).

publicado às 11:51


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