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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
Detesto o Acordo Ortográfico, e das razões para esse asco tenho enchido o blog. Por razões da própria escrita e seus efeitos na compreensão desejada. Mas,acima de tudo, pela pobreza de pensamento que levou meia dúzia de linguistas e uma mão cheia de políticos serôdios a levar aquilo à frente (alguns dos serôdios continuam no poder ou a influenciar o poder, a produzir o mesmo tipo de asneiras nos outros sectores da vida).
Sobre essa pobreza de pensamento e de como ela está presente em tantas coisas para além do "facto" ou "fato", do "há-des" ou "hás-de" escreve, e muito bem, José Pacheco Pereira:
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José Pacheco Pereira, que não costuma estar mal informado, insurge-se contra as finanças portuguesas. Enviaram-lhe uma comunicação e, entre outras coisas gravosas, vem esta em "acordês". Diz ele: "Isto foi corrigido para a ortografia portuguesa em vigor, porque o que lá vinha era "ativação", "efetue" e "eletrónica", tudo erros de ortografia. O Estado não respeita sequer a lei, visto que o Acordo Ortográfico não está em vigor.". Ou seja, coloca a questão da errada utilização pelo Estado da "nova" grafia, descendendo-a a ilegalidade. Estará certo?
Isto não é mera embirração. Se não é legal (ou, pelo menos, se não é correcto) que as instituições do Estado utilizem a "nova" grafia o que dizer da sua utilização no ensino oficial? Já aqui me questionei, como realizar o ensino do português, ainda para mais quando o governo anunciou que vai rever o actual acordo? Como ensinar os jovens numa grafia que não está decidida, e que nem sequer está legalizada?
Um pequeno detalhe ("anecdote"): esta semana terminou o segundo período de aulas do ensino português. Estive a corrigir o teste de matemática com a minha filha (9 anos, 5º ano). Num dos problemas estava questionada a "semirreta". Brincando li "semirrêta". A Carolina, que sabe destas minhas embirrações, mas ainda não tem idade para perceber que estas são mais com os admiradores serôdios do Acto Colonial, sonhando-lhe avatares, veros sobrinhos-netos de Salazar e netos de António Sérgio, mas sem o brilho dos antepassados, corrigiu-me com uma "semirréta". "Eu sei", confirmei, "estou a brincar!".
Ao que ela, certeira, e boa aluna, me respondeu: "a professora de português disse que o acordo ortográfico não muda a maneira de falar". Ao que eu lhe ripostei "e como aprendes tu a falar?". "A ler?!", percebeu ela. Aos nove anos.
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