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"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)
História do Universo em Banda Desenhada, tomo I (vols. 1-7. Do Big Bang a Alexandre, o Grande), de Larry Gonick, uma edição da Gradiva de 2007 (original de 1990).
Procurei (e custou a encontrar, que a distribuição não será a melhor). Para leitura e para transferência à filial. Também acicatado, ainda que secundariamente, pela contracapa onde Terry Jones super-elogia, onde Richard Leakey recomenda e onde Carl Sagan avisa "O Volume 1 é extraordinário" (o volume 1, o primeiro de sete incluídos neste 1º tomo é dedicado à origem do cosmos, da terra e da vida). Avanço na obra, divertido e também preparando a releitura em família. Não é o livro, nem a sua fruição, o local para discutir da pertinência de uma História encerrada no velho esquema evolutivo semi-caos primitivo do paleolítico à Idade do Ferro em contexto universal, seguindo-se a Civilização(ões) da Antiguidade Clássica (não sem um amplo excurso por aqueles nómadas ou coisa que o valha que vieram a ser judeus), Grécia e Roma, Nós-próprios (um "Nós" mais ou menos amplo). Leia-se com agrado, sorriso nos lábios e pronto.
E estou eu nisto quando deparo com um absolutamente anacrónico Bachofen no século XXI. Um total disparate, em formato BD:
Ou seja, a Gradiva (com desculpa que é banda desenhada?) vende-me uma obra a cantar-me (e às visitas) o tema do matriarcado neolítico, aliado à matrilinearidade (e, já agora, ainda que em registo de sorriso, à tristeza masculina, até como se amputada, quanto ao estabelecimento dos laços de descendência por aquela via). Os "gender issues" afirmados, as feministas (e quão poderosas elas são nos EUA, pátria do livro e de coisas como estas) agradadas com essa "idade de ouro" matriarcal, os distraídos ignorantes aclamando a equação já tão antiga do matrilinear-"Amazonas". Politicamente correcta esta recuperação do Bachofen e outros (excelentes homens dos meados de XIX mas não exactamente actualizados), muito politicamente correcta. Segue-se a leitura e chegamos ao Egipto
Atentam? Egipto? África, donde negros. Séculos de imperialismo cultural europeu (orientalismo, se se quiser) conduziu a esta descoloração dos egípcios históricos. Que eram negros, convém referir, convém salvaguardar. Pois africanos. Convém portanto desenhá-los negros, redefinir a ideia generalizada que se tem sobre esse antigo povo "núbio" desnubizado, malevolamente desnubizado. [Esta página tem o delicioso desenho referente à disseminação - vá lá, ao menos foi por via real, faraónica - do nariz comprido, essa coisa aparentemente pouco africana]. De novo o tonto, ignorante, revanchista politicamente correcto (sempre mergulhado de "boas causas"). Neste caso um bouquet de afrocentrismo e matriarcado.
Assim, disfarçado em Banda Desenhada e vendido pela Gradiva. Editora que publicava bons livros nos bons velhos tempos da ... Gradiva.
jpt