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Com curadoria de Alexandre Pomar [que aqui (no ponto 2. do texto) deixou uma detalhada apresentação da exposição] esta exposição apresenta 70 fotografias de 4 fotógrafos em Moçambique, de certa forma representando quatro gerações de lentes no país: Moira Forjaz, para sempre ligada às suas fotos realizadas na Ilha de Moçambique no final dos anos 1970s; José Cabral, o mais novo do "sagrado triunvirato", com Kok e Rangel; Luís Basto, o homem que emigrou a fotografia moçambicana para as novas expressões plásticas; e Filipe Branquinho, aqui o mais novo, e animador do actual tripé, com Mauro Pinto e Mário Macilau, que baseia o crescente cosmopolitismo da mais animada expressão plástica do país.

 

Para além disso a exposição inclui uma mostra de livros e catálogos e o belo filme sobre Ricardo Rangel, "Sem Flash" realizado por Bruno Z'graggen.

 

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A exposição abriu no sábado passado e estará disponível até ao próximo dia 28 de Novembro na Galeria Municipal de Arte. O cuidadoso curador deixa-nos inclusivamente o mapa para lá chegar e anuncia que "Acesso fácil, também de barco e metro (Cacilhas > paragem Almada. 0,85€)", com isto significando que os residentes do lado norte do rio Tejo não têm desculpa para não visitarem.

 

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publicado às 11:57

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Texto para a edição de  29.10.2014 do "Canal de Moçambique"

 

Mais escasso ainda é o registo dos chamados livro-objecto, celebratórios e demonstrativos, inexistente mesmo se para além da capital. Seja porque sempre produtos de maiores custos na edição seja também pela pressão intelectual que as gentes da escrita têm, essa de exercer a análise crítica, quantas vezes esquecidos que não há crítica sem paixão, sem nos suspendermos face ao enleio inspirado, abraçado. E que depois, depois do namoro enlevado, se poderá olhar mais analiticamente para as características sociológicas e físicas, para os percursos anteriores e para os desejados.

 

Neste registo de namoro, saudável, convoco a atenção para este livro bilingue (em francês e português) “Voyage au Mozambique. Maputo” [“Viagem a Moçambique. Maputo”, claro], publicado em 2005 em França (editora Garde-Temps). Escrito por Pascal Lettelier, autor francês, sociólogo de formação, autor de textos de viagens em África, argumentista de cinema entre outras actividades, que aqui foi co-adjuvado por Jordanne Bertrand, jornalista que foi correspondente da Radio France Internationale em Moçambique durante quatro anos, e que neste livro foi responsável pelas curtas biografias incluídas. E um alargado leque de fotografias de Luís Basto, ilustrando esta cidade-Maputo festejada no livro.

 

(Texto completo aqui)

publicado às 08:55

Na Garaginha

por jpt, em 28.12.11

["Fotografia de José Cabral"]

 

[O texto de hoje na edição do Canal de Moçambique, coloco-o já pois vou sair do acesso à internet] 

 

NA GARAGINHA 

 

A Garaginha é casa de clientes fiéis. Mesmo que ancorada no centro da cidade rica, como se bem visível, muitos a estranharão e mais ainda assim dita por este nome. O qual ganhou por estar assente no que terá sido a garagem da vivenda que lhe dá guarida, a da sede da Organização Nacional de Professores, ali ao fundo da Eduardo Mondlane quando esta, chegada lá do Alto Maé, desagua na Julius Nyerere, avenida símbolo e até apelido do Maputo internacional, desafogado. Para mais, e como se para assinalar tal convívio, a Garaginha está ali paredes meias com o Mundo´s, restaurante da cidade cosmopolita onde abundam as mesas partilhadas entre expatriados e a burguesia nacional, nisso se fruindo boas pizzas e cerveja cara, festas de crianças pejadas de prendas e baterias de ecrãs gigantes para o rugby dos vizinhos e o futebol inglês de todos.

 

Pois plantada mesmo ali ao lado a Garaginha é mostra do quão distraídos vão afinal esses símbolos, apenas estereótipos, que insistem em tentar construir uma cidade espartilhada, zonas bairros feitas hierarquias do ter e nisso – acham alguns – do ser, linhas fronteiras ao convívio, à partilha, à discussão. Basta entrar e partilhar copos de cerveja (bem) mais baratos, algum petisco de ali mesmo e ainda amendoins e castanhas, esses que os lestos vendedores de rua, incessantemente penetrando na esplanada, vão impondo aos clientes. Para quem lá chega pela primeira vez a surpresa impõe-se, não pelo quotidiano tão normal que lá decorre mas pelo ambiente, afinal tão diverso daquilo a que os apressados chamam, assim julgando-o ser, “a Nyerere”. Pois é, basta aquela decisão do entrar, cruzar o portão, e a tal “nyerere” perde as aspas com que o olhar cabisbaixo as armou.

 

Com um preâmbulo destes poder-se-á julgar que ali penetrando se encontrará uma “fauna social” especial ou, pelo menos, típica de um qualquer tipo. Nada disso, apenas um Maputo maputo, tardes arrastadas por quem as pode ou tem que arrastar. Fins de tarde mais barulhentos, empregados em verdadeira azáfama rodando com bandejas de “brancas” e “pretas”, exigências da clientela, nisso esta tornando-se ruidosa, querendo lavar-se da poeira do horário de trabalho e assim perfumando-se para abraçar as famílias no torna-casa ou, pelo menos, aqueles ou aquilo que delas façam as vezes, mesmo que meros colchões sejam. Funcionários, professores (sim, afinal é o seu centro social), empregados, boémios, pois claro, que destes nunca há falta por crise, hoje ou amanhã gente das letras ou que vislumbramos na tv, aquele que tem fotografia no jornal. Conversa corre de mesa em mesa, quem por lá chega raramente, como eu, vai vendo o trânsito do convívio, que há grupos sim mas há também um sentir de clientela comum, tudo aquilo que faz, verdadeiramente, uma casa.

 

Foi tudo isso que vi retratado, com fidelidade e gosto, nesta semana passada. Enquanto a grande cidade preparava o Natal a Garaginha fez acontecer um como se natal local, uma festa da família dali. Num fim da tarde, já deixada a noite acontecer, coisa do breu necessário para o acontecimento, foi mostrado um diaporama – aquilo que a gente envergonhada de falar português vai chamando slideshow - sobre a casa e sua gente. Quatro clientes daqueles mesmo, os de mesa fixa, decidiram celebrar a casa que os acolhe e que eles, também, vão fazendo.

 

Assim quatro fotógrafos, dois profissionais (José Cabral e Luís Basto) e dois amadores (Zé Tomaz e Runar Hartvigsen, este um norueguês por cá que tem sabido conhecer a cidade em que vive e não apenas o mundo que por cá passa) montaram 18 minutos de pura etnografia, uma colecção das fotografias ali feitas, umas por fastio, outras por celebração, outras talvez sem ser por nada. Nessas fizeram correr os detalhes que ali passam, o céu visto entre aquelas muros e árvores, os recantos e rugas da casa, os adornos e adereços, um pouco dos restos dos tempos que vão passando. E assim, fixado que foi o local, apalpando-o em imagens, como se carícias fossem, passaram ainda a galeria dos habituais convivas e dos que só de vez em quando, mulheres expressivas, uns dias voluptuosas e outros nem tanto, caras carismáticas, expressões felizes, os filhos de alguns clientes (ali em busca dos retardatários progenitores?), o guarda da rua e a actriz popular, lá de dentro da cozinha a dona assomando e até o senhor escritor quase afamado, o engravatado funcionário e o já quase desistente reformado, um eixo onde todos se agregam, esses e tantos outros, num desfile que é o da festa da vida.

 

Um momento feliz foi esse, um natal onde as prendas foram a partilha das pequenas recordações, da gente, tudo saudado com o prazer do reconhecimento, da memória. Um momento feliz, pois um natal também feito desafio, que para o ano bem mais se juntem na colecção, uma mais ampla mescla dos olhares, das fotos que por tantos vão sendo tiradas na alegria – e até, por vezes, felicidade – do convívio.

 

Um momento feliz, digo eu, entendo eu, ali rara visita, pois também momento de resistência. A celebrar o poder estar juntos, fruir, na cidade. Enquanto nem tudo é devastado pela construção nova, essa vida plástica de betão feita, o mundo das esplanadas de xópingues, onde ninguém se entre-fotografa e fala de mesa em mesa. Esse afinal velho mundo que, no Maputo da “nyerere” se vai anunciando como mais belo pois mais novo. E melhor.

 

jpt

publicado às 00:01

Fotografias de Bolso

por jpt, em 16.05.05

Conheço-a agora, uma presumível colecção de livros de bolso com fotógrafos moçambicanos. Presumível colecção pois não sei se estão projectados novos títulos, para além destes três.

Boa edição francesa (Éditions de l'Oeil), textos em português e inglês, não deslustra quanto à impressão, bom papel, um preço muito acessível (60 mil meticais), um excelente cartão de visita dos autores. Belos objectos. A fazer esgotar.

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[Ricardo Rangel Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004; texto de Calane da Silva]

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[Mauro Pinto Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004; texto de Jean-Louis Mechali]

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[Luís Basto Fotógrafo, Éditions de l'Oeil, 2004; texto de Berry Bickle e Luís Basto]

Publicações financiadas pelo Serviço de Cooperação e de Acção Cultural da Embaixada de França em Moçambique.

E sobre esta última matéria calo-me, que de retórica em retórica, de pompa em pompa, sempre me questiono do porquê patrício.

publicado às 03:20

Narciso cabisbaixo

por jpt, em 11.05.05

No Centro Franco-Moçambicano uma exposição individual de Luís Basto, algumas fotos do Maputo. Aquela do barbeiro não aparece, saio alquebrado.

publicado às 02:37

Voyage au Mozambique - Maputo

por jpt, em 26.04.05

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Recente edição a deste livro bilingue, francês e português, "Voyage au Mozambique - Maputo", da autoria de Pascal Lettelier e Jordane Bertrand (texto) e fotografias de Luís Basto, publicado por Éditions du Garde-Temps.

Em boa e manuseável edição um álbum que se adivinha querer ser roteiro de Maputo, entrecruzado por algumas personagens, célebres ou anónimas, que o ilustrem. Obra interessante, para quem vive a cidade ou a anseia, apesar de aqui me confessar não entusiasmado. Pois o livro excede-se em fotos, uma fraca paginação, com os custos imagináveis, quase nenhuma fotografia (e há-as muito apreciáveis) respira. E, acima de tudo, algo desiludido com um texto/olhar a caminho do anódino, aqui e ali a roçar o pitoresco (as meninas na praia, as meninas em uniforme escolar, francamente...) mas sem assumir o quase-turismo.

Lamento-lhe também a falta de vontade em sair do aglomerado Costa do Sol - Alto Maé (e mesmo este só adivinhado), assim reduzindo a cidade a menos que o Xilunguine de hoje. E produzindo uma monotonia, pelo menos a quem a (entre)conhece.

Mas está feito. E quem quer melhor que produza. E, não só por isso, não só por deficit alheio, merece atenção.

Para além disso, narciso (óbvio, pois ma-schambeiro), não posso deixar de referir a minha presença, dignamente fotografado e assim perpetuado via publicação. Tal não ocorreu devido a alguma característica própria ("um bloguista de Maputo") ou por particular mérito ("Inês Pimentel Teixeira e marido"). Eis-me

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em pleno Salão Nacional, assim "população" aqui, "popular" no português do meu país. Para meu registo, pelo menos, minha memória.

publicado às 22:57


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