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Camões em discurso directo

por jpt, em 10.06.11

Fotografia de Miguel Valle de Figueiredo

Jurando de não Mais em Outra Ver-me

 

Como quando do mar tempestuoso 
O marinheiro todo trabalhado, 
De um naufrágio cruel saindo a nado, 
Só de ouvir falar nele está medroso; 

Firme jura que o vê-lo bonançoso 
Do seu lar o não tire sossegado; 
Mas esquecido já do horror passado, 
Dele a fiar se torna cobiçoso; 

Assi, Senhora, eu que da tormenta 
De vossa vista fujo, por salvar-me, 
Jurando de não mais em outra ver-me; 

Com a alma que de vós nunca se ausenta, 
Me torno, por cobiça de ganhar-me, 
Onde estive tão perto de perder-me. 

 

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

 

AL

publicado às 23:49

Dia de Camões

por jpt, em 10.06.11

 

Camões, grande Camões, quão semelhante

Acho teu fado ao meu quando os cotejo!

Igual causa nos fez perdendo o Tejo

Arrostar co sacrílego gigante.

 

Com tu, junto ao Ganges sussurrante

Da penúria cruel no horror me vejo;

Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,

Também carpindo estou, saudoso amante.

 

Ludíbrio, como tu, da sorte dura,

Meu fim demando ao Céu, pela certeza

De que só terei paz na sepultura.

 

Modelo meu tu és ... Mas, ó tristeza! ...

Se te imito nos transes da ventura,

Não te imito nos dons da natureza.

 

 

 (Bocage)

publicado às 17:30


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